Sarampo: hospitalização de crianças disparou desde 2018

Em 2021, nenhum estado brasileiro atingiu a meta de vacinação infantil contra sarampo

sex, 06/05/2022 - 14:42
Dave Haygarth/Flickr Criança infectada pelo vírus do sarampo Dave Haygarth/Flickr

A campanha antivacina promovida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), membros do seu governo e aliados, parece não ter afetado somente quem corre o risco de contrair a Covid-19. Um levantamento do projeto VAX*SIM mostrou que a vacinação infantil contra o sarampo não atingiu as metas nos últimos anos e a doença – que havia sido erradicada do País em 2016 – voltou a acometer os pequenos, provocando mortes.

Na última segunda-feira (2), teve início a Campanha Nacional contra o Sarampo de 2022, para crianças de seis meses até 5 anos de idade. A meta é atingir 95% deste público alvo, o que não ocorreu na grande maioria das cidades no ano passado.

Em 2021, nenhum estado brasileiro atingiu a meta de vacinação infantil contra sarampo. Só 660 (cerca de 12%) das 5.500 cidades alcançaram a meta. Pior. A vacinação contra o sarampo é feita em duas doses, mas de cada três crianças brasileiras que tomaram a primeira dose do imunizante, uma não voltou para completar o esquema vacinal, ou seja, não ficaram completamente imunizadas.

“O Brasil tem um programa nacional de imunização estruturado, que serve de referência para o mundo inteiro. A vacinação infantil é uma das ações mais importantes para prevenir mortes evitáveis de crianças de até 5 anos, com um excelente custo-benefício. É inaceitável que tenhamos que lamentar mortes por uma doença para a qual há vacina disponível de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde [SUS] há décadas”, afirma Patricia de Moraes Mello Boccolini, coordenadora do VAX*SIM.

Em 2020, o Brasil registrou o recorde de 10 mortes de crianças menores de 5 anos por sarampo. Foi o maior número das últimas duas décadas. Entre 2018 e 2021, 26 crianças nessa faixa etária morreram pela doença, um retrocesso em um país que entre 2000 e 2017 havia registrado apenas uma morte, no ano de 2013.

“Mortes infantis por sarampo podem ser evitadas com uma estratégia simples e consolidada no SUS: a vacinação. Uma única morte nesse contexto pode ser considerada uma tragédia”, aponta Patrícia.

O número de hospitalizações por sarampo também disparou nos últimos anos. Entre 2018 e 2021, 1.606 crianças foram hospitalizadas com a doença no Brasil. Nos quatro anos anteriores, entre 2014 e 2017, o país havia registrado um total de 137 hospitalizações infantis por sarampo.

Outros tempos

Em 2016, o Brasil recebeu da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) o certificado de país livre de sarampo. Três anos depois, em 2019, o status foi retirado após a confirmação de um caso endêmico da doença no Pará.

Pesquisa

O levantamento do VAX*SIM cruza grandes bases de dados para investigar o papel das mídias sociais, do Programa Bolsa-Família e do acesso à Atenção Primária em Saúde na cobertura vacinal em crianças menores de cinco anos.

O objetivo do projeto é compreender e analisar os determinantes da cobertura vacinal no território brasileiro, utilizando um modelo teórico-conceitual para avaliar sua associação com fatores socioeconômicos, cobertura da Atenção Primária em Saúde (APS) e do Programa Bolsa Família (PBF). A iniciativa também visa avaliar a influência dos padrões de disseminação de conteúdos sobre imunização nas mídias sociais.

O projeto é parte do Observatório de Saúde na Infância - Observa Infância, uma iniciativa de divulgação científica para levar ao conhecimento da sociedade dados e informações sobre a saúde de crianças de até 5 anos.

O objetivo é ampliar o acesso à informação qualificada e facilitar a compreensão sobre dados obtidos junto aos sistemas nacionais de informação.

As evidências científicas trabalhadas são resultado de investigações desenvolvidas pelos pesquisadores Patricia e Cristiano Boccolini no âmbito do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP/Unifase), com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Bill e Melinda Gates.

Da redação, com informações da Agência Fiocruz de Notícias

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