Primo de Wilder recebeu dinheiro de Cachoeira
Denílson Martins Arruda recebeu em sua conta bancária R$ 30 mil
Primo do senador Wilder Morais (DEM-GO), que sucedeu o senador cassado Demóstenes Torres (ex-DEM, sem partido-GO) no cargo, o advogado Denílson Martins Arruda recebeu em sua conta bancária R$ 30 mil da Alberto e Pantoja Construções - empresa de fachada que, de acordo com a Polícia Federal, era usada pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, para lavar dinheiro.
O valor foi transferido em 7 de julho de 2010, início da campanha eleitoral, quando Demóstenes, na época filiado ao DEM, e seu suplente disputavam o voto dos goianos. Os dados constam de relatório da PF, ao qual a reportagem teve acesso. Registrada em nome de laranjas, a Alberto e Pantoja era abastecida com recursos da Delta Construções que serviriam para financiar o caixa 2 de disputas eleitorais.
Ex-filiado ao PT e agora no PSD, Denílson é ex-chefe do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) em Goiás no governo Lula. Conforme escutas da PF, Cachoeira exercia influência no órgão e chegou a atuar em favor da Delta. Wilder é dono da Pedreira Caldas, registrada em Caldas Novas e que constava, até 2011, como arrendatária de uma área de extração de calcário em Goiás, controlada pelo departamento.
O advogado foi exonerado em março de 2009. Um processo administrativo aberto pelo DNPM no mesmo ano concluiu que o ex-servidor cobrou propina para liberar licença de um garimpo no Estado. Por isso, no ano passado, foi punido com a destituição do cargo e proibido de voltar à administração pública por cinco anos.
Clube
Denílson nega que o repasse da Alberto e Pantoja tenha abastecido campanhas. Segundo ele, trata-se de uma doação para o Nerópolis Esporte Clube, time da segunda divisão de Goiás, do qual é dirigente. O ex-chefe do DNPM alega, no entanto, que não conhece o contraventor e que toda a negociação foi feita pelo prefeito de Nerópolis, Gil Tavares (PTB), citado nas investigações das PF: "Como o time não tinha conta bancária, o dinheiro foi posto na minha. Quem conseguiu foi o prefeito."
Numa conversa interceptada pela PF um dia depois da transferência, Cachoeira orienta seu contador, Geovani Pereira, sobre a operação: "Você lança de crédito 30. Você põe Nerópolis Esporte Clube. Lança de crédito para mim, tá bom?". O advogado sustenta ter documentos que comprovam a doação.
Laboratório - Ele diz que, a pedido do prefeito, foi emitida uma nota fiscal para o laboratório Vitapan, de Cachoeira, cujo nome estampou a camiseta da equipe. E diz ter estranhado, dias atrás, quando foi questionado sobre a Alberto e Pantoja: "Fiquei surpreso com essa empresa. Não sabia quem ia doar". O advogado informou ter recorrido da decisão que o proibiu de exercer cargos na administração pública e alegou que o processo de investigação foi baseado em declarações "frágeis e contraditórias".
Drible - O prefeito de Nerópolis, Gil Tavares (PTB), diz que o repasse da Alberto e Pantoja bancou o patrocínio da Delta ao time de futebol. Ele explica que pediu ajuda ao então diretor da empreiteira no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, que teria se comprometido a doar duas parcelas de R$ 30 mil. Mas não soube explicar por que a Delta, com centenas de contas bancárias no País, valeu-se de uma empresa do esquema Cachoeira. Tavares se diz amigo de Cachoeira há 20 anos, mas sustenta não ter negociado com ele.
"Pedimos o patrocínio à Delta. Na época, o Cláudio era o diretor. Não tinha conhecimento de quem fez o pagamento." O suposto patrocínio foi pago por Cachoeira. Dias antes do pagamento, Cachoeira diz, num telefonema para Geovani Pereira: "Lança de crédito para mim. Não precisa mandar o dinheiro, não, que eu já paguei."
Eleito em 2008 e candidato à reeleição, Tavares é citado no inquérito da PF. Numa escuta, Cachoeira pede ao deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) que empreste um avião a Tavares. Em outra, pergunta a um aliado: "Quer pegar o lixo para você, a varrição de Nerópolis?" As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.