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O Ministério Público Federal (MPF) pediu à Justiça o cancelamento das autorizações de queima controlada da palha da cana-de-açúcar na região de Piracicaba, a mais tradicional região canavieira do Estado de São Paulo. De acordo com o órgão, as autorizações foram concedidas pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) sem a exigência do Estudo de Impacto Ambiental (Eia) e do Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (Rima), considerados de observância obrigatória pela legislação federal. Na ação, o MPF também pede que nenhuma nova autorização para a queima da cana na região seja emitida sem a prévia elaboração do estudo.

O Ministério quer, ainda, que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) exerça sua competência fiscalizadora em relação aos danos causados à fauna silvestre, como a morte de milhares de espécies, algumas ameaçadas de extinção. "Não bastasse a morte imediata de animais adultos - seja diretamente, carbonizados pelo fogo, seja indiretamente, vítimas de atropelamento - a fuga deixa inúmeros filhotes desamparados, com poucas chances de sobrevida", aponta o procurador da República Fausto Kozo Matsumoto Kosaka. A queima é empregada para facilitar a colheita manual da cana.

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A ação civil pública foi elaborada em formato digital e apresenta vídeos e depoimentos de especialistas que revelam a gravidade do impacto ambiental provocado pela queima da palha na região. É a primeira vez que uma ação digital é protocolada pelo MPF no Estado de São Paulo. Segundo Kosaka, a apresentação da ação em DVD, de forma interativa e com links de acesso direto para as provas, é uma forma de levar a realidade da região às autoridades do Poder Judiciário que vão lidar com o caso no futuro, no Tribunal Regional Federal ou nas instâncias superiores, em Brasília. "Por viverem em grandes centros, muitas vezes as autoridades do Judiciário não conhecem todas as dimensões dos problemas causados pela queima da palha da cana", lembrou.

A safra de cana-de-açúcar do Centro-Sul de 2012/13 vai começar com atraso. Normalmente iniciada em meados de março, as usinas ligarão suas caldeiras a partir da segunda quinzena de abril na maioria das regiões produtoras em função das adversidades climáticas registradas no final de 2011 e no início de 2012. A forte estiagem registrada em dezembro atrasou o desenvolvimento da cana, que depois de um período de chuvas em janeiro, volta a sofrer com novo período de seca, que está reduzindo sua massa e, consequentemente, a produtividade da planta.

Além do atraso da colheita, o setor está preocupado com a repetição, nesta safra, do cenário de 2011, quando um menor volume de cana fez com que tanto a produção de açúcar como de etanol fosse afetada. O setor já trabalha com uma capacidade ociosa de mais de 100 milhões de toneladas. Com o atraso da safra nova, os preços elevados de açúcar e etanol da entressafra podem vigorar no mercado por mais tempo.

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Início da safra

Na região noroeste do Estado de São Paulo, onde estão as usinas da Guarani, a expectativa é de que a colheita tenha início em torno do dia 15 de abril, um atraso de até 15 dias. "Toda a região está sofrendo muito com a falta de chuvas, o que atrasou o desenvolvimento da cana", explica o presidente da Guarani, Jacyr Costa Filho.

A região mais próxima do centro do Estado, em torno de Catanduva e Promissão, está registrando maiores efeitos da seca, o que deve levar a um atraso maior no início da safra. "As usinas da região de Catanduva vão entrar em operação a partir da segunda quinzena de abril, se estendendo até maio", explica Carmen Ruete de Oliveira, diretora do grupo Virgolino de Oliveira, com usinas na região. Segundo ela, uma maior definição dos efeitos do clima e da seca apenas estará disponível a partir do fim de março. "Mas, neste momento, o quadro que se mostra é de uma safra com menor produtividade", disse.

O presidente da Renuka do Brasil, Humberto Junqueira de Farias, disse que a colheita da cana de suas usinas também começará mais tarde. A Renuka, que possui unidades em Promissão e em Brejo Alegre, as duas no interior paulista, irá começar a colheita na segunda quinzena de abril em uma unidade e em maio na outra.

No Pontal do Paranapanema a seca afetou menos o desenvolvimento da cana e o atraso será de apenas alguns dias. Segundo o presidente da Umoe Bioenergy, Rubens Approbato Machado Júnior, a moagem da usina, localizada em Sandovalina, deve ter início na primeira metade de abril com uso mais agressivo de maturador e moendo áreas de reforma.

Já nas usinas da São Martinho, localizadas mais na parte central do Estado de São Paulo, as chuvas tem sido mais frequentes, minimizando os efeitos da estiagem. Para o presidente da São Martinho, Fábio Venturelli, a colheita deve começar em torno do início da segunda quinzena de abril. "Em relação ao plantio, o clima não ajudou na região de Araçatuba, foi satisfatório em Ribeirão Preto e foi muito favorável em Piracicaba", disse Venturelli.

A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) deve divulgar sua primeira estimativa para a safra de cana 2012/13 do Centro-Sul no final de março. Na média, executivos do setor estimam uma safra em torno de 520 a 530 milhões de toneladas, um crescimento de 5% a 7% em relação aos 495 milhões de toneladas registradas em 2011/12. Se concretizado, o crescimento será insuficiente para atender a capacidade ociosa do setor.

A baixa produtividade dos canaviais do Centro-Sul na safra 2011/12, a pior dos últimos 23 anos, abriu uma brecha para que o governo federal, por meio do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), desaproprie terras com a cultura. Dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) apontam que até outubro a produtividade média na região chegou a 69,5 toneladas por hectare. Na área de Araçatuba, oeste paulista, os canaviais renderam 65,9 t/ha e, no Paraná, produziram apenas 65,2 t/ha.

Esses índices estão abaixo da produtividade de 70 t/ha estipulada pelo governo desde a década de 1980 como um dos critérios para a desapropriação de terras com cana em São Paulo e do Paraná para fins de reforma agrária. Os dois Estados possuem quase 5,5 milhões de hectares com cana para a colheita anual, ou quase 70% dos 8 milhões de hectares da cultura no Centro-Sul.

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"De forma geral, a produtividade é uma das funções sociais da terra; e a terra que não cumpre função social é passível de desapropriação. No entanto, toda propriedade pode justificar e tem todo o direito de defesa", admitiu o Incra, por meio de sua assessoria de imprensa, ao ser questionado pela Agência Estado sobre o assunto.

O índice de produtividade é um dos maiores tabus dentro do governo federal, por causa da falta de consenso em relação à revisão dos indicadores proposta pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, em 2009. Se os números sugeridos à época fossem aprovados, a situação seria mais grave, pois a produtividade mínima dos canaviais passaria para 75 t/ha. Mas, diante da pressão, o assunto seguiu engavetado pelo governo nos últimos dois anos.

O presidente da Associação dos Produtores de Bioenergia (Udop), Celso Torquato Junqueira Franco, empresário do setor sucroalcooleiro, admite a possibilidade de terras canavieiras serem desapropriadas com os índices vigentes. "Legalmente, a perda de produtividade dá ao governo a possibilidade de desapropriar área improdutiva e o resultado deste ano aumenta o risco", disse. "Mas é preciso avaliar se há vontade política do governo", completou o empresário, que é ainda prefeito da cidade de Sud Mennucci (SP).

Junqueira Franco sugeriu, inclusive, que entidades do setor, como a própria Udop e a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) "se preparem e elaborem documentos como respaldo, para evitar algum problema". Caso isso aconteça, quem deve municiar o setor é o CTC, entidade de pesquisa e desenvolvimento mantida por usinas e destilarias que apontou índices de produtividade abaixo dos mínimos para desapropriação.

Segundo Luiz Antônio Dias, gerente de produtos do CTC, há uma série de explicações para justificar essa produtividade baixa, de 69,5 t/ha, na safra 2011/12, que representa quedas de 15,3%, ante as 82,1 t/ha colhidas na safra passada, e de 18,1% em relação ao índice considerado "mínimo ideal" para a região, que é de 85 t/ha.

As estiagens nas últimas duas safras, as fortes geadas este ano e o florescimento dos canaviais, induzido pelo clima irregular entre fevereiro e março, são fenômenos climáticos que contribuíram para a quebra da produtividade. Também existe a questão econômica, como o envelhecimento e a falta de renovação das lavouras, além da redução nos tratos agrícolas nos canaviais após a crise de 2008, que atingiu com força o setor sucroalcooleiro.

"Mais da metade da perda de produtividade, ou de 14 a 15 (pontos porcentuais) desses 18% ocorre por esses dois fatores", disse. "Outros motivos secundários, como aumento de pragas e impactos da mecanização na colheita, também contribuíram para essa queda", completou Dias.

O gerente do CTC prevê que no fechamento da safra o índice de produtividade fique ainda menor, em torno de 69 t/ha, e também vê brecha para desapropriações por conta desses números. "Isso pode acontecer". Mas, segundo ele, o cenário deve mudar a partir da próxima safra. "O clima melhorou bastante, com períodos de chuva alternando com curtos de estiagem muito bons para o plantio e o desenvolvimento das lavouras", concluiu.

O Grupo São Martinho anunciou ontem a compra de 32,18% da usina Santa Cruz, localizada em Américo Brasiliense, interior paulista. Além da fatia na usina, o São Martinho adquiriu também 17,97% da Agropecuária Boa Vista S/A, que detém as terras onde ficam as usinas e a cana-de-açúcar da Santa Cruz.

"Como a Santa Cruz possui ações da Boa Vista, vamos ter 32,52% da Boa Vista por meio de participação direta e indireta", disse o presidente da São Martinho, Fábio Venturelli. Segundo ele, a empresa vai desembolsar R$ 187,4 milhões pelas participações na Santa Cruz e na Agropecuária Boa Vista.

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Esse total será pago em três parcelas, sem correção monetária. "Vamos pagar com a própria eficiência de nossa operação e isto não irá afetar o nosso endividamento", disse. O Grupo São Martinho possui um dos menores endividamentos do setor, com uma relação entre dívida e geração de caixa (Ebitda) inferior a 1.

Do total desembolsado, R$ 55,5 milhões irão para o pagamento da usina e R$ 131,9 milhões para a compra das terras. A primeira parcela, de R$ 59,4 milhões, será paga no ato. Outros R$ 63 milhões serão pagos em um ano e R$ 67 milhões, em dois anos.

A usina Santa Cruz possui uma capacidade de moagem de 4 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, que está completamente tomada, de acordo com Venturelli. O executivo afirma que a empresa produziu, na safra 2010/11, 300 mil toneladas de açúcar e 150 milhões de litros de etanol. "Ela conta com 90% de cana própria, sendo 42% em terras próprias, com 84% da colheita mecanizada e 92% do plantio mecanizado. É uma das mais modernas usinas do País, em linha com as outras unidades do Grupo São Martinho", disse.

Com a participação da Santa Cruz, o Grupo São Martinho passa a ter uma capacidade de processamento de 16,5 milhões de toneladas por ano - o grupo figura na lista das dez primeiras usinas do País por produção e das cinco maiores por receita. A Santa Cruz também produz 240 mil megawatts/hora de bioeletricidade, dos quais 175 mil megawatts foram comercializados no leilão de fontes alternativas de 2007 a um preço de R$ 160 por MW. Em 2010, a Santa Cruz teve uma receita de R$ 481 milhões e um Ebitda ajustado de R$ 217 milhões, atingindo uma margem de 47,6%.

"Vamos ter ganhos significativos em sinergia com a Santa Cruz, principalmente no corte, carregamento, transporte e plantio da cana, que respondem por 75% dos custos de produção", disse Venturelli. O Grupo São Martinho tem o direito de preferência para adquirir o controle da Santa Cruz e, nesse caso, a Santa Cruz quer ações da Agropecuária Boa Vista como pagamento. Nesse momento, será criado um conselho de administração com cinco membros, onde a São Martinho terá duas cadeiras.

De acordo com Venturelli, o Grupo São Martinho entrou na Santa Cruz adquirindo ações de minoritários que quiseram sair da empresa. Com a entrada da São Martinho, a Luiz Ometto Participações permanece como principal acionista, com 55,31% do controle. Outros minoritários detêm 12,51% de participação, ficando o restante com o São Martinho.

A compra da Santa Cruz se deu por valores abaixo dos registrados no mercado atualmente. A usina Santa Cruz saiu por cerca de US$ 89 por tonelada, ante US$ 130 registrados recentemente. Além disso, se for descontado o valor atribuído à venda de energia elétrica da cogeração, o negócio saiu a US$ 69 por tonelada. Em relação ao total pago pelas terras da Boa Vista, a São Martinho desembolsou cerca de R$ 50 mil por alqueire. Recentemente, as terras da São Martinho em Pradópolis (SP) foram avaliadas em R$ 84,7 mil por alqueire.

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