Útil e perigoso: conheça os riscos do nitrato de amônio

Componente químico que causou explosão em Beirute é utilizado como fertilizante na agricultura e também entra como ingrediente na produção de explosivos

qui, 13/08/2020 - 13:41

No último dia 4 de agosto, o mundo acompanhou com perplexidade às imagens da explosão na região portuária de Beirute, capital do Líbano. O acidente causado pelo armazenamento de 2,75 mil toneladas de nitrato de amônio (NH4NO3), matou 160 pessoas, deixou mais de 5 mil feridos e desabrigou a população que vivia em um raio de 10 km do local da tragédia.

De acordo com as autoridades libanesas, o nitrato de amônio estava estocado há mais de seis anos no porto de Beirute. O produto, utilizado na composição de insumos agrícolas, inseticidas e aplicado na confecção de explosivos, é considerado seguro, mas pode se tornar ameaça se não armazenado de maneira correta, como explica o químico e pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas João Paulo Amorim de Lacerda.

“O nitrato de amônio é uma substância estável em condições normais, ou seja, temperatura e pressão ambiente. O risco existe quando se mistura com outras substâncias químicas como compostos orgânicos, ácidos, alguns metais, liberando muito calor e gases que, dentro de um espaço confinado, podem levar às explosões”, destaca o especialista.

No mercado brasileiro, o produto representa 3% do que o país utiliza como fertilizantes na agricultura. Dados da consultoria especializada em agronegócio StoneX mostram que foram importadas cerca de 1,2 milhão de toneladas de nitrato de amônio em 2019.

Entretanto, com o incidente ocorrido no Líbano, a atenção dos profissionais especialistas no assunto foi posta em alerta ao redor do mundo. No Brasil, o Conselho Federal de Química (CFQ) reiterou, por meio de nota à imprensa, a importância do papel dos estudiosos do setor em relação à preservação da vida e da saúde da população.

“Considerando a responsabilidade pública do Sistema CFQ e os Conselhos Regionais de Química (CRQs) de proteger a sociedade brasileira, vimos reforçar a importância do envolvimento do profissional da Química no armazenamento de produtos químicos, especialmente os perigosos, por apresentarem potencial risco à saúde humana, ao meio ambiente e/ou às propriedades públicas ou privadas”, cita o comunicado.

Para Lacerda, é essencial que o manejo e o transporte desse tipo de composto químico tenham o acompanhamento de pessoas qualificadas. “O manuseio de um produto desse tipo exige a presença de um profissional capacitado e que conheça as características do produto, pois assim será apto a tomar providências para manter os riscos o mais baixo possível”, ressalta o pesquisador.

Ainda segundo ele, a tragédia do Líbano deve servir de exemplo para que os países reforcem os protocolos de segurança relacionados a produtos químicos tidos como perigosos.

“Os avanços na química e nas ciências em geral tornam a vida mais prática e por vezes resolvem questões cruciais para a humanidade, mas cada substância apresenta seus riscos se usada de maneira errada”, completa.

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