Uma das grifes mais queridas e lembradas pelos pernambucanos, a Período Fértil, teve início durante a efervescência cultural que contaminou a capital durante o final dos anos 1980, e começo da década de 1990. A filosofia seguida por todos era o “Do it Yourself” (Faça você mesmo), aplicada tanto na moda, quanto na música, nas artes plásticas, no cinema, entre outras manifestações artísticas. E é por isso mesmo que uma das marcas registradas da grife é a experimentação.
O uso de cores chamativas, mescladas com diferentes tipos de tecidos provoca o resultado de uma marca que reflete bem a cara e o gosto do pernambucano. À frente da empreitada estão o casal Clesinho Santos e Márcia Lima, que se conheceram em 1987, cada um carregando em si o gosto pelas roupas e a vontade de criar uma identidade cultural própria, identidade esta que não existia na época, ainda enxertada de referências do exterior. “Hoje faço uma reflexão de como essa nossa história tem a ver com a busca do pernambucano por uma identidade. Na época, tudo que a gente vestia era de fora, todas as grifes eram de fora, com modelos de fora, com cores que não tinham nada a ver com a gente. E fomos justamente de encontro a isso”, afirma Márcia.
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Segundo ela, a realização do primeiro Mercado Pop, no Abril Pro Rock de 1995, foi um dos pontos mais marcantes da trajetória da loja, onde toda a produção cultural e independente do Estado pôde se encontrar e trocar experiências. No mesmo ano, a grife recebeu o convite do produtor do festival, Paulo André, para produzir o figurino do videoclipe de Chico Science e a Nação Zumbi.
“Não tinha dinheiro na jogada, era tudo feito no esquema de ‘brodagem’ mesmo, até porque já éramos fãs dos caras, que também eram da nossa turma, nossos amigos, então foi muito por prazer mesmo”, disse Márcia. Ainda bastante (ou totalmente) conectada à música e ao audiovisual, ela revelou que a grife vai assinar o figurino do próximo clipe da Academia da Berlinda, além de ter feito as principais peças do mais recente longa de Hilton Lacerda, “Tatuagem”.
PROCESSO CRIATIVO - A falta de uma “educação formal” em moda, tanto na parte de Clesinho quanto na de Márcia - ele é engenheiro mecânico por formação, enquanto ela, pedagoga - é vista pelos dois como um ponto positivo, e uma garantia de que a marca não vai perder o seu estilo. “A gente terminou adquirindo uma certa cara, uma forma de fazer que é única. Claro que utilizamos algumas influências de coisas que estão acontecendo no momento, mas a modelagem é bem característica da maneira como a gente aprendeu a fazer. Eu acho que, de certa forma, isso é um ponto positivo”, diz Clesinho.
A Período Fértil fixou residência na Rua 15 de Novembro, localizada no Sítio Histórico, em Olinda. Ainda teve duas filiais, uma no bairro de Casa Forte, e outra em Salvador, mas no final das contas, preferiu manter-se em apenas uma loja.
Prestes a completar 20 anos e com clientes em seis diferentes estados brasileiros, a grife foca no aspecto da criação e na produção de peças, tudo com muita experimentação. Um verdadeiro laboratório de moda. “Eu e Clesinho desenhamos as roupas, cortamos aqui e então ele modela tudo. Daí passamos para a ‘pilotista’ (costureira que produz a peça piloto), e para a ‘acabadeira’, que é quem faz o acabamento e o controle de qualidade das roupas. A gente trabalha numa qualidade limitada de peças, pois mudamos muito de coleções, daí também mudam os tecidos”, disse Márcia.
Apesar do nome, a Período Fértil não se dedica exclusivamente à moda feminina. Está muito mais ligado ao aspecto da “fertilidade”, da criação. Atende a um público variado, desde pessoas idosas até uma geração mais nova, geralmente filhos(as) de clientes antigos. “Uma coisa que observamos é a dificuldade que nossos clientes tem em se livrarem das roupas. Já vimos uns com peças que fizemos há muito tempo atrás e que hoje são reutilizadas pela prole”, brinca Clesinho.
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