Tópicos | Adriano da Nóbrega

Conhecido após ser suspeito da morte da ex-vereadora Marielle Franco (PSOL), o Escritório do Crime teria assassinado três políticos do Rio de Janeiro. É o que aponta o livro "Decaído", do jornalista Sérgio Ramalho, que conta a história do ex-chefe do grupo Adriano da Nóbrega.

A obra que será lançada nesta sexta (5) atribui as mortes do deputado estadual Ary Ribeiro Brum (2007), e dos vereadores Nadinho de Rio das Pedras (2008) e Alberto Salles (2009) ao grupo de extermínio.

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A morte de Ary Barros teria sido encomendada pelo ex-sócio, o empresário Lindemberg Sardinha Meira, na compra de um hospital em Papucaia. A motivação seria um rombo de R$ 800 mil nas contas da sociedade. Nadinho de Rio das Pedras, como era conhecido Josinaldo Francisco da Cruz, tinha envolvimento com milícias, enquanto Alberto Salles teria denunciado a atuação de milicianos semanas antes de ser executado.

O envolvimento com a família Bolsonaro também foi citado no livro. Antes de se envolver com o crime, Adriano da Nóbrega era capitão do Bope e possuía uma relação próxima com a família do ex-presidente, sendo condecorado pelo atual senador Flávio Bolsonaro (PL) e tendo familiares em seu gabinete. Adriano fugiu do Rio de Janeiro e foi morto em fevereiro de 2020 pela Polícia Militar da Bahia.

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Em áudio divulgado nesta sexta-feira (8) pelo jornal Folha de S. Paulo, a viúva do ex-miliciano Adriano da Nóbrega, Júlia Lotuffo, afirma que uma antiga companheira do militar foi funcionária fantasma no gabinete de Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A conversa foi gravada pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, através da Operação Gárgula, e se refere a um registro de julho de 2019, quando Adriano estava foragido.

No áudio, Júlia se queixa das reclamações de Danielle Mendonça da Nóbrega, ex-mulher do PM executado, sobre as investigações do caso da "rachadinha" no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quando ele ainda era deputado. Ouça:

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“Aí vem a Danielle e dá ataque que bateram na porta da casa dela e ela não está mais casada com ele. Mas e aí? Não estava levando dinheiro lá? […] Ela sabia muito bem qual era o esquema”, disse Júlia.

A mulher completa: "Ela foi nomeada por 11 anos. Onze anos levando dinheiro, R$ 10 mil por mês para o bolso dela. E agora ela não quer que ninguém fale no nome dela? [...] Bateram na casa dela porque a funcionária fantasma era ela, não era eu".

O ex-PM ficou foragido de janeiro de 2019 a fevereiro de 2020, quando foi morto num suposto confronto durante uma operação policial na Bahia, onde estava escondido. Ele era acusado de comandar a principal milícia da zona oeste do Rio de Janeiro. Adriano também era investigado na ocasião sob suspeita de envolvimento no suposto esquema de "rachadinha'' no antigo gabinete de Flávio.

Danielle trabalhou entre setembro de 2007 e novembro 2018 no gabinete de Flávio, que na época era deputado estadual. O salário variou de R$ 3.000 a R$ 6.000 durante esse período.

Ela foi uma das denunciadas em dezembro de 2020 sob acusação de envolvimento no esquema, mas as provas da investigação foram anuladas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Uma escuta telefônica feita pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, há dois anos, mostra uma irmã do ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega, acusando o Palácio do Planalto de oferecer cargos comissionados em troca da morte do ex-capitão. 

No conteúdo, Daniela Magalhães da Nóbrega afirma a uma tia, dois dias após a morte do irmão numa operação policial na Bahia, que ele soube de uma reunião envolvendo seu nome no Palácio, e do desejo que se tornasse um “arquivo morto”. 

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“Ele já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele já era um arquivo morto. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, já. Fizeram uma reunião com o nome de Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele já sabia disso, já. Foi um complô mesmo”, contou, em gravação autorizada pela Justiça. 

Morto em 9 de fevereiro de 2020, Adriano passou mais de um ano foragido sob a acusação de comandar a maior milícia do Rio de Janeiro. Ele também era suspeito de envolvimento no esquema da “rachadinha” no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Assembleia Legislativa Fluminense. 

A gravação faz parte das escutas realizadas pela polícia no âmbito da Operação Gárgula, que miraram o esquema de lavagem de dinheiro e a estrutura de fuga de Adriano. 

A polícia ouviu conversas de familiares, amigos e comparsas de Adriano por mais de um ano. Daniela, por sua vez, não é acusada de envolvimento nos crimes do irmão.  

A conversa sobre o Planalto foi feita com a tia dois dias depois da morte do irmão, num suposto confronto com policiais militares no interior da Bahia. Desde aquele dia, a família suspeita de uma execução para “queima de arquivo”, o que não foi comprovado até o momento. 

“Ele falou para mim que não ia se entregar porque iam matar ele lá dentro. Iam matar ele lá dentro. Ele já estava pensando em se entregar. Quando pegaram ele, tia, ele desistiu da vida”, afirmou Daniela. Pouco depois, a tia comenta com Tatiana, outra irmã de Adriano: “Daniela sabe de muita coisa, hein?”.

As suspeitas pela morte do ex-PM foram levantadas pelo próprio presidente Jair Bolsonaro (PL), dias após a ocorrência na Bahia. Ele e Flávio defenderam uma perícia independente para analisar o caso. 

A atuação de Bolsonaro foi alvo de elogio de Tatiana em uma outra conversa. “Ele foi nos jornais e colocou a cara. Ele falou: “

‘Eu estou tomando as devidas providências para que seja feita uma nova perícia no corpo do Adriano’. Porque ele só se dirige a ele como Adriano, capitão Adriano”. 

Ela também sugere que a ordem para matar o irmão foi do ex-governador Wilson Witzel. “Foi esse safado do Witzel, que disse que se pegasse era para matar. Foi ele”, pontuou. 

Foi possível analisar pelas escutas que, na avaliação da família de Adriano, ele era acusado de integrar uma milícia apenas para vincular o presidente aos grupos paramilitares. Tatiana, por sua vez, enfatiza ao negar a acusação feita ao irmão, a quem classifica como bicheiro. “Pessoal cisma que ele era miliciano. Ele não era miliciano, não. Era bicheiro. Querem pintar o cara numa coisa que ele não era por causa de coisa política porque querem ligar ele ao Bolsonaro. Querem ligar ele a todo custo ao Bolsonaro”. 

“Aí querem botar ele como uma pessoa muito ruim para poderem ligar ao Bolsonaro. Já disseram que foi o Bolsonaro quem assassinou. Quando a gente queria cremar, diziam que a família queria cremar rápido porque não era o Adriano. Uma confusão”. 

O vínculo de Bolsonaro com Adriano é desde 2005, quando, num discurso na Câmara dos Deputados, Bolsonaro criticou a condenação do então tenente da PM pela morte de um flanelinha numa operação policial. 

Em 2007, a então mulher do ex-PM, Daniella Mendonça, foi empregada no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia do Rio. Já em 2016, foi a vez do próprio Adriano assumir um cargo no mesmo lugar. As duas são acusadas de envolvimento no caso da “rachadinha”.

A viúva Júlia Emílio Mello Lotufo, ex-esposa do miliciano Adriano da Nóbrega, ligado ao senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ), negocia há algumas semanas uma delação premiada com o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro e o Ministério Público do Estado através de seu advogado, o ex-senador Demóstenes Torres. Segundo a coluna de Guilherme Amado do Metrópoles, a delação já foi aceita pelos procuradores e agora investiga uma série de homicídios cometidos no Rio de Janeiro por organizações criminosas.

Desde o assassinato de Nóbrega, em fevereiro de 2020, Júlia se tornou uma das figuras mais procuradas pelas autoridades policiais responsáveis pelo caso. Isso porque, além de estar com ele no dia do crime, durante uma viagem à Bahia, ela foi a companheira do miliciano nos últimos 10 anos e acompanhou a vida criminosa do capitão. Foragida, Lotufo teve a prisão preventiva decretada, mas, logo a seguir, sua punição foi reduzida para prisão domiciliar.

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Atualmente, ela responde a um processo da 1ª Vara Criminal Especializada da Capital do RJ, por organização criminosa e lavagem de dinheiro. Com a morte do marido, segundo esse processo, coube a ela cuidar do espólio de atividades ilegais de Adriano.

A própria Júlia procurou a Polícia Civil. Após isto, foi encaminhada ao MP, na área que investiga a participação de milicianos em assassinatos de aluguel — mortes como as cometidas pela organização criminosa Escritório do Crime. Posteriormente, o Ministério Público Federal foi envolvido na negociação e tudo caminha para que na semana que vem haja a homologação.

Julia Mello Lotufo manteve um relacionamento amoroso com Adriano Magalhães da Nóbrega por uma década. No período, acompanhou a consagração dele como capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), a sua expulsão da Polícia Militar e o seu ingresso no crime, no qual ele começou como segurança de figuras do crime, galgou postos e fez fortuna com atividades ilegais, como exploração de máquinas de caça-níquel e grilagem de terras.

Lotufo se tornou a responsável pela contabilidade e gestão financeira dos negócios criminosos, conforme descrição apresentada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro ao pedir a prisão de Julia, sob a alegação de que ela e outros comparsas de Adriano cometeram delitos como associação criminosa e lavagem de dinheiro.

Diálogos transcritos a partir de grampos telefônicos sugerem que comparsas do miliciano e ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega recorreram ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), segundo reportagem do The Intercept Brasil. As conversas integram relatório da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio, elaborado com a quebra de sigilo telefônico e  telemático de suspeitos de ajudar o chefe do Escritório do Crime durante os 383 dias em que esteve foragido.

Após a morte do miliciano, em fevereiro de 2020, os cúmplices fizeram contato com "Jair" e "HNI (PRESIDENTE)", e disseram que iriam conversar com "cara da casa de vidro". Para fontes do Ministério Público do Rio de Janeiro ouvidas pelo The Intercept, o conjunto de circunstâncias permite a conclusão de que os nomes são referências ao presidente Jair Bolsonaro. O termo "cara da casa de vidro" seria uma referência aos palácios do Planalto, sede do Executivo e da Alvorada, residência oficial do presidente, com fachada de vidro.

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O Ministério Público do Rio pediu que a justiça encerrasse as escutas após as citações. A postura reforça a ideia de que as referências são a Jair Bolsonaro, pois o MP do Estado não pode investigar o presidente da República. O órgão tem a obrigação constitucional de encaminhar o processo à Procuradoria Geral da República. A PGR não informou se recebeu a investigação.

Segundo as transcrições, Ronaldo Cesar, o Grande, apontado como um dos elos entre os negócios legais e ilegais de Adriano, diz a uma mulher não identificada que iria ligar para o "cara da casa de vidro". O contato ocorreu horas após a morte do miliciano. Na ligação, Grande demonstra preocupação com questões financeiras.

Quatro dias depois da morte do ex-capitão, Grande fala com HNI (PRESIDENTE) - a sigla significa homem não identificado. O telefonema de mais de cinco minutos foi reduzido na transcrição por duas frases: "GRANDE fala sobre que está tendo problemas com a família devido às divisões dos bens. HNI se coloca à disposição de GRANDE caso venha a ter algum problema futuro" (sic).

No mesmo dia, o nome "Jair" aparece em conversas de outros comparsas de Adriano. O pecuarista Leandro Abreu Guimarães e sua mulher, Ana Gabriela Nunes, segundo as investigações, esconderam o miliciano em uma fazenda da família após ele ter escapado de um cerco policial na Costa do Sauípe, no litoral baiano. Ana Gabriela relata a uma interlocutora identificada como "Nina" que Leandro está querendo falar com Jair".

Minutos depois, Ana Gabriela faz telefonema de um minuto de duração. O documento da transcrição diz que o diálogo se deu entre Ana Gabriela e Jair. A conversa não está transcrita e os analistas apenas reproduzem a frase anterior: "Gabriela diz que Leandro quer falar com Jair".

O analista da Polícia Civil sugeriu que não fossem renovados os grampos do casal nem de Grande. O Ministério Público do Rio aceitou a recomendação. O Intercept questionou o MP sobre os motivos para encerrar as escutas, mas não obteve retorno.

Em 9 de fevereiro de 2020, Adriano da Nóbrega foi cercado por policiais do Rio e da Bahia quando estava escondido no sítio do vereador Gilson Batista Lima Neto, o Gilsinho de Dedé (PSL) em Esplanada-BA. Os agentes contaram que Adriano reagiu a tiros e foi baleado duas vezes.

Em 2005, Adriano foi condecorado pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro com a medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio. O miliciano estava preso preventivamente por assassinar um guardador de carros. Jair Bolsonaro disse que pediu para o filho fazer a homenagem. Flávio também empregou a mãe e a ex-mulher de Adriano em seu gabinete na Alerj.

Preso nesta quinta, 18, em Atibaia, São Paulo, Fabrício Queiroz estava sem advogado desde dezembro do ano passado, quando Paulo Klein deixou sua defesa. Neste mês, contudo, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro contratou Paulo Emílio Catta Preta, experiente defensor de Brasília que atuou recentemente para Adriano Magalhães da Nóbrega, miliciano do Rio morto em fevereiro. 'Capitão Adriano', como era conhecido, também tem ligação com o esquema de rachadinha no gabinete do filho de Jair Bolsonaro.

Catta Preta está no Rio, na cadeia de Benfica, onde Queiroz ficará preso. Eles conversam pessoalmente, pela primeira vez, no início desta tarde. "A família me procurou no início do mês, estava preocupada por ele estar sem advogado", explicou o advogado ao Estadão, pouco antes de Queiroz chegar ao local.

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O defensor ainda não estudou a fundo os autos do caso, que desde 2018 é tocado pelo Ministério Público do Rio.

Miliciano morto tinha relação com Queiroz e Flávio

Adriano foi morto em fevereiro deste ano pela polícia da Bahia, no município de Esplanada. Era apontado por investigadores do Rio como chefe do Escritório do Crime, grupo de pistoleiros da milícia na zona oeste da capital fluminense. Quando ainda era policial militar - chegou a ser capitão do BOPE -, Adriano trabalhou com Queiroz no batalhão de Jacarepaguá, também na zona oeste. Ele respondem juntos a um homicídio registrado como "auto de resistência".

No caso da rachadinha, Adriano está ligado a Flávio por meio da mãe, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher, Danielle da Nóbrega. Em mensagens de WhatsApp obtidas no âmbito da investigação sobre a milícia, o Ministério Público do Rio constatou que Adriano se beneficiava do esquema na Alerj. Ele afirmou à ex-esposa que "também contava" com o que vinha do dinheiro da Assembleia.

O Ministério Público do Rio e a Polícia Civil investigam a existência de uma "rede de amigos" que teria dado sustentação financeira e operacional ao ex-policial militar Adriano da Nóbrega, o capitão Adriano, e seus familiares. O objetivo é saber quem ajudou o miliciano a ocultar patrimônio, blindando negócios e crimes, e participou de sua fuga. Foragido da Justiça por um ano, Adriano foi morto pela polícia em fevereiro, durante uma operação em Esplanada, na Bahia.

Com prisão decretada desde janeiro de 2019, alvo da Operação Os Intocáveis, que mirou crimes da milícia que domina a comunidade de Rio das Pedras, no Rio, o miliciano virou alvo de outra apuração no ano passado: a de suposto esquema de "rachadinha" (apropriação de salários de assessores) no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Atualmente senador pelo Republicanos, o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro ocupou cadeira na Assembleia de 2003 a 2018.

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Foram encontrados indícios, nas duas frentes de apuração, de que políticos, magistrados, policiais, agentes públicos e empresários podem ter integrado essa rede de proteção, que, segundo investigações, garantiu apoio logístico e financeiro para a fuga de Adriano e a defesa de aliados. Parte deles é apontada como "sócios ocultos" dos negócios da milícia. Investigadores buscam identificar quem custeou e ajudou nas defesas.

Há suspeita de tentativa de obstrução da Justiça. As apurações são concentradas no Rio, mas envolvem investigações de outros Estados, como Sergipe, Tocantins e Bahia. As investigações conduzidas pelos promotores do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc) foram retomadas no mês passado, após a terceira paralisação por ordem de tribunais superiores, em atendimento a questionamentos das defesas dos alvos. São apurados crimes de organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro.

Ex-capitão do Bope, Adriano empregou a mãe e a ex-mulher no gabinete de Flávio na Alerj. As duas foram indicadas pelo então chefe de gabinete de Flávio, Fabrício Queiroz, apontado pela Promotoria como responsável por comandar a rachadinha. Homem de confiança da família Bolsonaro, Queiroz trabalhou com Adriano no 18.º Batalhão da PM, no Rio.

'Elo'

De acordo com os investigadores, Queiroz era o principal elo de Adriano e seus familiares com essa "rede de amigos". Mensagens de um celular apreendido em 2019 na casa da ex-mulher do miliciano registram conversas entre Danielle, Adriano e Queiroz. Nelas, os três falam de "cargo fantasma" - uma referência, segundo a investigação, ao trabalho dela no gabinete de Flávio. Menciona, ainda, assuntos como defesa jurídica e "os amigos".

No dia 15 de janeiro de 2019, por exemplo, Adriano falou com Danielle sobre o depoimento que ela teria de prestar, dois dias depois, no MP do Rio, na investigação da rachadinha. Na semana seguinte, seria deflagrada a Operação Os Intocáveis e sua prisão seria decretada. Na conversa, o miliciano repassa à ex-mulher uma orientação do "amigo" para que ela evitasse a intimação. Para a Promotoria, esse "amigo" é Queiroz.

"Boa noite. O amigo pediu para você não ir a lugar nenhum e também para não assinar nada", escreve Capitão Adriano para Danielle. "Olá, acabei de sair do advogado indicado", responde ela. "Assinei semana passada o oficio que recebi", completa. Na sequência, envia ao miliciano cópia da intimação do Ministério Público. "Vou passar para ele", diz Adriano.

Em 16 de janeiro, Danielle trocou mensagens com Queiroz. O ex-assessor de Flávio é quem a procura. Queiroz apagou a maior parte das mensagens, mas as respostas, segundo os investigadores, indicam o teor da conversa. "Um policial veio aqui. Amanhã será o dia do depoimento", escreve Danielle. Ela envia a Queiroz a mesma intimação que havia mostrado a Adriano. Depois de mensagens enviadas por Queiroz, apagadas do aplicativo, Danielle afirma: "Eu já fui orientada. Ontem eu fui encontrar os amigos". Ele diz: "Eu sei". Ela termina: "Todos nós ficaremos bem". Danielle não foi prestar depoimento.

"Apesar das mensagens de Queiroz estarem apagadas, foi possível compreender, pelo contexto das respostas de Danielle, que Fabrício Queiroz queria saber se ela fora chamada a depor pelo Ministério Público e, diante da confirmação, determinou que faltasse, além de deixar claro ter ciência de que a organização criminosa ('os amigos') teria providenciado advogados para os envolvidos", afirmam os investigadores em documento do processo.

Flávio nega irregularidades

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) nega irregularidades em seu gabinete na Assembleia e diz ser alvo de investigação ilegal desde o início do caso, em 2019. Por meio de sua defesa, busca a anulação das apurações e de provas, como as quebras de sigilos fiscal, bancário e telefônico. O criminalista Frederick Wassef, que defende Flávio, afirmou que os investidores do Rio "quebraram ilegalmente" o sigilo fiscal e bancário do senador.

Sobre a contratação de familiares do miliciano Adriano da Nóbrega, a defesa de Flávio afirmou em nota que desconhecia o passado de crimes do ex-policial militar, considerado, até então, um ex-policial do Bope. Adriano chegou a ser homenageado por Flávio quando estava preso. "Sobre as homenagens prestadas a militares, sempre atuei na defesa de agentes de segurança pública e já concedi centenas de outras homenagens. Aqueles que cometem erros devem responder por seus atos", disse Flávio na ocasião.

A defesa de Fabrício Queiroz não foi localizada. Em nota divulgada anteriormente, o advogado que representava o ex-assessor no caso informou que ele "repudiava veementemente qualquer tentativa espúria de vincular seu nome à milícia". Queiroz confirmou que "solicitou a nomeação da esposa e mãe" de Adriano porque a família "passava por grande dificuldade". E desconhecia o suposto envolvimento dele com "eventuais atividades milicianas". A defesa de capitão Adriano e seus familiares não foi localizada pela reportagem. 

O corpo do ex-policial militar Adriano da Nóbrega foi liberado, nesta sexta-feira (21), pela Polícia Civil, para sepultamento. A liberação só foi possível após a segunda perícia, realizada na noite de quinta-feira (20), no Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro (IML-RJ), por ordem da Justiça da Bahia.

O novo exame não apontou sinais evidentes de tortura, segundo o médico legista Talvane de Moraes, que acompanhou a necrópsia como convidado dos legistas contratados pela família de Adriano, Francisco Moraes Silva e Ari Fontana, que vieram do Paraná.

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Novos exames laboratoriais serão feitos para complementar o laudo, que deverá ser apresentado à Justiça baiana em 15 dias.

Além dos peritos do IML do Rio, estiveram presentes duas advogadas da família, uma irmã de Adriano e um representante do Ministério Público da Bahia. O procedimento começou às 16h30 e se estendeu até as 21h.

O novo exame foi determinado pelo juiz da comarca de Esplanada (BA), Augusto Yuzo Jouti, que atendeu pedidos do MP da Bahia e de familiares do ex-policial, morto no último dia 9 de fevereiro, em confronto com policiais baianos.

 

O presidente Jair Bolsonaro disse, na manhã desta terça-feira (18), que já tomou providências legais para garantir uma apuração "independente" sobre a morte do miliciano Adriano da Nóbrega, suspeito na morte da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ). Ex-capitão da Polícia Militar, Adriano tinha ligação com um dos filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Sem partido-RJ).

Em conversa com jornalistas na frente do Palácio Alvorada, o presidente indicou que tem conhecimento prévio de uma ação que poderá ser tomada ainda nesta terça pelo Ministério Público Federal da Bahia para acionar uma perícia independente.

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"Pelo o que estou sabendo, o MP (Ministério Público) Federal da Bahia, não tenho certeza, vai cobrar uma perícia independente hoje. É o primeiro passo para começar a desvendar as circunstâncias que ele (Adriano) morreu e por quê. Poderia interessar para alguém a queima de arquivo. Contra quem ele teria para falar? Contra mim que não era nada. Contra mim teria certeza que os cuidados seriam outros para preservá-lo vivo", afirmou Bolsonaro no Palácio da Alvorada.

O presidente disse que tem receio de haver distorções na perícia oficial e que alguém poderia até inserir áudios supostamente falsos para relacioná-lo ao miliciano.

"Tem outra coisa mais grave. Vai ser feita perícia no telefone apreendido com ele. Será que essa perícia poderá ser insuspeita? Porque eu quero uma perícia insuspeita. Nós não queremos que seja inserido áudios no telefone de ou conversações no WhatsApp. Que depois que se faz uma perícia se porventura, vamos deixar bem claro, se porventura, uma pessoa seja atingida, que pode ser eu, apesar de ser presidente da República, quanto tempo teria para ser feita uma nova perícia? Vocês lembram do caso do porteiro", afirmou à imprensa.

Na segunda-feira, 17, um grupo de 20 governadores divulgou carta na qual critica Bolsonaro por declarações a respeito de Adriano e com suposições sobre os eventos envolvendo a morte. O ex-policial foi morto em confronto com a polícia baiana no dia 9 e acusado de chefiar uma milícia. Hoje, Bolsonaro classificou a carta como "grave".

"Essa carta (dos governadores ) tem uma algo mais grave ali. Eles estão criticando minha postura no caso do capitão Adriano. Eu esperava que os governadores esses que assinaram sobre esse assunto específico fossem querer uma investigação isenta no caso Adriano", rebateu Bolsonaro.

O presidente reforçou que não teria interesse em uma "queima da arquivo" no caso Adriano, mas lançou suspeitas de que alguém poderia ter feito isso para prejudicá-lo. "Os peritos alegaram ali, que tudo indica, os tiros foi a queima roupa (sic), então foi queima de arquivo. A quem interessa queima de arquivo? A mim, não. Zero. O que é mais grave agora: primeiro estou pedindo, já tomei as providências legais, para que seja feita uma perícia independente. Sem isso, não tem como buscar até quem sabe matou a Marielle. A quem interessa não desvendar quem matou a Marielle. Os mesmos que não interessam desvendar o caso Celso Daniel (então prefeito de Santo André, morto em 2002)."

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), rebateu em sua conta no Twitter as declarações proferidas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), neste sábado (15), sobre a operação policial que resultou na morte do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega. “O governo do Estado da Bahia não mantém laços de amizade nem presta homenagens a bandidos nem procurados pela Justiça. A Bahia luta contra e não vai tolerar nunca milícias nem bandidagem”, disse Costa.

O petista fez referência ao fato de Adriano já ter recebido homenagens da família Bolsonaro no passado. Neste sábado, o presidente disse que o responsável pela morte do miliciano foi “a PM da Bahia, do PT”

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O governador também disse que a determinação é cumprir ordem judicial e prender criminosos com vida. “Mas se estes atiram contra Pais e Mães de família que representam a sociedade, os mesmos têm o direito de salvar suas próprias vidas, mesmo que os MARGINAIS mantenham laços de amizade com a Presidência”, escreveu Rui Costa no Twitter.

Adriano da Nóbrega foi homenageado duas vezes por Flávio Bolsonaro. No período da segunda homenagem, a mais alta honraria da Alerj, Adriano estava preso pelo homicídio de um guardador de carros que havia denunciado um grupo de milicianos. Jair Bolsonaro disse também neste sábado que foi ele quem orientou que o filho homenageasse o ex-policial militar em 2005. “Naquele ano, era herói da Polícia Militar”, disse. 

O miliciano Adriano da Nóbrega foi morto durante operação da Polícia Militar da Bahia, no último domingo (9), no sítio de um vereador do PSL. Ele era suspeito de integrar o grupo miliciano Escritório do Crime. O advogado do ex-policial acredita que seu cliente foi vítima de queima de arquivo, mas o governo da Bahia rebate a acusação.

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