Pelo menos 27 pessoas foram mortas nesta segunda-feira (22) em ataques a um mercado de Idlib, atribuído pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) à Força Aérea russa que apoia o governo Bashar al-Assad. Moscou nega qualquer responsabilidade no episódio.
Desde o final de abril, o governo Assad e seu aliado russo intensificaram seus bombardeios na província de Idlib e em áreas adjacentes que fazem fronteira com Aleppo, Hama e Latákia.
A região segue sob controle do grupo extremista Hayat Tahrir al-Sham (HTS, ex-facção síria da rede Al-Qaeda). Outras facções rebeldes e jihadistas também estão presentes.
Mais de 650 civis foram mortos em quase três meses, segundo o Observatório, enquanto 330 mil pessoas fugiram da violência, de acordo com a ONU.
Esta manhã, vários ataques aéreos russos tiveram como alvo um mercado na cidade de Maaret al-Nooman, na província de Idlib, relatou o OSDH, que informou que edifícios próximos também foram afetados.
O Observatório, que conta com uma ampla rede de fontes na Síria, determina os autores dos ataques com base no tipo de aeronave utilizada, a localização dos alvos, os planos de voo e a munição utilizada.
Pelo menos "27 pessoas foram mortas, incluindo 25 civis e duas vítimas que ainda não foram identificadas", afirmou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
O Exército russo negou ter bombardeado a área, denunciando acusações dos Capacetes Brancos, uma organização de socorristas que opera em zona rebelde.
"São falsas as declarações de representantes anônimos da organização dos 'Capacetes Brancos', financiada pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos, sobre supostos ataques aéreos russos em um mercado de Maaret al-Nooman", declarou o Ministério russo da Defesa em um comunicado.
Auxiliados por moradores, os Capacetes Brancos transportaram feridos cobertos de sangue, constatou um fotógrafo colaborador da AFP.
Um homem jazia sem vida no chão coberto de escombros. O rosto estava coberto de poeira cinza. Outra vítima, ferida, foi amparada por dois homens, que a seguraram pelos braços. Moradores fugiam da área, carregando crianças, muitas vezes descalças, descreveu o fotógrafo.
- "Condições dramáticas" -
Os Capacetes Brancos relataram a morte de um de seus voluntários. Os ataques desta segunda-feira também deixaram 45 feridos, segundo o OSDH.
No domingo, também em Idlib, 18 civis, entre eles sete crianças, foram mortos em ataques atribuídos principalmente ao governo, mas também a seu aliado russo, conforme o OSDH.
Entre as vítimas está o jornalista colaborador Anas Dyab, de 22 anos, um fotógrafo e cinegrafista que contribuiu para a AFP, também foi voluntário dos Capacetes Brancos.
Além disso, dois cardeais do Vaticano estiveram nesta segunda-feira em Damasco para se encontrar com o presidente Assad.
Eles lhe entregaram uma carta do papa Francisco, que manifestou sua "profunda preocupação com a situação humanitária na Síria, especialmente com as condições dramáticas da população civil em Idlib", segundo um comunicado do Vaticano.
O aumento da violência acontece apesar de um acordo alcançado em setembro 2018 entre Rússia e Turquia, que apoia alguns grupos rebeldes, em Idlib. O objetivo era evitar uma grande ofensiva das forças leais a Damasco.
A iniciativa previa uma "zona desmilitarizada" para separar os territórios extremistas e rebeldes das áreas adjacentes do governo.
"A zona de desescalada se tornou um dos lugares mais perigosos do mundo para os civis", disse nesta segunda-feira o porta-voz do Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha) David Swanson, que pediu um cessar-fogo para "acabar com a tragédia".
Esporadicamente, jihadistas e rebeldes têm disparado foguetes e granadas contra áreas controladas pelo governo. Esses tiros já mataram cerca de 50 civis.
Nesta segunda, sete civis, incluindo duas crianças, morreram em ataques com foguetes de grupos rebeldes e jihadistas em um vilarejo controlado pelo governo Assad no norte da província de Hama, informou a imprensa estatal.