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Passadas mais de 24 horas da morte de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, o Grupo Vector, empresa terceirizada do hipermercado Carrefour, anunciou que rescindiu por justa causa os contratos de trabalho dos dois vigilantes envolvidos no espancamento do cliente negro na noite de quinta-feira, 19. A morte gerou revolta e protestos em todo o país. O laudo médico apontou que a vítima morreu por asfixia.

Em comunicado, a empresa informou lamentar "profundamente os fatos ocorridos e se sensibiliza com os familiares da vítima". Em nota divulgada na noite passada, a companhia garantiu não ser responsável pela vigilância do prédio, mas sim do setor de prevenção e perdas.

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O Grupo Vector também assegurou que irá auxiliar a Polícia Civil na elucidação dos fatos "estando à disposição das autoridades e colaborando com as investigações para apuração da verdade" e que "submete seus colaboradores a treinamento adequado inerente às suas atividades, especialmente quanto à prática do respeito às diversidades, dignidade humana, garantias legais, liberdade de pensamento, bem como à diversidade racial e étnica".

Os vigias Magno Braz Borges e Giovane Gaspar da Silva, policial militar temporário, foram flagrados pelas câmeras de segurança espancando João Alberto até a morte. Os dois tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça. Eles foram autuados em flagrante por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, asfixia e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.

Na sexta-feira (20), uma grande manifestação foi realizada em frente à unidade do Carrefour, situada na zona norte de Porto Alegre. O protesto terminou em confronto entre manifestantes e a Brigada Militar. Cinco pessoas ficaram feridas, três manifestantes e dois PMs. Outras duas foram presas. Palco do confronto na noite passada, o Carrefour amanheceu novamente com as portas fechadas, sem previsão de reabertura. O estacionamento do hipermercado foi depredado.

O assassinato de João Alberto, que foi espancado no estacionamento de uma loja do Carrefour em Porto Alegre-RS, ganhou as páginas do mundo e, neste sábado (21), foi lembrado campeão mundial de Fórmula 1, Lewis Hamilton. Ele lamentou o crime e endereçou condolências à familia por meio do Instagram. 

O assassinato de João alberto, após ser espancado por um segurança e um policial militar, aconteceu um dia antes da data que marca o Dia da Consciência Negra, 20 de novembro. Não por acaso, o tema foi abordado pelo piloto negro, que costuma se posicionar sobre temas raciais. 

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“Estou devastado ao ouvir essa notícia, outra vida preta perdida mais uma vez. Segue acontecendo e nós temos que lutar para que isso não continue. Encaminho meus pensamentos e orações para o Brasil. Descanse em paz João Alberto Silveira Freitas”, disse o piloto. 

Campeão mundial de Fórmula 1 endereçou condolências pela rede social. Foto: Reprodução/Instagram

Hamilton definitivamente é o personagem com maior engajamento pela causa que passou pela Fórmula 1, esporte genuinamente elitista e predominantemente branco. Além de ser o primeiro negro campeão, ele vem dizimando recordes, mas sem nunca deixar de usar sua influência em prol da igualdade racial. Nesta temporada, ele pediu uma mudança no uniforme e no carro Mercedes que passaram a ser pretos. A mudança se deu em meio a protestos pela morte de George Floyd nos Estados Unidos. Hamilton se aliou ao movimento Black Lives Matter e tem sido crítico quanto à pouca presença de pretos no automobilismo.

A fabricante de bebidas Ambev publicou em sua conta oficial no LinkedIn uma nota na qual cobra do Carrefour "medidas imediatas e efetivas" que impeçam novos episódios de discriminação como o que levou ao assassinato de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, ocorrido na noite de quinta-feira (19) em uma unidade do Carrefour de Porto Alegre-RS.

"Na Ambev não toleramos qualquer ato de racismo ou violência. Estamos em luto pelo assassinato brutal de João Alberto Silveira Freitas. Para todos nós, nossos funcionários e a comunidade negra, a tristeza, frustração e medo gerados por atos recorrentes de violência como este são profundos e pessoais", diz a nota da Ambev publicada na sexta-feira (20).

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João Alberto Silveira Freitas foi espancado e morto por dois homens brancos que integravam a equipe de segurança da unidade do Carrefour Passo D'areia, na capital gaúcha. Os suspeitos, um de 24 anos e outro de 30 anos, foram presos em flagrante, sendo que um deles foi levado a um presídio militar por integrar a Brigada Militar do Rio Grande do Sul. A Polícia Civil trata o caso como homicídio qualificado.

Após ser detida pela Polícia Militar, no início da tarde deste sábado (20), uma ativista que fazia parte do protesto foi liberada. Ao final do ato que reuniu um grupo de manifestantes em frente ao Carrefour de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, por conta da morte de um homem negro, espancado até ser morto na porta de um supermercado da rede em Porto Alegre, a ativista foi levada para prestar esclarecimentos.

Ao fim da manifestação, por volta das 12h30, o grupo que seguia de forma pacífica, chegou a entrar no estacionamento do Carrefour de Boa Viagem, mas foi expulso pela PM. Na confusão, uma cancela foi quebrada. Os agentes apontaram essa ativista como a pessoa que estaria incitando a violência contra o supermercado, por portar um megafone. Ela chegou a ser levada para a segunda Delegacia de Polícia de Boa Viagem, mas foi liberada em seguida.

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Uma manifestante foi detida, no início da tarde deste sábado (20), durante o protesto que aconteceu em frente ao Carrefour, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. Ela foi levada pela Polícia Militar para a segunda Delegacia de Polícia do bairro. O ato reuniu um grupo de manifestantes no local por conta da morte de João Alberto, homem negro espancado até ser morto na porta de um supermercado da rede em Porto Alegre.

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Os agentes apontaram a ativista como a pessoa que estaria incitando a violência contra o supermercado, por portar um megafone, no fim do ato que iniciou por volta das 11h. Às 12h30, o grupo chegou a entrar no estacionamento do Carrefour de Boa Viagem, mas foi expulso pela PM. Os manifestantes se concentraram na garagem do supermercado e no momento uma cancela foi quebrada.  

Tentado evitar a prisão da ativista, que entrou em um táxi que passava na via, dezenas de pessoas se aglomeraram ao redor do carro para impedir a ação dos policiais. Em uma tentativa de dispersar os presentes, a PM chegou a jogar spray de pimenta, mas a ação não conseguiu afastar a população. Uma confusão se instaurou no local no momento, mas depois o grupo foi dispersado e os policiais levaram a manifestante para a delegacia após uma negociação com a co-deputada estadual do coletivo Juntas, Carol Vergolino (PSOL).

Veja como foi o início do protesto:

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Entenda o caso

 Na última quinta-feira (19), véspera do Dia da Consciência Negra, João Alberto, de 40 anos, foi espancado até a morte na porta do supermercado Carrefour de Passo D'Areia, na Zona Norte de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Os responsáveis pela morte do homem foram um segurança terceirizado e um policial militar. Os dois foram presos em flagrante por homicídio qualificado - quando há intenção de matar.

A vítima realizava compras com a esposa e teria se desentendido com uma fiscal de caixa. Ele supostamente ameaçou agredi-la, quando a segurança foi acionada e os suspeitos, de 24 e 30 anos, o levaram para fora do supermercado. Desde a última sexta-feira (20), diversos protestos têm se espalhado em unidades da rede pelo Brasil contra o racismo e a rede Carrefour.

Está não é a primeira vez que a rede de supermercado se envolve em polêmicas. Em 2018, um cachorro foi espancado por um segurança da rede e, em agosto desse ano, um funcionário do Carrefour de Recife teve seu corpo, sem vida, coberto por guarda-sóis, após sofrer um mal súbito durante o expediente.

Cerca de 50 manifestantes se reuniram, na manhã deste sábado (21), em frente ao Carrefour de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, para protestar contra o racismo.  O ato, pacífico, chama atenção para o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, espancado até a morte por dois seguranças da rede, em Porto Alegre.

Aos gritos de 'fecha Carrefour' e 'Carrefour racista' o grupo fechou o trânsito em frente ao supermercado incentivando as pessoas a não consumirem produtos na rede. A manifestação foi convocada pela Anepe (Articulação Negra de Pernambuco), e começou às 11h da manhã.

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"A gente observa que esse perfil que não respeita os direitos humanos é um perfil do Carrefour. Essa não foi a primeira ação de desumanidade que acontece nessas instituições", diz a escritora negra, Odailta Alves, que participa do ato.

 "Essa é uma forma de fortalecer a luta. A luta não é só de quem está no Rio Grande do Sul, mas do povo negro que é violentado o tempo inteiro. Quando você vê uma instituição fazer isso, não foi apenas o policial e o segurança, ele está respaldado por uma chefia que orienta, muitas vezes, a ter mão de ferro com corpos negros. Se fosse um homem branco, de olhos azuis, ele poderia quebrar o Carrefour inteiro que ninguém encostaria nele", reforça.

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Por volta das 12h30, os manifestantes se dirigiram para a entrada do Carrefour e chegaram a entrar no estacionamento, mas foram expulsos pela PM e se concentraram na garagem do supermercado. Para o advogado Eliel Silva, que também participa do ato em Boa Viagem, a rede Carrefour precisa ser responsabilizada nacionalmente pelo caso. "Mataram um cliente, um senhor, um homem negro. É uma questão de boicote e judicialização".

Entenda o caso

 Na última quinta-feira (19), véspera do Dia da Consciência Negra, João Alberto, de 40 anos, foi espancado até a morte na porta do supermercado Carrefour de Passo D'Areia, na Zona Norte de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Os responsáveis pela morte do homem foram um segurança terceirizado e um policial militar. Os dois foram presos em flagrante por homicídio qualificado - quando há intenção de matar.

A vítima realizava compras com a esposa e teria se desentendido com uma fiscal de caixa. Ele supostamente ameaçou agredi-la, quando a segurança foi acionada e os suspeitos, de 24 e 30 anos, o levaram para fora do supermercado. Desde a última sexta-feira (20), diversos protestos têm se espalhado em unidades da rede pelo Brasil contra o racismo e a rede Carrefour.

Está não é a primeira vez que a rede de supermercado se envolve em polêmicas. Em 2018, um cachorro foi espancado por um segurança da rede e, em agosto desse ano, um funcionário do Carrefour de Recife teve seu corpo, sem vida, coberto por guarda-sóis, após sofrer um mal súbito durante o expediente.

Em manifestação contra o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, um grupo de artistas pintou a hashtag #VidasPretasImportam" em uma das pistas da Avenida Paulista, sentido Rua da Consolação, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP).

O coletivo iniciou a pintura na noite desta sexta-feira (20) e terminou por volta das 5h da manhã deste sábado (21).

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De acordo com a Companhia de Engenharia Tráfego (CET), três faixas da Avenida Paulista, sentido Rua da Consolação, permanecem interditadas nesta manhã para secagem da pintura. Apenas a faixa quatro está liberada para o tráfego.

O assassinato de João Alberto, homem negro de 40 anos, por seguranças no Carrefour Passo D'Areia, em Porto Alegre, gerou protestos em diversos locais do Brasil nesta sexta-feira. Manifestantes entraram em unidades do supermercado.

Na capital do Rio Grande do Sul, a manifestação começou no início da tarde, em frente à loja onde aconteceu o crime. Com cartazes, bandeiras e faixas destacando que "vidas negras importam", milhares de manifestantes exigiram justiça pelo assassinato . A realização do protesto ganhou adeptos nas redes sociais.

Em São Paulo, manifestantes se concentraram, justamente, no vão do Masp por volta das 16h de sexta-feira. Cerca de duas horas depois, um grupo de mais de 600 pessoas iniciou uma caminhada em direção ao Carrefour que funciona na rua Pamplona.Uma pequena parte dos manifestantes pegou pedras dos vasos do estacionamento e arremessou contra os vidros do supermercado.

No Rio de Janeiro, dezenas de manifestantes fizeram um protesto no supermercado Carrefour da Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio. Aos gritos de "Assassino, Carrefour", eles chegaram a protestar até mesmo dentro do supermercado, pedindo para que a unidade fechasse.

Em Brasília, as manifestações se concentraram no Carrefour localizado na Asa Sul. O ato começou na rua e depois entrou na unidade para pedir seu fechamento.

A manifestação em Belo Horizonte aconteceu em frente a uma das lojas do grupo no Centro da cidade. O supermercado teve as portas fechadas logo depois do início do protesto, por volta das 15h. A Polícia Militar acompanhou toda a manifestação.

Em Fortaleza, houve dois protestos, o primeiro, que já estava organizado, ocorreu em frente à Secretaria de Segurança Pública e o segundo em frente ao supermercado Carrefour, no bairro Aldeota, zona nobre da capital cearense.

Familiares e amigos acompanham, na manhã deste sábado (21), o velório de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, homem negro que foi espancado e morto por segurança e policial em uma unidade do supermercado Carrefour no bairro Passo D'Areia, na zona norte de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, na noite de quinta-feira (19), véspera do Dia da Consciência Negra. A cerimônia de despedida será no cemitério municipal São João, no bairro Higienópolis, também na zona norte da capital.

Segundo a administração do cemitério, o velório começou às 8h30, já o enterro está marcado para 11h30. Por enquanto não há muitas pessoas no local, apenas familiares e jornalistas.

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A Polícia Civil do Estado investiga o crime. Um dos agressores era segurança do local e o outro, um policial militar temporário. Os dois homens foram presos em flagrante.

Após colher os primeiros depoimentos, a delegada responsável pelo caso, Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, recebeu, na tarde de sexta-feira, 20, os médicos legistas para elucidar as causas da morte de João Alberto. Durante as agressões, a vítima também foi imobilizada pelos vigias, com o joelho de um deles nas costas.

"O maior indicativo da necropsia é de que ele foi morto por asfixia, pois ele ficou no chão enquanto os dois seguranças pressionavam e comprimiam o corpo de João Alberto dificultando a respiração dele. Ele não conseguia mais fazer o movimento para respirar", informou.

Ao 'Estadão', João Batista Rodrigues Freitas, de 65 anos, lamentou a morte de seu filho na sexta-feira. "Nós esperamos por Justiça. As únicas coisas que podemos esperar é por Deus e pela Justiça. Não há mais o que fazer. Meu filho não vai mais voltar", disse.

À reportagem, o pai descreveu a vítima como um homem tranquilo. "Eles (Freitas e a esposa) frequentavam o mercado quase todos os dias. Ele até me incentivou a fazer um cartão do mercado."

O assassinato de João Alberto gerou protestos em diversos locais do Brasil na sexta-feira. Manifestantes entraram em unidades do supermercado.

Na capital do Rio Grande do Sul, a manifestação começou no início da tarde, em frente à unidade onde aconteceu o crime. Com cartazes, bandeiras e faixas destacando que "vidas negras importam", milhares de manifestantes exigiram Justiça pelo assassinato. A realização do protesto ganhou adeptos nas redes sociais e eclodiu em frente ao hipermercado. Cruzes e flores em homenagem a João Alberto também foram colocadas no local.

Em São Paulo, manifestantes se concentraram no vão do Masp por volta das 16h. Cerca de duas horas depois, um grupo de mais de 600 pessoas iniciou uma caminhada em direção ao Carrefour da Pamplona. Todo o trajeto foi acompanhado pela polícia, que não interferiu em nenhum momento. Ao chegar no local, a manifestação concentrou-se na rua, mas não demorou para que avançasse ao estacionamento que fica em frente ao supermercado.

Uma pequena parte dos manifestantes pegou pedras dos vasos do estacionamento e arremessou contra os vidros do supermercado. O grupo de seguranças do Carrefour não resistiu à invasão - a própria Polícia Militar não interveio.

O empresário Abílio Diniz, membro dos Conselhos de Administração do Carrefour Global e do Carrefour Brasil, comentou a morte de João Alberto Silveira Freitas no fim da noite desta sexta-feira (20). Em uma série de postagens em sua conta no Twitter, ele classificou o fato como "uma tragédia e uma enorme brutalidade".

O homem negro de 40 anos foi espancado e morto por dois seguranças em uma unidade do supermercado Carrefour em Porto Alegre na noite de quinta-feira. Sua morte, às vésperas do Dia da Consciência Negra, desencadeou uma série de protestos contra o racismo em várias cidades brasileiras.

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Diniz, que também é acionista do grupo, afirmou que pediu à empresa para trabalhar "incansavelmente para que fatos trágicos como este jamais se repitam no Brasil". Também falou que quer ver o Carrefour como um "agente transformador na luta contra o racismo estrutural no Brasil e no mundo". Ele disse estar "profundamente triste e indignado" com a morte e se solidarizou com a família da vítima.

Na mesma rede social, ele falou que o racismo é "execrável e inaceitável" e deve ser combatido "com toda a força". "Dezenas de milhões de brasileiros enfrentam diariamente agressões e enormes dificuldades por conta do racismo, e nosso país não vai avançar de verdade sem que isso seja endereçado de forma efetiva", completou.

A morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, espancado e morto em um supermercado Carrefour de Porto Alegre, está inserida em um contexto em que a população negra é a principal vítima de homicídios no País. Os dois homens flagrados em vídeos durante o espancamento estão presos e devem responder por homicídio culposo.

Segundo o Atlas da Violência 2020, as taxas de morte da população negra apresenta crescimento nacional nos últimos anos. Em 2018, o último que tem os dados compilados no documento, 75,7% das vítimas de homicídios são pretas e pardas.

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Ainda segundo o atlas, entre 2008 e 2018, as taxas de homicídio apresentaram um aumento de 11,5% para os negros, enquanto para os não negros houve uma diminuição de 12,9%. Além disso, uma pessoa negra tem mais chances de ser morta do que um não negro em todos os Estados brasileiros, com exceção do Paraná.

"Esse caso, na véspera do Dia da Consciência Negra, uma data tão importante de luta e toda a população negra, demonstra algo que está encravado na história brasileira", aponta Amanda Pimentel, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Como ela explica, historicamente, a violência e o racismo sempre estiveram muito próximos na história do País e que, nesse cenário, a população negra e pobre continua sendo a principal vítima de ações de forças de segurança, seja privadas ou públicas. "Os dados mostram que não são casos isolados", comenta.

Para a pesquisadora, se a ação for individualizada para a conduta dos agressores, sem haver uma discussão ampla sobre a preparação dos profissionais que trabalham na área de segurança, esse tipo de situação continuará a se repetir frequentemente. Isso passa, por exemplo, por estereótipos racistas que interpretam como suspeitas a partir da cor da pele, de roupas e do território em que vive. "Todas essas características estigmatizam apenas uma parcela da população, em geral negra e pobre."

Amanda ainda destaca que o uso excessivo da força diante de situações que não demandam essa reação são comuns no País, tanto na polícia quanto na segurança privada - a qual, por vezes, é exercida também por policiais, que, pela precarização da função, procuram outra fonte de renda. "Existe uma desproporcionalidade muito grande entre as forças que se aplicam diante de uma situação concreta que não precisaria daquela reação."

A Anistia Internacional classificou como "inadmissível" a atuação violenta dos agentes. "Mais um corpo negro tombou. João Alberto Silveira Freitas foi espancado até a morte nas dependências de uma loja do Carrefour, em Passo D'Areia, Porto Alegre, e é mais uma vítima do racismo estrutural no país."

Autoridades definem caso como exemplo de racismo

A morte de João Alberto Silveira Freitas foi lamentada por autoridades nas redes sociais, como mais um exemplo de violência racial no País. O caso também ganhou repercussão internacional, em que foi destacado que ocorreu na véspera do Dia da Consciência Negra No Brasil, a hashtag #VidasNegrasImportam foi uma das mais utilizadas desde o início da manhã de ontem, assim como a #JusticaporBeto.

No Twitter, o Instituto Marielle Franco, criado pela família da vereadora morta no Rio, lamentou o caso. "Mais uma pessoa negra que é assassinada em um supermercado, um dia antes do dia da consciência negra. Até quando nossas vidas serão descartáveis assim? O Carrefour tem que responder por racismo e assassinato!", diz a postagem.

O presidente do Congresso Nacional e do Senado, Davi Alcolumbre disse que "no Dia da Consciência Negra, o assassinato brutal de João Alberto Freitas, espancado até a morte por seguranças de um supermercado, em Porto Alegre, estarrece e escancara a necessidade de lutar contra o terrível racismo estrutural que corrói nossa sociedade".

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), publicou a hashtag #VidasNegrasImportam e escreveu: "O Dia da Consciência Negra amanheceu com a escandalosa notícia do assassinato bárbaro de um homem negro espancado em um supermercado. O episódio só demonstra que a luta contra o racismo e contra a barbarie está longe de acabar. Racismo é crime!"

O presidente Jair Bolsonaro não havia comentado sobre o caso até o fim da tarde desta sexta-feira (20).

O assassinato de João Alberto, homem negro de 40 anos, por seguranças no Carrefour motivou protestos em diversas cidades, nesta sexta-feira (20), convocados pelas redes sociais. Um grupo se manifestou em frente ao mesmo supermercado onde ocorreu o assassinato, na capital gaúcha, com faixas como "vidas negras importam" e exigindo justiça. Em São Paulo, Porto Alegre e Fortaleza, os atos tiveram tumulto. Houve também manifestações nas ruas do Rio de Janeiro, em Brasília e de Belo Horizonte. Neste sábado (21), um ato está marcado para acontecer no Recife, às 11h. 

Na capital paulista, manifestantes se concentraram no vão do Masp, na região central, por volta das 16 horas. Mais tarde, o grupo se direcionou para o Carrefour da Rua Pamplona. Uma pequena parte dos manifestantes pegou pedras dos vasos do estacionamento e arremessou contra os vidros do supermercado.

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Os manifestantes também entraram no supermercado e atearam fogo em alguns produtos. Seguranças e funcionários da unidade usaram extintores para apagar as chamas e fecharam a loja com clientes dentro, para evitar novos tumultos.

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O grupo de seguranças do Carrefour não resistiu à invasão - a própria Polícia Militar não interveio neste momento. A ação durou pouco mais de 10 minutos e clientes ficaram assustados.

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Lideranças da manifestação chegaram a pedir que não houvesse quebra-quebra ou invasão - mas os pedidos não foram atendidos por esse pequeno grupo. A polícia só se aproximou quando todos os manifestantes já tinham saído do supermercado. Até às 20h45, não havia registro de prisões, feridos ou saques ao estabelecimento.

No fim, manifestantes também acenderam velas em homenagem às vítimas da violência.

Porto Alegre

A manifestação em Porto Alegre reuniu milhares de pessoas. No protesto, cruzes e flores foram colocadas em homenagem a João Alberto. Lideranças negras e políticas se revezavam no caminhão de som, além das buzinas de manifestantes que passavam pelo local.

Os manifestantes fizeram caminhada em direção ao estádio de futebol nas imediações do Sport Clube São José, time para o qual João Alberto torcia. Em um momento, um grupo começou a forçar o portão de entrada do Carrefour, que dá acesso ao estacionamento. Entre 20 e 30 pessoas conseguiram entrar no estacionamento e uma parte delas conseguiu chegar à parte térrea da loja, onde ficam pequenas lojas e uma escada rolante que leva ao primeiro andar. Foi possível verificar quebra-quebra no local, muito vidro quebrado, cancelas do estacionamento foram quebradas. O vidro da escada rolante foi quebrado. O Batalhão de Choque foi até o prédio para tentar dispersar os manifestantes.

Uma minoria começou a atirar pedra e fogos de artifício. O Batalhão de Choque respondeu com bomba de gás. Depois disso, alguns outros portões que dão acesso ao hipermercado foram quebrados. Papéis, cartazes, faixas e até plantas secas foram incendiadas.

A fachada da unidade também foi pichada em protesto: "Assassinos". Rojões também foram arremessados contra o mercado.

Outras cidades

No Rio, dezenas de manifestantes fizeram um protesto no supermercado Carrefour da Barra da Tijuca, na zona oeste. Aos gritos de "Assassino, Carrefour", eles chegaram a protestar até mesmo dentro do supermercado, pedindo para que a unidade fechasse. Antes, o grupo se posicionou no estacionamento que fica em frente ao supermercado e exibiu faixas com mensagens como "Parem de nos matar" e "Sem Justiça, sem paz". O ato foi pacífico.

Na capital mineira, o ato foi organizado por entidades que representam a população negra, como o Núcleo Rosa Egipsíaca Negros, Negras e Indígenas. A integrante do coletivo Nzinga, de mulheres negras, Etiene Martins, de 37 anos, afirma que esse tipo de violência não é um episódio isolado. "Acontece todos os dias. Nesse caso, foi filmado, divulgado, e ajuda a denunciar. Só que nem sempre é assim. Muitas vezes acontece e ninguém vê", diz.

Em Fortaleza, há relatos de uso de spray de pimenta pelos policiais e três manifestantes foram detidos. Em Brasília, as manifestações se concentraram no Carrefour localizado na Asa Sul. O ato começou na rua e depois entrou na unidade para pedir seu fechamento.

Na véspera do Dia da Consciência Negra, cenas brutais do assassinato de João Alberto Silveira Freitas, no estacionamento de uma loja do Carrefour em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, nesta quinta-feira (19), chocaram o Brasil. E mesmo que poucos, em meio a tantos, três jogadores brasileiros se expressaram nas redes sociais. 

Um nome que sempre se posiciona a assuntos relacionados a questões sociais, Richarlison, lamentou a morte de João Alberto e lembrou de outros casos. 

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Já Taison foi mais contundente na sua crítica. "Eles não gostam da gente, querem ver o nosso sangue, que coincidentemente tem a mesma cor do sangue deles". Atuando aqui no Brasil, Marinho também se uniu ao coro em postagem no seu Instagram.

Taison do Shaktar Donetsk fez um forte apelo no seu INstagram, com imagem do espancamento de João Alberto ao fundo. Foto: Reprodução/Instagran

Mais jogadores se posicionaram sobre o Dia da Consciência Negra, mas sobre a morte de João Alberto foram poucos.

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O presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Luiz Fux, pediu hoje (20), durante evento organizado pelo órgão pelo Dia da Consciência Negra, um minuto de silêncio em homenagem ao homem negro que foi espancado até a morte por seguranças no estacionamento de um supermercado em Porto Alegre.

O crime ocorreu na noite de ontem (19), em um supermercado Carrefour da zona norte da capital gaúcha. A vítima foi identificada como João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos. Ele teria se desentendido com a caixa do estabelecimento, sendo depois conduzido pelo segurança da loja até o estacionamento, onde começaram as agressões.

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“Independentemente de versões, o que nos deve preocupar é a violência exacerbada. Toda violência é desmedida e deve ser banida da nossa sociedade. Mas esse é um triste episódio, exatamente no momento em que nós comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra”, disse Fux sobre o crime. “Esse minuto de silêncio é um dever de todo brasileiro”, acrescentou em seguida.

Nesta sexta-feira, o CNJ firmou uma parceria de combate à discriminação no Judiciário com a Faculdade Zumbi dos Palmares, instituição de ensino de São Paulo voltada para a qualificação e inclusão de jovens negros, criada pelo advogado José Vicente, fundador da organização não governamental (ONG) Afrobras. 

“Faz parte do nosso sonho o dia em que todos poderão andar livremente pelo nosso país independentemente da sua raça ou da sua cor de pele, o dia em que nosso Estado Democrático de Direito vai permitir que nós de fato sejamos cidadãos de primeira classe, e não sejamos submetidos a essa brutalidade da cena social de todos os dias”, disse Vicente durante a solenidade. “Queremos render nossas condolências a essa família destroçada.”

Fux, que lembrou ter recebido em 2015 o título de “negro honorário”, concedido pela ONG Educafro, havia dito mais cedo, em um congresso sobre registro civil, que o "Brasil foi a sociedade escravocrata mais longa de todo o mundo" e que, por isso, deve-se lembrar cotidianamente disso para ter a "inclusão social como resgate histórico”.

Outros ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, também comentaram o episódio em Porto Alegre, que classificaram de “bárbaro”. Sem citar o crime, o ministro Luís Roberto Barroso, que é também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), disse nesta sexta-feira que o país “tem o dever de reparar a chaga moral a escravidão”.

 

Em meio à comoção causada pela morte cruel de João Alberto Silveira Freitas nas dependências do Carrefour, os dois candidatos à prefeitura de Porto Alegre repudiaram o fato ocorrido na noite passada. No Dia da Consciência Negra, Sebastião Melo (MDB) e Manuela D'Ávila (PCdoB), que disputam o segundo turno das eleições, mencionaram a importância de ampliar as políticas de combate ao racismo. Além deles, o prefeito Nelson Marchezan Junior (PSDB) também prestou solidariedade aos familiares da vítima.

"No dia da consciência negra, um grito por justiça. Não é possível calar frente ao racismo que mata milhares de pessoas negras diariamente. A bancada negra, que ocupará a Câmara, está no Carrefour cobrando responsabilização e prestando solidariedade à família da vítima. #justicaporbeto", publicou Manuela no Twitter.

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"Continuar refletindo e combatendo ideias, atos e manifestações racistas é construir uma sociedade baseada no respeito. Com oportunidades iguais para todos, temos fé que o mundo vai evoluir pelo melhor caminho. #DiaDaConsciênciaNegra #TamoJuntoPortoAlegre #Melo15 #ReagePortoAlegre", postou Melo.

Pelo Twitter, o prefeito Marchezan lamentou o fato ocorrido e manifestou apoio aos familiares de João Alberto. "Meus sentimentos à família e amigos do João Alberto Freitas. Neste Dia da Consciência Negra, em que deveríamos celebrar o povo negro e refletir sobre igualdade e respeito, infelizmente acordamos com esta notícia lastimável. Não podemos aceitar este tipo de violência", escreveu.

Negro, João Alberto Freitas foi espancado e morto por dois homens brancos, um deles é segurança do local, enquanto o outro é um policial militar temporário. Os dois foram presos e responderão por homicídio triplamente qualificado, por asfixia e impossibilidade de resistência da vítima.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) anunciou que entrou com uma denúncia no Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) contra o Carrefour. Foi em uma das lojas do grupo que João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi espancado até a morte em Porto Alegre. Um dos agressores era segurança do local e o outro, um policial militar temporário.

O caso também fez com que o senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos, convidasse o Carrefour para participar de uma live sobre aperfeiçoamento do sistema de justiça no combate ao racismo institucional na tarde desta sexta-feira (20). Paim afirma que há meses recebe notícias da imprensa sobre violência, intolerância e discriminação racial acontecidas nas dependências do Grupo Carrefour". Até o momento, nenhum representante do Carrefour confirmou presença.

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"Não é por acaso que, no Dia da Consciência Negra, o Brasil se choque com o assassinato brutal de uma pessoa negra, realidade cruel que reflete uma sociedade racista e um Estado que, omisso, estimula a barbárie. Nossa solidariedade à família da vítima. E condenação efetiva para os criminosos", afirmou Contarato em nota. O senador também apresentou, no Senado, voto de repúdio contra o Carrefour.

Contarato pede que o CNDH tome as "providências cabíveis para o enfrentamento a essa questão que claramente se mostra como uma afronta aos Direitos Humanos".

Em nota, o Carrefour disse que considerou a morte "brutal" e disse que "adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos". Afirmou também que vai romper o contrato com a empresa responsável pelos seguranças e que o funcionário que estava no comando da loja durante o crime "será desligado". O grupo disse ainda que a loja será fechada em respeito à vítima e que dará o "suporte necessário" à família da vítima.

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) afirmou, nesta sexta-feira (20), que no Brasil não existe racismo e observou que o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, espancado até a morte na porta do supermercado Carrefour de Passo D'Areia, na Zona Norte de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, não teve nenhuma ligação com a raça, mas com o despreparo dos agentes de segurança do local. 

"Lamentável", classificou Mourão sobre a morte ao chegar no Palácio do Planalto, no início da tarde de hoje, e emendou: "a princípio, a segurança (estava) totalmente despreparada para a atividade que tem que fazer".

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Logo em seguida, ele foi questionado se via racismo na atitude e respondeu: "Não. Para mim, no Brasil não existe racismo. Isso é uma coisa que querem importar aqui para o Brasil, não existe aqui". E reafirmou: "Não, eu digo para você com toda a tranquilidade: não tem racismo aqui".

O vice-presidente ainda comparou o racismo no Brasil com o que acontece nos Estados Unidos (EUA). "Eu digo para vocês o seguinte, porque eu morei nos EUA: racismo tem lá. Eu morei dois anos nos EUA, e na escola em que eu morei lá, o 'pessoal de cor' andava separado, [o] que eu nunca tinha visto isso aqui no Brasil. Saí do Brasil, fui morar lá, era adolescente e fiquei impressionado com isso aí. Isso no final da década 60", contou.

"Mais ainda, o pessoal de cor sentava atrás do ônibus, não sentava na frente do ônibus. Isso é racismo, aqui não existe isso. Aqui você pode pegar e dizer é o seguinte: existe desigualdade. Isso é uma coisa que existe no nosso país", emendou ao concluir o argumento.

A morte de Alberto aconteceu nessa quinta-feira (19). Ainda na noite de ontem, um segurança terceirizado e um policial militar foram presos em flagrante por homicídio qualificado - quando há intenção de matar. A vítima realizava compras com a esposa e teria se desentendido com uma fiscal de caixa. Ele supostamente ameaçou agredi-la, quando a segurança foi acionada e os suspeitos, de 24 e 30 anos, o levaram para fora do supermercado e começaram a espancar, seguindo a agressão até a morte.

Após a morte de um homem negro espancado por um segurança e por um policial militar em uma loja da rede em Porto Alegre (RS), o Carrefour Brasil informou ao Estadão/Broadcast que toda a renda das lojas no País nesta sexta-feira (20) será revertida para projetos de combate ao racismo. Segundo a empresa, os recursos serão direcionados de acordo com a orientação de "entidades reconhecidas na área."

"Essa quantia, obviamente, não reduz a perda irreparável de uma vida, mas é um esforço para ajudar a evitar que isso se repita", afirma a empresa por meio de nota. Além disso, de acordo com o Grupo, todas as unidades abrirão duas horas mais tarde neste sábado (21). Segundo a varejista, o período será utilizado para "reforçar o cumprimento das normas de atuação" exigidas dos funcionários próprios e também das empresas terceirizadas que prestam serviços à companhia.

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O Carrefour também reiterou que rompeu o contrato com a empresa que contratava os seguranças envolvidos na morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, ocorrida na quinta-feira (19), às vésperas do dia da Consciência Negra, celebrado nesta sexta (20). O Carrefour não revelou o nome da empresa prestadora de serviços.

Como mostrou o Estadão/Broadcast mais cedo, teria havido um desentendimento entre a vítima e os seguranças da unidade. Ele teria feito "gestos agressivos" dentro do supermercado, a segurança teria sido chamada e teria conduzido a vítima para o lado de fora, onde ele foi espancado e morto.

O fato gerou manifestações intensas nas redes sociais, tanto por parte de autoridades e ex-autoridades quanto por parte de influenciadores e empresários. O Carrefour lidera os assuntos mais comentados do Brasil no Twitter por conta do fato.

João Batista Rodrigues Freitas, de 65 anos, lamentou nesta sexta-feira, 20, a morte de seu filho, João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, espancado e morto no estacionamento do Carrefour Passo D'Areia, na zona norte de Porto Alegre, na quinta-feira, 19, véspera do Dia da Consciência Negra. "Nós esperamos por Justiça. As únicas coisas que podemos esperar é por Deus e pela justiça. Não há mais o que fazer. Meu filho não vai mais voltar", disse ao Estadão.

Segundo Freitas, enquanto estava sendo agredido, o filho tentou pedir socorro à mulher, Milena Borges Alves. "Ela me contou que o segurança apertou o meu filho contra o chão, e ele já estava roxo. Fazia sinal com a mão para ela fazer alguma coisa, tirar o cara de cima e um outro segurança empurrou a Milena."

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Na entrada do Departamento Médico Legal, ele relatou que estava num culto evangélico quando recebeu a ligação da nora pedindo por ajuda no supermercado. "Foi uma coisa horrível. Espero que ninguém passe por isso. Perder o filho daquela maneira, sendo agredido bruscamente por facínoras. Chamar aquilo de segurança é desmerecer os verdadeiros seguranças. Eu não sei o que levam as pessoas a agir desta forma. Para mim este crime teve um grau de racismo. Não é possível, uma pessoa ter tanta fúria de outra pessoa. Espero que a Justiça seja feita", desabafou.

"Quando eu cheguei os paramédicos já estavam nos últimos atendimentos. Logo em seguida, ele não teve mais recuperação. Agora, não temos mais o que fazer", disse o pai da vítima, emocionado.

À reportagem, o pai descreveu o filho como um homem tranquilo. Além disso, comentou que a vítima e a esposa há anos fazem compras no mesmo supermercado. "Eles frequentavam o mercado quase todos os dias. Ele até me incentivou a fazer um cartão do mercado. Nunca tivemos problemas e nunca discutimos ou batemos em ninguém."

O sepultamento está marcado para as 16h desta sexta-feira, 20, no Cemitério São João, no IAPI, também na zona norte da capital do Rio Grande do Sul. O Dia da Consciência Negra não é feriado no Rio Grande do Sul.

Negro, João Alberto Freitas foi espancado e morto por dois homens brancos, um deles é segurança do local, enquanto o outro seria um policial militar temporário que fazia compras no supermercado.

A Polícia Civil do Estado investiga o crime, tipificado como homicídio triplamente qualificado. Os dois homens foram presos em flagrante. Uma manifestação em frente ao supermercado está prevista para as 18 horas desta sexta-feira, 20.

Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram parte das agressões e o momento que o cliente é atendido por socorristas. Em uma das gravações, o homem é derrubado e atingido por ao menos 12 socos. Ao fundo, uma pessoa grita "vamos chamar a Brigada (Militar)".

Uma mulher vestindo uma camisa branca e um crachá, que também seria funcionária do supermercado, aparece ao lado dos agressores, filmando a ação. Ela já foi identificada e será ouvida. Outro registro mostra a vítima desacordada, enquanto há marcas de sangue no chão.

Vizinho da vítima, Paulão Paquetá contou ao Estadão ter testemunhado as agressões. Segundo ele, outros seguranças ficaram no entorno da área, impedindo a aproximação das pessoas que tentavam parar com as agressões.

Em nota, o Grupo Carrefour considerou a morte "brutal" e disse que "adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos". Afirmou também que vai romper o contrato com a empresa responsável pelos seguranças e que o funcionário que estava no comando da loja durante o crime "será desligado". O grupo disse ainda que a loja será fechada em respeito à vítima e que dará o "suporte necessário" à família da vítima.

Protestos

Uma série de manifestações contra o assassinato brutal de João Alberto estão previstas para ocorrer em Porto Alegre. Pela manhã, os cinco vereadores negros eleitos no último domingo, 15, realizaram um ato em frente ao Carrefour. A maior bancada negra eleita da história da capital prestou solidariedade aos familiares e amigos da vítima e disparou contra o racismo estrutural do Brasil.

Na manifestação estava a vereadora mais votada, a professora negra Karen Santos (PSOL). "Ontem à noite, nós fomos surpreendidos por este assassinato brutal, que é algo reincidente em um país que assassina todos os dias jovens negros e pessoas negras. É uma política genocida. A nossa intenção hoje, antes de tudo, é prestar solidariedade e empatia e dizer que não importa a gente ter cinco vereadores (negros) eleitos, se a gente vai seguir dentro de um país racista, com o racismo institucionalizado. O que aconteceu no Carrefour não é uma ação isolada", afirmou. No fim da tarde, um novo protesto também está marcado para ocorrer em frente ao hipermercado.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes disse nesta sexta-feira (20) ser “escandalosa” a notícia do assassinato “bárbaro” de um homem negro em um supermercado de Porto Alegre, em pleno Dia da Consciência Negra, celebrado hoje. 

“O Dia da Consciência Negra amanheceu com a escandalosa notícia do assassinato bárbaro de um homem negro espancado em um supermercado. O episódio só demonstra que a luta contra o racismo e contra a barbárie está longe de acabar. Racismo é crime!”, escreveu o ministro em sua conta oficial no Twitter.

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O ministro se referiu à notícia de que ontem (19), na véspera do Dia da Consciência Negra, um homem negro, de 40 anos de idade, foi espancado até a morte no supermercado Carrefour de um bairro da zona norte de Porto Alegre. Um vídeo que mostra a cena causa grande repercussão nas redes sociais.

Nesta sexta-feira, sem citar o crime, outros ministros do Supremo também se manifestaram por ocasião do Dia da Consciência Negra, entre os quais o presidente da Corte, Luiz Fux, e Luís Roberto Barroso, também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

“O Brasil foi a sociedade escravocrata mais longa de todo o mundo e por isso devemos cotidianamente nos lembrarmos disso para termos a inclusão social como resgate histórico”, disse Fux pela manhã, durante o Congresso Nacional do Registro Civil.

Em sua conta oficial no Twitter, o ministro Luís Roberto Barroso lembrou o julgamento em que o TSE determinou distribuição proporcional de recursos de campanha entre candidatos brancos e negros. Ele escreveu que o país tem o “dever de reparar a chaga moral da escravidão”.

A morte brutal de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, por seguranças do Carrefour, em Porto Alegre, levou o governo gaúcho a antecipar o lançamento da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI) no Estado. A informação foi dada pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e pela chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor, nesta sexta-feira (20), um dia após o assassinato de João Alberto.

A nova DP será inaugurada no próximo dia 10 de dezembro, quando é celebrado o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Eduardo Leite destacou que hoje é comemorado o Dia da Consciência Negra e mencionou as políticas que foram adotadas pelo governo em 2019, como o Departamento de Proteção a Grupos Vulneráveis.

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"Infelizmente, nesse dia que nós deveríamos estar celebrando essas políticas públicas, nós todos nos deparamos com cenas que nos deixam todos indignados pelo excesso de violência que levou à morte de um cidadão negro num supermercado aqui na capital gaúcha", afirmou Leite.

Segundo Nadine Anflor, a nova delegacia estará vinculada ao Departamento Estadual de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV). "No dia 10 de dezembro estaremos inaugurando a primeira delegacia de intolerância para mudar um pouco essa triste realidade de intolerância e falta de empatia. Hoje, no Dia da Consciência Negra, a gente tem que falar sobre as consequências que essa intolerância, racismo e crimes raciais causam na sociedade", ressaltou a chefe de Polícia.

Nadine também confirmou que os detidos foram autuados por homicídio triplamente qualificado, por asfixia e impossibilidade de resistência da vítima. Conforme Eduardo Leite, o caso terá uma apuração rigorosa. "Todo o esforço do Estado na apuração e para que os responsáveis por este crime enfrentem a Justiça, tendo a oportunidade da defesa. As cenas são incontestes de que houve excessos que deverão ser apurados e dada a consequência para este crime", reiterou.

Sobre o envolvimento de um policial militar temporário na morte de João Alberto, o comandante da Brigada Militar, Coronel Rodrigo Mohr Picon, afirmou que ele deverá ser demitido. "Ele deve ser retirado da corporação e responder civilmente pelo crime", disse o militar.

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