Morales se proclama vencedor de eleições na Bolívia

"Boas notícias ... Nós já vencemos no primeiro turno", disse Morales em entrevista coletiva

qui, 24/10/2019 - 16:19
DANIEL WALKER Confrontos entre simpatizantes do presidente boliviano, Evo Morales, e do candidato opositor Carlos Mesa, em 23 de outubro de 2019 em Santa Cruz DANIEL WALKER

O presidente Evo Morales se proclamou nesta quinta-feira (24) vencedor no primeiro turno das disputadas eleições presidenciais na Bolívia, depois de alcançar uma diferença de 10 pontos sobre seu adversário Carlos Mesa, apesar de abrir a porta para a realização de um segundo turno caso a apuração final assim determine.

"Boas notícias ... Nós já vencemos no primeiro turno", disse Morales em entrevista coletiva, baseando-se no cômputo oficial da apuração de 98,42% das urnas que concede a ele 46,83% dos votos frente aos 36,7% de Mesa.

Esse resultado permite a ele evitar a segunda votação, já que a lei estabelece que, para vencer no primeiro turno, o candidato deve obter 40% dos votos e uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo competidor.

Ainda é preciso examinar mais de 1% dos votos, de acordo com o portal do Supremo Tribunal Eleitoral (TSE), e, logo após reivindicar sua vitória, Morales disse estar disposto a disputar um segundo turno. Evo está no poder desde 2006.

"Se o resultado final disser que vamos para o segundo turno, iremos, (mas) se o cálculo oficial disser que não há segundo turno, respeitaremos e vamos defendê-lo", afirmou o presidente, lembrando que é necessário concluir em 100% da contagem de votos e que os números podem variar.

Enquanto a apuração prossegue, a tensão continua a crescer no país após as eleições de domingo. Setores da oposição estão em greve parcial desde quarta-feira, e Mesa reivindicou o segundo turno, denunciando fraude eleitoral.

Nesta quinta, Morales também questionou o papel da Missão de observação da Organização dos Estados Americanos (OEA), que considerou como "melhor opção" para resolver a crise a realização de uma nova votação.

O presidente reclamou que tenham feito essa proposta antes que a apuração oficial terminasse.

"Não quero acreditar que a missão da OEA esteja do lado do golpe de estado", alfinetou, insistindo na tese que a greve e os protestos são um levante contra ele.

A respeito das denúncias de irregularidades, Morales pediu que "a fraude seja provada".

- "Evo nunca mais" -

Na véspera, Mesa anunciou a formação de uma "Coordenação de Defesa da Democracia" para pressionar pela realização de um segundo turno.

O objetivo da aliança com os partidos da direita e com líderes centristas é "conseguir que se cumpra a vontade popular de definir a eleição presidencial no segundo turno", destacou uma nota publicada no Twitter.

A aliança articulada por Mesa é formada pelo governador de Santa Cruz, Rubén Costas, o candidato de direita Óscar Ortiz, o empresário Samuel Doria Medina, líder da Unidade Nacional (UN, centro direita), e Fernando Camacho, executivo do Comitê Cívico Pró-Santa Cruz, da direita radical, entre outros.

A Conferência Episcopal Boliviana (CEB) também defendeu a realização de "um segundo turno, com uma supervisão imparcial, como a melhor saída democrática para o momento que o país vive".

Os confrontos explodiram em La Paz entre a polícia e centenas de manifestantes em uma vigília cívica perto do hotel onde se encontram os membros do TSE.

"Evo munca mais!" era o slogan mais utilizado pelos manifestantes.

Em Santa Cruz (leste), reduto da oposição e onde a greve nacional começou, os manifestantes bloquearam as principais ruas da cidade, a mais populosa da Bolívia.

"Essa greve vai durar até confirmarmos o segundo turno", disse o líder do influente Comitê Pró-Santa Cruz, Luis Fernando Camacho.

Esta organização conservadora da sociedade civil reúne representantes de bairro, comércio, transporte e líderes empresariais.

Denunciando uma "autocracia", os setores bolivianos rejeitaram a decisão de Morales de buscar um quarto mandato, uma opção à qual os cidadãos se opuseram em um referendo em 2016, não reconhecido por Morales.

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