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No telefone de Rita Safi, um vídeo mostra o caixão coberto com um lençol vermelho de sua irmã Frozan, assassinada após a volta dos talibãs ao poder no Afeganistão: um símbolo, para ela, dos dois pesos e duas medidas dos países ocidentais, que se preocupam com a situação das mulheres afegãs, mas não lhes oferece abrigo suficiente.

Frozan Safi era uma conhecida ativista dos direitos das mulheres de Mazar-i-Sharif, uma grande cidade no norte do Afeganistão. Seu corpo foi encontrado no final de outubro de 2021, dois meses e meio após a queda da República do Afeganistão.

"Atiraram nela sete vezes. Seu rosto ficou completamente destruído", lembra sua irmã caçula, Rita, com quem a AFP conversou em um centro de acolhida nos subúrbios de Paris, poucos dias depois de sua chegada à França.

O Ministério do Interior do novo regime afegão incriminou dois homens, em cuja casa foram encontrados os restos mortais de Frozan Safi e de outras três mulheres.

Rita rejeita esta versão oficial: "Foi brutalmente assassinada pelos talibãs", diz ela, que em breve completará 30 anos.

Os países ocidentais "disseram que apoiariam" as mulheres afegãs, "mas foram apenas palavras", lamenta Rita.

Após a morte da irmã, a jovem disse que também estava na mira das autoridades talibãs.

"Disseram ao meu pai que, se eu não parasse de falar, fariam o mesmo comigo", contou.

- "Casos enterrados" -

Em dezembro de 2021, Rita fugiu para o Paquistão com um visto de dois meses, na esperança de ser acolhida rapidamente no Ocidente. Acabou vivendo ilegalmente por dois anos, escondida nos subúrbios de Islamabad.

Enquanto isso, a situação das mulheres no Afeganistão continua piorando.

A administração talibã proíbe-lhes progressivamente o acesso a escolas de ensino médio e superior, a parques, a centros esportivos... Muitas perdem o emprego.

Para Rita Safi, a vida mudou quando um jornalista francês contou sua história e apoiou seu pedido de visto. Em 8 de dezembro, ela desembarcou em Paris com mais uma dúzia de afegãs que deixaram Islamabad. Todas pedem asilo na França, e é provável que consigam.

"No Paquistão, há muitas mulheres como Rita, com familiares assassinados ou sequestrados no Afeganistão, que foram ameaçadas e que agora vivem em condições terríveis. Mas se não encontrarem um ocidental disposto a ajudá-las, seus casos serão enterrados entre os demais", lamenta Margaux Benn, jornalista e membro do coletivo Accueillir les Afghanes (Acolher as Afegãs, em tradução literal).

O governo francês afirma ter emitido mais de 15.000 vistos para cidadãos afegãos desde 2021, "principalmente para mulheres, defensores dos direitos humanos, jornalistas e juízes".

Mas este número "não corresponde a nenhuma realidade", afirma a diretora-geral da France Terre d'Asile (França Terra do Asilo), Delphine Rouilleault.

Há mais de um ano, "não chega ninguém do Afeganistão, e as mulheres afegãs chegam do Paquistão a conta-gotas", relata.

Procurado pela AFP, o Ministério francês das Relações Exteriores não reagiu.

Desde o retorno dos talibãs ao poder em agosto de 2021, o Reino Unido acolheu 21.500 afegãos, 70% deles durante a retirada aérea de Cabul no final do referido mês. Os Estados Unidos acolheram 90.000 afegãos, e mais de 30.000 chegaram à Alemanha.

Já Suécia e Dinamarca, dois países muito rigorosos em matéria de imigração, decretaram a concessão automática de vistos às afegãs em dezembro de 2022 e em fevereiro de 2023, respectivamente. Suas estatísticas de imigração, nas quais o gênero não aparece, tornam impossível, no entanto, determinar o impacto dessa medida.

Dezenas de afegãs foram dispersadas com jatos de água quando protestavam nesta quarta-feira (19) em Cabul contra a decisão do governo talibã de fechar os salões de beleza.

Desde seu retorno ao poder em agosto de 2021, os talibãs, fundamentalistas muçulmanos, excluíram as mulheres da maioria dos centros de ensino médio, das universidades e da administração pública.

As mulheres também não podem trabalhar para organizações internacionais, entrar em parques, jardins, estádios e banheiros públicos ou viajar sem a presença de um familiar do sexo masculino. Também devem estar completamente cobertas ao saírem de casa.

A decisão de fechar os salões de beleza, anunciada por decreto no final de junho, provocará o fim das atividades de milhares de estabelecimentos comerciais administrados por mulheres. Estes locais são, muitas vezes, o único recurso para suas famílias e constituem um dos últimos espaços de liberdade e socialização para as afegãs.

"Não me deixem a pão e água", afirmava o cartaz de uma das manifestantes em Butcher Street, rua da capital onde se encontram muitos salões de beleza.

As manifestações são pouco frequentes no Afeganistão e costumam ser dispersadas violentamente. Ainda assim, cerca de cinquenta mulheres participaram da manifestação desta quarta, que rapidamente atraiu a atenção dos serviços de segurança.

As fotos e vídeos que as manifestantes enviaram à imprensa mostram as forças de segurança utilizando jatos de água contra elas.

A Missão das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA, sigla em inglês) condenou a repressão ao protesto.

"Informações sobre a repressão à força de um protesto pacífico de mulheres contra a proibição dos salões de beleza – o mais recente desrespeito aos direitos das mulheres no #Afeganistão – estamos profundamente preocupados", tuitou a UNAMA.

O Ministério da Prevenção do Vício e Promoção da Virtude justificou o fechamento dos salões alegando que as pessoas gastam quantias extravagantes em casamentos, que ele considerava um fardo muito pesado para as famílias pobres, e alegando que alguns dos serviços oferecidos não estavam de acordo com a lei islâmica.

Os salões de beleza proliferaram em Cabul e nas grandes cidades afegãs durante os 20 anos de ocupação pelas forças dos EUA e da Otan.

Um pequeno grupo de mulheres afegãs organizou um protesto relâmpago em Cabul, nesta quinta-feira (22), para desafiar o regime talibã, depois que foram proibidas de estudar na universidade — disse uma ativista, acrescentando que algumas delas foram detidas.

"Direitos para todos, ou para ninguém", gritavam as manifestantes em um bairro de Cabul, segundo imagens de vídeo obtidas pela AFP.

Cerca de 20 mulheres afegãs, vestidas com hijabs e algumas usando máscaras faciais, gritaram com os punhos erguidos na rua para serem autorizadas a estudar.

Mas "algumas mulheres foram detidas e levadas por policiais", disse à AFP uma manifestante, que preferiu permanecer anônima.

"Duas mulheres foram libertadas, mas várias permanecem presas", acrescentou.

Os protestos das mulheres se tornaram menos frequentes no Afeganistão desde a prisão de ativistas proeminentes no início deste ano. As participantes correm o risco de serem presas, submetidas à violência e estigmatizadas.

Inicialmente planejada para acontecer em frente ao campus de Cabul, o maior e mais prestigioso do país, a manifestação foi forçada a se deslocar, devido à presença de um grande efetivo de segurança.

"As meninas afegãs são um povo morto (...). Elas choram sangue", disse Wahida Wahid Durani, estudante de jornalismo da Universidade de Herat (oeste).

"Eles estão usando toda sua força contra nós. Receio que logo anunciarão que as mulheres não têm nem o direito de respirar", lamentou a estudante.

Em uma carta concisa, o ministro do Ensino Superior, Neda Mohammad Nadeem, ordenou na terça-feira que todas as universidades públicas e privadas do país proíbam as alunas de frequentar as aulas por tempo indeterminado.

Quinze mulheres afegãs protestaram por alguns minutos em Cabul para defender "seus direitos até o fim" nesta quinta-feira (24), véspera do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.

As manifestantes, a maioria com óculos escuros, véus e máscaras cirúrgicas, iniciaram a mobilização diante de uma mesquita no centro da capital afegã. Talibãs armados patrulhavam a área do protesto.

"Lutaremos por nossos direitos até o fim, não vamos nos render", afirmava um dos cartazes. "Estados Unidos e Ocidente traíram as mulheres afegãs", destacava outro.

"A horrível condição as mulheres afegãs é uma vergonha para a consciência do mundo", afirmava uma faixa em inglês.

Desde que os talibãs voltaram ao poder em agosto de 2021, após a retirada das tropas dos Estados Unidos depois de duas décadas de presença no país, as manifestações de mulheres, que poucas vezes reúnem mais de 40 pessoas, são muito perigosas. Muitas participantes foram detidas.

O Talibã impõe uma interpretação rigorosa do islã e adota medidas cada vez mais rígidas, em particular para restringir os direitos e liberdades das mulheres.

Depois de fechar as escolas do Ensino Médio para as meninas, excluir as mulheres da maioria dos empregos públicos e impor o uso do véu integral em público, entre outras medidas, os talibãs anunciaram em novembro que elas não podem frequentar os parques de Cabul.

De acordo com a ONU, que organiza na sexta-feira o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, este tipo de violência é a violação dos direitos humanos mais difundida no mundo. A organização calcula que afeta uma em cada três mulheres, número que praticamente não mudou na última década.

Nafeesa encontrou o local ideal para esconder seus livros didáticos na cozinha, onde os homens raramente entram e os objetos ficam protegidos do olhar recriminador de seu irmão talibã.

"Os garotos não têm nada para fazer na cozinha, assim eu guardo meus livros", explica Nafeesa, de 20 anos, que frequenta uma escola clandestina em seu vilarejo rural no leste do Afeganistão.

"Se meu irmão souber, ele me bate", conta.

Centenas de milhares de meninas, adolescentes e jovens mulheres afegãs como ela foram privadas dos estudos desde o retorno ao poder dos talibãs, há um ano.

O grupo adotou severas restrições às mulheres para impor sua visão fundamentalista do islã.

Elas foram excluídas da maioria dos empregos públicos e não podem fazer longos deslocamentos sem a presença de um parente homem.

Também são obrigadas a cobrir o corpo por inteiro em ambientes públicos, incluindo o rosto, de preferência com a burca, o véu integral com una pequena fresta na altura dos olhos, amplamente utilizada nas regiões mais isoladas e conservadoras do país.

Mesmo antes do retorno dos talibãs ao poder, a grande maioria das afegãs utilizava o véu, mas com um lenço solto.

Para o Talibã, como regra geral, as mulheres não devem sair de casa, exceto em caso de absoluta necessidade.

Mas a privação mais brutal foi o fechamento em março das escolas do Ensino Médio para mulheres em várias regiões, pouco depois da reabertura.

Apesar dos riscos e com a grande vontade de aprender das meninas, os colégios clandestinos proliferaram no país, em muitos casos em quartos das casas de cidadãos comuns.

Jornalistas da AFP visitaram três locais de ensino, conheceram as alunas e professoras, que tiveram os nomes alterados para preservar sua segurança.

- "Queremos ter liberdade" -

Nafeesa tem 20 anos, mas ainda estuda disciplinas do Ensino Médio devido aos atrasos de um sistema educacional afetado por décadas de guerras no país.

Apenas sua mãe e a irmã mais velha sabem que frequenta as aulas. Não o irmão que durante anos lutou com os talibãs nas montanhas contra o antigo governo e as forças estrangeiras, retornado para casa apenas após a vitória dos islamitas em agosto do ano passado.

De manhã, ele permite que a irmã frequente uma madrassa para estudar o Alcorão, mas à tarde, sem que o irmão saiba, ela segue para uma sala de aula clandestina organizada pela Associação de Mulheres Revolucionárias do Afeganistão (RAWA, na sigla em inglês).

"Aceitamos o risco ou ficaríamos sem educação”, diz Nafeesa.

"Quero ser médica (...) Queremos ter algo para nós mesmas, queremos ter liberdade, ser úteis à sociedade e construir nosso futuro", disse a jovem.

Quando a AFP visitou sua sala de aula, Nafeesa e as outras nove alunas discutiam a liberdade de expressão com sua professora, sentadas lado a lado sobre um tapete e lendo, uma de cada cez, um livro em voz alta.

Para chegar ao curso, elas saem de casa várias horas antes e fazem caminhos diferentes para não chamar a atenção em uma região dominada pelos pashtuns, um povo de tradição patriarcal e conservadora que é majoritário dentro do movimento talibã.

Se um combatente talibã pergunta para onde estão indo, elas respondem que estão matriculadas em uma aula de costura e escondem os livros didáticos em sacolas de compras ou sob as vestimentas.

Elas correm risco, mas às vezes também optam por sacrifícios, como a irmã de Nafeesa, que abandonou a escola para evitar qualquer suspeita do irmão.

- Sem justificativa religiosa -

De acordo com os eruditos religiosos, nada no islã justifica proibir o ensino às mulheres. Um ano depois de sua chegada ao poder, o Talibã insiste que permitirá a retomada das aulas, mas sem divulgar um calendário.

O tema divide o movimento. De acordo com várias fontes entrevistadas pela AFP, uma facção radical que aconselha o líder supremo, Hibatullah Akhundzada, se opõe aos estudos femininos ou deseja limitar os mesmos ao ensino religioso e aulas práticas de cozinha ou costura.

Desde o início, os talibãs justificam a interrupção do Ensino Médio a uma questão "técnica" e garantem que as meninas retornarão às aulas após a criação de um programa educativo baseado nas regras islâmicas.

Ao mesmo tempo, as meninas podem frequentar o Ensino Fundamental e as jovens podem frequentar as universidades, mas em turmas segregadas por sexo.

Mas sem o diploma do Ensino Médio, as adolescentes não poderão entrar na universidade. As mulheres que estão atualmente no Ensino Superior podem ser as últimas no país em um futuro próximo

- "Geração sacrificada" -

Para o pesquisador Abdul Bari Madani, "a educação é um direito inalienável no islã, tanto para os homens como para as mulheres".

"Se esta proibição continuar, o Afeganistão voltará ao período medieval. Uma geração inteira de meninas será sacrificada", completa.

O medo de perder uma geração foi o que motivou a professora Tamkin a transformar sua casa de Cabul em uma escola.

A afegã de 40 anos se recusou a abandonar a escola no período em que o Talibã governou o país pela primeira vez (1996 a 2001) e proibiu a escolarização de todas as mulheres.

Ela levou anos para se formar por conta própria e virar professora. Tamkim ficou sem trabalho no ministério da Educação, depois que o Talibã retomou o poder em agosto do ano passado e mandou para casa todas as mulheres com emprego público.

"Eu não queria que essas garotas fossem como eu", disse Tamkin à AFP com lágrimas nos olhos. "Devem ter um futuro melhor", suplica.

Com o apoio do marido, ela transformou uma despensa em uma sala de aula. Depois vendeu uma vaca da família para comprar livros escolares, porque a maioria de suas alunas vem de famílias pobres e não podem comprar o material.

Ela dá aulas de inglês e ciências para 25 alunas empolgadas.

Recentemente, em um dia chuvoso em Cabul, as jovens participaram em uma aula de Biologia.

"Eu quero apenas aprender. Pouco importa o aspecto do local de estudo", disse Narwan, sentada ao lado de colegas de várias idades e que, em tese, deveria estar no fim do Ensino Médio.

Atrás dela, um cartaz pendurado na parede estimula as estudantes a serem gentis: "A língua não tem ossos, mas é tão forte que pode quebrar seu coração, então tenha cuidado com suas palavras".

A bondade dos vizinhos permitiu a Tamkin dissimular o novo objetivo de sua despensa. "Os talibãs perguntaram várias vezes: 'O que existe aqui?' Pedi aos vizinhos que falassem que era uma madrassa", explica.

Maliha, aluna de 17 anos, está convencida de que algum dia os talibãs não estarão no poder. "Então, faremos bom uso do nosso conhecimento", afirma.

- "Não temos medo" -

Na periferia de Cabuk, em um labirinto de casas de barro, Laila comanda outra aula clandestina.

Quando viu o rosto de sua filha depois do repentino cancelamento do Ensino Médio em março, ela entendeu que precisava fazer algo.

"Se minha filha chorou, então as filhas dos outros também deveriam estar chorando", recorda a professora de 38 anos.

Dez meninas se encontram dois dias por semana na casa de Laila, que tem um quintal e uma horta onde ela cultiva verduras.

Na sala, uma grande janela tem vista para o jardim. As alunas, cujos livros e cadernos têm um plástico azul, estão sentadas em um tapete, brincalhonas e estudiosas. A aula começa com a correção do dever de casa.

"Não temos medo dos talibãs", afirma Kawsar, de 18 anos. "Independente do que falem, vamos lutar, mas vamos continuar estudando", acrescenta.

Estudar não é o único objetivo de algumas meninas e mulheres afegãs, várias delas casadas em relacionamentos abusivos ou restritivos. Algumas buscam um pouco de liberdade.

Zahra, que frequenta a escola clandestina em um vilarejo rural do leste do Afeganistão, se casou aos 14 anos e vive atualmente com os sogros, que não aceitam a ideia de que frequente aulas.

Ela precisa tomar soníferos para lutar contra a ansiedade e teme que a família de seu marido a obrigue a permanecer em casa.

"Eu digo a eles que vou ao bazar local e venho para cá", explica Zahra na escola, o único local que tem para fazer amigas.

O Talibã ordenou que as companhias aéreas no Afeganistão impeçam as mulheres de embarcar, a menos que estejam acompanhadas por um parente do sexo masculino, informaram as autoridades da aviação à AFP.

As restrições contra as mulheres foram anunciadas depois do fechamento das escolas do Ensino Médio para meninas na quarta-feira (23) - poucas horas após a reabertura pela primeira vez desde a chegada dos islamitas radicais ao poder em agosto.

Dois funcionários das companhias aéreas Ariana Afghan e Kam Air afirmaram no domingo à noite que os talibãs ordenaram que não permitam às mulheres que viajem sozinhas.

A decisão foi adotada após uma reunião na quinta-feira (24) entre representantes do Talibã, das duas companhias aéreas e autoridades migratórias do aeroporto, informaram à AFP os dois funcionários, que pediram anonimato.

Desde seu retorno ao poder, os talibãs anunciaram várias restrições à liberdade das mulheres, geralmente aplicadas a nível local, de acordo com as autoridades regionais do ministério para a Promoção da Virtude e a Prevenção do Vício.

O ministério afirmou que não divulgou nenhuma diretriz para proibir as viagens de mulheres sozinhas em aviões.

Porém, a medida foi confirmada em uma carta enviada por um executivo da Ariana Afghan aos funcionários da companhia aérea após a reunião com os talibãs - a AFP obteve uma cópia da mensagem.

"Nenhuma mulher pode viajar em um voo local ou internacional sem um parente masculino", afirma a carta.

Dois agentes de viagens procurados pela AFP também confirmaram que pararam de emitir passagens para mulheres que viajam sozinhas.

"Algumas mulheres que viajavam sem um parente do sexo masculino não conseguiram embarcar em um voo da Kam Air na sexta-feira de Cabul a Islamabad", afirmou um passageiro.

Os talibãs já proibiram as mulheres de viajar sozinhas por estrada entre cidades, mas até agora elas tinham permissão para embarcar em voos.

O movimento islamita prometeu uma versão mais tolerante do rígido governo de seu primeiro período no poder, de 1996 a 2001.

Mas desde agosto, os talibãs reverteram duas décadas de avanços nos direitos das mulheres afegãs.

As mulheres foram excluídas da maioria dos cargos públicos e do Ensino Médio. Também são obrigadas a se vestir de acordo com uma interpretação estrita do Alcorão.

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Quase 30 afegãs protestaram nesta terça-feira (28) em Cabul, capital do Afeganistão, para exigir respeito a seus direitos e o fim dos "assassinatos" de integrantes do antigo governo, mas a manifestação foi rapidamente interrompida pelo Talibã.

"Eu quero dizer ao mundo, falar ao Talibã para parar de matar. Queremos liberdade, queremos justiça, queremos direitos humanos, declarou a manifestante Nayera Koahistani à AFP.

"Pela milésima vez, queremos que este grupo interrompa a máquina criminosa. Ex-militares e ex-funcionários do governo estão diretamente ameaçados", afirmou Laila Basam, outra manifestante.

As jovens, reunidas perto de uma grande mesquita no centro da capital afegã, conseguiram caminhar por centenas de metros aos gritos de "Justiça" antes da interrupção do protesto.

Os combatentes talibãs também anunciaram a detenção por alguns minutos de vários jornalistas que cobriam o protesto e confiscaram suas câmeras - as imagens foram apagadas.

A convocação do protesto, nas redes sociais, citava os "misteriosos assassinatos de jovens, em particular os ex-militares do país".

A ONU e as ONGs Anistia Internacional e Human Rights Watch citam denúncias confiáveis sobre a execução sumária ou desaparecimento forçado de mais de 100 ex-policiais e agentes de inteligência desde que o Talibã retomou o poder em agosto.

Outra manifestação em Cabul nesta terça-feira pediu o respeito aos direitos das mulheres a estudar e trabalhar.

O regime Talibã proibiu os protestos no Afeganistão, exceto nas raras ocasiões em que as demandas estão a seu favor.

Em busca de reconhecimento internacional, o grupo islamita se comprometeu a governar com menos violência que durante seu primeiro regime (1996-2001), mas as mulheres continuam excluídas em grande medida da administração pública e do acesso ao ensino médio.

No domingo, o Talibã anunciou que as mulheres que desejam viajar por longas distâncias devem ser acompanhadas por um homem de sua família.

A Grécia anunciou nesta quarta-feira (22) que recebe temporariamente seis deputadas afegãs e suas famílias antes que possam seguir de maneira permanente para os Estados Unidos, depois que fugiram de seu país devido à chegada do Talibã ao poder.

"Seis deputadas afegãs chegaram a Atenas há algumas horas, acompanhadas por suas famílias", afirma um comunicado do ministério grego das Relações Exteriores, que não divulgou os nomes das parlamentares.

"Elas serão recebidas na Grécia por um período curto até a conclusão dos trâmites para sua mudança para os Estados Unidos", completou o ministério.

As seis deputadas conseguiram sair do Afeganistão graças ao apoio da ONG Zaka Khan, que tem sede em Nova York.

Cerca de cinquenta mulheres manifestaram-se, nesta quinta-feira (2), em Herat, no Afeganistão, para defender seus direitos e manter a pressão sobre o novo regime do Talibã.

"É nosso dever ter educação, trabalho e segurança", gritaram as manifestantes em uníssono, algumas das quais com faixas apelando ao respeito pelos direitos das mulheres.

"Não temos medo, estamos unidas", gritavam, sem serem interrompidas pelos fundamentalistas islâmicos, que prometeram uma gestão mais flexível do que a imposta no governo anterior (1996-2001), extremamente radical.

Esse tipo de manifestação ou expressão pública de descontentamento é algo inédito para o Talibã, que reprimiu implacavelmente qualquer oposição durante seu regime.

"Estamos aqui para reivindicar nossos direitos", explica Fareshta Taheri, uma das manifestantes, entrevistada pela AFP por telefone.

"Mulheres e meninas temem que o Talibã não permita que elas frequentem a escola e trabalhem", acrescentou.

A manifestação ocorreu em Herat, capital de uma província no oeste do Afeganistão, perto da fronteira com o Irã. É uma cidade considerada bastante liberal, pelo menos para os padrões afegãos.

Pelo menos uma das manifestantes usava burca, enquanto as demais usavam apenas um véu cobrindo o cabelo, orelhas e pescoço.

"Medo e incerteza"

"Estamos dispostas a usar a burca se eles nos disserem para fazê-lo, mas queremos que as mulheres possam ir à escola e trabalhar", explica Fareshta Taheri, artista e fotógrafa.

"No momento, a maioria das mulheres que trabalham em Herat está em casa, com medo e incerteza".

Durante o primeiro regime do Talibã no Afeganistão, a grande maioria das mulheres e meninas foi privada de educação e emprego.

A burca era obrigatória nas ruas e as mulheres não podiam se locomover sem um acompanhante do sexo masculino, geralmente um homem de sua família.

Agora, após a tomada de Cabul em 15 de agosto, o Talibã afirma que mudou e que está pronto para defender um governo "inclusivo".

Mas suas promessas foram contraditas na quarta-feira por declarações na BBC do vice-chefe do gabinete político do Talibã no Catar.

Questionado sobre o futuro governo, que deve ser anunciado na sexta-feira, Sher Mohammad Abbas Stanekzai disse que "pode não haver" mulheres ministras ou em cargos de responsabilidade, e que elas ocupariam apenas cargos em escalões inferiores.

Uma perspectiva inaceitável para as manifestantes em Herat. "Assistimos as notícias e nenhuma mulher é vista nas reuniões organizadas pelo Talibã", diz Mariam Ebram, uma das manifestantes.

"Há conversas para formar um governo, mas (o Talibã) não fala sobre a participação das mulheres", comentou outra organizadora do protesto, Basira Taheri.

"Queremos que o Talibã aceite falar conosco", enfatiza.

"Nem na cidade você vê muitas mulheres", diz Mariam Ebram. "Médicas ou enfermeiras que ousaram voltar ao trabalho reclamam que o Talibã está zombando delas".

Para a ex-ministra Nehan Nargis, refugiada na Noruega, o Afeganistão de 2021 nada tem a ver com o de 2001, quando o Talibã foi expulso do poder por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos.

"As pessoas estão mais conscientes, agora têm aspirações diferentes para o Afeganistão", afirmou à BBC na quarta-feira à noite, destacando a importância das redes sociais, um "instrumento muito poderoso" de mobilização.

Em Herat, as manifestantes prometem continuar sua luta até que suas reivindicações sejam ouvidas.

"Continuaremos com os protestos", garante Basira Taheri. "Eles começaram em Herat e logo se espalharão para outras províncias."

Seis adolescentes do Afeganistão tiveram a entrada barrada nos Estados Unidos no último sábado (1º). As garotas tentavam ingressar no país com o visto de uma semana para participar da competição internacional de robótica (FIRST Global Challenge) em Washington.

O governo norte-americano não explicou o motivo de não permitir a entrada do grupo no país. As garotas são estudantes da cidade de Herat, o terceiro maior município do Afeganistão. Para conseguir permissão para participar da FIRST Global Challenge, elas tiveram que viajar duas vezes à embaixada dos Estados Unidos, na capital Cabul. As duas tentativas foram frustradas, mesmo tendo recebido a ajuda de Roya Mahboob, fundadora da companhia de software Citadel e primeira mulher CEO na área de tecnologia do país. "Elas estão chorando o dia todo", afirmou Mahboob.

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Apesar da negativa, o robô criado pelas garotas vai ser enviado aos EUA e poderá competir com outros 163 projetos. Grande parte do material que precisavam para a confecção do robô foi barrado na alfândega durante meses — por medo de que o Estado Islâmico os usasse.

Após a liberação dos materiais, elas finalizaram a máquina e enviaram aos alunos de robótica da Universidade Carnegie Mellon, localizada na Pensilvânia, que representarão as garotas na competição.

Milhares de crianças afegãs, algumas de apenas 8 anos, trabalham em condições perigosas, apesar de a lei afegã proibí-lo, denunciou a organização Human Rights Watch (HRW). Além disso, metade dos menores que trabalham no Afeganistão se veem obrigados a abandonar a escola, segundo relatório publicado nesta quinta-feira.

A HRW acusa o governo de não aplicar a lei que proíbe que menores trabalhem em setores perigosos e de ter cessado seus esforços de modificar a lei trabalhista para conformá-la às normas internacionais.

"Aqui, as crianças trabalham dos dez, as vezes desde os 8, até os 15 ou 16 anos. Levantam às 3 da manhã e trabalham até a noite. Elas se queixam de dores. Mas o que podem fazer? Precisam ganhar a vida", afirma aos autores do estudo o chefe de uma fábrica de tijolos em Cabul.

"De acordo com a lei afegã, os menores entre 15 e 17 anos podem trabalhar em setores nos quais não correm riscos, que representam uma forma de aprendizagem e se não trabalharem mais de 35 horas por semana", afirmou à AFP Ahmad Shuja, representante da HRW em Cabul.

A extrema pobreza no Afeganistão, um dos países mais pobres do mundo e onde a taxa de desemprego em 2016 foi de mais de 40%, obriga os menores a trabalhos perigosos.

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