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O trabalho sempre foi fundamental para o desenvolvimento pessoal e coletivo. No entanto, nos grandes centros urbanos, o exercício profissional tem sido um fator de estresse e cansaço mental, podendo causar doenças que afetam a população, além da produtividade laboral.

A Secretaria Especial de Previdência e Trabalho realizou um levantamento sobre os índices de afastamento por ansiedade e depressão e constatou um aumento de 26% em 2020, comparado a 2019. A pesquisa aponta para um agravamento no quadro desde o início da pandemia do novo coronavírus, especialmente por ter atingido o recorde dos últimos 15 anos em relação aos transtornos mentais e comportamentais (CID F).

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O LeiaJá conversou com profissionais de diferentes áreas para entendermos os sintomas, assim como, explicar o que o trabalhador deve fazer para ter assegurado benefício em caso afastamento por quadro de CID F.

A psicóloga Kátia Brandão analisa os possíveis indicativos do aumento de casos de transtornos mentais devido ao trabalho. “A ansiedade e a depressão são as principais causas de afastamento do ambiente de trabalho, que surgem decorrentes de estresse, pressões excessivas e uma alta demanda de atividades, levando o colaborador ao esgotamento físico e mental, desenvolvendo até um quadro de ‘burnout’. Nesse sentido, o apoio psicológico traz a possibilidade de olhar para o que está adoecendo no ambiente de trabalho, de rever a relação que se tem com o trabalho, principalmente vivendo numa sociedade em que o trabalho é mais exaltado do que o descanso e a pausa”, ela comenta.

Segundo o boletim estatístico da Previdência Social, os transtornos mentais e comportamentais foram a terceira maior causa da concessão do auxílio-doença dos benefícios por incapacidade em 2020, alcançando 576.611 trabalhadores, no total. Os episódios no Brasil ainda são destaque mundial, como aponta uma pesquisa conduzida por cientistas de diferentes instituições, como a Universidade de São Paulo (USP).

O artigo intitulado ‘Saúde mental entre adultos durante o lockdown da pandemia da Covid-19: uma comparação transversal entre países’ analisou os casos de problemas de saúde mental em 11 nações, e o Brasil figurou no topo da lista, com mais trabalhadores sofrendo de ansiedade e depressão, agravados pela pandemia.

Direitos assegurados

O advogado e professor de direito trabalhista, Ariston Costa, esclarece que o auxílio-doença, benefício garantido por lei ao trabalhador e concedido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), é liberado se ele se mostrar incapaz de exercer suas atividades, permanente ou temporariamente. “O auxílio-doença não é liberado em razão da ansiedade generalizada - em caso de pessoas que continuam trabalhando -. O trabalhador só pode receber o benefício após se afastar de suas atividades para se dedicar ao tratamento, até porque não pode ficar sem uma renda mensal para se sustentar e se tratar”, afirma o advogado.

Mas, apenas um laudo médico não é o suficiente para que o procedimento seja liberado pelo órgão. “Primeiro, tem que ser constatada a incapacidade temporária para o trabalho ou atividade habitual; segundo, é preciso ter no mínimo 12 pagamentos mensais ao INSS; e por fim, ter qualidade de segurado”, ele explica.

Ainda de acordo com o levantamento da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, a aposentadoria por invalidez devido a transtornos mentais apresentou um aumento de 20,4% de 2019 (2414,9 mil) para 2020 (291,3 mil). O advogado Ariston Costa explica a diferença dos benefícios de afastamento e auxílio-doença para a aposentadoria.

“A aposentadoria por invalidez é um benefício bastante parecido com auxílio-doença, com a diferença que você está incapacitado de forma permanente”, ele destaca.

Sintomas e cuidados

Assim como acidentes de trabalho, em que se deve ter cuidado com a saúde física do empregado, a saúde mental deve ser preservada para evitar quadros graves. A psicóloga Joyce Nascimento ressalta que é necessário observar os sinais que indicam mudanças de humor e outros comportamentos.

“Alguns fatores como a preocupação constante, para além do estímulo que está sendo recebido. Por exemplo, eu preciso bater essa meta, mas não me foi dito que se eu não bater, posso ser demitido. Mas aí, eu internalizo isso e penso de uma forma tão constante que não consigo render. É importante, então, prestar atenção nesses sintomas, no pensamento acelerado o tempo todo, palpitação, sensação de estar sendo pressionado, falta de ar. Tudo isso são sintomas da ansiedade, que precisam ser tratados e que é preciso sim ajuda de um profissional”, ela comenta.

Kátia Brandão, por sua vez, ainda cita outros sintomas que podem apontar para um esgotamento do corpo, de modo que o trabalhador fique atento. “Perceber se sente esgotamento mental e físico, insônia, dificuldade de concentração, irritabilidade, agressividade, lapsos de memória, incapacidade de se desligar do trabalho, se está negligenciando o seu tempo de descanso e lazer, se a vida social passa a ser restrita, ausências no trabalho, pensamentos pessimistas, tristeza, baixa auto-estima. Observar sintomas de ansiedade relacionados ao trabalho, como sudorese, tremor, tensão muscular, entre outros. Todos esses sintomas são sintomas de que é preciso buscar um atendimento especializado e rever a relação com o trabalho”, alerta.

Os cuidados com a saúde mental devem ser levados a sério, pois um quadro mais grave pode trazer consequências fatais. É o que conta Joyce Nascimento: “principalmente pela pressão sofrida em alguns ambientes e, infelizmente, o ambiente trabalhista se encontra em uma dessas estatísticas”, menciona.

A profissional comenta que uma das medidas que as empresas devem tomar para conter tais riscos é a instalação de um departamento de atendimento psicológico no local de trabalho, para que os funcionários se sintam acolhidos e escutados. “Serve para dar uma orientação, um direcionamento aos colaboradores e auxiliar eles a enfrentar a pressão sofrida nos ambientes de trabalho. Dentre eles, os principais são fábricas, trabalhos onde é preciso lidar com o público, onde existem metas a bater. E é importante que esse programa de saúde mental, que deve haver na empresa, acolha e pense em estratégias de enfrentamento junto com o colaborador. É importantíssimo que haja inicialmente um psicólogo na empresa visando acolher o sofrimento do colaborador”, ela pontua.

Por fim, a especialista indica alternativas que podem ser realizadas pelo próprio trabalhador, como forma de evitar altos níveis de vulnerabilidade emocional. A psicóloga lembra que ninguém pode ser resumido ao cargo que ocupa. “Existe um sujeito para além do trabalho, a quem deve ser proporcionado alguns momentos de relaxamento, de realização de atividades que lhe dê prazer. A exploração de outras esferas de sua vida, a prática de exercícios, já é comprovado cientificamente, contribuem para o alívio do estresse e da ansiedade, além de ajudar o sujeito a vivenciar e a experienciar um momento de prazer, de intencionalidade, de atenção plena, prestando atenção na realização da atividade que está fazendo. Então, é importantíssimo que esse acompanhamento esteja aliado a essas coisas, atitudes de autocuidado consigo mesmo”, orienta.

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