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“Um, dois, três...”, ela iniciou a contagem, apontando para onde agora não havia nada exceto cinza. “...uns 14”, concluiu. O espaço era apertadíssimo, fazendo duvidar que coubessem 14 moradias ali. E na verdade eram 15. Ao menos, 15 famílias fizeram o cadastro junto à Defesa Civil.

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Quem fazia aquela contagem das casas atingidas era a doméstica Edivânia Paraíso, de 42 anos, uma das pessoas que perdeu o barraco no incêndio que atingiu a Comunidade do Chiclete (ou Favela do Chiclete), no bairro da Iputinga, zona oeste do Recife, na noite da segunda-feira (12). “Perdi fogão, geladeira, micro-ondas, cama, guarda-roupa...”, ela novamente contava. “Dormi na rua”.

Edivânia havia saído com a companheira e os dois filhos, de 14 e oito anos, para aproveitarem o feriado de Nossa Senhora Aparecida. Ela soube da tragédia através de um telefonema de uma ex-cunhada. Chegaram por volta das 22h e aí já era tarde demais. Segundo a própria, sua residência ficava atrás de outras que pegaram fogo antes, por isso os moradores da área não conseguiram salvar nada seu.

Apesar do local ter péssimas condições estruturais – ainda mais depois das chamas -, Edivânia está cogitando subir outra casa no mesmo ponto. “Eu vou pra onde?”, perguntou, “Vou tentar subir outro barraco aqui mesmo. Acho que dá”, respondeu.

O desejo de construir um novo barraco o quanto antes não é só de Edivânia. “A gente agradece à Prefeitura, que dá os abrigos, mas lá não tem privacidade. Eles podiam ceder telha e tábua pra gente construir outro barraco. Não ia nem precisar de auxílio”, sugeriu a garçonete Taciana Soares da Paz, 33, outra vítima do fogo.

Taciana dividia o casebre com o marido e mais seis filhos, o mais velho com 15 e o mais novo com um ano e seis meses. Por enquanto, está na casa da prima, mas durante a noite também pegou os colchões e dormiu do lado de fora, perto de onde costumava morar. Conseguiu salvar roupas, bujão de gás e documentos, porém perdeu guarda-roupa, armário, mesa, cama...

Curiosamente, colado com a comunidade há o habitacional Casarão do Barbalho, que vem sendo construído pela Empresa de Urbanização do Recife (URB), da Prefeitura do Recife. O projeto prevê 12 blocos, com 384 apartamentos, além de sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário, guarita de segurança, drenagem, pavimentação e um centro de convivência comunitário. Segundo texto da prefeitura, o habitacional beneficiará os moradores do entorno.

O projeto, entretanto, está bem atrasado. A placa do Governo Federal aponta a previsão de conclusão da obra para dezembro de 2013. Em julho daquele ano, o prefeito Geraldo Julio visitou o espaço e lançou a data de entrega para março de 2014. Em nota, enviada à reportagem do Portal LeiaJá, a URB informou que o novo prazo de conclusão é no segundo semestre de 2016. Atualmente, a Empresa está finalizando a parte estrutural da edificação. A próxima etapa é a de acabamento (piso, revestimentos, pintura texturizada, entre outras benfeitorias). A obra está orçada em R$ 24,2 milhões.

O que moradores da Comunidade do Chiclete, como Edivânia e Taciana, têm ouvido é que, mesmo morando colado com o habitacional, eles não fazem parte dos que serão contemplados com um apartamento. “Eles fizeram o cadastro da gente e parece que a gente vai para outro canto, só não sabe onde”, comenta Edivânia.

Durante a confusão do incêndio, não houve projeto da prefeitura que controlasse o desespero. De acordo com a Defesa Civil, 12 famílias correram para o habitacional. Taciana e a família estavam nesse grupo. “A gente tentou invadir e foi recebido com bala, não sei se da polícia ou de outros moradores. Isso aí [o habitacional] não serve pra nada. Por que deixar um negócio lacrado com tanta gente no relento?”, indagou.  

A Polícia Militar (PM) esteve no local, com o intuito de controlar os ânimos durante o tumulto. Alguns moradores relataram que foram roubados durante o incêndio. Sete viaturas dos bombeiros atuaram na ocorrência de incêndio.

O boato que corre na comunidade é que o fogo começou na casa onde uma moradora havia deixado uma panela no fogão e saído para ingerir bebida alcoólica. Ela já teria negado o fato. O que causou as chamas só será determinado após perícias no local.

De acordo com o secretário executivo da Defesa Civil coronel Cássio Sinomar, as condições de comunidade como a do Chiclete são propícias a incêndios. “É muito material combustível. São casas feitas com materiais como papelão, madeira, também há fios descobertos e ligações clandestinas”, ele destacou. “Qualquer pessoa que se sinta ameaçado tem que olhar não só o dele como o do vizinho. Há a necessidade de rotas de fuga. Viver num local onde o material é de fácil combustão faz com que essas famílias precisem ter uma atenção especial”, complementou Cássio.  

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