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Mulheres negras, mulheres com baixa escolaridade e mulheres da Região Norte são as mais acometidas pelo câncer do colo do útero. As informações estão na info.oncollect, publicação inédita da Fundação do Câncer, divulgada nesta sexta-feira (25). O boletim traz dados e busca chamar atenção para a incidência da doença que, segundo especialistas, pode ser evitada e até mesmo erradicada do Brasil com vacina e exames preventivos.

Segundo o boletim, o câncer do colo do útero, em sua forma mais grave, acomete 49 a cada 100 mil mulheres no Brasil. Considerada apenas a Região Norte, a incidência é maior, 79 a cada 100 mil mulheres, a maior taxa do país. A Região Sudeste registra a menor incidência: 36 a cada 100 mil mulheres.

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Entre os casos analisados, mais de 60% eram em mulheres negras e cerca da metade, em mulheres com baixa escolaridade. Considerada apenas a forma mais grave do câncer, 62% dos casos foram registrados em mulheres com baixa escolaridade. O boletim usa dados populacionais e registros de mais de 300 hospitais do país de 2005 a 2019.

Em todo país, oito a cada 100 mil mulheres morrem em decorrência desse câncer, segundo dados de 2015 a 2020. Na Região Norte, o número é maior, 15 a cada 100 mil mulheres, enquanto na Região Sudeste cai para aproximadamente 6 mulheres a cada 100 mil.

“Os dados trouxeram informações que mostram o quanto é desigual o atendimento ao câncer do Brasil”, diz o epidemiologista e consultor médico da Fundação do Câncer Alfredo Scaff. “O câncer é uma doença tempo dependente. O quanto antes fizermos o diagnóstico, melhor. Quanto mais precocemente conseguirmos fazer o diagnóstico, mais rápido é o tratamento, menos doloroso e maior a sobrevida das pacientes”, acrescenta Scaff.

Prevenção e sintomas

A principal causa do câncer do colo do útero, segundo o Ministério da Saúde, é a infecção por alguns tipos de vírus chamados Papiloma Vírus Humano (HPV). Trata-se de um tipo de câncer que demora muitos anos para se desenvolver. As alterações das células que dão origem a este câncer são, no entanto, facilmente descobertas no exame preventivo. Conforme a doença avança, os principais sintomas são sangramento vaginal, corrimento e dor.

Para evitar a doença, a principal recomendação, para todas as mulheres que já tiveram relação sexual, especialmente as que têm entre 25 e 59 anos, é fazer o exame preventivo, o chamado Papanicolau, que é a coleta da secreção do colo do útero, utilizando espátula e escovinha. O material é colocado em uma lâmina de vidro para ser examinado posteriormente em um microscópio.

As lesões que precedem o câncer do colo do útero não têm sintomas, mas podem ser descobertas por meio do Papanicolau. Quando o câncer é diagnosticado na fase inicial, as chances de cura são de 100%.

Além dos exames, a vacinação é uma forma de combater a doença. A vacina contra o HPV, é ofertada gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos postos de saúde. Ela é voltada para meninos e meninas de 9 a 14 anos de idade. Podem também se vacinar homens e mulheres imunossuprimidos, de 9 a 45 anos, que vivem com HIV/aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos.

Segundo o Ministério da Saúde, a vacinação contra o HPV em adolescentes é adotada em mais de 100 países. Em vários desses países, existem estudos de impacto dessa estratégia com resultados positivos na prevenção e redução das doenças ocasionadas pelo vírus, como câncer de colo de útero, vulva, vagina, região anal, pênis e orofaringe.

De acordo com o diretor executivo da Fundação do Câncer, Luiz Augusto Maltoni, é preciso ter informações confiáveis e estratégias para o combate ao câncer de colo de útero, que é um tipo de câncer que pode ser evitado e até mesmo eliminado do país.

“A gente ainda considera um câncer negligenciado. Sabemos a causa, tem como evitar, tem vacina nos postos de saúde e, ainda assim, temos incidência alta em algumas regiões”, diz Maltoni. “A gente precisa dar uma resposta para isso”, enfatiza.

"Câncer é uma doença que tem cura. Câncer do colo do útero no estágio inicial é curável. É um tratamento muito mais fácil de ser feito, muito mais acessível, menos doloroso para a paciente e sua família. O que a gente quer com isso é eliminar o câncer do colo do útero, e isso é possível fazer com uma geração", complementa  Scaff. 

Nesta quarta-feira (15), o Governo de Pernambuco lançou um programa de prevenção e tratamento do câncer do colo do útero, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). 

Segundo dados obtidos pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), em 2022 são esperados 730 novos casos da doença em Pernambuco. Em razão disso, no próximo ano serão feitos rastreamentos e o acompanhamento de 80 mil mulheres moradoras do Recife e de oito cidades da Mata Sul.

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O investimento na iniciativa é da ordem de R$ 6 milhões. 

O Governador Paulo Câmara (PSB) afirmou que o programa irá auxiliar na melhoria da saúde pública de Pernambuco.

"Nós compramos a nossa rede, compramos equipamentos, temos uma consultoria técnica junto com a OPAS, qualificamos as nossas equipes e agora temos condições de ir a campo junto com os municípios para fazer todo um diagnóstico, os exames, e encontrar as mulheres que precisam da prevenção”, destacou Câmara.

A Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) afirmou que, após os primeiros resultados do rastreamento no próximo ano, vai expandir o programa para todas as regiões do Estado.

O aperfeiçoamento da linha de cuidado passa pelo rastreio e detecção da lesão no colo do útero até a assistência na atenção especializada para o tratamento dessa ferida pré-cancerígena, que pode se transformar num tumor grave.

A SES salienta que o programa também prevê chegar ao patamar preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para 2030, de 90% das adolescentes pernambucanas vacinadas contra a doença (HPV), 70% de mulheres rastreadas – na faixa etária de 35 a 45 anos – e, para completar, 90% das mulheres tratadas. 

O primeiro mês do ano marca a campanha Janeiro Verde, promovida para alertar a população sobre a prevenção ao câncer do colo do útero. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), esse tipo de tumor maligno é o terceiro que mais acomete mulheres e o quarto que mais leva as pacientes à morte no Brasil. Ainda segundo a entidade, em 2020, a expectativa era de que quase 16,6 mil brasileiras fossem diagnosticadas com a doença.

De acordo com o Inca, a maior responsável pela causa do câncer do colo do útero é a infecção contínua do Papilomavírus Humano (HPV), transmitido nas relações sexuais. Os tipos de HPV chamados de oncogênicos (16 e 18) são encontrados em 70% das pacientes. Segundo a médica do Centro de Oncologia do Paraná, Daiene Carvalho Casagrande, o acompanhamento clínico das mulheres que têm vida sexual ativa deve ser feito até os 64 anos. Ela afirma que, além do problema não ser de um público feminino específico, exames como papanicolaou ou citopatológico podem identificar tumores que, em geral, não apresentam sinais da enfermidade antes do estado avançado.

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"É uma doença de desenvolvimento lento, que pode não apresentar sintomas na fase inicial. As lesões pré-malignas causadas pelo HPV podem ser assintomáticas. Nos casos mais avançados, pode ocorrer sangramento vaginal intermitente [que vai e volta] ou após a relação sexual, secreção vaginal anormal, dor abdominal associada a queixas urinárias ou intestinais", explica a especialista Daiene. "Educação sexual, reforçando a importância do sexo seguro e comportamentos sexuais, também são medidas importantes de prevenção", complementa.

Segundo Daiene, além da vida sexual ativa, diversas ações podem elevar o risco da infecção, que causa a neoplasia entre o público feminino. De acordo com a médica, fumantes e as mulheres que têm doenças autoimunes estão entre as mais vulneráveis. "Alguns fatores que podem aumentar a chance são tabagismo, início da vida sexual precoce, multi-parceria sexual, mulheres com três ou mais gestações, presença de doenças auto-imunes em atividade, uso de medicamentos imunossupressores e a presença de outras doenças sexualmente transmissíveis", explica a médica.

Vacina

Para Daiene, embora haja possibilidade de acompanhamento clínico, as vacinas são os recursos mais eficientes para prevenir os casos de câncer do colo do útero. Segundo ela, os imunizantes atuam em duas frentes para garantir a eliminação do HPV. "São duas vacinas profiláticas contra o HPV: a quadrivalente, que confere proteção contra os HPV 6, 11, 16 e 18; e a bivalente, contra os HPV 16 e 18".

Ainda de acordo com a especialista, o aumento da cobertura vacinal contra o HPV reduziria os casos da doença de maneira considerável no Brasil. Segundo a médica, a aplicação nas pessoas que ainda não iniciaram a vida sexual seria fundamental para derrubar tanto o número de diagnósticos como o de mortes pela doença. "O maior benefício, com maior produção de anticorpos, acontece quando aplicadas em pessoas que não iniciaram a vida sexual. Se aumentarmos a cobertura vacinal, aliada a um sistema de rastreamento eficaz das lesões precursoras do câncer do colo do útero, vamos conseguir diminuir a incidência desta doença, que, se detectada no início, tem chance de 100% de cura", explica a médica.

Segundo o Ministério da Saúde, no triênio de 2014 a 2017, cerca de 72,5% das meninas com idade entre nove e 14 anos tomaram a primeira dose contra o HPV. Já para a segunda dose, apenas 45,1% das jovens desta faixa etária foram imunizadas.

O Instituto Nacional de Câncer José de Alencar Gomes da Costa (Inca) estima que sejam registrados neste ano 16.590 novos casos de câncer do colo do útero, também chamado de câncer cervical. Esse tipo de câncer é causado pela infecção persistente por alguns tipos do Papilomavírus Humano (HPV) e, à exceção do câncer de pele não melanoma, é o terceiro mais frequente nas mulheres, depois dos cânceres de mama e colorretal.

O câncer do colo do útero é a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil, depois do de mama, do de pulmão e do colorretal. Em 2018, esse tipo de câncer causou 6.526 mortes, segundo dados do Atlas de Mortalidade por Câncer.

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Em entrevista à Agência Brasil, o chefe do Hospital do Câncer II, unidade do Inca que trata de cânceres ginecológicos, Daniel Fernandes, destacou que o câncer do colo do útero não deve ser confundido com o câncer do corpo do útero, ou endométrio. “São patologias diferentes.” Para este ano, a estimativa é de 6.540 novos casos de câncer do endométrio, oitava causa de mortes de mulheres no Brasil.

De acordo com Fernandes, os cânceres do colo do útero e do corpo do útero têm correlação direta com o desenvolvimento do país. Em países menos desenvolvidos, como Índia e Brasil, o câncer de colo do útero é mais incidente, enquanto o câncer do útero (endométrio) é mais frequente em nações mais desenvolvidas, como os Estados Unidos e países da União Europeia. A dificuldade no rastreamento e nadetecção de lesões pré-malignas faz a diferença entre os dois tipos de câncer. “Dentro do próprio Brasil, tem situações diferentes”, destacou o médico.

Fatores de risco

O principal fator de risco do câncer do colo do útero é infecção pelo HPV, que pode ser contraída em relações sexuais sem proteção. “Por isso, a campanha de vacinação [contra o HPV] é tão importante", disse Fernandes, ao destacar que Brasil já tem a vacina contra o HPV, embora ainda não seja grande adesão à vacina – o Ministério da Saúde implementou a tetravalente contra o HPV para meninas de 9 a 13 anos no calendário vacinal em 2014.

A partir de 2017, o ministério estendeu a recomendação para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. A vacina protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV. Os dois primeiros tipos causam verrugas genitais e os dois últimos são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero.

O ideal é que as crianças comecem a ser vacinadas antes do início da atividade sexual, ou seja, antes do contato com o HPV, que vão ter ao longo da vida, afirmou o especialista. “O resultado vai ser visto no médio e longo prazos, mas é preciso ter a adesão da população, além de políticas públicas que estimulem as pessoas a se vacinar", disse Fernandes, que salientou a necessidade de pais e responsáveis se conscientizarem da importância de vacinar os filhos a partir dos 9 anos de idade.

Segundo o médico do Inca, o homem pode ter infecção por HPV sem apresentar lesão no pênis, e isso pode fazer com que ele transmita para sua parceira, sem saber. Fernandes alertou que o HPV é fator de risco para o câncer de pênis no homem.

No câncer do endométrio, os fatores de risco são obesidade, hipertensão e diabetes, não havendo relação com a parte sexual, diferentemente do câncer de colo do útero. No Brasil, o câncer do endométrio geralmente acomete mulheres na fase pós-menopausa. “No colo uterino, são mulheres mais jovens”, explicou Fernandes.

Detecção

O exame preventivo do câncer do colo do útero, chamado Papanicolau, é a principal estratégia para detectar lesões precursoras e fazer o diagnóstico precoce da doença. No câncer do endométrio, é por meio da histeroscopia com biópsia, procedimento cirúrgico feito por dentro da vagina e do canal do colo uterino, que permite visualizar a cavidade uterina e identificar eventuais doenças ali existentes.

O principal sintoma do câncer do endométrio na mulher que já parou de menstruar é voltar a ter sangramento. Nesse caso, ela deve procurar um ginecologista para fazer o ultrassom transvaginal, que vai mostrar o endométrio aumentado. Aí, ela parte para a histeroscopia com biópsia, que vai dar o resultado, identificando se é ou não câncer do corpo do útero.

No câncer de colo uterino, o Papanicolau detecta lesão precoce. Daniel Fernandes observou que, nesse caso, o câncer pode ser detectado também no exame físico. Ele destacou casos de mulheres que pensam que estão menstruando há mais de um mês, quando o que acontece é que estão com lesão macroscópica que sangra.

O sangramento continuado é um dos sintomas do câncer do colo de útero. “O ideal é detectar na fase precoce, porque o tratamento é menos agressivo”, disse o médico. Segundo ele, nas fases iniciais, esse tipo de câncer não apresenta sintomas. O médico alertou, porém, que sangramentos ou corrimentos podem ser indício de tumor.

Tratamento

O tratamento para os dois tipos de câncer vai depender da fase em que o tumor se encontra. Para o câncer do endométrio, o tratamento, na maioria das vezes, é cirúrgico.

No câncer do colo uterino, vai depender da lesão. Se estiver em fase muito inicial, podem ser feitas cirurgias conservadoras, que retiram apenas parte do colo do útero e conseguem preservar a fertilidade feminina, uma vez que a doença acomete mais mulheres jovens.

Em fase ainda precoce, mas mais avançada, faz-se a retirada do tecido em volta do útero e dos gânglios na pelve e consegue-se tratar. Fernandes lamentou que, no Brasil, infelizmente, são detectados, na maioria das vezes, tumores mais avançados, cujo tratamento é feito com radioterapia e quimioterapia.

Recomendações

Janeiro é considerado o mês de conscientização sobre o câncer do colo de útero, e o médico Daniel Fernandes recomenda que, para evitar o câncer do endométrio, mulheres na fase pós-menopausa façam exercícios para combater a obesidade. “Combatendo a obesidade, diminuem as chances de ser diabética e hipertensa, que são também fatores de risco. E, ao menor sinal de sangramento, a mulher deve procurar o ginecologista para poder investigar.”

Fernandes lembrou que, na fase bem inicial, em que o tratamento tem grande chance de cura, o câncer do colo uterino é assintomático. Por isso, a mulher precisa fazer o preventivo.

O Papanicolau detecta algumas alterações que são pré-malignas e que, se tratadas, não vão evoluir para a malignidade. “Só que, para isso, tem que ser feito o Papanicolau”, reiterou. Pelas diretrizes brasileiras, mulheres jovens devem fazer esse exame  a cada dois anos. O Papanicolau pode ser feito em postos ou unidades de saúde da rede pública que tenham profissionais capacitados. Sua realização periódica permite reduzir a ocorrência e a mortalidade pela doença.

Um mutirão para prevenção do colo do útero está sendo realizado pela Secretaria de Saúde de Jaboatão dos Guararapes até o próximo dia 19. Com a ação, os atendimentos que normalmente acontecem aos sábados em todas as unidades de saúde, passam a ser feitos, excepcionalmente, de segunda a sábado. O serviço é gratuito. A meta é atender cerca de 12 mil pacientes.

Para participar da campanha, as mulheres passarem devem se dirigir a qualquer Unidade de Saúde da Família (USF), Unidade Básica de Saúde (UBS), Policlínica ou ao Centro de Referência Saúde da Mulher (CRSM). Nos locais serão realizados exames citológicos, também conhecidos como papanicolau ou preventivo – a fim de verificar alterações nas células do colo do útero. Se não forem descobertas e tratadas, essas alterações podem se transformar em câncer. Por isso, é importante que as mulheres o façam regularmente.

De acordo com a gerente de Políticas Estratégicas e Promoção da Saúde de Jaboatão dos Guararapes, Leidjane Virães, o que motivou a realização desse mutirão aos sábados foi para atender às mulheres que não têm tempo durante a semana, para ir a uma unidade de saúde. Antes de fazer o exame, as mulheres devem estar atentas a algumas orientações: não estar menstruada, não estar usando duchas ou medicamentos vaginais e não ter relações sexuais dois dias antes do exame.

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