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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que só não "fecha tudo no Brasil" porque tem "responsabilidade". "O vírus está aí. Devemos nos preocupar com ele, em especial as pessoas com comorbidades e et cetera. Mas essa política de fique em casa e a economia a gente vê depois estão vendo agora", disse o presidente durante transmissão semanal ao vivo pelas redes sociais onde disse reconhecer que os produtos alimentícios estão mais caros.

"Eu tinha o poder - e tenho ainda - de fechar tudo no Brasil. Fechar tudo. Não fiz isso por que? Porque sempre disse que tínhamos dois problemas naquele momento, que deviam ser tratados com a mesma responsabilidade e de forma simultânea: o vírus e o desemprego", voltou a repetir Bolsonaro. Segundo o presidente, muitos governadores "deitaram e rolaram". "Quebrou e fechou tudo", emendou.

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Bolsonaro também afirmou que "mais tarde virão os números" sobre as consequências das políticas para conter a disseminação do novo coronavírus entre brasileiros. "Por enquanto está ai camuflado a questão de suicídios, de pessoas com depressão. Doença só se fala em covid-19. O número de óbitos por outras doenças tem diminuído bastante. Então tem alguma coisa esquisita nesses números ai", avalia. Hoje o País contabiliza 15,8 milhões de casos confirmados e 441 mil óbitos pela doença.

Durante a transmissão, Bolsonaro também voltou a dizer que o "seu exército" jamais irá às ruas para "manter o povo dentro de casa", tal qual "as forças policiais de alguns governadores que foram às ruas para manter o povo dentro de casa e descer a porrada". "O meu exército pode ir para a rua um dia para garantir a liberdade, o direito de ir e vir, à liberdade de culto e de trabalho. Aí sim, porque aí é jogar dentro das quatro linhas da Constituição", disse desenhando um retângulo com os dedos.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta quinta-feira, 20, na transmissão semanal ao vivo nas redes sociais, que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 continua um "vexame". "Recebi informações de que Pazuello (ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello) foi muito bem, mas a CPI continua um vexame", afirmou. Para o presidente, a CPI é um circo.

Pazuello continuou nesta quinta-feira (21) o depoimento que começou nesta quarta-feira (20) à CPI e que teve que ser interrompido após ele passar mal.

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Bolsonaro disse que a comissão parlamentar não quer investigar desvios de recursos. "Querem falar sobre aquele negócio que o pessoal usa para combater a malária; não vou falar o nome para não cair a live", afirmou, ao evitar citar a cloroquina. Para o presidente, o Brasil é o país da hipocrisia a começar pela CPI. "Eu tinha vontade de voltar a ser deputado para eu falar o que quiser." Ele disse também, sem citar o nome, que o relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), é um "vexame".

O presidente chegou a citar o vídeo antigo em que governadores citam a cloroquina contra o coronavírus. "Vi o vídeo que o senador lá de Rondônia, Marcos Rogério, colocou onde vários governadores, entre eles o filho do Renan (Renan Filho) e o filho do Jader (Helder Barbalho), o comunistão, comunista gordo Flávio Dino, falou da cloroquina", disse.

O presidente declarou que voltou a tomar cloroquina há poucos dias após ter se sentido mal e que chegou a fazer exames da covid-19, que, de acordo com ele, deram negativo. "Qual é o problema? Eu vou esperar sentir falta de ar para ir ao hospital? Vai ser entubado", questionou ao defender novamente o uso do remédio sem eficácia comprovada contra o novo coronavírus. "Quem não apresenta alternativa é um canalha", repetiu. Segundo o presidente, a esquerda não toma cloroquina porque o remédio "vai matar o verme que eles são".

Ao lembrar o embate entre o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e Renan Calheiros na semana passada, o presidente disse que o filho intitulou "muito bem" o parlamentar alagoano. Flávio havia chamado Renan de "vagabundo" e foi xingado da mesma forma pelo colega. "O coletivo daquilo que o Flávio acusou é conhecido como súcia, conjunto de pessoas desocupadas, que não têm o que fazer", disse.

Sobre as vacinas, Bolsonaro disse que levaram a sério quando afirmou que o vacinado poderia virar jacaré e se queixou não existir mais "figura de linguagem".

O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello reafirmou à CPI da Pandemia nesta quinta-feira (20) que o presidente Jair Bolsonaro não interferiu na gestão da pandemia enquanto ele esteve à frente da pasta. Segundo Pazuello, manifestações públicas do presidente sobre medidas sanitárias ou compra de vacinas eram  feitas “de improviso” e não devem ser interpretadas como ordens.

"Nós sabemos como é o nosso presidente. Ele fala de pronto o que vem na cabeça, como ele pensa. E algumas coisas precisam ser corrigidas depois. Algumas coisas precisam ser reconversadas".

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No primeiro dia da sua audiência, Pazuello havia sido questionado sobre um pronunciamento de Bolsonaro contra a aquisição da vacina chinesa CoronaVac. O ex-ministro voltou ao tema nesta quinta e disse que o fato se tratou de uma “posição de internet” do presidente, mas não houve pressão sobre o ministério.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) discordou dessa avaliação. Para ele, o presidente tem ingerência sobre seus ministros mesmo quando se manifesta informalmente. Contarato lembrou que, depois da crítica de Bolsonaro à vacina, o Ministério da Saúde cancelou a intenção de compra que havia anunciado.

"O senhor [Pazuello] fala: “Vou adquirir 46 milhões de doses do Instituto Butantan”. No outro dia, numa live, o presidente fala: "Não vai adquirir". O senhor fala: "Manda quem pode, obedece quem tem juízo". O presidente tem o poder de ordenar os ministros de Estado. Então, ele fez isso", argumentou Contarato.

A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) disse que Bolsonaro “desautorizou” Pazuello no episódio da CoronaVac, e ressaltou que essa tem sido uma prática comum do presidente. Para ela, as ações públicas de Bolsonaro contradizem os esforços do Ministério da Saúde.

"O presidente se comunica com a população pelas redes sociais. Ele tem uma influência grande. O senhor não insistiu em grandes campanhas de prevenção por quê? Como o senhor ia fazer isso? O senhor fazia campanha aqui, e o presidente da República ia para lá aglomerar, incentivar a aglomeração e a não usar máscara", disse Zenaide.

A senadora Leila Barros (PSB-DF) quis saber se o presidente pode ter influenciado o uso e a distribuição de cloroquina, um dos medicamentos usados no “tratamento precoce” contra a covid-19. Para ela, o próprio Ministério da Saúde evitou ter diretrizes claras contra a prática.

"Por meio de nota técnica do ministério sob a sua condução, [o senhor] tratou do assunto, se não recomendando diretamente, reforçando a autonomia do médico em receitar esses medicamentos. O senhor realmente acredita que a recomendação frequente e ostensiva do uso do remédio pelo presidente não teve qualquer impacto?".

Ao responder à senadora, Pazuello voltou a dizer que a atuação do ministério na sua gestão era autônoma, mas admitiu que, no caso dos medicamentos, áreas da pasta podem ter agido sem a sua autorização.

"Eu não fiz e não faria e não deixei fazer. Se aconteceu dentro de um outro nível do ministério que não estava sob a minha mão naquele momento, isso foi sem a minha autorização. Agora, eu não concordo com isso. Eu não comprei nenhum grama de hidroxicloroquina".

Simone Tebet (MDB-MS) e Rogério Carvalho (PT-SE) afirmaram acreditar que Pazuello foi à CPI para assumir responsabilidades “que não são [dele]”. Eles lembraram ao ex-ministro que ele pode ter que responder sozinho ao Ministério Público, e pediram que ele relatasse “a verdade” em relação às decisões tomadas no governo.

Pazuello respondeu que as suas decisões foram embasadas pelas demais instâncias do ministério e que suas responsabilidades foram compartilhadas com estados e municípios, e voltou a afirmar que não foi pressionado pelo Planalto.

"Cada setor, cada ministério, tem suas responsabilidades. No que tange ao Ministério da Saúde e ao SUS [Sistema Único de Saúde], eu posso afiançar que não tive pressão do presidente Bolsonaro para tomar esta ou aquela decisão".

O senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) fez eco à avaliação de que a responsabilização não deve recair sobre uma única pessoa, seja ela o ex-ministro ou o presidente Jair Bolsonaro. Vanderlan afirmou que Pazuello distribuiu “tudo o que foi pedido” à pasta pelos parlamentares.

"A responsabilidade pelas mortes dos mais de 440 mil brasileiros não é de uma só pessoa, como estão querendo imputar. É de todos nós, que, às vezes, falhamos em aprovar uma lei que nós tentamos [aprovar]. É do Congresso Nacional, de prefeitos, de governadores, é do Judiciário. As falhas foram de todos".

A senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) lembrou que a CPI também tem por objeto investigar as ações de estados e municípios com dinheiro federal. Ela pediu que Pazuello ajudasse nessa tarefa indicando gestores de unidades federativas que tenham prejudicado a ação do ministério por falta de colaboração.

"Nós já sabemos que a competência da gestão da pandemia é concorrente. Por óbvio, a responsabilidade também. Quem não colaborou com o governo federal? Quais estados e municípios não atuaram de forma condizente com o que o senhor defendeu? Por favor, dê nome aos bois".

O ex-ministro respondeu que a falta de informações que deveriam ser prestadas pelos estados por meio do e-SUS (sistema que estrutura a atenção básica) era “recorrente”, e se comprometeu a enviar uma análise detalhada para a CPI.

*Da Agência Senado

 

O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello atribuiu ao presidente Jair Bolsonaro a decisão de não aprovar um pedido de intervenção na saúde pública do Amazonas durante a crise da falta de oxigênio, em janeiro. Em depoimento à CPI da Covid nesta quinta-feira, 20, o general afirmou que o chefe do Executivo estava presente na reunião ministerial que negou a providência.

É a primeira vez que Pazuello liga o chefe do Executivo a uma das medidas do governo mais questionadas na gestão da crise sanitária. Nas demais declarações prestadas ontem e nesta quinta, o ex-ministro, general do Exército, buscou blindar Bolsonaro e negar interferências do presidente em temas como a compra de vacinas e a recomendação de cloroquina.

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A intervenção federal foi solicitada pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM), em 15 de janeiro. Na época, o esgotamento do estoque de oxigênio medicinal levou o sistema de saúde regional a um colapso. Pacientes com a covid-19 morreram por falta do insumo, fundamental nos casos moderados e graves.

"Na reunião ministerial, o governador foi chamado, apresentou sua posição e houve uma decisão nessa reunião de que não seria feita a intervenção", disse Pazuello, sem especificar a data do encontro. "O presidente da República estava presente. A decisão foi tomada nessa reunião", completou.

Segundo o ex-ministro, o governador do Estado, Wilson Lima (PSC), foi ouvido na reunião, alegou que tinha condições de liderar o enfrentamento à crise e o governo Bolsonaro tomou a decisão de não intervir.

Lima é aliado do presidente. No mês passado, homenageou Bolsonaro com o título de cidadão honorário do Amazonas. A cerimônia também funcionou como desagravo a Pazuello, que teve o trabalho na crise do oxigênio elogiado na ocasião.

Inicialmente, a Advocacia-Geral da União (AGU) informou que a pasta da Saúde tomou ciência da falta de oxigênio em Manaus em 8 de janeiro. Pazuello, porém, alegou à CPI que ficou sabendo pelas autoridades sanitárias do Amazonas apenas dois dias depois, no dia 10, quando a situação já era grave.

Há, ainda, um documento no qual o ex-secretário executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco admite que Pazuello soube da crise no abastecimento de oxigênio no Amazonas em 7 de janeiro, em conversa por telefone com o secretário estadual de Saúde, Marcellus Campêlo. A nota assinada por Franco foi uma resposta ao requerimento de informações enviado pelo deputado José Ricardo (PT-AM).

"Está claro que nós identificamos essa fragilidade à época, fizemos o que deveríamos fazer como representantes do povo do Amazonas. Pedimos e assumimos perante a opinião pública e perante a Nação a responsabilidade do pedido. Nós pedimos intervenção na saúde pública do Amazonas para salvar vidas. O governo não quis fazê-lo", afirmou Eduardo Braga.

Na quarta-feira, 19, na primeira parte do depoimento de Pazuello, houve desentendimento entre ele e Eduardo Braga após o ex-ministro alegar que os estoques de oxigênio só ficaram negativos por três dias.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sinalizou que vai se candidatar à Presidência em 2022 para evitar uma possível reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Enquanto evita comentar sobre a campanha no Brasil, o petista se mostra mais ativo no exterior.

Questionado sobre a participação no pleito, na última terça-feira (18), Lula destacou seu bom desempenho nas pesquisas ao Paris Match. "Se estou na melhor posição para ganhar as eleições presidenciais e gozo de boa saúde, sim, não hesitarei", ressaltou.

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Elegível em movimentação do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), o pré-candidato voltou a criticar a postura do ex-juiz da Lava Jato, Sergio Moro, responsável por suas condenações. "O que eles não sabiam é que estou pronto para lutar até o último suspiro para provar que se uniram para me impedir de ir às eleições”, aponta.

Isolamento na geopolítica mundial

Ele também avaliou positivamente sua gestão, sobretudo nas questões diplomáticas. Isolado geopoliticamente, especialistas já classificam o Brasil como um ‘pária mundial’. "Acho que fui um bom presidente. Criei laços fortes com a Europa, América do Sul, África, Estados Unidos, China, Rússia. Sob meu mandato, o Brasil tornou-se um importante ator no cenário mundial, notadamente criando pontes entre a América do Sul, África e os países árabes, com o objetivo de estabelecer e fortalecer uma relação Sul-Sul e demonstrar que o predomínio geopolítico do Norte foi não inexorável", disse.

"O Brasil não deve procurar entrar em conflito com nenhum país. Nossa última guerra foi contra o Paraguai há 150 anos! Posso ter divergências com o Presidente dos Estados Unidos, mas não devo perder de vista que devo manter relações diplomáticas com ele para garantir a democracia, a política de desenvolvimento, as relações comerciais, a ciência e a tecnologia”, complementou o ex-presidente.

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A Diretoria de Análises de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV DAPP) coletou dados sobre os números de menções à CPI da Covid-19 no Twitter. Segundo o Blog do Ancelmo, do Globo, até essa quarta-feira (19), quando aconteceu a entrevista do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, já haviam sido feitos 9 milhões de comentários sobre o assunto na rede social, sendo cerca de 60% vindo de perfis de oposição ao Governo Federal.

Essa quarta foi o dia com mais comentários e em seguida, a quinta-feira (13), data das declarações do representante da empresa farmacêutica Pfizer, Carlos Murillo. Ele disse que o governo ignorou pelo menos cinco ofertas da vacina ainda em 2020.

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Dos milhões de comentários, segundo os dados, 33% vem de perfis apoiadores do governo Jair Bolsonaro, enquanto 60% de opositores e os outros 7% são perfis de políticos, imprensa e perfis de checagem de fatos.

A área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) vai apurar a forma como o Ministério do Desenvolvimento Regional e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) usaram R$ 2 bilhões das emendas de relator-geral do Orçamento de 2020 em contratos com empresas privadas. A investigação foi solicitada pelo subprocurador-geral da República junto ao TCU, Lucas Furtado, nessa quarta-feira (19).

Revelado pelo Estadão, o orçamento secreto é um esquema montado pelo governo Jair Bolsonaro, em 2020, para beneficiar deputados federais e senadores com a indicação da destinação de dinheiro das emendas de relator-geral (também chamadas RP9) em troca de apoio no Congresso Nacional.

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Ao contrário das emendas individuais, de bancada e de comissões, o valor das emendas de relator foi distribuído de forma desigual entre os políticos, de modo a beneficiar aliados do governo. Diferentemente do que acontece com outros tipos de emendas, tais recursos foram destinados mediante acordos secretos, sem que se saiba qual político indicou o quê. O Estadão revelou 101 ofícios que expõem essas negociações e que não estão públicos.

No total, os parlamentares decidiram onde o Executivo deveria aplicar ao menos R$ 3 bilhões do Ministério do Desenvolvimento Regional. Parte foi repassada a municípios, mas cerca de R$ 2 bilhões foram destinados a empresas privadas. É sobre esta parcela dos recursos que vai se concentrar a apuração do TCU.

"O capítulo que se inicia agora é a identificação das empresas beneficiárias de contratos para fornecimento de equipamentos com recursos oriundos do chamado 'orçamento paralelo' (...), empresas essas que supostamente estariam incorrendo em possíveis fraudes e superfaturamentos", diz um trecho do texto assinado por Furtado. Uma parte do orçamento secreto foi usada para comprar tratores a preços acima da tabela de referência do governo, razão pela qual o esquema foi apelidado de "tratoraço" nas redes sociais.

Segundo o subprocurador-geral, chamam a atenção as justificativas usadas por alguns deputados e senadores para manter sob sigilo a participação nos acordos para destinação das verbas. "Diante de tão rígido e alegado sigilo com que é tratado o tema (...), não resta outra alternativa senão o aumento no rigor, na urgência e na profundidade das investigações, cabendo aos órgãos que têm por missão velar pelo bom e regular uso dos recursos públicos, envidar todos os esforços para esclarecer os fatos e circunstâncias", escreve o procurador, que cita as reportagens do Estadão.

O ministro do TCU Raimundo Carreiro determinou, ontem, que a área técnica atue junto ao governo para garantir a "devida transparência da totalidade dos recursos alocados via emendas parlamentares", segundo o site Jota. O ministro destacou que apenas as emendas parlamentares contam com transparência e citou o caso das RP9, divulgado pelo Estadão, como exemplo do que precisa mudar.

Planalto

Anteontem, o jornal mostrou como o atual ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, participou diretamente da criação do orçamento secreto, quando era ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República.

O ministro assinou a exposição de motivos que acompanha o projeto de lei que criou a emenda chamada RP9. O texto deixa claro que foi o ministro quem propôs o projeto. "Diante do exposto, submeto a sua consideração o anexo Projeto de Lei que (...) dispõe sobre as diretrizes para a elaboração e a execução da Lei Orçamentária em 2020 e dá outras providências", escreveu o general a Bolsonaro.

Procurado pelo Estadão antes da publicação da reportagem, o ministro disse que "a iniciativa da criação da RP9 foi da Comissão de Orçamento do Congresso". Após a publicação, porém, ele usou o Twitter duas vezes para criticar a reportagem e acusar o jornal de ter fraudado documentos para implicá-lo.

Em depoimento à CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello afirmou que o presidente Jair Bolsonaro nunca lhe orientou a fazer nada diferente da forma como já estava atuando na gestão da Saúde. Pazuello defendeu também que as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) são apenas posições - e que quem decide a política a ser implantada no País é o Ministério da Saúde. "Somos soberanos", disse Pazuello nesta quarta-feira, para quem a organização "ia e vinha" em seus posicionamentos.

O ex-ministro da Saúde disse que não havia falta de convergência entre sua postura como titular da Saúde e o presidente Jair Bolsonaro. "As minhas posições não eram contrapostas pelo presidente, nunca foram contrapostas pelo presidente", disse em resposta aos questionamentos do relator, Renan Calheiros (MDB-AL). Segundo Pazuello, em nenhum momento Bolsonaro o desautorizou ou o orientou a fazer qualquer coisa que já não estava sendo feita pelo ministério.

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"Para colocar uma pedra nesse assunto. Presidente falou para mim e vários ministros: assunto de saúde quem trata é o ministro Pazuello. Nenhuma vez fui chamado para ser orientado pelo presidente de forma diferente, por aconselhamentos externos, nunca, nenhuma vez", respondeu Pazuello ao ser perguntando sobre um possível "aconselhamento paralelo" feito a Bolsonaro em assuntos da pandemia.

O general respondeu ainda que sempre defendeu medidas preventivas para enfrentamento da pandemia, como uso de máscara, limpeza das mãos e "afastamento social necessário". "Deveríamos fazer medidas de distanciamento sempre que possível", disse. "Não deixamos de nos pronunciar em todas as entrevistas, coletivas. Não podemos abrir não de medidas preventivas", afirmou Pazuello, ressaltando também que as medidas restritivas ficavam a cargo de decisão dos Estados e Municípios.

O ex-ministro disse ainda que nunca houve um direcionamento de isolamento uniforme para todo o Brasil - algo que inclusive ele afirmou ser contrário. Em âmbito nacional, o ministério atuava na distribuição de recursos e equipamentos, afirmou.

Em fala inicial no depoimento à CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello resgatou temas que geraram polêmica na relação do governo federal com os Estados, além de especialistas e cientistas. A exemplo do presidente Jair Bolsonaro, Pazuello lembrou da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a autonomia de Estados e municípios para executar as medidas necessárias para conter o avanço do novo coronavírus, e comentou sobre uma onda de automutilação e suicídio gerada pela pandemia do coronavívus - algo que, para Bolsonaro, é gerado em razão da política de isolamento social.

Pazuello afirmou que a determinação do STF "limitou ainda mais a atuação do governo federal" nas ações de saúde, e citou diversos números de transferência de recursos aos entes subnacionais para a gestão da saúde. "Não há possibilidade no Ministério da Saúde interferir nas ações sem usurpar a competência dos Estados. Decisão do STF serviu para confirmar a atuação dos Estados e municípios. Coube ao Ministérios apoiá-los", afirmou o ex-ministro, segundo quem uma das formas mais significativas de colaboração foi a criação de uma ferramenta para auxiliar gestores pelo País. "Nosso país pode se orgulhar de ter o Localiza SUS", disse.

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A decisão do STF não retirou da União a responsabilidade pelas ações de combate à pandemia. A decisão do Supremo foi usada por Bolsonaro ao longo do ano passado como justificativa para a ausência de uma coordenação do governo federal nas ações de combate ao vírus.

"Nunca se investiu tanto em Saúde em toda nossa história. Valores transferidos do governo federal são impactantes", comentou o ex-ministro, que fez questão de ressaltar o modelo tripartite do Sistema Único de Saúde (SUS) para afirmar que as decisões eram tomadas em conjunto, não apenas pelo Ministério da Saúde.

Pazuello também citou o que seriam "quatro ondas" da pandemia. No entanto, as fases comentadas pelo ministro não são as de picos da doença enfrentados pelo Brasil. Segundo ele, a primeira foi da contaminação e óbitos, a segunda onda foi gerada pelo represamento das demais doenças não tratadas, a terceira onda pelo agravamento de doenças crônicas e a quarta causada pela automutilação e suicídios.

Segundo ele, o Ministério da Saúde adotou "total transparência" em sua prestação de contas, e que a estratégia de comunicação sobre a pandemia foi voltada aos mais vulneráveis. "Ressaltamos sempre as medidas preventivas. Buscamos as mídias regionais. Fizemos parcerias de mídia com 25 empresas. Realizamos 11 campanhas publicitárias", relatou.

Ainda sobre o auxílio a Estados e municípios, o ex-ministro citou a criação de uma força-tarefa para garantir critérios objetivos de distribuição de equipamentos e recursos, o custeio da ampliação de leitos, expansão de UPAs, leitos para hospitais de pequeno porte.

Ele disse também que a estratégia de testagem foi um dos "pilares", e que governo desde o início da pandemia focou em dois principais riscos: sanitário e econômico, citando a criação do auxílio emergencial. "Em meados de 2020, OMS confirma a importância de ações para preservar saúde e economia. Cuidamos de todos os cidadãos através do SUS", disse.

O general ainda pontuou durante sua fala inicial a decisão de gestores de manterem o carnaval de 2020 em razão do "desconhecimento" dos riscos da doença, assim como a realização das eleições municipais no ano passado.

Depois de se contradizer em relação às demandas do presidente Jair Bolsonaro na pandemia, o ex-chanceler Ernesto Araújo disse em depoimento à CPI da Covid que, nas reuniões ministeriais dais quais participou, a compra de vacinas para a covid-19 não era discutida especificamente. A exceção foi o encontro que ocorreu em fevereiro ou março deste ano, quando se teria debatido o contato de Bolsonaro com a Pfizer. "Com exceção em março ou fim de fevereiro onde se decidiu que o presidente faria contato com presidente da Pfizer para obtenção da vacina da Pfizer. Foi reunião onde o presidente disse 'sim, quero falar com o presidente da Pfizer'", relatou Araújo.

Os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) destacaram a demora do assunto vir à tona nas reuniões ministeriais, lembrando que a farmacêutica enviou carta a Bolsonaro em setembro do ano passado falando de uma oferta feita ao Ministério da Saúde que continuava sem resposta.

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"Em diferentes reuniões ministeriais, surgiu o tema da covid. O presidente falava das preocupações com a pandemia, diferentes aspectos, inclusive aspecto econômico, de saúde, vacinas, mas orientações específicas para atuação do Itamaraty, negociações, vinham do Ministério da Saúde", disse Araújo.

O ex-chanceler ainda rejeitou o entendimento de que agressões feitas pelo presidente Jair Bolsonaro a outras nações teriam prejudicado as relações externas do Brasil. A questão foi colocada pelo senador Alessandro Vieira. Para Araújo, os prejuízos à imagem do País no exterior são resultado de interpretações internas "equivocadas" que procuram "criar imagem de ameaça à democracia no Brasil".

"Também de que haveria política de afrontamento aos direitos humanos, que é falso, e que haveria uma política deliberada de destruição ambiental. Isso com base em interpretações equivocadas que conduziram a um problema de imagem no exterior, e não falas do presidente da República", completou Araújo, segundo quem a pandemia tem sido usada em alguns casos como pretexto para que se ataque as liberdades no Brasil e no mundo.

Vieira também questionou o ex-chanceler sobre uma afirmação feita em janeiro deste ano, de que "a biopolítica do 'fique em casa' talvez esteja ajudando o narcotráfico". "Estou falando do pretexto da pandemia para determinadas atitudes do controle social. Pudemos observar, aconteceu em alguns lugares do Brasil, durante a pandemia houve aumento de criminalidade. Pretexto do uso da pandemia para cercear determinadas atividades de combate ao crime, me parece que isso esteve presente", respondeu Araújo, que esteve à frente do Ministério das Relações Exteriores até março deste ano.

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) compareceu ao depoimento do ex-chanceler Ernesto Araújo à CPI da Covid para tentar fazer uma defesa do pai, Jair Bolsonaro, na condução do enfrentamento à pandemia. Prestando solidariedade a famílias enlutadas e destacando o número de recuperados, Flávio buscou contornar a declaração polêmica de Bolsonaro, que classificou a covid-19 como uma "gripezinha", e afirmou que a CPI tenta "antecipar" 2022, em alusão a disputa eleitoral do próximo ano.

"Não leve a mal (Ernesto Araújo), algumas pessoas que vem se manifestar, porque alguns ainda não aceitaram resultados das urnas", disse Flávio, o último senador a falar na CPI nesta terça-feira (18) antes de a sessão ser encerrada. "Bolsonaro foi eleito para redirecionar sim a política externa do País", disse o senador, que utilizou uma característica frequentemente empregada para descrever o presidente, a atribuindo aos colegas da oposição.

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"O que vejo aqui é um negacionismo do óbvio. Fatos estão colocados. Temos internet e meios alternativos que inviabilizam o monopólio da narrativa dos grandes veículos. Brasil já dispõe de mecanismos para checar o que é fake news", afirmou Flávio, para quem as relações internacionais não foram comprometidas por questões ideológicas que envolvem o governo Bolsonaro.

Sobre as declarações do presidente, chamando a covid-19 de gripezinha, Flávio afirmou que Bolsonaro se referia a experiência própria com a doença. "Sempre disse que no caso dele especificamente as consequências seriam gripezinha", disse. Uma das ocasiões em que Bolsonaro usou o termo, minimizando os efeitos da doença, foi durante pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, em 24 de março. Na ocasião, vinculou os sintomas à sua capacidade física.

"Discussão sobre origem do vírus tem muita água para rolar embaixo dessa ponte. Há investigações em todo o mundo. Nada está descartado ainda. Ai se demoniza quem fala que é vírus chinês, mas são as mesmas pessoas que não se incomodam em dizer que quando houve cepa imputada ao Brasil, não tem pudor em dizer que é a cepa brasileira", concluiu Flávio.

O possível aconselhamento paralelo ao Ministério da Saúde, que estaria orientando o presidente Jair Bolsonaro nas questões referentes a Covid-19, voltou a ser discutido na sessão da CPI da Covid, no Senado, que ouve nesta terça-feira Ernesto Araújo. Questionado, o ex-chanceler disse não ter conhecimento da existência do grupo.

Durante o questionamento, o relator do colegiado, senador Renan Calheiros (MDB-AL), chegou a sugerir a participação de Olavo de Carvalho neste "ministério da doença" como chamou, e provocou Araújo ao perguntar se Olavo também seria o guru ideológico deste grupo "ou era apenas guru do Ministério das Relações Exteriores". O ex-chanceler se limitou a negar que sua relação de amizade com Olavo não significava que ela era seu guru na administração da pasta.

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Durante seu depoimento, as relações de Araújo com Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e com o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, também foram questionadas, com as quais o chanceler afirmou sempre ter tido excelentes relações.

Sobre Eduardo Bolsonaro, Araújo manteve sua posição ao defender o filho do presidente, dizendo que em uma troca de mensagens nas redes sociais, o embaixador chinês Yang Wanming, e Eduardo, Wanming teria sido ofensivo, e não deu resposta que combinava com a atitude de um diplomata.

No ano passado, o filho do presidente republicou uma mensagem no Twitter que culpava o país asiático pela pandemia. Na ocasião, o perfil oficial da embaixada chinesa protestou contra o deputado e disse que ele havia contraído "vírus mental". O então chanceler classificou a reação da embaixada "desproporcional", disse que feriu "a boa prática diplomática" e pediu retratação por parte do embaixador, Yang Wanming, que rejeitou a sugestão de Araújo.

Embaixador

No depoimento à CPI, o ex-ministro das Relações Exteriores afirmou que atuou para solucionar o impasse no recebimento de insumos para produção de vacina da China em janeiro deste ano. Ao ser questionado se concordava com a afirmação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, de que o país asiático teria colocado "barreiras", Araújo disse concordar e relatou ter enviado ao chanceler chinês uma carta pedindo a liberação da carga.

"E alguns dias depois o ministro me respondeu que faria tudo o quanto possível", disse Araújo. Por sua vez, o presidente da CPI, Omar Aziz, questionou o motivo de o ex-chanceler não ter tratado da questão com o embaixador da China no Brasil. "Por que o senhor não atravessou a rua e conversou com o embaixador chinês em Brasília? Preferiu mandar uma carta? O senhor não fez isso por causa dos comentários que fez sobre a China", indagou Aziz.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) anunciou, nesta terça-feira (18), que o PSDB entrará na Justiça com uma ação para obrigar o presidente Jair Bolsonaro a respeitar as regras sanitárias recomendadas pelo Ministério da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como adoção do distanciamento social e uso de máscara.

"PSDB vai entrar com ação para obrigar Bolsonaro a obedecer regras sanitárias da Saúde e Anvisa", disse Jereissati, que defendeu, assim como outros senadores, a reconvocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para que ele também possa se manifestar sobre as aglomerações promovidas pelo presidente da República.

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"Temos feito apelo para que presidente colabore com a gente em relação a essas atitudes. Precisamos ter um discurso unificado em relação a pandemia", comentou o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM).

O presidente Jair Bolsonaro ainda está à procura de um partido para chamar de seu. Nos últimos dias, fracassaram as negociações para que ele se filiasse ao PRTB porque a cúpula da sigla não aceitou sua exigência de ter controle total dos diretórios. Desde que saiu do PSL, em 2019, Bolsonaro já abriu diálogo com nove partidos, mas até agora nenhum deles aceitou lhe dar carta-branca. Além disso, o presidente não conseguiu tirar do papel o Aliança pelo Brasil, agremiação que queria fundar para disputar novo mandato, em 2022.

Antes do PRTB, Bolsonaro havia mantido conversas com Patriota, PTB, Republicanos, Brasil 35 (antigo PMB), Democracia Cristã (DC), PL, Progressistas e tentou retornar ao PSL. Embora a cúpula do PSL diga que as negociações com Bolsonaro estão encerradas, as tratativas continuam, nos bastidores. Só não avançaram porque o presidente não abre mão de ter ingerência sobre todos os diretórios do partido - inclusive sobre o caixa - e exige a expulsão de deputados contrários a ele.

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Partido do vice-presidente Hamilton Mourão, o PRTB havia iniciado conversas com Bolsonaro antes da morte de seu fundador, Levy Fidelix, no mês passado. Mas a viúva Aldineia Fidelix, atual presidente da legenda, não concordou com as imposições do chefe do Executivo para se filiar.

No fim de abril, Bolsonaro recebeu Levy Filho, Karina e Lívia para uma reunião no Palácio da Alvorada. Além dos três filhos do fundador do PRTB, o encontro também contou com a presença de Karina Kufa, advogada do presidente, e do ministro do Turismo, Gilson Machado. Secretário-geral do PRTB, Levy Filho era o mais entusiasta da ideia da entrada de Bolsonaro e se dispôs a dar a ele controle total do partido. Mas Karina Fidelix, irmã de Levy Filho, resistiu à ideia - ela tem pretensões de herdar o comando da legenda para administrá-la junto com o marido Rodrigo Tavares, hoje presidente da seção paulista do PRTB. Lívia Fidelix, por sua vez, não quis opinar.

Em mais de uma ocasião, o presidente disse que queria ser "dono" de uma sigla. "Estou namorando outro partido, tá? Onde eu seria dono dele; (seria) como alternativa, se não sair o Aliança", afirmou Bolsonaro, em 8 de março, ao conversar com apoiadores, no Palácio da Alvorada.

Tempo

De lá para cá, ele já estabeleceu vários prazos para anunciar seu novo partido, mas as negociações emperraram. Apesar das declarações de Bolsonaro dando conta de que quer uma legenda sobre a qual tenha controle absoluto, articuladores do governo e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) disseram a ele que, com o retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ideal é sua filiação em um partido com mais estrutura. Pré-candidato ao Palácio do Planalto, em 2022, Lula é hoje o principal adversário de Bolsonaro.

O vice-presidente do PSL, Antonio Rueda, é quem está à frente das conversas com Bolsonaro, mas nada foi adiante. A avaliação no governo é de que Rueda fez várias promessas de entregar o comando do PSL a Bolsonaro, mas recuou na hora de se comprometer, mesmo porque o deputado Luciano Bivar (PE), presidente do PSL, veta qualquer acordo nesse sentido.

Bolsonaro deixou o PSL em novembro de 2019 após desavenças com Bivar. O principal motivo para a saída foi a briga por causa do controle do caixa da legenda. Em 2018, o PSL se tornou uma superpotência partidária ao eleger o presidente da República, 54 deputados, quatro senadores e três governadores, na esteira do bolsonarismo. Com isso, o partido deve ter neste ano a maior fatia dos recursos públicos destinados a partidos, de R$ 103,2 milhões.

O Estadão ouviu de integrantes da cúpula do PSL que, para voltar à sigla, Bolsonaro cobrou um "alinhamento ideológico" com pautas do governo e a expulsão de deputados que o atacam, como Júnior Bozzella (SP), Julian Lemos (PB), Joice Hasselmann (SP) e Delegado Waldir (GO). Até o momento, o presidente da legenda, Luciano Bivar, não aceitou nenhuma destas condições.

Metade do orçamento secreto de R$ 3 bilhões criado pelo presidente Jair Bolsonaro para aumentar sua base de apoio no Congresso foi direcionada para pavimentação asfáltica. Além das compras de tratores acima da tabela de referência, como revelou o Estadão, o grupo político beneficiado pelo esquema reservou R$ 1,6 bilhão para asfaltar ruas e estradas nos seus redutos eleitorais.

Documentos a que o Estadão teve acesso indicam que parte do orçamento secreto deve bancar contratos de asfaltamento cujas licitações foram consideradas irregulares pela área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU). Os indícios foram identificados durante pente-fino da Corte em pregões da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) entre novembro e dezembro de 2020.

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Criada para desenvolver as margens do Velho Chico, a estatal teve sua finalidade desvirtuada no governo Bolsonaro quando passou a atender municípios localizados a mais de 1,5 mil quilômetros das águas do São Francisco e acomodar ainda mais políticos do Centrão. Na prática, a empresa virou um duto para saída dos recursos do "tratoraço", como o esquema de toma lá, dá cá está sendo chamado.

O trabalho dos auditores do TCU não levou em conta a origem dos recursos. Focou apenas na aplicação, independentemente da fonte das verbas. Os valores globais desses pregões questionados são de R$ 533 milhões. Com base em documentos aos quais o Estadão teve acesso, a reportagem identificou que parte é originária do orçamento secreto, criado a partir de uma nova modalidade de emenda (RP-9).

Os pregões foram feitos pela Codevasf antes mesmo de os recursos serem reservados ao órgão, o que por si só já descumpre a lei, e sem especificar locais de serviços. O tipo de licitação - por ata de registro de preços - também seria inadequado de acordo com os auditores. A área técnica do tribunal apontou ao menos quatro problemas e definiu como "indício de irregularidade grave o fato de que as licitações possuíam objetos indefinidos e locais de execução indeterminados, inexistindo projetos básico e executivo das intervenções a serem realizadas".

Além disso, os auditores apontaram uma possível limitação na concorrência, pois a previsão de contratos com valores elevados diminui a possibilidade de mais empresas participarem dos pregões - o parcelamento dos objetos de contratos seria o mais adequado, pois permitiria mais concorrência, na visão dos auditores.

"(Houve) utilização indevida do sistema de registro de preços para a contratação de obras, com o emprego da ata de registro de preços como contrato do tipo 'guarda-chuva', com objeto incerto e indefinido, sem a prévia realização dos projetos básico e executivo das intervenções a serem realizadas", diz o relatório.

Tabela

Os documentos mostram ainda que 18 empresas vencedoras das licitações que o TCU questiona estão também em uma tabela de contratos que a Codevasf realizou com a verba direcionada pelos parlamentares no fim do ano.

Por exemplo, o senador Ciro Nogueira (Progressistas-PI) colocou R$ 50 milhões para pavimentação asfáltica na Codevasf. As empresas foram vencedoras de três pregões para atuação exatamente na 7.ª Superintendência Regional da Codevasf, sediada em Teresina. Como o Estadão mostrou, Ciro Nogueira tem influência sobre a superintendência. As licitações vencidas pelas três empresas chegam a R$ 67 milhões, no total. Ou seja, em se confirmando essas contratações, a maior parte dessas verbas terá vindo dos créditos direcionados à Codevasf pelo senador, líder do Centrão.

Esse volume de recursos excede as emendas impositivas a que os parlamentares têm direito e não foi distribuído de forma equânime entre os congressistas. A divisão atendeu a critérios políticos e foi feita dentro dos gabinetes, a porta fechadas, e por meio de ofícios não publicados. A prática atropelou leis licitatórias e um veto do presidente Jair Bolsonaro, que, em 2019, foi contra entregar a deputados e senadores o controle formal da execução das verbas de emenda geral de relator.

A partilha dos recursos se dá ao largo do controle do próprio TCU. Ciro Nogueira direcionou R$ 135 milhões do orçamento secreto do governo no Ministério do Desenvolvimento Regional, somente em dezembro de 2020. Ele precisaria de 16 anos no Senado para poder indicar tamanha quantia, se contasse apenas com as emendas individuais - a cada ano, apenas R$ 8 milhões são disponíveis para livre indicação por parlamentares, sendo que um valor semelhante é possível de indicar apenas dentro da área da saúde.

O senador é hoje o líder da tropa de choque do governo Bolsonaro na CPI da Covid. Ao depor na comissão, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta acusou Nogueira de ler uma pergunta enviada pelo ministro Fábio Faria (Comunicações).

Líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE) recebeu R$ 125 milhões do orçamento secreto. Ele colocou todo o valor na Codevasf. É dele a indicação do superintendente da estatal em Petrolina, Aurivalter Cordeiro, onde o filho Miguel Coelho (MDB) é prefeito. Como senador, Bezerra levaria 15 anos para alocar o montante.

Uma parte desse orçamento secreto o senador destinou para obras de asfalto. A Codevasf prevê que um porcentual irá para pagar firmas que venceram licitações consideradas irregulares pelo TCU.

Ao todo, a reportagem identificou que 18 das empresas listadas entre as vencedoras das licitações irregulares, na visão do corpo técnico do TCU, estão também entre as com previsão de receber recursos originados de indicações de parlamentares.

A representação de auditores do TCU, aberta no início deste ano, pede a suspensão de contratações que ainda não foram formalizadas, apesar de os vencedores dos pregões já serem conhecidos. O processo está em julgamento no tribunal. O ministro Augusto Sherman, relator, iniciou o voto no processo há duas semanas, mas o ministro Vital do Rêgo pediu vista.

Ex-advogado-geral da União (AGU) no governo Michel Temer, o advogado Fábio Medina Osório disse que os achados dos auditores do TCU recomendam a suspensão do contato. "As apontadas irregularidades são de natureza grave, uma vez que a ausência de objeto específico, de projeto básico e de local de execução dos serviços inviabiliza a adequada concorrência, culminando em potencial dano ao erário", afirmou.

Ele destacou que houve uma afronta aos princípios constitucionais de legalidade, da eficiência e da publicidade, definidos no artigo 37 da Constituição. Na avaliação do advogado, os fatos, em tese, podem configurar ato de improbidade administrativa. Osório destacou ainda o risco de sobrepreço. "Não havendo detalhamento de cada obra em particular, não há como ser aferido se o que seria pago seria efetivamente executado, com possível sobrepreço", disse Osório.

'Impacto'

Em manifestação ao TCU, a Codevasf disse que "os impactos em caso de eventual anulação dos certames serão gigantescos, deixando milhares de pessoas sem os benefícios que as pavimentações trarão, bem como prejuízos em relação a escoamento da produção em vias rurais, diminuição de poeira, melhoria da trafegabilidade e bem-estar da população na área de atuação da Codevasf". Procurada pela reportagem, a empresa disse que se explicou ao TCU.

O voto do relator, Augusto Sherman, foi para não suspender as contratações no momento, mas para abrir imediata fiscalização. Procurados, os senadores não se manifestaram.

O presidente Jair Bolsonaro assinou nesta segunda-feira (17) o decreto que institui o Programa Nacional de Enfrentamento da Violência contra Crianças e Adolescentes. A assinatura do documento ocorreu durante evento de lançamento de uma campanha nacional de combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, na sede do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. A iniciativa é parte do Maio Laranja, movimento criado para chamar atenção da sociedade para o problema.

"Nós estamos aqui pra dizer que a gente tem agora um Maio Laranja, mas nosso sonho é que todos os meses fossem laranja e que todos os dias fossem laranja, e que todos se levantassem no enfrentamento à violência sexual contra a criança no Brasil, e a exploração sexual", afirmou a ministra Damares Alves.

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Segundo a pasta, o programa tem caráter intersetorial e busca unir esforços entre os diversos atores do sistema de proteção, inclusive da sociedade civil, conselhos tutelares, delegacias e juizados especializados. Para atingir as metas previstas, o texto do decreto estabelece diretrizes que incluem ações de prevenção, por meio de formação continuada de operadores do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e Adolescente Vítima ou Testemunha de Violência, além de campanhas de sensibilização da população em geral.

"Não tem como você relativizar um tipo de violência como esse. Eu peço a Deus que vocês continuem nessa toada, que possíveis operações, que devem ocorrer, cheguem realmente a quem tenha que chegar", afirmou Bolsonaro, logo após a assinatura do decreto.

O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos informou que o orçamento do programa será composto por emendas parlamentares e parceiras público-privadas e com estados e municípios.

Comissão

Ainda segundo o decreto, que será publicado no Diário Oficial da União (DOU), será instituída a Comissão Intersetorial de Enfrentamento à Violência contra Crianças e Adolescentes, que tem como missão monitorar e avaliar o novo programa. O órgão consultivo deverá priorizar o combate das violências física, sexual, psicológica e institucional.

O colegiado será presidido pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e contará com a participação do Ministério da Justiça e Segurança Pública, do Ministério da Educação, do Ministério da Cidadania, o Ministério da Saúde, o Ministério do Turismo e do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.

 

O presidente Jair Bolsonaro chamou de "idiotas" os brasileiros que ficam em casa, seguindo recomendações de autoridades sanitárias para evitar a disseminação do coronavírus. "Tem alguns idiotas que até hoje ficam em casa", disse ele em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, na manhã desta segunda-feira, 17.

Com menos de 20% população ainda sem ter recebido a primeira dose da vacina no País, o distanciamento social é considerado por cientistas e especialistas em saúde como forma mais eficaz de se evitar a propagação do vírus. Já são mais 434 mil mortos pela doença no Brasil. Bolsonaro fez o comentário em resposta a um apoiador que citou o ato de sábado, 15, na Esplanada dos Ministérios, puxado por setores do agronegócio.

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"O agro realmente não parou. Tem uns idiotas aí... O 'fique em casa'... Tem alguns idiotas que até hoje ficam em casa. Se o campo tivesse ficado em casa, esse cara tinha morrido de fome, esse idiota tinha morrido de fome. Daí, ficam reclamando de tudo. Quem tem salário fixo ou aposentadoria gorda, pode ficar em casa a vida toda."

As declarações de Bolsonaro contrárias a estratégias de controle do coronavírus, como isolamento social e mesmo à vacinação, têm sido motivo de críticas e questionamentos da CPI da Covid no Senado, aberta para investigar a possível omissão do governo federal no combate à doença no País.

O presidente coleciona declarações que minimizam a crise sanitária e em alguns casos são consideradas desrespeitosas com as famílias que perderam parentes devido à covid-19. Acusações contra a imprensa, que em sua visão faz "alarmismo", também são frequentes em seus discursos.

Em manifestações recentes de apoio ao presidente, têm sido comuns críticas a medidas de isolamento social decretadas por governos locais, críticas ao Supremo Tribunal Federal e a defesa do voto impresso, outra bandeira do presidente e seus apoiadores.

De olho em 2022, Bolsonaro afirmou no sábado, 15, que somente Deus pode tirá-lo da Presidência e que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apontado como seu possível principal adversário na disputa, só venceria em caso de fraude. "Já falei que sou 'imorrível', já falei que sou 'imbrochável' e também sou 'incomível'", disse nesta segunda aos apoiadores.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, prestou no período da tarde deste domingo, 16, solidariedade aos familiares e amigos do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, que morreu no período da manhã. A mensagem de Bolsonaro foi publicada no Twitter cerca de seis horas depois da comunicação da morte de Covas em nota da prefeitura.

A manifestação do presidente da República foi publicada no momento em que um cortejo com o corpo de Covas seguia por São Paulo até Santos, para o enterro.

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"Nossa solidariedade aos familiares e amigos do Bruno Covas, que faleceu hoje após uma longa batalha contra o câncer. Que Deus conforte o coração de todos!", escreveu Bolsonaro.

Mais cedo, os ministros da Secretaria-Geral de Governo, Onyx Lorenzoni, e da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, também prestaram condolências à família.

Políticos de diversos espectros, como o candidato derrotado por Covas à prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), além de várias lideranças lamentaram a partida do tucano.

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, lamentou neste domingo a morte do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), em publicação em sua conta no Twitter. O presidente da República, Jair Bolsonaro, que ainda não se manifestou publicamente sobre o falecimento do prefeito da maior cidade do país, respondeu à mensagem de Freitas com um símbolo de aperto de mãos.

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Políticos de diversos espectros, de Guilherme Boulos (PSOL) a Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), lamentaram a partida do tucano. O ministro da Secretaria-Geral de Governo, Onyx Lorenzoni, também prestou condolências à família.

"Lamento a notícia do falecimento do prefeito Bruno Covas. Na única ocasião em que foi preciso trabalharmos juntos, foi de um republicanismo exemplar e buscou resolver o problema antes de definir qual ente seria responsável. Ganhou minha admiração. Meus sentimentos à família", disse Tarcísio de Freitas.

O ministro se referiu a uma conversa em 24 de janeiro, com Covas, sobre obras na ponte de acesso à Dutra. Na ocasião, Freitas escreveu: "Conversei mais cedo com o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, e estou de acordo com sua posição sobre a ponte de acesso à Dutra (BR-116) interditada: primeiro a gente resolve as obras emergenciais em respeito ao usuário. Depois decidimos quem é o responsável pelo trecho."

Em meio à aglomeração de apoiadores reunidos na Esplanada dos Ministérios na tarde deste sábado (15), o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) voltou a defender o voto impresso e disse que, caso seja vencido pelo ex-presidente Lula em uma disputa presidencial realizada no atual formato, isso se dará por meio de “fraude”. Bolsonaro ainda chamou o petista de “bandido de nove dedos”.

“Se tiraram da cadeia o maior canalha da história do Brasil, se para esse canalha foi dado o direito de concorrer, o que me parece é que se não tivermos o voto auditável, esse canalha pela fraude ganha as eleições do ano que vem. Nós não podemos admitir um sistema eleitoral que é passível de fraude. E eu tenho dito se o nosso Congresso Nacional aprovar a PEC do voto auditável da Bia Kicis, e ela for promulgada, nós teremos voto impresso em 22″, disse o presidente.

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Bolsonaro também voltou a atacar a imprensa, mencionando os jornais Folha de São Paulo e O Globo, dos quais, segundo ele, “apanha 24 horas por dia”. Disse ainda que “O maior poder do Brasil não é o Executivo, não é o Judiciário e não é o Legislativo, o maior poder são vocês”. “Mas o que esses caras não entendem é que eu sou 'imbrochável'”, completou.

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