Presença de negros na política ainda é pequena, mas firme

Confira algumas das personalidades políticas mais influentes da atualidade

por Vitória Silva sab, 20/11/2021 - 20:10
Reprodução/PT no Senado e José Antonio Teixeira/Alesp O senador Paulo Paim e a vereadora Erika Hilton Reprodução/PT no Senado e José Antonio Teixeira/Alesp

A luta por igualdade racial no Brasil é um debate histórico. Presente em diversos âmbitos da sociedade, na política, parlamentares tentam viabilizar espaços dentro dos Três Poderes, nos quais possam ser debatidas pautas de interesse social — uma vez que o combate ao racismo deve ser um objetivo de toda a sociedade e não somente de pessoas negras ou não-brancas, diretamente afetadas por esse sistema. Apesar dos debates pela luta contra o racismo terem ganhado mais espaço ao longo dos anos, e de personalidades negras terem ocupado posições de destaque, a representatividade negra ainda é menor do que 20% no Congresso Nacional, e o número engloba ativistas raciais e não ativistas.

Neste Dia da Consciência Negra, o LeiaJá faz uma menção honrosa a algumas das presenças negras na política brasileira e que seguem na ativa por um debate mais justo no país da miscigenação e da “democracia racial”. Confira: 

Paulo Paim

Senador da ala gaúcha do Partido dos Trabalhadores, foi eleito um dos 100 afrodescendentes mais influentes do mundo. O parlamentar foi agraciado com o Prêmio Most Influential People of African Descent (Mipad), realizado desde 2017 em Nova York com o apoio da ONU. O Mipad sempre ocorre após a abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. O objetivo é homenagear artistas e cidadãos que se posicionam contra o racismo e lutam a favor do direito dos negros.  

Paim nasceu em Caxias do Sul (RS). Está no terceiro mandato de senador da República, tendo sido, também, quatro vezes deputado federal. Seu projeto mais recente foi aprovado em plenário do Senado há dois dias, na quinta-feira (18), e deve seguir para análise da Câmara dos Deputados. O PL 4.373/2020, relatado por Romário (PL-RJ), tipifica a injúria racial como crime de racismo no Brasil. 

Erika Hilton 

A paulista nascida em Franco da Rocha fez história ao ser eleita a primeira vereadora trans e negra em São Paulo, nas eleições municipais de novembro de 2020; e a mulher mais votada no Brasil naquelas eleições, com 50.508 votos. Em 24 de março, foi nomeada presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Vereadores de São Paulo, a maior cidade do Brasil. Sua militância começou ainda na adolescência. Em 2015, enfrentou na justiça uma empresa de transporte público que se recusava a aceitar seu nome social. A ação foi vitoriosa para a vereadora, que acumulou mais de 100.000 assinaturas a uma petição online pela sua causa e, assim, atraiu a atenção do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que a convidou a se juntar às suas listas de candidatos. Pouco depois, Erika criou um curso pré-vestibular na Universidade Federal de São Carlos para pessoas trans.

Benedita da Silva

Silva foi nascida e criada na favela da Praia do Pinto, no Rio de Janeiro. Com uma vida repleta de dificuldades, insistiu na carreira acadêmica e formou-se aos 40 anos de idade em Estudos Sociais e Serviço Social. Em 1982 tornou-se a primeira negra a ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores da Cidade do Rio de Janeiro. Foi eleita Deputada Federal por duas vezes. Em seu primeiro mandato, durante a reforma da Constituição do Brasil, ela garantiu às mulheres presidiárias o direito de permanecerem com os seus filhos durante a amamentação. 

Foi autora de 84 projetos de leis de grande importância para a população. Sua atuação ajudou a escrever a história recente do país. Foi também a primeira negra a chegar ao Senado Federal, o mais alto escalão do Poder Legislativo brasileiro. Disputou o Governo do Estado do Rio de Janeiro onde foi vice-governadora e desenvolveu todos os projetos sociais da gestão. Em 2010 foi eleita mais uma vez para Câmara Federal. 

Marina Silva

Na política desde a década de 80, a ativista ambiental Marina Silva, atualmente, faz parte da Rede Sustentabilidade, partido fundado por ela. É um rosto conhecido e respeitado da política, já tendo sido ministra e senadora, e também candidata à presidência da República. A última vez que disputou as presidenciais foi em 2018, mas a candidatura não foi muito longe. 

Aos 60 anos, Silva foi eleita para seu primeiro cargo público em 1988, quando se elegeu vereadora de Rio Branco pelo PT. De lá para cá, ela ocupou cargos de deputada estadual e senadora pelo Estado do Acre nos anos 90 e 2000, além de ter sido ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008, sob o governo Lula. Após deixar o PT em 2009, Marina filiou-se ao Partido Verde (PV), passando depois pelo PSB — quando resolveu disputar a Presidência no lugar de Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em 2014. Após isso, fundou o Rede. Atualmente, a política já não é mais tão esperançosa sobre ocupar o assento presidencial, mas ainda tem consigo o sonho que tinha quando disputou o cargo pela primeira vez: ver uma mulher negra e de origem pobre ser presidenta do Brasil, fato ainda inédito na democracia brasileira. 

Robeyoncé 

A presença da co-deputada Robeyoncé Lima na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) é um marco histórico para o país. A psolista é a primeira mulher trans a fazer parte da casa legislativa e uma das únicas no Brasil inteiro a ocupar um cargo do tipo. Advogada, Robeyoncé o coletivo “Juntas”, que optou por uma candidatura compartilhada, tendo representantes de diferentes minorias sociais. Ela também foi a primeira advogada trans, negra e nordestina a conseguir o nome social na carteirinha da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). 

Subrepresentação ainda domina casas legislativas 

De todos os parlamentares no Congresso, apenas 17,8% são negros. Isso quer dizer que, entre os 594 deputados federais e senadores, 106 declararam ser da cor preta ou parda. O cenário não muda se as duas Casas forem analisadas separadamente. Na Câmara, dos 513 deputados em exercício, 89 são pretos. Em contrapartida, 344 são brancos. Os dados são da própria Câmara Federal. No Senado, a diferença é ainda mais evidente. A proporção de brancos é quase quatro vezes maior do que a de pretos — 64 para 17. Observados apenas os parlamentares que se elegeram no ano passado e se autodeclararam pretos, o número é ainda menor. Apenas três senadores negros foram eleitos em 2018. 

O cenário das duas Casas fica longe de representar a diversidade brasileira. Segundo dados do IBGE, mais da metade da população é de pretos e pardos — 9,3% e 46,5%, respectivamente. Já os brancos representam 43,1%. 

Candidaturas negras cresceram em 2020

Em 2020, pela primeira vez, os candidatos negros passaram a ser o maior grupo de postulantes a cargos eletivos no país desde que o TSE passou a coletar informações de raça, em 2014. Ao todo, 276 mil candidatos pretos ou pardos se registraram para concorrer no pleito, o equivalente a 49,9%.

Nas últimas eleições, em outubro de 2020, os negros aumentaram sua participação no comando das prefeituras e no número de cadeiras nas câmaras de vereadores, segundo dados do TSE. Dos mais de 5,4 mil prefeitos eleitos, aproximadamente 1,7 mil candidatos se declararam pretos ou pardos, o que corresponde a 32% do total. O número é superior a 2016, quando 29% dos candidatos eleitos eram negros segundo a classificação do IBGE.

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