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Trabalho infantil e exploração sexual foram temas abordados na roda de conversa com Marie Henriqueta Cavalcante, na Escola de Samba da Matinha. O evento ocorreu na noite de quarta-feira (9), no bairro de Fátima, em Belém.

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Organizado pela Comissão de Combate ao Trabalho Infantil do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (TRT8), a roda de conversa tratou da importância de conscientizar a sociedade sobre o trabalho infantil e exploração sexual, que faz parte do tema “Ninho da Coruja, A Criança e o Adolescente têm direito de sonhar”, enredo que a Escola de Samba da Matinha levará para a avenida no carnaval deste ano.

A desembargadora federal Zuíla Dutra, que está à frente da Comissão de Combate ao Trabalho Infantil junto com a juíza do TRT8 Vanilza Malcher, disse que defende essa causa antes mesmo de estar à frente da Comissão, porque vivenciou na pele as dores do trabalho infantil. A desembargadora dividia sua infância entre as aulas pela manhã, que segundo ela eram sagradas, e o trabalho à tarde e nas madrugadas para ajudar a família. “O trabalho infantil vai perpetuando a pobreza. Só consegui sair dessa situação porque eu tive a sabedoria da minha mãe que, mesmo sem ter estudado, sempre dizia que a gente só podia mudar aquela situação através dos estudos. Então, apesar de nós termos trabalho intenso de madrugada para a fábrica e à tarde em uma pedreira, de manhã o horário era sagrado para ir para a escola. A gente passou por extrema necessidade, mas foi através do estudo que nós conseguimos reescrever a história da nossa vida", disse.

Zuíla Dutra disse que se sente uma privilegiada. "Se eu estou hoje, nesse cargo aí, eu agradeço a Deus. Posso dizer que sou uma privilegiada, porque tem estatísticas recentes que demostram que só 3% dos trabalhadores infantis, das crianças exploradas, conseguem romper com esse ciclo e conseguir um lugar ao sol. A minha forma de agradecer é lutando para que outras crianças saiam dessa situação, esse é um compromisso de vida que eu tenho”, afirmou a desembargadora.

Segundo Zuíla, a falta de conscientização da sociedade é o maior problema para combater o trabalho infantil e a exploração sexual de crianças e adolescentes. “O mal que causa o trabalho infantil ceifa a infância, ceifa a vida, porque a infância é a parte da vida que propicia o desenvolvimento da criança em todos os aspectos físicos, mental, emocional, intelectual, é quando ele exercita o direito de sonhar para, a partir daí, se preparar para ter um futuro decente. Se é ceifada essa fase da vida, então ele está com todo o futuro comprometido. Se nós queremos um futuro diferente para os nossos filhos, nós precisamos preparar a infância, porque ela é a base de tudo. Precisamos investir em educação, porque sociedade nenhuma se transforma se não for por meio da educação, o esclarecimento é fundamental.”

A palestrante Marie Henriqueta Cavalcante, coordenadora da Comissão Justiça e Paz – CNBB N2 (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), disse que foi a primeira vez que abordou a temática em uma Escola de Samba e que é importante conscientizar as pessoas da comunidade sobre o tema. “Fiquei emocionada e ao mesmo tempo muito feliz. Espero que eles, levando esse tema para a avenida, consigam sensibilizar muito mais pessoas para que despertem para o crime hediondo e que traga sensibilidade e ao mesmo indignação e que muitas pessoas, daqui para a frente, possam ter conhecimento de uma realidade que grita na vida de crianças e adolescentes, principalmente nas regiões mais pobres, como é o Marajó, e que assim possamos dizer não ao trabalho infantil, não à exploração sexual e que junto possamos somar forças  contra essa mazela que é a violência”, disse.

A roda de conversa teve a participação de Matheus Bordallo, representante municipal do município de Gurupá que apresentou o Super-100, um super-herói das revistas em quadrinhos (HQ) que são distribuídas para a comunidades para esclarecer, de forma simples, os riscos e como as crianças podem denunciar explorações sexuais.  “O gibi que foi criado em Gurupá. É para aproximar a criança da denúncia, que no caso é o nosso super-herói, o Super-100. Crianças e super-heróis sempre estão muitos relacionados, e se tivesse alguém que defenda eles de perto, a criança vai estar mais estimulada a querer se defender. Por isso criamos o super-herói com o número do disque 100”, detalhou.

A juíza Vanilza Malcher explicou que desde o ano passado estão sendo desenvolvidas várias atividades no barracão da Escola de Samba, de forma gratuita e abertas ao público, para que as pessoas do entorno se conscientizem sobre assuntos relacionados ao tema. “O nosso compromisso é levar para a avenida uma comunidade consciente acerca do enredo, do tema que está levando, que está cantando, sobre a história da qual está falando. Em razão desse compromisso, nós temos que trazer o debate para dentro do nosso barracão e é isso que nós estamos fazendo, convidando pessoas que sejam personalidades e cada tema que envolve a proteção da criança e do adolescente. Tivemos nessa semana a questão do esporte, agora a exploração sexual contra crianças e adolescentes, na próxima semana temos uma programação com a FUNPAPA que vai trazer a questão dos meninos de rua, esses meninos que vendem nos semáforos, dos ônibus, mas especialmente dos semáforos”, explicou.

Ao final da roda de conversa, o presidente da Escola de Samba, Rodolfo Trindade, e os integrantes da bateria foram surpreendidos com os 26 instrumentos doados pelos apoiadores do projeto. A emoção foi grande, isso porque a Escola de Samba só poderá desfilar no carnaval deste ano se seguir o Regulamento Oficial do desfile das Escolas de Samba de Belém, feito pela Fundação Cultural do Munícipio de Belém (FUMBEL), que diz que a quantidade mínima de instrumento é de 130, e até o momento a Escola de Samba só tinha 20. “Foi uma surpresa imensa. A necessidade é tamanha. O carnaval está se aproximando, a gente tinha essa obrigação de ter novos instrumentos. Nossa bateria já está um pouco sucateada, e com débito do número mínimo de instrumento para o carnaval, e esses vieram para somar muito. Coisa maravilhosa o que aconteceu hoje, aqui em nosso barracão, e não pude controlar os prantos, não deu para segurar", declarou, emocionado.

Dryeli Oliveira, jovem de 22, também chorou ao ver os instrumentos serem entregues. “É o meu primeiro carnaval. Eu sei o que está se passando aqui e receber os instrumentos é uma emoção muito grande, porque o regulamento mudou e a Escola de Samba tinha que ter 130 instrumentos e a Matinha só tinha 20, então receber é uma emoção muito grande”, Concluiu.

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