Religiosos pressionaram família de criança grávida

Em conversa gravada, grupo fala em suposto apoio da ministra Damares Alves

seg, 17/08/2020 - 11:30
Reprodução/Google Street View O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) investiga o ocorrido Reprodução/Google Street View

A família da menina de 10 anos grávida após ter sido estuprada pelo tio foi pressionada por um grupo de religiosos para que não fizesse o aborto. O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) investiga o ocorrido. As conversas foram gravadas.

Uma das pessoas que foi até a casa da família da garota diz que "Deus permitiu" a gravidez, portanto o procedimento não deveria ser feito. Na conversa, as pessoas afirmam que o aborto seria doloroso e haveria risco para a menina. Eles dizem que colocariam uma equipe médica à disposição para levar a gravidez em frente.

“A gente está aqui para oferecer essa ajuda. Só que essa voz, quem tem, quem pode ter peso é só a senhora. Então, se a senhora permitir, eu gostaria de colocar um áudio de uma médica para a senhora ouvir o risco que tem. Por exemplo, o procedimento que eles querem fazer é o quê? Induzir um parto normal. Tem que aplicar uma medicação na vagina dela, como se fosse um parto normal, sentir contrações, sentir dor”, diz uma das pessoas na gravação.

Um dos homens que visitou a avó da menina defende que o feto não tem culpa. A avó diz: "Mas ela vai gerar uma criança. Ela tem dez anos, é uma criança gerando outra criança". O homem responde: "Mas, se tem uma alma ali, foi Deus que colocou". Em seguida a avó questiona: "Deus permitiu uma barbaridade dessa?". "Permitiu", responde o visitante.

O grupo chega a citar a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, como se ela os apoiasse. “Inclusive eu conversei ontem com a assessora da ministra Damares, só para você saber o nível de informação que eu tenho. Olha onde chegou, à ministra Damares! Então a gente quer que a senhora use a voz que a senhora tem para defender esse bisneto da senhora”, pede um rapaz.

A Vara da Infância e Juventude de São Mateus vai abrir uma investigação sobre o caso. Os diálogos gravados já estão em posse do promotor Fagner Cristian Andrade Rodrigues. Foi ele quem solicitou à Justiça a autorização do aborto.

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