Falta de diálogo com a Alepe pode travar início de Raquel

Pela experiência da atual governadora e da vice no legislativo, era esperado que os deputados eleitos fossem ouvidos antes do início da legislatura

sab, 28/01/2023 - 08:05
João Velozo/LeiaJá Imagens/Arquivo Raquel Lyra participa de evento de campanha João Velozo/LeiaJá Imagens/Arquivo

A relação entre Raquel Lyra (PSDB) e a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) ainda é distante. Apesar de aprovar sua reforma administrativa - que criou novos cargos comissionados e aumento salários de servidores -, a falta de diálogo com a governadora é criticada pelos deputados estaduais, que esperavam da nova composição um início de mandato com mais abertura. Nesse contexto, João Campos (PSB) pode ser uma peça-chave na busca por essa articulação. 

O distanciamento de Raquel com o legislativo é tido como uma característica herdada do pai João Lyra. Em seu primeiro mandato de prefeita, a Câmara Municipal de Caruaru já reclamava da falta de interesse no diálogo. "Frequentemente atores diferentes reclamavam de ausência total de escuta por parte da gestão municipal. Como governadora, creio que será muito difícil manter o mesmo tipo de postura", observou o professor doutor em Ciência Política, Gustavo Rocha.

Na realidade de uma Câmara do interior, a gestora rapidamente conseguiu reverter a oposição e formou maioria logo no início do mandato. Porém, a pequena oposição que se preservou em Caruaru continuou a criticar a falta de debate e acompanhou esse afastamento contagiar os demais vereadores. "Sobre as aprovações, depois de conquistar uma ampla maioria, era na base do ‘rolo compressor’. Pouco debate, aprovações rápidas, e os poucos vereadores dissidentes geralmente denunciavam a falta de debate e os problemas dos projetos", apontou Rocha, que citou o acordo com a Caixa pela continuidade da obra da Via Parque. Nessa votação houve apenas um voto contra. 

Busca por prefeitos

Nesta semana, Raquel convidou prefeitos do Grande Recife e da Zona da Mata para ouvir suas demandas, e deve receber os representantes do Sertão já na próxima segunda (30). Como ex-gestora municipal, ela entende os benefícios desse contato direto para sua governabilidade, entretanto, esses encontros não dispensam o peso de atender à expectativa dos deputados estaduais para os próximos passos da sua gestão. 

"Ela já deveria ter iniciado os diálogos para não ser pega no contrapé no início da legislatura. Mas é de se esperar que haja uma composição. Afinal, ela foi deputada estadual e a vice tem uma grande experiência na Alepe. Sabem o que pode dificultar a vida delas", alertou o cientista político.

João Campos pode ser o caminho

Ainda sem movimentos claros para atrair o PSB, até o momento, o partido que carrega a maior base na Alepe também não se mostrou disposto a se bandear para o lado da governadora. A estratégia para começar a articular com o legislativo estadual pode passar pelo prefeito do Recife, João Campos (PSB). 

Considerado um dos principais interlocutores do partido a nível nacional, principalmente após participar da campanha de Lula (PT), João já afirmou que pretende criar uma relação tranquila com Raquel e deixar o clima eleitoreiro no passado.

Na medida em que ele e a governadora desemparedam essa relação, o PSB pode adotar uma posição mais independente da Frente Popular, o que seria melhor que uma oposição aberta pela condição de negociar cada pauta conforme os interesses do partido, avaliou Rocha. 

“Não sei qual a extensão de influência dele sobre os demais partidos. Mas o PSB sozinho já seria suficiente para ter uma maioria. Isso pode ser definido por posições na mesa diretora da Alepe, com acordos com as prefeituras, que daria uma disposição ao partido de manter uma posição, ainda que crítica, de apoio. O que tenderia a mudar em momentos em possa haver capitalização eleitoral. Em outras palavras, ainda que aconteça, tende a ser um apoio meio instável", complementou o estudioso.

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