Quem assistiu aos dois últimos filmes do diretor sueco Thomas Alfredson (“Deixa ela Entrar” e “O Espião que Sabia Demais”) certamente não está preparado para o que há de vir e ver em “Boneco de Neve”. Baseado no livro homônimo do norueguês Jon Nesbo, o longa apresenta Harry Hole (Fassbender), um famoso investigador sedento por algum novo caso que dê sentido à sua vida, dragada pelo alcoolismo e pela insônia. Frio como a gelada Noruega e a fotografia de Dion Beebe, o personagem tem uma relação complexa com a ex namorada Rakel (Gainsbourg) e o problemático Oleg (Michael Yates), filho dela, num misto de admiração e ressentimento. Enquanto Hole cultiva a solidão, contentando-se com encontros esporádicos com Oleg, Rakel, por sua vez, já engatou um namoro com o apático Mathias (Jonas Karlsson).Antes de tudo o filme introduz o recorte do passado de um personagem, norteando o espectador quanto ao que esperar nos próximos 110 minutos.

Quando uma jovem mãe desaparece e o investigador começa a receber cartas misteriosas com o desenho de um boneco de neve - semelhante ao encontrado na casa da mulher desaparecida - a cientista forense Katrine Bratt (Ferguson) é designada para acompanhá-lo no caso. E é aí que começam a surgir um sem número de personagens e tramas paralelas que são simplesmente lançadas em tela, sem nenhum aprouch narrativo e num ritmo extraordinariamente confuso ditado pela montagem de Claire Simpson e da oscarizada Thelma Schoonmaker, maior parceira do diretor Martin Scorsese. O longa começa abruto, com cenas que mal conseguem ser digeridas, em seu “miolo” se torna vagaroso, com cenas desprovidas de qualquer função (vide cena de Rakel no apartamento de Harry, por exemplo), e termina como inicia: apressado e anticlimático.

Mas a montagem não pode pagar o pato completo do desastre. Com alguns dos piores diálogos dos cinemas em 2017, é possível culpar o trio formado por Peter Straughan, Hossein Amini e Soren Svistrup por adaptarem tão preguiçosamente a obra do escritor norueguês. As conexões entre os fiapos de trama são risíveis e frutos dos caminhos errados que o texto toma. Assim, não adianta contar com J. K. Simmons e relegá-lo a um personagem que existe apenas para servir a fins narrativos de outro personagem, que por sua vez serve como muleta de outro personagem e por aí em diante. Sem contar com as participações de Val Kilmer e Toby Jones, que provavelmente ganharam os cachês mais fáceis de suas vidas, e as atuações esquecíeis de Fassbender e Gainsbourg.

Sob a batuta de tudo: Thomas Alfredson, que até começa entregando alguns de seus belíssimos planos abertos e sugerindo alguma tensão na escalada, clichê por natureza, da investigação policial aos moldes de “quem é o assassino?”. Mas o diretor perde o prumo e logo cedo, espalhando indicações lógicas de quem é o vilão, não sabendo dar um tom à narrativa e fazendo um imbróglio fácil, frio e sem vida com os personagens que tem em mão. Sua condução em quase nada remete aos competentes trabalhos anteriores, mais parecendo obra de um diretor estreante, que erra e entrega o material besuntado à montagem. E aí, já viu: a surpresa vem, porém é mais do que negativa. 

Aos fãs do livro, boa sorte! Fique por dentro de mais detalhes sobre os filmes que estrearam nessa quinta (23) confira o Estreiajá dando play no vídeo abaixo (que foi gravado anteriormente à cabine do filme em Recife, ou seja, as expectativas do filme eram altas por parte da equipe do programa).

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