Gravação revela desvio de verba na campanha de Bivar

Ex-prestador de serviço foi gravado por um político, segundo o jornal Folha de São Paulo

ter, 26/02/2019 - 10:42
Reprodução/Facebook Material contratado pelo ex-vereador Ernandes Bob (esquerda) teria saído com nota muito acima do valor do serviço Reprodução/Facebook

O dono de uma empresa de Abreu e Lima, no Grande Recife, que prestou serviços para a campanha a deputado federal de Luciano Bivar (PSL) admitiu em conversa gravada que participou de um esquema para desvio de verba nas eleições de 2018. A denúncia é destaque no jornal Folha de São Paulo.

A conversa teria sido gravada por um político sem o conhecimento do empresário. No vídeo recebido pela Folha, Luiz Claudio Cordeiro Palhares Junior, da Colossu's Empreendimentos, afirmou ter devolvido para a campanha de Luciano Bivar R$ 30 mil declarados como gasto eleitoral.

O esquema teria funcionado da seguinte forma: a pedido de um ex-vereador alaido de Bivar, Palhares confeccionou R$ 8 mil em materiais gráficos, mas emitiu nota no valor de R$ 38 mil, para que fossem pegos R$ 30 mil.

Conforme a discriminação da nota fiscal da Colossu's Empreendimentos, foram confeccionados 200 perfurados, 1,2 mil adesivos, 100 mil santinhos, 60 mil praguinhas, 700 bandeiras e 300 camisas para a "campanha do candidato a deputado federal Luciano Bivar nas eleições de 2018". O custo do serviço foi de R$ 36.176,25 e os impostos custaram R$ 5.426,43.

Segundo a Folha, o político que fez a gravação pergunta o que a empresa seria capaz de rodar e Palhares responde: "Tu pode fazer o seguinte, como eu fiz lá com o cara: ele rodou cerca de R$ 8 mil em material e R$ 38 [mil] de nota, entendeste?".

Em seguida, o dono da Colossu's detalha o esquema: "Ele fez um material dele, com uma marca dele também 'Bob Esponja apoia Luciano' e ele só fez R$ 8 mil, só que na nota eu justifiquei R$ 38 [mil] para ele pegar os R$ 30 mil, entendeste? Aí eu botei os R$ 38 [mil] mais o imposto".

Procurado pela Folha, Palhares inicialmente disse que desconhecia o teor do diálogo gravado. Em nova oportunidade, ele informou que poderia ter conversado sobre o assunto, mas que não teria admitido irregularidades. "Se eu falei algo do assunto é porque pode ser que eu tenha dito que já tinha rodado os R$ 8 mil e faltava rodar o resto. Até porque a nota do material que eu tirei foi de R$ 42 mil", se explicou ao jornal.

Todo material foi entregue, segundo o empresário. A Folha visitou o endereço do empreendido, mas não havia pessoas no local. Palhares iniciou a mudança de endereço na última sexta-feira (22).

Parte da impressão de propaganda política é terceirizada, segundo o empresário. O material contratado por Ernandes Bob, o citado Bob Esponja, teria sido rodado na Graff Center - Gráfica Rápida, no centro de Abreu e Lima. A empresa estava fechada na manhã da segunda-feira (25) e o proprietário não atendeu as ligações do jornal de São Paulo.

A Colossu's só prestou mais um serviço durante as eleições de 2018 além da campanha de Bivar, conforme dados do TSE. A empresa foi contratada por R$ 45,8 mil para organizar uma estrutura de recepção a Jair Bolsonaro (PSL) durante a campanha a presidente.

Ernandes Bob é ex-vereador e presidente do PSL em Igarassu, também na Região Metropolitana. Ele é apontado como uma das apostas do partido para disputar a prefeitura em 2020.

O PSL já é investigado por uma candidatura laranja em Pernambuco. Maria de Lourdes Paixão recebeu R$ 400 mil de dinheiro público na eleição do último ano, teve apenas 274 votos e diz ter gasto R$ 380 mil em uma gráfica com indícios de ser de fachada. A candidata recebeu mais verba do PSL do que Jair Bolsonaro.

 

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