Tópicos | 12ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco

Quando o assunto é celular na sala de aula, não é difícil perceber uma divisão de opiniões, ao mesmo tempo em que diariamente são lançadas ferramentas tecnológicas voltadas para o ensino, não apenas com o celular como também em outras plataformas e dispositivos. Para o professor de literatura, gramática e redação Isaac Melo, já passou - muito - da hora de implementar uma mudança de perspectiva sobre a tecnologia na mão dos estudantes, a fim de que as escolas não se tornem ambientes chatos e anacrônicos para jovens nascidos em uma era digital. 

O assunto foi tema de uma palestra realizada na 12ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco na manhã desta quinta-feira (10). Isaac argumenta que a internet surgiu como uma arma de comunicação de guerra, mas à medida que industrialização e globalização avançaram, levando as tecnologias de comunicação online para o cotidiano das pessoas com outros usos, a educação não poderia ficar à margem desse processo. 

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Questionado sobre como o debate a respeito da integração da tecnologia ao ensino e estudo se iniciou no Brasil, o professor explicou que, a princípio, o tema começou a ser falado sem debate algum, pois a primeira postura diante da presença de celulares nas aulas foi a de veto. "O Brasil já começa proibindo por várias razões. A primeira é que a tecnologia num primeiro momento não é pensada para a educação. Quando a educação vai percebendo que não vai dar conta de dominar a tecnologia, começam a perceber que tem que tomar uma atitude em relação a ela. O mais fácil e simplista é proibir", explicou Isaac.

Essa tentativa de banir os celulares de sala de aula, conta o professor, chegou a virar até projeto de lei. Isaac é contrário à postura tanto por enxergar o potencial educativo que a integração dos celulares pode proporcionar quanto por entender que tentar manter jovens que estão imersos em uma sociedade conectada apartados dessa lógica no momento de aprender gera prejuízos, além de não ser mais possível. 

"Como é que a tecnologia cada vez mais presente na vida da gente, com dados estatísticos mostrando que jovens de 15 a 29 anos passam 12 horas por dia conectados ao celular, isso vai, claro, fazer parte da formação dessa pessoa desde a menor idade. Quando o celular está na mão, a educação também precisa estar, sob pena de a gente ter uma formação perigosa moral e intelectual dessa pessoa", defendeu o professor que também destaca a importância da alfabetização digital.   

O primeiro motivo que o professor Isaac enxerga como causador desse problema é a formação dos professores não incluir a integração de ferramentas digitais no ensino desde o princípio. Para ele, isso faz com que profissionais ensinados a dar aula em uma lógica de educação tradicional tenham resistência ou dificuldades de mudar de parâmetro. "Eu, por exemplo, fui formado para gramática, para questão de vestibular e em provas no papel, então tudo direciona o professor para pensar em de forma tradicional. Tive que aprender com colegas, trabalhando em um local de grande engajamento tecnológico", contou o professor.

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Esse comportamento, na opinião de Isaac, leva a uma perda de possibilidades em sala. "No livro tem muita coisa, tem uma imagem, trinta, quarenta, mas a internet tem milhões. 'Vamos ver um depoimento de uma pessoa que mora no RS', eu abro a internet coloco uma reportagem com uma pessoa de lá e o aluno ouve a voz dela, posso trabalhar variação linguística", explicou ele.

Os profissionais e escolas que preferem vetar os celulares, segundo o professor, muitas vezes o fazem pela dificuldade de controlar o seu uso e garantir que os aparelhos não virem instrumentos de distração com estudantes acessando outros conteúdos ou "batendo papo". Nesse sentido, Isaac afirma que o problema se resolve através do processo formativo e do apoio das famílias.

Perguntado sobre como a integração entre tecnologia e ferramentas tradicionais de ensino podem se mesclar com sucesso em sala de aula, Isaac citou como exemplo a experiência do curso preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares no qual ele trabalha. "Temos uma plataforma onde o aluno acessa a redação corrigida, notas, pode assistir a aula gravada depois quando quiser e exercícios online ou presenciais”, contou ele. 

Para o professor Isaac, uma possível solução a longo prazo para a falta de integração entre tecnologia e formas tradicionais de ensino passa pela inserção de matérias ligadas ao ensino com tecnologia nos cursos de graduação que formam professores, como pedagogia e as licenciaturas, fazendo os professores enxergarem celulares e outros equipamentos como aliados e não inimigos do ensino. 

“Seria extremamente importante ensinar na faculdade como criar aplicativos, conhecer sites, perfis de redes sociais com bons conteúdos e ferramentas de celulares. Sem isso, a educação mais uma vez se tornará chata e antiquada. Quando a gente percebe o aluno torcendo para que o terceiro ano acabe, que as férias cheguem, que a aula termine, é porque a escola virou um saco”, sustenta o professor. 

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