Marília é investigada por possível caixa dois em campanha

Áudios obtidos durante operação da PF-PE associam marido da parlamentar a agiota investigado por desvios de recurso na Alepe. Deputada nega envolvimento

por Vitória Silva ter, 30/11/2021 - 09:37
Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens Marília Arraes em coletiva no Recife Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens

A Polícia Federal em Pernambuco investiga uma possível utilização de caixa dois para financiar a campanha eleitoral da deputada federal Marília Arraes (PT-PE), que em 2020 foi candidata à Prefeitura do Recife, em disputa contra o primo, o prefeito João Campos (PSB). Em áudios obtidos durante uma operação policial que apura desvios de dinheiro associados ao empresário Sebastião Figueiroa, um homem que teria se identificado como marido da parlamentar tenta contato com o investigado, solicitando a quantia de R$ 1 milhão, em duas parcelas de R$ 500 mil. O período da suposta solicitação coincide com o período eleitoral no qual Marília disputava a gestão da capital pernambucana. A denúncia foi antecipada pela Folha de São Paulo. 

A Justiça autorizou a abertura da investigação após a conclusão de um relatório da PF em janeiro, no qual foram encontradas as conversas entre Sebastião Figueiroa e, supostamente, André de Souza “Cacau”, marido da pernambucana, no âmbito da Operação Casa de Papel. Os áudios estavam no celular do motorista de Figueiroa. Marília e o marido não são alvo desta investigação, cujo objetivo é apurar um esquema de desvios em contratos municipais e estaduais em Pernambuco. 

Como o pedido se deu em novembro de 2020, entre o primeiro e o segundo turno da eleição, os investigadores afirmam que é "bem razoável supor que os valores solicitados" seriam utilizados na campanha. A PF aponta no relatório que Figueroa é conhecido "agiota e financiador de campanhas, possuindo bastante disponibilidade de recursos financeiros em espécie", e que o grupo criminoso do qual faz parte se favorece desse tipo de contratação há quase uma década.  

LeiaJá entrou em contato com a Polícia Federal para obter mais informações sobre o andamento da investigação, mas não obteve retorno até o momento da publicação desta matéria. Em nota enviada pela assessoria de Marília Arraes, a deputada nega envolvimento, por sua parte ou de seu marido, nas suspeitas investigadas pela PF. 

Segundo ela, o grupo de Figueiroa, com quem não possui qualquer contato, é vinculado ao PSB, partido adversário e que protagonizou junto à petista uma campanha tensa no ano passado. Ela também menciona que “muito se admira”, após seu encontro com Jair Bolsonaro (sem partido) na semana passada, alvo de críticas da parlamentar na Câmara, “chegue ao conhecimento da imprensa informações sobre um inquérito está sob segredo de Justiça e que, infelizmente, se arrasta a passos de tartaruga e não possui embasamento probatório concreto nenhum”. Confira a nota de Arraes na íntegra: 

Diante dos fatos narrados, segue nota oficial da deputada Marília Arraes

- O Sr. André Luiz jamais teve qualquer tipo de relação com o Sr. Sebastião Figueiroa, sequer o reconheceria pessoalmente se estivessem no mesmo ambiente e assim que tomou conhecimento deste  inquérito, por meio de seus advogados, requereu que fosse feita uma perícia no material alvo da investigação, para que se comprove que não é a sua voz a que está nos áudios ali constados; 

- Devido à falta de celeridade na investigação, novamente por meio de seus advogados, o Sr. André Luiz se prontificou a arcar com os custos necessários para a execução da perícia solicitada; 

- Ora, se o Sr. André Luiz não fosse completamente inocente diante destes fatos, jamais estaria interessado na celeridade da conclusão do inquérito ou requereria que os áudios e conversas de aplicativo de mensagens fossem periciados; 

- O Sr. Sebastião Figueiroa, de acordo com outras investigações das quais é pivô, faz parte do círculo estreito de relacionamento de pessoas ligadas ao PSB, partido que durante a disputa eleitoral para a Prefeitura do Recife, em 2020, realizou, contra mim, uma das mais vis e agressivas campanhas - baseadas em inverdades e fake news -  

- Muito me admira que dois dias após ter estado cara a cara com o presidente da República e feito um discurso expressando minha opinião - e de muitos brasileiros - sobre seus desgovernos e descalabros, chegue ao conhecimento da imprensa informações sobre um inquérito está sob segredo de Justiça e que, infelizmente, se arrasta a passos de tartaruga e não possui embasamento probatório concreto nenhum. Nem law fare e nem qualquer outro tipo de perseguição política vão me intimidar ou arrefecer a minha luta em defesa do povo brasileiro.  

- Minha família está sendo atacada, mas não revidaremos com a mesma moeda de nossos agressores. Responderemos da única forma que sempre fizemos: com a verdade e a transparência de quem sabe que está do lado certo da história. 

 

COMENTÁRIOS dos leitores