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O governo Jair Bolsonaro opera "uma série de mecanismos de censura indireta", que dificultam o livre exercício do jornalismo no Brasil, denunciou nesta terça-feira (20) em seu informe trimestral a ONG francesa Repórteres sem Fronteiras (RSF).

A ONG afirma, ainda, que entre julho e setembro o presidente e seus "aliados mais próximos", entre eles seus três filhos políticos, proferiram mais de cem ataques a jornalistas e meios de comunicação e que "a postura abertamente hostil à imprensa se tornou marca registrada do governo Bolsonaro".

"Fora as agressões, que criam um clima de desconfiança em relação à mídia; estão a desinformação e as restrições no fluxo de dados oficiais, com o objetivo de controlar o debate público; e a própria politização de órgãos oficiais de comunicação", detalha o informe.

"Instrumentos que tornam o ambiente de trabalho dos jornalistas cada vez mais adverso e complexo", acrescenta.

Como exemplos, a RSF menciona os casos crescentes de "jornalistas bloqueados nas redes sociais por agentes do Estado", as "13 medidas para reduzir o acesso à informação no país", adotadas pelo governo desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2019, ou a "opacidade" com a qual o governo e seus aliados administram a crise sanitária provocada pela pandemia do novo coronavírus.

A RSF também denunciou um aumento do assédio judicial como mecanismo de censura, à base de processos abusivos contra jornalistas e meios de comunicação, a maioria movidos por representantes do Estado ou pessoas próximas à Presidência.

Neste trecho, a ONG lembrou uma decisão judicial que proíbe a rede Globo de divulgar documentos do processo contra o senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente, por considerar que corre em sigilo.

"Vontade de encher de porrada"

Bolsonaro venceu as eleições de 2018 com um discurso muito crítico aos meios de comunicação e desde então não deixou de proferir insultos e dirigir comentários desrespeitosos a jornalistas, chegando a abandonar entrevistas e coletivas de imprensa.

O caso mais chocante de ataque no terceiro trimestre, segundo a ONG, ocorreu em 23 de agosto, quando o presidente ameaçou um repórter do jornal O Globo que lhe perguntava sobre a suposta participação da primeira-dama, Michelle, em um esquema de corrupção.

"Vontade de encher sua boca de porrada!", ameaçou o presidente na ocasião. No dia seguinte, chamou os jornalistas de fracos, disse que se pegassem o novo coronavírus teriam menos chances de sobreviver e os acusou de "usar a caneta com maldade".

Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, lembrou a ONG, Bolsonaro acusou a imprensa de politizar o vírus para espalhar o pânico entre a população e causar o caos social no país.

O Brasil ocupa o 107º lugar no ranking mundial da Liberdade de Imprensa de 2020, elaborado pela RSF.

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