Meirelles: Fui chamado por João Doria, não por Bolsonaro
O futuro secretário da Fazenda de São Paulo disse que é preciso aguardar para ver como será a condução econômica do pais, mas elogiou sinalizações da equipe do presidente eleito. Meirelles também listou desafios econômicos de São Paulo
Futuro secretário da Fazenda no governo João Doria, o ex-ministro Henrique Meirelles afirmou que São Paulo oferece condições para atrair capital de investidores privados para projetos de concessão e privatização. Questionado sobre a possibilidade de vender o controle da Sabesp, ele disse que o assunto pode ser avaliado. "Mas, se não privatizada em termos de controle, certamente uma entrada de capital maior dentro da estrutura da empresa", afirmou ele, ao jornal O Estado de S. Paulo.
Segundo ele, entre seus desafios no novo cargo está a administração da dívida pública e da Previdência dos servidores estaduais. Meirelles, que teve 1% dos votos nas eleições presidenciais, elogiou a "sinalização" dada pelo governo Bolsonaro na economia - de abertura da economia e busca de equilíbrio fiscal. "Está seguindo o que lançamos."
O senhor disse que será secretário para poder continuar servindo ao País. Por que demorou, então, para se decidir?
Para poder conhecer o escopo do trabalho. Tinha de avaliar com cuidado para não tomar nenhuma decisão por impulso.
O senhor já tomou conhecimento da situação financeira do governo paulista?
Dentro do Ministério da Fazenda, já tinha uma certa visão. Fiz lá todo o processo de renegociação das dívidas dos Estados, inclusive de São Paulo. Não se trata de um Estado com situação financeira como alguns de insolvência prática, não, mas a dívida (pública) é elevada e existem desafios grandes, como na Previdência estadual.
Mas há um modelo de Previdência complementar desde 2011. Pode modificá-lo?
Vou avaliar isso, ainda mais diante de uma reforma da Previdência federal. Precisamos gerar recursos aqui para controlar a dívida e investir naquilo que é importante, como segurança, saúde e educação. Isso além das oportunidades muito grandes que temos em investimentos de infraestrutura.
O governo João Doria herdará um pacote de R$ 23 bilhões em possíveis concessões. O senhor pretende implementá-lo?
Acho que esse será o grande momento de São Paulo para atrair recursos da iniciativa privada. Nesse tempo todo que viajei para falar com investidores sobre o Brasil, sempre percebi uma disponibilidade grande para investir em São Paulo em função de sua capacidade de consumo, parque industrial, mão de obra qualificada, canais de distribuição. Não só em concessões, mas privatizações. Principalmente rodovias, portos, alguma coisa na área de energia.
O senhor é favorável à privatização da Sabesp?
Vamos estudar. E ver até que ponto isso pode ser necessário e positivo. Mas, se não privatizada em termos de controle, certamente uma entrada de capital maior dentro da estrutura da empresa. É uma direção, mas vamos aguardar.
O ex-governador Geraldo Alckmin reclamava que o governo Temer não repassava recursos para obras importantes no Estado, como Rodoanel e Metrô. Agora, do outro lado do balcão, como fará para buscar essas verbas?
Evidentemente que existiam razões técnicas para essa não liberação e de diversas ordens, como disponibilidade de recursos da União e enquadramento dos projetos. Não existe essa decisão no Ministério da Fazenda de repassar para cá e não para lá. Há normativas e vamos nos debruçar sobre isso e negociar com o novo governo. Agora, é o que dizíamos lá atrás: no momento em que se aprova a Previdência, se abre espaço para uma série de coisas como novos repasses para os Estados.
Como avalia o superministério da Fazenda criado por Bolsonaro? E Paulo Guedes?
Acho uma boa escolha. A sinalização que tem dado é certa, de abertura da economia, privatização, desestatização e, basicamente, com propostas que já fizemos de equilíbrio fiscal, reformas. Está seguindo o que lançamos.
O senhor vê uma continuidade?
Acredito que sim.
O senhor não conseguiu aprovar a reforma da Previdência mesmo negociando com bancadas e deputados um a um. Acha que a decisão de Bolsonaro de tratar com frentes parlamentares facilita ou dificulta?
O País amadureceu essa discussão. Não se vai começar do zero. Vamos aguardar, ver como vai ser agora. Eu fazia reuniões com partidos, mas também com bancadas, como a ruralista e a da mulher. Mas estivemos muito próximos de aprovar a Previdência, em 2017. Questões políticas e depois a intervenção federal (na área de segurança) no Rio de Janeiro foram supervenientes.
Na campanha, o senhor afirmava que o então candidato Jair Bolsonaro não sabia nada de economia. Agora presidente, Bolsonaro pode não saber de economia?
Sim, desde que ele tenha uma equipe boa e tome as decisões adequadas. Vou lembrar aqui o jogador Didi e sua frase histórica: "treino é treino, jogo é jogo".
O senhor foi chamado para o governo Bolsonaro?
Não. Fui chamado pelo Doria mesmo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.