PMs confundem cobras e soltam espécie exótica em mata

Polícia ambiental pensou que píton indiana era uma jiboia. Espécie solta é asiática e, apesar de não peçonhenta, pode ameaçar a cadeia alimentar da região de cerrado

por Vitória Silva sex, 08/04/2022 - 12:05
Divulgação/Zoológico de Brasília Píton indiana é uma das maiores serpentes constritoras do mundo Divulgação/Zoológico de Brasília

Uma equipe do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) do Distrito Federal soltou uma cobra píton indiana, espécie exótica originária do Sul Asiático, em uma região de cerrado, após confundir o animal com uma jiboia. O caso ocorreu na quarta-feira (6), próximo ao Balão do Periquito, na região do Gama.

A polícia ambiental chegou a publicar a soltura como sendo de uma jiboia (Boa constrictor), serpente não peçonhenta que se reproduz nas Américas e está presente em biomas brasileiros. No entanto, o erro foi apontado por diferentes biólogos nas redes sociais, revelando que o animal era, na verdade, uma píton (Python bivittatus) com mais de dois metros de comprimento e sem família reprodutiva no Brasil.

A falsa jiboia virou notícia exatamente pelo tamanho, mas isso acontece porque a píton indiana é uma das maiores serpentes do mundo e a segunda maior da sua espécie. A PM informou que a equipe analisou o animal e, como aparentava estar em boas condições, ele foi solto. 

O biólogo especialista em cobras e serpentes Henrique Abrahão-Charles, conhecido como “O Biólogo das Cobras”, foi um dos especialistas a alertar sobre o equívoco. De acordo com o profissional, a cobra solta é uma píton “com enorme potencial de invasão”. Confira o vídeo de soltura:

Embed:

De acordo com a Fundação Jardim Zoológico de Brasília, a píton indiana tem um padrão de escamas com manchas dorsais quadrangulares alongadas e pode apresentar o padrão albino ou pigmentado, com tamanho médio de 4,5 metros. Apesar da confusão entre as espécies ser comum, a píton não possui o mesmo padrão que a jiboia. Nesses casos, uma espécie invasora, ainda que não peçonhenta, pode desequilibrar a cadeia alimentar do bioma.

A Polícia Militar, que já confirmou as buscas, deve encaminhar o animal a um centro ambiental adequado para averiguar a relocação ou permanência da espécie. Em nota, a assessoria comunicou que a píton é calma e pode ter sido criada em cativeiro. Confira o posicionamento na íntegra:

"A Polícia Militar do Distrito Federal, por meio do Batalhão de Policiamento Ambiental, realiza um trabalho de excelência o qual tem resultado em altos índices de produtividade. Apenas nesses três primeiros meses de 2022, 126 cobras foram resgatadas. Em 2021 foram 512 cobras.

Com o apoio do Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas) e contando, muitas vezes, com a boa vontade de clínicas privadas, o batalhão realiza o manejo desses animais na tentativa de salvar a todos de forma que voltem saudáveis ao seu habitat natural.

O Batalhão, juntamente com o Zoológico e demais órgãos ambientais, já está à procura da Píton. Informamos que a referida cobra era extremamente calma, sendo indício de que era criada em cativeiro. Ressaltamos que alguns estados já estão autorizando o comércio desse animal."

COMENTÁRIOS dos leitores