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No final da tarde desta sexta-feira (6), famílias de alunos de creches e escolas municipais do Recife fizeram um protesto que fechou parcialmente uma das vias da avenida Caxangá, em frente ao Centro Comunitário da Paz (Compaz) Miguel Arraes, no bairro da Madalena. De acordo com os manifestantes, desde o início do mês de agosto, as cestas básicas que eram entregues em substituição à merenda escolar, para garantir a segurança alimentar das crianças e suas famílias durante o período de suspensão das aulas devido à Covid-19, não têm chegado mais. 

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Das 17h até pouco antes das 18h, os manifestantes ergueram faixas e cartazes, e queimaram pneus, pedaços de madeira, plástico e panos embebidos por gasolina. A Guarda Municipal do Recife e a Polícia Militar de Pernambuco acompanharam de perto a manifestação, que foi pacífica do início ao fim. Durante o ato, as famílias gritavam palavras de ordem exigindo o retorno do fornecimento das cestas básicas e criticando a gestão do prefeito Geraldo Júlio (PSB). 

Ao final do protesto, um caminhão do Corpo de Bombeiros chegou ao local e apagou as chamas. Os manifestantes, no momento em que encerraram o ato, prometeram realizar novas mobilizações se a situação não for resolvida.

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Dificuldades das famílias 

Luana Oliveira, de 27 anos, que tem dois filhos de 3 e 5 anos matriculados na Creche Municipal Associação Cristã Feminina do Recife, foi demitida em março, passando a depender do auxílio emergencial para sustentar a si mesma e às crianças. Desde que os alimentos deixaram de ser entregues sem nenhuma explicação, a família passa por momentos difíceis. 

“A gente não tem nem como sair pra catar reciclagem, fazer unha, faxina, nossos filhos vão ficar com quem? Não vai poder levar os meninos, fica muito difícil”, contou Luana. Questionada sobre o que as creches respondem, ela afirma que nunca foi estabelecido um prazo. “Sempre desculpas e nada concreto para nós, não disseram o motivo, ficam dizendo que estão aguardando e nada. A gente está hoje procurando respostas para isso, nosso plano é que alguém venha dar uma força a gente, porque a gente está precisando”, disse a mãe.  

Jheniffer Maria Cristina, de 31 anos, tem quatro filhos, uma menina de 2 anos, um com 4, outro de 8 e o mais velho com 12, de quem cuida em tempo integral. A renda da família vem integralmente do emprego de seu marido, que é pedreiro e ficou sem ter como trabalhar normalmente. 

Com a interrupção da entrega das cestas básicas para todos os quatro filhos, a situação econômica e alimentar da família, que passou a viver de “bicos” do marido de Jheniffer, ficou difícil. “É muito urgente voltar [a entregar as cestas]. Não faltou comida, graças a Deus, e a gente não sentiu tanto porque minha mãe ajudou, mas sem isso, a gente ia estar precisando mesmo. Eu me sinto muito triste”, afirmou ela. 

Márcia Firmino, que também participava do protesto, apontou para o fato de que a qualidade e boa quantidade dos alimentos é tão importante quanto a sua oferta regular. No entanto, ela alega ter sentido uma piora no fornecimento antes que ele fosse interrompido. Enquanto segurava um garoto pela mão, ela contava que “lá na casa desse menino se você for abrir o armário da cozinha não tem quase nada. A merenda já foi boa, mas nos últimos meses estava uma porcaria.” 

Distribuição Irregular

O problema da suspensão de fornecimento de cestas básicas é geral, atingindo diversas regiões da cidade, mas de maneira desigual, segundo Igor Andrade, professor e diretor do Sindicato dos Professores do Recife (Simpere). Em entrevista concedida ao LeiaJá, ele explicou que o processo de distribuição está irregular, de forma que enquanto algumas famílias ainda recebem alimentos de forma escassa, para outras, nada chega. 

“Há meses a gente já tem recebido reclamação por parte das professoras, que tem o whatsapp e são os elos com a comunidade e vêm notando que não está tendo essa entrega regular como era no início, mês a mês. O processo de entrega está irregular, em algumas RPA’s (Regiões Político Administrativas) eles estão conseguindo resolver, em outras, como aqui na RPA IV, nada. Isso afeta milhares de crianças, nossa rede do Recife tem mais de 100 mil alunos, então a gente tem, pelo menos, algumas dezenas de milhares de alunos sendo prejudicados”, contou o professor. 

Carlos Elias, que também é diretor do Simpere, disse que enviou um ofício à Prefeitura sobre o tema. “Segundo eles os preços dos produtos subiram e estão fazendo uma nova licitação, mas isso não justifica. Não justifica porque o dinheiro está saindo, mas para as empresas privadas (...) R$ 40 milhões de propaganda só neste ano, então não é falta de dinheiro, é falta de destinar para as prioridades do povo do Recife”, disse ele.

Licitações, pagamentos e atrasos

O vereador da Câmara Municipal do Recife, Ivan Moraes Filho (PSOL), esteve presente no protesto realizado pelas famílias dos estudantes e afirmou que tem acompanhado os problemas relatados pela população. De acordo com ele, a Prefeitura do Recife contratou duas empresas para fazer a distribuição de 316.570 cestas básicas por R$ 66,30 cada uma, mas só foram pagos os valores referentes a 285.987 unidades. Ainda de acordo com Ivan, a última vez que a prefeitura realizou tais pagamentos foi nos dias 4 de agosto e 2 de setembro, enquanto a última entrega de alimentos data de 29 de agosto.

“A prefeitura alega problemas de licitação, tem cesta para entregar mas não entrega. Quem tem fome não espera e você vê até pela pouca organização que esse é um protesto de pessoas que têm urgência”, afirmou o vereador. 

A historiadora, advogada, militante feminista e candidata à Câmara de Vereadores Dani Portela também esteve no local nesta tarde após ser contactada por grupos de mulheres que organizaram a manifestação. Para ela, por se tratar de uma questão de segurança alimentar e direitos das crianças, a suspensão da entrega das cestas básicas também atinge diretamente às mães. 

“Vários direitos estão sendo feridos. Sem segurança alimentar para a criança a mulher que tem filhos não consegue trabalhar e isso causa um aumento da fome no país e estudos mostram que a fome voltou no Recife. Se as cestas eram uma garantia, não chegar alimentação é um direito que deixa de ser assegurado. Questões burocráticas de licitações exigem ações emergenciais para solucionar o problema da população, fome não espera”, afirmou ela. 

O LeiaJá procurou a assessoria de comunicação da Secretaria de Educação da Prefeitura do Recife e até o momento aguardamos respostas para nossos questionamentos a respeito do assunto em questão.

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