Serviços funerários para pets: adeus digno e dentro da lei
Tutores de animaizinhos têm recorrido à cremação e sepultamento em cemitérios específicos para despedir-se dos amigos de patas de forma mais humanizada. Confira como funcionam e quanto podem custar esses serviços
O mercado funerário atua para que os vivos possam lidar com a morte de seus entes da forma mais tranquila possível. São os profissionais dessa área que trabalham e pensam em alternativas para que a derradeira despedida de alguém seja o menos complicada e traumática possível. Em se tratando de pets, não poderia ser diferente. Serviços como cremação, sepultamento e plano que garantem um funeral digno aos bichinhos - incluindo as mais diversas formas de homenagem -, já podem ser encontrados por todo o país para que a partida do animalzinho de estimação seja marcada com menos dor e mais conforto.
No Brasil, diversas localidades já contam com cemitérios especializados no sepultamento de pets. Estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul dispõem de espaços privados destinados à última morada de cães, gatos e outros animais domésticos, com direito a enterros individuais ou coletivos, lápide de identificação, urnas funerárias específicas, túmulos de pedra ou cerâmica, cemitério vertical (gavetas), jardinagem à escolha do proprietário, sala de velório, espaço para cultos religiosos e até memorial online. Além disso, as empresas costumam tomar conta de todo o processo, desde a remoção do corpo até a emissão de documentos e, ainda, oferecem assistência psicológica aos tutores.
Espaço para aspergir cinzas em cemitério privado no Recife. Júlio Gomes/LeiaJáImagens
O primeiro cemitério para animais em território brasileiro foi inaugurado em 1993, na cidade de Itapevi (SP). De lá para cá, além do aumento desse tipo de necrópole, cresceram também os serviços destinados aos proprietários que desejam despedir-se com tudo que seu bichinho merece. Dentre eles, a cremação, que tem se popularizado e atraído muitos interessados.
Em Pernambuco, já existem alguns serviços que atendem a tutores no momento da perda de um pet. O Serfupa - Serviços Funerários para Animais Domésticos, atua há mais de 20 anos na Região Metropolitana do Recife, oferecendo recolhimento, cremação e sepultamento de animais domésticos. A empresa é comandada por Riselda Muniz, que hoje dá continuidade ao trabalho do marido, Jorge Roberto Schennebalg, falecido recentemente; segundo ela, “pioneiro” no segmento por essas bandas.
Pingente para cinzas de pet. Um modelo como esse custa em torno de R$ 250. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens
A empresa de Riselda providencia o traslado de corpos dos pets, com retirada em residências ou clínicas veterinárias, ao valor de R$ 300, e, em seguida, os encaminha à cremação ou sepultamento. Esse último feito, há mais de duas décadas, em parceria com o Kennel Club, uma associação de criadores de cães localizada no município de Paulista. “Lá o animal é sepultado mas o cliente tem que alugar um jazigo e se associar ao clube. O valor do aluguel é R$ 1.700 por dois anos, mas ele pode colocar outro animal no mesmo jazigo (neste período).”, explica a agente funerária em entrevista ao LeiaJá.
Já a cremação é realizada no Crematório da Guabiraba, na mesma cidade, com valores que variam a depender do peso do bichinho: de 5 a 10 kg, R$ 390; de 10 a 20 kg , R$ 450. Somando-se o traslado à cremação, o serviço gira em torno de R$ 700 a R$ 1.050.
Riselda conta que nem todo tutor de pet é afeito a esse tipo de serviço e, muitas vezes, os animais são deixados em clínicas veterinárias após a morte. Mas ela, que já trabalha há tanto tempo na área, frisa a importância de dar aos pets uma despedida decente. “Nem todo mundo valoriza o animal. Quando morre (o pet) muitos enterram no quintal, até por questão financeira. Só os que querem dar um final digno ao animal são fãs do serviço”.
Outra opção, em Pernambuco, para aqueles que preferem se despedir do amigo de quatro patas - ou duas - com tudo que se tem direito é o Morada da Paz Pet, o primeiro crematório especializado para animais no Estado, também localizado em Paulista, no cemitério Morada da Paz. A empresa oferece cremação individual de animais com até 100 kg ao valor de R$ 1.200, para uso imediato, com um modelo de urna clássica de madeira; ou R$ 850, para uso futuro. Esse último funciona como um plano funerário podendo ser adquirido com antecedência pelos tutores. O pagamento pode ser parcelado em até 12 vezes sem juros.
O Morada Pet oferece cerimônias e apoio psicológico aos tutores. Foto: Júlio Gomes/LeiJáImagens
O serviço atende cães e gatos e, também, outros animais como calopsitas, papagaios, roedores e coelhos. Os proprietários dos pets contam, ainda, com profissionais especializados em psicologia do luto, cerimônia personalizada de entrega das cinzas e catálogo online para escolha de itens como modelador de patinha, porta-retratos e pingentes para as cinzas. Urnas especiais podem ser adquiridas por fora, por valores que vão de R$ 150 a R$ 350. Futuramente, a empresa pretende abrir um espaço para o sepultamento de animais.
Segundo Vivianne Guimarães, diretora de Negócios e Clientes do Grupo Morada, para o serviço voltado aos pets e seus tutores é usada “toda a expertise” da marca. “Conhecemos a dor da perda, respeitamos todos os tipos de luto e prezamos pelo acolhimento em uma hora tão dolorosa. Além da cremação propriamente dita, oferecemos os serviços de velório, cerimônia personalizada de entrega das cinzas e certificado de cremação, da mesma forma que acontece na cremação de humanos”.
Sala para cerimõnia de entrega das cinzas. As entregas acontecem cerca de 10 dias após a cremação. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens
O forno utilizado na cremação dos bichinhos é um diferente dos usados para os humanos, com tecnologia específica, como explica a diretora. “Os fornos pet possuem uma tecnologia de ponta totalmente brasileira, com sistema inteligente de baixo consumo e monitoramento contínuo dos gases, e software exclusivo de gerenciamento da cremação, que garante a excelência no desempenho”. Vivianne frisa, também, que os valores dos serviços voltados aos pets são inferiores aos oferecidos aos humanos.
Além disso, alguns eventos também são pensados a fim de proporcionar conforto para as famílias. Um deles, o ‘Chá da Saudade’, reúne os enlutados, em uma espécie de grupo de apoio, para acolhimento com escuta e diálogo sobre perda e saudade. O serviço é oferecido de forma gratuita aos clientes da empresa. Também é possível aspergir as cinzas dos animais em jazigos que sejam de propriedade dos tutores, no Morada da Paz, porém, um espaço do cemitério foi reservado exclusivamente para isso. Chamado de ‘Bosque da Memória’, o local foi inaugurado na última terça (2), quando celebrou-se o feriado de finados.
As urnas funerárias para cinzas de pets podem custar de R$ 150 a R$ 350. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens
Final digno e dentro da lei
Para os menos afeitos à criação de animais domésticos, fazer uso de serviços como os descritos acima pode parecer um tanto exagerado. Segundo pesquisa feita pelo Instituto de Geociência da USP, em 2019, 60% dos pets mortos em residências são enterrados pelos próprios donos; 7% são colocados em sacos de lixo na calçada ou em caçambas; 20% são jogados na rua; e apenas 13% são entregues à clínicas veterinárias para a destinação correta.
No entanto, o descarte incorreto do corpo de cães, gatos e outros bichinhos pode levar à multas, com valores entre R$500 e R$ 13 mil, ou até mesmo reclusão de até quatro anos. De acordo com o artigo 54 da Lei nº 9.605, enterrar o animal em casa, em terrenos baldios ou descartá-lo em local inapropriado é considerado crime ambiental pois a decomposição desses animais e o necrochorume resultante dela contaminam o solo e os lençóis freáticos.
Descartar animais mortos em qualquer lugar é crime ambiental e pode causar multas e até reclusão. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens
E na falta do dinheiro?
Para os tutores que não dispõem de condições para cremar seus bichinhos ou ainda sepultá-los em espaços voltados a esse fim, é possível pedir ajuda às prefeituras locais sem qualquer custo. No Recife e em Olinda ainda não há cemitérios públicos voltados para animais, mas ambas as cidades dispõem de serviços que auxiliam na remoção e descarte corretos de pets falecidos em casa.
Na capital pernambucana, qualquer cidadão pode acionar a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), através do número 156. O atendimento é totalmente gratuito feito mediante agendamento. Após o recolhimento do animal, a Emlurb dá destinação correta ao corpo.
Já em Olinda, os moradores podem acionar a Limpeza Urbana pelo número 3429-0866 e solicitar a remoção. O descarte é feito em um terreno no município de Goiana, que dispõe de local apropriado. A solicitação também pode ser feita por cidadãos que encontrarem animais mortos nas ruas. De acordo com a prefeitura da cidade, descartar bichos nas vias públicas é infração prevista na Lei do Lixo, de 2014, e pode gerar multas que variam de R$ 100 a R$ 2.500.