Os nigerianos comparecem às urnas neste sábado (25) para escolher seu presidente pelos próximos quatro anos, em uma disputa acirrada e durante uma profunda crise econômica e de segurança no país de maior população da África.
Mais de 87 milhões de nigerianos estão registrados para comparecer aos 176.000 pontos de votação. As zonas eleitorais deveriam abrir às 8H30 locais, mas em várias localidades, incluindo pontos de Lagos (sudoeste), Port Harcourt (sudeste) ou Kano (norte), o material não estava pronto, segundo correspondentes da AFP.
O atual presidente, Muhammadu Buhari, 80 anos, não está na disputa porque atingiu o limite determinado pela Constituição de dois mandatos.
Sua presidência foi marcada por um aumento explosivo da violência e da pobreza no país, maior produtor de petróleo do continente, onde 60% de seus 216 milhões de habitantes têm menos de 25 anos.
Pela primeira vez desde a instauração da democracia em 1999, o pleito, com três candidatos fortes, pode ser definido no segundo turno.
A campanha foi marcada pelo avanço de Peter Obi, 61 anos, ex-governador de Anambra (sudeste). O candidato do Partido Trabalhista (PL) apresentou promessas de mudança e ameaça a hegemonia dos dois partidos tradicionais na ex-colônia britânica, independente desde 1960.
O Congresso de Todos os Progressistas (APC), partido de Buhari, apresenta como candidato à sucessão Bola Tinubu, 70 anos, apelidado de "o padrinho" por sua enorme influência política.
O Partido Democrático Popular (PDP) apresenta a candidatura do ex-vice-presidente (1999-2007) Atiku Abubakar, 76 anos, que tentará pela sexta vez chegar ao posto de chefe de Estado. Ele afirma que sua sagacidade no mundo empresarial lhe permitirá "salvar" a Nigéria.
Os resultados serão anunciados nos 14 dias posteriores à votação. Em caso de segundo turno, a votação deve acontecer em um período de 21 dias.
As eleições são acompanhadas com atenção fora da Nigéria, depois dos golpes de Estado no Mali e em Burkina Faso que colocaram em xeque a democracia na África Ocidental, que também enfrenta a propagação dos grupos armados islamitas.
- Desafios -
O vencedor da eleição terá que enfrentar os muitos problemas da maior economia da África, que vão da inflação e aumento da pobreza até a falta de segurança e a violência fundamentalista, passando por um movimento separatista no sudeste.
"Não temos combustível, não temos comida. Todos sofrem", declarou na véspera da votação Abdulahi Audu, 31 anos, morador de Lagos, capital econômica do país. Ele disse que pretendia votar porque "o país precisa de uma mudança".
A campanha também foi marcada por ataques contra candidatos, ativistas, delegacias de polícia e locais de votação.
A violência generalizada no país, que já registrou taxas de abstenção superiores a 60% em outras eleições, "pode afetar a votação", alerta o International Crisis Group.
O governo mobilizou 400.000 membros das forças de segurança em todo o país.
A eleição também é influenciada por fatores étnicos e religiosos, em um país com 250 grupos étnicos, divididos entre o norte, de maioria muçulmana, e o sul, majoritariamente cristão.
- Sem dinheiro -
A identificação dos eleitores por reconhecimento facial e digital, e a transmissão dos resultados por via eletrônica, devem limitar o risco de fraudes como as que afetaram as eleições anteriores, destacou a Comissão Eleitoral.
Mas o uso de novas tecnologias, algo inédito em escala nacional, provoca o temor de falhas no sistema.
As eleições na Nigéria são frequentemente abaladas por episódios de violência, tensões políticas e étnicas e problemas logísticos.
Em 2019, a Comissão Nacional Eleitoral Independente (INEC) adiou as eleições por uma semana, poucas horas antes da abertura dos locais de votação.
Outro fator com consequências políticas imprevisíveis é a falta de liquidez bancária, devido à decisão do Banco Central de substituir a moeda nigeriana, a naira, por uma nova, para tentar conter a corrupção e a inflação.
A medida deixou muitos nigerianos sem meios para fazer compras ou usar o transporte público, o que aumentou o descontentamento com o governo de Buhari.