Força, dedicação e superação formam mulheres inspiradoras

Aos 50 anos, a ajudante de pedreiro Nazaré Silva dos Santos passou no vestibular para Engenharia Civil. Cadeirante desde criança, Perla dos Santos Assunção brilha no basquete em cadeira de rodas.

qua, 08/03/2023 - 16:45

As palavras dedicação e superação deveriam ter, no verbete do dicionário, uma foto de Nazaré Silva dos Santos. Ajudante de pedreiro, aos 50 anos ela resolveu meter a cara e fazer a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para disputar uma vaga no curso de Engenharia Civil no vestibular da Universidade Federal do Estado do Pará (UFPA). Em 2023, o esforço, a garra e a dedicação de mulher foram premiados com o nome do listão de aprovados.

“Quando saiu o listão eu ainda estava no trabalho, me ligaram do cursinho para ir na biblioteca e lá eu soube da aprovação. Foi um sentimento de muita alegria, alívio, sensação de estar conquistando algo que batalhei tanto para conseguir”, disse a caloura, emocionada.

“Comecei na área porque meu marido trabalha como pedreiro. Construímos juntos a nossa casa e fui aprendendo muitas coisas na prática. Terminei meu ensino médio com 38 anos e fazer faculdade sempre foi um dos meus sonhos, mas fui adiando por conta de outras prioridades. Depois que meus filhos passaram a cursar o ensino superior, a vontade ressurgiu. E como sempre estive ligada à área de construção e terminei recentemente um curso técnico em edificações no IFPA, escolhi seguir com a engenharia civil”, contou.

A rotina de preparação para o vestibular não foi fácil. A ajudante de pedreiro trabalhava pela manhã, fazia o curso técnico à tarde e ainda assistia às aulas no cursinho municipal de Marituba para o Enem à noite. “Chegava às vezes atrasada nos horários e muito cansada. Meus filhos sempre me apoiaram com questões e materiais para estudo”, desabafou.

Agora que conquistou a vaga que tanto queria, Nazaré já faz planos ainda mais ambiciosos. “Gostaria de aproveitar da universidade o máximo, conseguir estagiar para colocar em prática também os ensinamentos obtidos no ensino técnico e no curso, além de poder trabalhar em uma empresa renomada, ou prestar concurso na área e adquirir uma estabilidade financeira”, assinalou.

A inspiradora história de Nazaré é uma entre muitas. Quando se trata de superação de limites e dedicação, Perla dos Santos Assunção, de 37 anos, ganha destaque.

Atleta que sofreu um atropelamento aos 6 anos, teve fratura na coluna com comprometimento medular e tornou-se cadeirante. convite de outros atletas, iniciou sua carreira no basquete de cadeira de rodas no ano de 2010. Até então, praticamente não tinha contato algum com outras pessoas com deficiência.

“No início foi tudo bem difícil, pra qualquer lugar que eu precisasse ir tinha que ter alguém para me levar, eu não saía para canto nenhum sozinha. Quando eu cheguei lá no basquete todo mundo fazia isso só, ia treinar, pegava ônibus, faziam tudo sozinhos e isso de início me assustou, porque eu não sabia fazer aquilo sozinha. Mas o pessoal do meu clube, o All Star Rodas Pará, foi bem acolhedor, me ajudou nessa transição e hoje sou uma pessoa totalmente independente, vou pra onde quero, da forma que quero, ando de ônibus, ando sozinha, viajo sozinha, através do basquete consegui minha independência”, disse.

Perla conta já competiu nacionalmente com a equipe paraense campeã. Atualmente, ela faz parte da seleção permanente brasileira de basquete cadeirante, que está brigando por uma vaga para ir às Paralimpíadas. A atleta relata com orgulho que já participou de outras Paralimpíadas, Jogos Parapan-Americanos, Copa América, Mundiais, além de outras competições nacionais.

“O esporte exige muito, exige uma disciplina muito grande, somos atletas de alto rendimento, então é algo que a gente leva como profissão. Tem que ter muita determinação, ter muita persistência e principalmente ter muita disciplina. Porque a gente treina diariamente, são treinos intensos e essa rotina não é fácil. Treinar, cuidar de casa, do filho”, frisa a atleta.

Essa é a versão profissional de Perla, mas existe ainda a versão voluntária. A atleta é administradora de um abrigo para animais em Belém e conta com apenas uma ajudante na limpeza no Lar dos Anjos. O espaço abriga 86 gatos e 6 cães, sob sua responsabilidade. “A luta é diária e o apoio é pouco, apenas de pessoas que se sensibilizam e acompanham a nossa luta. Mas amo meus animais e faço tudo por eles. Tenho o sonho de conseguir meu próprio espaço e proporcionar a eles uma vida de mais segurança”, afirmou, ressaltando que o abrigo fica em um imóvel alugado.

Sobre os desafios que ela enfrenta no dia a dia, como mulher, atleta e cadeirante, Perla deixa uma mensagem: “Os desafios sempre vão existir, na vida do atleta olímpico, do paraolímpico, da pessoa com deficiência ou sem deficiência. Sempre vão existir desafios, adversidades. Cabe a nós olharmos de uma forma diferente e enfrentar. Enfrentar um dia de cada vez, superar cada problema e, principalmente, não desistir. Traçar um objetivo, traçar um sonho e a cada dia dar um passo à frente para que a gente possa alcançar as nossas metas’’.

Por Monique Leão (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

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