Rússia na mira do Conselho de Direitos Humanos da ONU
Putin anunciou em 24 de fevereiro a invasão da Ucrânia, com bombardeios aéreos e o envio de tropas terrestres em várias partes do país, incluindo uma ofensiva contra a capital, Kiev
A Ucrânia obteve, nesta segunda-feira (28), amplo apoio para realizar um debate urgente no Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre a invasão russa de seu território, aumentou a pressão contra Moscou ao apresentar um projeto de resolução para uma investigação internacional.
No entanto, o chefe da diplomacia russa, Sergey Lavrov, cancelou sua visita à Genebra devido as "sanções anti-russas" que o proíbem de sobrevoar a União Europeia (UE). Na terça-feira, ele deveria participar do Conselho de Direitos Humanos e da Conferência sobre Desarmamento.
A ofensiva militar decretada por Vladimir Putin marcou a abertura da 49ª sessão.
"A escalada das operações militares da Federação russa na Ucrânia implica um ressurgimento das violações dos direitos humanos", disse o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, na abertura do Conselho, com uma mensagem em vídeo.
"Ao longo da história, houve momentos de profunda gravidade que dividiram os acontecimentos entre um antes e um depois, muito diferente e mais perigoso. Estamos diante de um episódio desse tipo", declarou a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet.
A ex-presidente chilena também afirmou estar ciente das mortes de 102 civis, incluindo sete crianças, desde o início da invasão da Ucrânia, e alertou que os números reais eram "consideravelmente" maiores.
"A maioria desses civis foi morta por armas explosivas de longo alcance, especialmente dispros de artilharia pesada, de lançadores de mísseis e bombardeios", explicou.
- Comissão similar à da Síria -
A embaixadora ucraniana Yevheniia Filipenko indicou o balanço do Ministério da Saúde do seu país, com mais de 350 vítimas fatais, incluindo 16 crianças, e cerca de 1.700 feridos.
No debate urgente sobre este conflito, a delegação ucraniana pedirá a criação de uma comissão de investigação, semelhante à que já existe para a guerra na Síria.
A Ucrânia, segundo o projeto de resolução, pede que especialistas da ONU investiguem violações de direitos humanos cometidas na Crimeia e nos territórios separatistas de Lugansk e Donetsk desde 2014, e também no resto do país desde o início de 2022.
A Rússia, que se opôs à realização deste debate urgente, propôs submeter a proposta a votação. Finalmente, foi aprovada com 29 votos a favor, 5 contra - incluindo China, Cuba e Venezuela, além da Rússia - e 13 abstenções. O Conselho tem 47 membros.
O resultado da votação é a prova de que "a Rússia está completamente isolada dentro do Conselho", disse a embaixadora americana na ONU em Genebra, Sheba Crocker.
Os chefes da diplomacia americana, Antony Blinken, e da UE, Josep Borrell, intervirão na terça-feira no Conselho com suas respectivas mensagens de vídeo.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, fará o mesmo na quarta-feira.
Putin anunciou em 24 de fevereiro a invasão da Ucrânia, com bombardeios aéreos e o envio de tropas terrestres em várias partes do país, incluindo uma ofensiva contra a capital, Kiev.
Mais de 500.000 ucranianos fugiram do país e se refugiaram em Estados vizinhos, de acordo com o último balanço da ONU, ppublicado na segunda-feira.
"Sejamos claros, as tentativas da Federação Russa de legitimar sua ação não são críveis. Não houve provocação que justifique tal intervenção", criticou Ignazio Cassis, presidente da Suíça, no início dos debates no Conselho da ONU.