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Pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) alertam para a persistente crise migratória na fronteira de Roraima com a Venezuela e apontam ações emergenciais que devem ser implementadas pelo poder público e pela sociedade civil.

O relatório Fronteira em Crise: uma Avaliação da Situação Migratória em Roraima, produzido pelo Núcleo de Estudos de Pesquisa em Direito Internacional da Uerj (Nepedi-Uerj) em parceria com a Universidade Federal de Roraima (UFRR), foi encaminhado aos ministérios da Justiça e Segurança Pública e dos Direitos Humanos e da Cidadania.

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Segundo o coordenador do Nepedi, Raphael Carvalho de Vasconcelos, o estudo, realizado entre 29 de janeiro e 4 de fevereiro deste ano, é um alerta sobre a emergência humanitária ocasionada pelo fluxo migratório permanente na fronteira.

“Os apontamentos têm por finalidade alertar as autoridades brasileiras e a sociedade civil de maneira geral para as necessidades que decorrem da resiliência do fluxo de deslocados naquela região do país, sinalizando tratar-se de calamidade paralela e coexistente à crise Yanomami que não pode ser relativizada ou deslocada a plano secundário”, disse o professor titular de Direito Internacional Público da Uerj.

De acordo com o pesquisador, existem temas emergenciais que precisam de atuação imediata do Estado brasileiro. “Este relatório não tem viés crítico. Trata-se de documento descritivo que busca contribuir para o enfrentamento dos desafios pelo novo governo”.

Os dados sobre a chegada desses estrangeiros no Brasil foram coletados nas cidades de Pacaraima, Cantá e Boa Vista, em Roraima, e em Santa Elena de Uairén, na Venezuela. Foram colhidos relatos de autoridades brasileiras, agentes humanitários, membros da sociedade civil, funcionários de organizações internacionais, migrantes e solicitantes de refúgio.

Segundo Vasconcelos, entre os temas emergenciais está a questão da interiorização dos venezuelanos, com atenção especial aos povos indígenas que vêm da Venezuela. “Porque essa interiorização pode representar um risco realmente muito grande de o Brasil cometer algum tipo de violação de direitos humanos. Ao promover a interiorização de uma etnia, a gente pode contribuir para que ela entre em um processo de extinção e isso pode ser feito de uma forma sistemática não intencional”, avaliou.

Outro ponto urgente apontado pelo professor é a questão da comunicação das informações sobre os cadastros penais da Venezuela com o Brasil. “A gente não tem, neste momento, um controle na fronteira de pessoas que são solicitantes de refúgio ou migrantes que podem, na verdade, estar fugindo de uma situação penal na Venezuela. Esse controle deveria se feito no marco de uma reconstrução da relação diplomática do Brasil com a Venezuela.”

Com base nessas informações, o relatório propõe uma série de ações para uma acolhida mais apropriada, com políticas públicas alinhadas ao direito internacional com ênfase nos direitos humanos.

Venezuelanas migrantes

As mulheres e meninas venezuelanas que migraram para o Brasil fazem pouco uso de métodos contraceptivos, têm muitos filhos e vieram em busca de serviços de assistência à saúde, motivação para migrar que perde apenas para a fome. Cerca de 10% delas chegaram ao Brasil grávidas.

As informações são de pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), coordenada pela Universidade de Southampton, da Inglaterra.

O estudo revela condições do processo migratório e os impactos da migração forçada sobre a saúde sexual e reprodutiva de mulheres e adolescentes. No total, 2.012 migrantes de 15 a 49 anos que chegaram ao Brasil entre 2018 e 2021 foram entrevistadas em Manaus (AM) e Boa Vista (RR). As entrevistadoras também foram venezuelanas.

Segundo a Fiocruz, a separação de mães e filhos é um dos dados ligado à saúde das migrantes que mais preocupa. O estudo mostra que cerca de 25% das mães venezuelanas deixaram pelo menos um filho no país de origem e foram justamente elas que relataram pior estado de saúde, assim como as que sofreram algum tipo de violência no percurso até a chegada ao Brasil.

“Entre as migrantes venezuelanas, 40% tem dois ou três filhos e 16%, quatro ou mais. As taxas de fecundidade são consideradas altas, o que é prejudicial também do ponto de vista financeiro, já que, além de precisarem alimentar e cuidar de muitas crianças, essas mulheres acabam impedidas de trabalhar porque precisam ficar com os filhos. Quase 80% das migrantes vivem com menos de um salário mínimo. Uma das recomendações feitas pela pesquisa é a disponibilidade de creches e escolas para as crianças e adolescentes venezuelanas”, diz a Fiocruz.

Em meio a este cenário, apenas 47% das venezuelanas no Brasil usam algum método contraceptivo, enquanto entre as brasileiras, a média é de 80%.

“O acesso aos métodos contraceptivos das venezuelanas após a chegada ao Brasil se deu principalmente pelos serviços públicos de saúde, mas muitas ainda compram, apesar da carência de recursos. Isso quer dizer que, apesar da oferta, não há facilidade para essas mulheres encontrarem os métodos que são oferecidos gratuitamente. Há alguma barreira no acesso aos métodos e isso precisa ser resolvido”, afirmou, em nota, a coordenadora da pesquisa na Ensp/Fiocruz, Maria do Carmo Leal.

Líderes latino-americanos adotaram nesta sexta-feira (10), último dia da Cúpula das Américas, a Declaração de Los Angeles, que aplica o princípio da responsabilidade compartilhada para uma migração organizada, como solicita o presidente americano Joe Biden, uma medida ainda simbólica para o tamanho do problema.

"Uma migração segura e organizada é boa para todas as nossas economias, incluindo a dos Estados Unidos. Pode ser um catalisador para o crescimento sustentável, enquanto a migração irregular não é aceitável", afirmou Biden na quarta-feira, no discurso de abertura da nona Cúpula das Américas.

As palavras cruciais para Biden são responsabilidade compartilhada, porque Washington não deseja carregar todo o peso do fluxo migratório. Menos ainda a poucos meses das eleições de meio de mandato de novembro, quando a inflação elevada derruba sua popularidade.

Os detalhes do texto não foram divulgados, mas uma fonte do governo que pediu anonimato afirmou que Biden "está pedindo a todos os governos ao longo da rota migratória que estabeleçam ou fortaleçam o processo de asilo em seus respectivos países".

Também solicita que "reforcem suas fronteiras de maneira mais efetiva, com medidas de controle e expulsando as pessoas que não são elegíveis para asilo", acrescentou.

De acordo com a Casa Branca, com a Declaração de Los Angeles sobre Migração e Proteção, os EUA acolherão 20.000 refugiados da América Latina em 2023 e 2024 (três vezes mais que neste ano) e desembolsarão 314 milhões de dólares em ajuda para migrantes da região.

O número é bem menor do que os 100 mil ucranianos que os Estados Unidos se dispuseram a receber após a invasão russa.

Quase 7.500 migrantes sem documentos, em sua maioria procedentes da América Central, tentam atravessar diariamente a fronteira com os Estados Unidos, de acordo com dados oficiais do mês de abril.

O México aumentará de 10 mil a 20 mil o número de Cartões de Trabalhador de Fronteira e lançará um novo programa de trabalho temporário para entre 15 mil e 20 mil pessoas da Guatemala a cada ano, e espera ampliar o benefício para Honduras e El Salvador.

Belize, Costa Rica e Guatemala, entre outros, também colaboram, mas estas iniciativas estão longe de aliviar a situação dos migrantes que fogem massivamente da pobreza, violência e corrupção.

- Caravana -

Os migrantes passam pelo México, onde uma caravana de milhares de pessoas avança atualmente em direção aos Estados Unidos. Vários deles contaram à AFP que estão exaustos e alguns, em um ato de protesto pela demora nos procedimentos de salvo-conduto, costuraram os lábios.

A lista de países convidados à reunião de cúpula provocou discórdia, depois que o governo Biden optou por excluir Nicarágua, Cuba e Venezuela.

Em resposta, alguns países, liderados pelo México, decidiram boicotar o evento, como Bolívia e Honduras.

Outros participam do encontro, mas como porta-vozes dos que não foram convidados ou para expressar suas reivindicações.

- "Imperdoável"-

Na primeira sessão plenária da cúpula, na quinta-feira, o presidente argentino, Alberto Fernández, confrontou Biden ao discursar na qualidade de presidente 'pro tempore' da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), organização que conta com os três países excluídos pelos Estados Unidos.

"O fato de ser país anfitrião da Cúpula não outorga a capacidade de impor o direito de admissão", disse.

O primeiro-ministro de Belize, John Briceño, acompanhou o protesto. "Esta reunião de cúpula pertence a todas as Américas. Portanto, é imperdoável que todos os países das Américas não estejam aqui".

O presidente chileno, o esquerdista Gabriel Boric, reforçou sua reprovação às exclusões. "Seria diferente discutir em um fórum como este, com todos os países presentes, incluindo aqueles que decidiram não participar, a urgente necessidade da libertação dos presos políticos da Nicarágua e também a importância moral e prática de terminar de uma vez por todas com o injusto e inaceitável bloqueio dos Estados Unidos ao povo de Cuba", afirmou.

Além dos protestos pelas exclusões, existe, segundo a Argentina, a necessidade de "reconstruir instituições que foram pensadas" para a integração.

"A OEA, se quer ser respeitada e voltar a ser a plataforma política regional para a qual foi criada, deve ser reestruturada, removendo imediatamente aqueles que a dirigem", disse Fernandez, somando-se às críticas do México ao secretário-geral da organização, Luís Almagro.

Irritado com as exclusões, o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador não compareceu à cúpula e enviou o chanceler Marcelo Ebrard, que chamou as ausências de "erro estratégico".

Ebrard também criticou Almagro e defendeu "refundar a organização interamericana" durante a cúpula que, segundo declarou nesta sexta-feira, lança resultados muito positivos no tema migratório.

Reuniões bilaterais também ocorreram durante a cúpula, como a de Biden e o presidente Jair Bolsonaro, que afirmou ficar positivamente surpreso com o primeiro encontro entre ambos.

Bolsonaro, criticado com frequência por ecologistas por suas posições, surpreendeu nesta sexta-feira ao afirmar que não precisa da Amazônia "para expandir o agronegócio".

Além da Declaração de Los Angeles sobre Migração e Proteção, a reunião de cúpula deve adotar projetos de compromisso político sobre a governança democrática, saúde e resiliência, mudanças climáticas e sustentabilidade ambiental, transição para energia limpa e a transformação digital.

O papa Francisco destacou, neste sábado (4), no primeiro dia de sua visita a Atenas, a responsabilidade da Europa na crise migratória e lamentou que ela seja "dilacerada por egoísmos nacionalistas".

O pontífice argentino de 84 anos, que chegou pouco depois das 11h00 (6h00 de Brasília) ao aeroporto de Atenas, criticou o fato de "a Europa persistir em procrastinar" diante da chegada de migrantes "em vez de ser um motor de solidariedade".

Ele falou diante da presidente da República Helênica, Katerina Sakellaropoulou, e do primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, bem como para uma audiência de personalidades católicas e civis que o aplaudiram calorosamente no Palácio Presidencial de Atenas.

Se Francisco visitou a ilha grega de Lesbos em 2016, para onde retornará no domingo, é a primeira visita de um papa a Atenas em vinte anos, desde a de João Paulo II em maio de 2001.

Antes, passou dois dias em Chipre, onde criticou "o muro do ódio" erguido contra os migrantes, dos quais cinquenta serão transferidos para Roma, incluindo 10 em situação irregular, de acordo com Nicósia.

Em Atenas, o pontífice lembrou que a Grécia "recebeu em algumas de suas ilhas um número de irmãos e irmãs migrantes superior ao dos próprios habitantes". No entanto, "a comunidade europeia, dilacerada por egoísmos nacionalistas, por vezes parece bloqueada e descoordenada, em vez de ser um motor de solidariedade", declarou às autoridades políticas.

Poucos minutos antes, a presidente Sakellaropoulou havia mencionado a "humanidade dos gregos e o fardo desproporcional que suportaram" na gestão desta crise.

"Nosso país está tentando ao máximo prevenir o tráfico ilegal de pessoas", ressaltou.

A presidente também agradeceu ao papa seu "caloroso apoio" durante a conversão da Basílica de Santa Sofia de Istambul em mesquita, a fim de "mantê-la como um símbolo universal do culto religioso e um monumento emblemático do patrimônio mundial".

Em Atenas, o papa vem "para matar a sede nas fontes da fraternidade" e para fortalecer os seus laços com os seus "irmãos de fé", os cristãos ortodoxos, separados da Igreja Católica desde o cisma de 1054 entre Roma e Constantinopla.

Francisco se encontrará hoje com o arcebispo da Igreja Ortodoxa da Grécia Hieronym II e sua comitiva.

Em um vídeo publicado pouco antes de sua partida de Roma, o papa se apresentou como um "peregrino" indo ao encontro de "todos, não apenas católicos", uma minoria de 1,2% em um país com uma grande maioria religiosa ortodoxa, não separada do Estado.

- "Fontes da humanidade" -

Esta viagem - a sua 35ª ao exterior desde a sua eleição em 2013 - também será marcada no domingo por uma nova visita a Lesbos, símbolo da crise migratória, onde disse que iria "às fontes da humanidade" para advogar pela recepção e "integração" dos refugiados.

Sexta-feira em Chipre, Francisco pediu que o mundo "abra os olhos" para a "escravidão" e "tortura" a que os migrantes são submetidos.

Quarenta ONGs de defesa de migrantes instaram o papa a intervir para pôr fim às alegadas repulsões de exilados nas fronteiras greco-turcas.

O "pai espiritual" é aguardado com ansiedade em Lesbos, onde cerca de 30 novos requerentes de asilo desembarcaram na quarta-feira.

"Estamos esperando por ele de braços abertos", declarou Berthe, um camaronês que espera que o papa "reze por nós por causa das inseguranças que vivemos".

Durante sua "breve" visita ao campo de Mavrovouni, ele encontrará duas famílias de refugiados "escolhidas ao acaso", segundo Dimitris Vafeas, vice-diretor do campo.

Cerca de 900 policiais serão destacados durante sua viagem à ilha grega e ao redor do acampamento erguido às pressas após o incêndio de setembro de 2020 que destruiu a estrutura de Moria, visitada pelo papa há cinco anos.

Drones, veículos blindados e estradas cortadas: a capital também está sob segurança máxima até a partida do soberano pontífice no final da manhã de segunda-feira, em antecipação a possíveis manifestações hostis.

Mesmo que o clima seja melhor do que em 2001, durante a primeira visita de um papa à Grécia, há, dentro do sínodo grego, "alguns fanáticos anticatólicos famosos", comentou à AFP Pierre Salembier, superior da comunidade jesuíta na Grécia.

Todas as reuniões foram proibidas no centro de Atenas, sobrevoado por um helicóptero. São esperados até 2.000 policiais em caso de protestos de fundamentalistas ortodoxos.

Há vinte anos, João Paulo II pediu "perdão" pelos pecados dos católicos contra os ortodoxos, em referência ao saque de Constantinopla em 1204.

O presidente da França, Emmanuel Macron, disse nesta sexta-feira, 26, que o premiê do Reino Unido, Boris Johnson, deveria "levar a sério" a crise migratória no Canal da Mancha ou "permanecer calado". O dia de fúria de Macron começou após Johnson publicar um plano de ação com cinco pontos no Twitter, em vez de recorrer aos canais diplomáticos tradicionais. "A comunicação de um líder com o outro, sobre questões tão graves, não pode ser feita por tuítes", disparou o francês.

No plano, Johnson sugere que a França receba de volta todos os imigrantes apreendidos em praias britânicas após a travessia do Canal da Mancha. Gabriel Attal, porta-voz do governo francês, chamou a carta do premiê britânico de "medíocre em termos de conteúdo e inapropriada no que diz respeito à forma". "Estamos cansados dessa conversa fiada e da terceirização de problemas do Reino Unido", disse Attal, em entrevista à BFM TV.

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A irritação de Macron fez o tom de agressividade entre os dois vizinhos subir ontem mais um degrau. Mas não ficou apenas na retórica. A França também retirou o convite à ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, para participar de uma discussão com vários países sobre o assunto no domingo. O ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, disse que a reunião com Holanda, Bélgica e Alemanha está de pé, mas sem a presença dos britânicos.

TRAGÉDIA

A mais nova troca de acusações entre os dois países começou na quarta-feira, após a morte de 27 imigrantes que se afogaram perto de Dunquerque, a caminho da Inglaterra. Paris reclama que o Reino Unido atrai imigrantes ilegais com uma política frouxa de fiscalização. Londres diz que autoridades francesas não têm se empenhado em conter os botes que partem de suas praias.

Macron e Johnson, segundo analistas, estariam se aproveitando da crise para marcar pontos políticos. O presidente francês disputa a reeleição em abril e precisa conter o avanço da extrema-direita, que deve explorar a questão migratória na campanha.

O premiê britânico enfrenta um fogo cerrado de radicais conservadores e nacionalistas, como Nigel Farage. Para eles, o objetivo do Brexit era retomar o controle das fronteiras. Em vez disso, milhares de imigrantes têm chegado às praias do país sob o olhar perdido de Johnson.

A oposição aproveitou a crise para atacar o premiê. Nick Thomas-Symonds, um dos líderes do Partido Trabalhista, disse que publicar uma carta no Twitter foi um "erro de julgamento grave". "Retirar o convite à ministra do Interior é uma humilhação para o primeiro-ministro, que perdeu completamente o controle da situação no Canal da Mancha", disse.

DISPUTAS

A questão migratória é apenas um capítulo na rápida deterioração da relação entre os dois vizinhos. Nos últimos meses, França e Reino Unido vivem às turras em disputas relacionadas ao Brexit, principalmente sobre licenças de pesca.

Nesta sexta, pescadores franceses ameaçaram bloquear o acesso a três portos no Canal da Mancha, e também ao Eurotúnel, para exigir a concessão rápida de autorizações pesqueiras, previstas após a saída dos britânicos da UE.

Macron também não engoliu o acordo militar que Johnson costurou com os EUA para fornecer submarinos nucleares para os australianos. A França, que tinha um contrato para a venda de submarinos convencionais à Austrália, teve um prejuízo de US$ 66 milhões. Paris considerou o episódio uma "punhalada pelas costas". (Com agências internacionais)

Mais de 10 mil migrantes, muitos deles do Haiti, acampavam nesta sexta-feira (17) debaixo de uma ponte na fronteira sul dos Estados Unidos. Trata-se de uma crise humanitária que desafia o governo de Joe Biden.

Estes migrantes chegaram à pequena cidade de Del Río, Texas, cruzando o Río Grande, entre o México e os Estados Unidos. Os 2.000 no início da semana se tornaram 10.500 na noite de quinta-feira, disse Bruno Lozano, prefeito desta cidade fronteiriça com a mexicana Ciudad Acuña.

"São principalmente do Haiti e entram ilegalmente (...) Só estão esperando serem detidos pelos guardas fronteiriços" para iniciarem os trâmites de autorização de estadia, explicou em um vídeo publicado no Twitter.

Nesta sexta, o presidente democrata, que espera outras milhares de chegadas, declarou estado de emergência e fechou a ponte ao tráfego.

"As circunstâncias extremas exigem respostas extremas", declarou ao jornal Texas Tribune. "Há mulheres que dão à luz, pessoas que desmaiam pela temperatura, são um pouco agressivas e isso é normal depois de todos estes dias de calor".

Apesar de seus apelos a uma "ação rápida" do governo federal, o presidente Biden e seu gabinete permanece em silêncio.

Em um comunicado, o Escritório de Alfândega e Proteção das Fronteiras dos Estados Unidos (CBP em inglês) afirmou em nota que aumentou sua equipe para enfrentar a situação de forma "segura, humana e ordenada".

A área sombreada debaixo da ponte serve como local de parada temporária "para prevenir doenças relacionadas ao calor", explicou, afirmando que distribuiu água potável, toalhas e banheiros portáteis.

Assim que são atendidos, "a grande maioria dos adultos que chegam sozinhos e muitas famílias vão continuar sendo expulsos sob o Título 42", uma norma de saúde adotada no início da pandemia para frear a propagação do vírus, segundo a nota.

"Quem não puder ser expulso sob o Título 42 e não tiver uma base legal para permanecer será colocado em processo de deportação acelerado", afirmou o CBP.

No entanto, um juiz federal ordenou na quinta-feira ao governo de Biden que não expulse as famílias neste contexto, o que poderia complicar a tarefa das autoridades, que enfrentam há meses os fluxos migratórios recordes na fronteira com o México. O governo Biden apelou da decisão nesta sexta-feira.

"Desastre"

Mais de 1,3 milhão de pessoas foram detidas na fronteira com o México desde que Biden chegou à Casa Branca, um nível inédito em 20 anos. Delas, cerca de 596 mil vinham de El Salvador, Guatemala e Honduras, e mais de 464 mil do México.

A oposição republicana acusa há meses Biden de ter provocado uma "crise migratória" ao flexibilizar as medidas de seu antecessor Donald Trump, que fez do combate à imigração ilegal um dos pilares de seu governo.

A situação em Del Rio, Texas, lhe deu novos argumentos. Após visitar a região, o senador republicano Ted Cruz denunciou "um desastre" causado por Biden.

Segundo Cruz, os migrantes acabam debaixo da ponte "porque o presidente Joe Biden tomou a decisão política de cancelar os voos de deportação para o Haiti", após o assassinato, em julho, do presidente haitiano Jovenel Moïse, que acentuou o caos na ilha caribenha.

O número de cidadãos do Haiti, país mais pobre das Américas, que chegam sem documentos aos Estados Unidos, aumenta há vários meses.

"Alarmante"

Quase 6.800 haitianos foram detidos em agosto na fronteira sul ou apenas 4% do total de migrantes detidos, porém mais do que em julho (5.000) ou maio (2.700).

Muitos haitianos deixaram seu país depois do terremoto de 2010 (que matou mais de 200.000 pessoas) e se estabeleceram na América Latina, especialmente em Brasil e Chile. Mas encontrar trabalho e renovar uma permissão de residência se tornou complicado para milhares que decidiram ir para o norte.

"Quero continuar minha viagem porque tenho uma irmã em Miami e outra na Holanda", disse Domingue Paul, um haitiano de 40 anos que morou cinco anos no Chile, em declarações à AFP em Tapachula, sul do México.

Sensíveis a suas dificuldades, várias vozes democratas se ergueram para pedir ao governo Biden que resolva rapidamente a situação em Del Rio.

"Estes migrantes haitianos já sofreram muito durante a perigosa viagem à nossa fronteira", tuitou a congressista Ilhan Omar, figura de destaque da ala à esquerda do partido.

"A falta de urgência para ir em sua ajuda é alarmante", denunciou a legisladora, que chegou aos Estados Unidos em 1995 como refugiada somaliana.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nesta quarta-feira (24) ter encarregado a vice-presidente, Kamala Harris, da gestão da crise migratória na fronteira dos Estados Unidos com o México.

"Não consigo pensar em ninguém mais qualificado", declarou Biden a repórteres em uma reunião na Casa Branca junto a Harris e os chefes dos Departamentos de Segurança Interna (DHS) e de Saúde.

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"Ela aceitou liderar este esforço diplomático", acrescentou, em alusão aos diálogos com o México e os países do Triângulo do Norte da América Central, de onde provém a maioria dos menores que chegam aos Estados Unidos.

Esta é a primeira missão que Biden encarrega à sua vice-presidente.

"Esta nova alta que estamos assistindo começou durante o governo passado, mas agora é nossa responsabilidade", disse Biden em relação aos números de chegadas na fronteira.

Este anúncio coincide com o envio de uma delegação da Casa Branca à fronteira, em meio a acusações dos republicanos de que o governo não adota as medidas necessárias para enfrentar a crise na fronteira sul, especialmente em relação a um aumento das chegadas de menores desacompanhados.

Durante a reunião, Harris reiterou a mensagem que o governo Biden busca transmitir. "As pessoas não deveriam vir à fronteira agora", disse a vice-presidente.

A família de Aylan Kurdi, menino sírio fotografado sem vida em uma praia turca, que se tornou um símbolo trágico da crise migratória na Europa em 2015, se opôs a um filme sobre a criança, filmada sem seu consentimento.

"Meu coração está partido (...) Isto é inaceitável", disse a tia do menino, Tima Kurdi, à emissora CBC, de Port Coquitlam, perto de Vancouver, no oeste do Canadá.

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O corpo do menino foi fotografado deitado com o rosto na areia de uma praia da Turquia. Vários integrantes de sua família morreram tentando chegar a uma ilha grega.

A foto provocou revolta na Europa e levou a União Europeia a abrir, por algum tempo, suas fronteiras para refugiados sírios.

O filme, chamado "Aylan Baby: o mar da morte", que tem o ator americano Steven Seagal no elenco, está sendo filmado na Turquia, disse a CBC. O diretor Omer Sarikaya publicou o anúncio do longa em suas redes sociais.

De acordo com Kurdi, ninguém pediu autorização à família. Ela ficou sabendo do filme pelo pai do menino, Abdullah Kurdi, que vive no Iraque.

"Ele me ligou, e estava chorando também. Ele disse: 'Não posso acreditar que alguém já está fazendo um filme. Não posso nem imaginar que meu filho morto, com 2 anos, não sabia nem falar, como se estivesse vivo" em um filme, relatou Kurdi.

A tia de Aylan, que publicou um livro chamado "O menino na praia", disse que a família tinha recusado várias ofertas de produtoras de filmes.

O diretor afirmou à CBC que o tema de seu filme, embora se assemelhe à história da família Kurdi, se concentrou na crise de refugiados em seu conjunto. "Será Aylan Baby, não Aylan Kurdi", respondeu.

O Conselho de Ministros italiano aprovou, nesta segunda-feira (24), um decreto sobre a segurança pública que endurece as medidas contra a imigração - informou hoje o ministro do Interior, Matteo Salvini, líder da Liga.

"É um passo para que a Itália seja mais segura. Para combater com forças os mafiosos e os traficantes de pessoas, para reduzir os custos de uma imigração exagerada, para expulsar os delinquentes e os que pedem asilo sem merecer, para retirar a cidadania dos terroristas e para dar mais poder às forças da ordem", anunciou Salvini no Facebook.

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Um quarto. Boa refeição. Conversas amenas na frente da casa, enquanto crianças correm incansáveis. Não muito tempo atrás essa realidade de coisas simples estava distante dos venezuelanos que agora dormem em solo pernambucano. Na última terça-feira (18), 30 deles chegaram ao município de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife (RMR), somando-se aos 69 que desembarcaram em julho. Mais três chegam amanhã. Enquanto o medo da violência sem controle e das despensas vazias parece mais distantes, novo temor bate à porta: o desemprego.

A Venezuela vive uma crise humanitária que se agrava desde 2015. A situação de instabilidade, com alta inflação e protestos violentos, provocaram uma onda migratória na qual o Brasil tem se tornado protagonista.  Segundo dados de agosto da Organização Internacional de Migração (OIM, em inglês), ligada à ONU, 2,3 milhões de venezuelanos já deixaram o país em meio à crise. A estimativa é de que pelo menos 50 mil deles se fixaram no Brasil até abril de 2018 - número baseado nos pedidos de asilo e residência.

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O processo de interiorização, feito pelo Governo Federal com apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Agência da ONU para as Migrações (OIM), Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, tem espalhado os refugiados pelo país. Entretanto, os abrigos que estão recebendo esses estrangeiros precisam que eles consigam adquirir a independência, o que não tem sido fácil. Do grupo que chegou a Pernambuco em julho, apenas oito pessoas conseguiram um emprego. 

A professora Yolimar Simona, 40, e o marceneiro Juan Carlos Vilar Varela, 46, apesar de se sentirem aliviados agora que estão em Pernambuco, estão preocupados com a falta de dinheiro. Juan trabalhou em Roraima, mas não recebeu. “Ficaram me devendo quatro meses”, ele lembra. Yolimar recorda também ter vivenciado uma péssima experiência como diarista - não ganhava salário, apenas cama e comida. “Eu acredito que poderia lecionar aqui, dar aula de espanhol ou para crianças pequenas”, diz a mulher. Eles têm dois filhos. A garota de 10 anos está com problemas respiratórios. A escassez de remédios é outro grave problema enfrentado no país do presidente Nicolás Maduro. 

O montador e motorista Jose Gregorio Urbano Hernandez , 45, e a esposa cabeleireira Luisana Medina, 32, também vivem situação semelhante. Precisam sustentar cinco menores, cuja idade varia de 16 a cinco anos. “A nossa esperança aqui é um emprego, um trabalho. Queremos voltar para a Venezuela, mas só quando mudar a situação”, explica Jose Gregorio.

Saudade

Com o pequeno Jorge, de quatro anos, e um bebê na barriga, Elizabeth Bruzual fez a travessia da Venezuela para Pacaraima-RR. Ela queria seguir com o resto da família, mas, como tem sido regra, faltava dinheiro. Teve que se distanciar do marido e da filha de apenas um ano. Ela até teve sorte. Passou um mês em Roraima e conseguiu ser transferida para Pernambuco. Após o período longe, finalmente voltou a encontrar sua família na terça-feira. 

O marido Luis Rodriguez, 23, a filha Elisma Bruzual e os sogros Johan Rodriguez, 35, e Inain Diaz, 37, se juntaram a Elizabeth e Jorge em Igarassu. “Estava sentindo muita falta da minha filha. Chorei muito ontem”, recorda Elizabeth. Elizabeth costumava trabalhar com controle de qualidade em um fábrica. Agora não descarta qualquer emprego. "Se eu tive vontade de sair do meu país, não vai faltar vontade de trabalhar".

Na nova casa, Inain celebra a galinha na panela. “Temos comida aqui. Não tinha como comprar frango lá, era muito caro. Fruta, muito cara. Ovo, muito caro”, ela cita. O marido mostra o celular. Mensagens da mãe no aplicativo WhatsApp. Ela está feliz que o filho chegou bem. “Gostaria de ter condições de trazê-la para cá”, suspira Johan. A mãe de Johan vive na Venezuela com uma filha, o marido já morreu.

“Não é fácil unir as famílias quando chegam aqui no Brasil. Foi muito importante conseguir juntá-los”, comenta o secretário de Políticas Sociais de Igarassu, Marcelo Oliveira. De acordo com Oliveira, o município tem trabalhado para integrar os refugiados na sociedade e conseguir empregos. “Infelizmente temos no Brasil uma situação complicada de empregos, mas estamos conseguindo resultados”, complementa. 

Por enquanto, não há relatos de aversão de pernambucanos a venezuelanos. “Estamos tranquilos com a comunidade local, há uma receptividade muito boa e uma preocupação das famílias do entorno em ajudar. Inclusive, a primeira pessoa que começou a trabalhar foi encaminhada por um vizinho daqui”, revela Alberes Mendonça, gestor da ong Aldeias Infantis SOS, que recebe os refugiados em Pernambuco.

O planejamento era que os imigrantes ficassem apenas três meses no local. Com a dificuldade de assinarem a carteira de trabalho, é possível que o prazo se estenda. “Já estamos no nosso limite”, diz o secretário Marcelo Oliveira. Apesar disso, a crise migratória perdura. "Acho que toda e qualquer empresa, privada ou governamental, pode ajudar. Temos entrado em contato com o Governo do Estado para tentar fazer um levantamento de vagas. De maneira geral, são pessoas que têm curso técnico e superior. A vontade deles de se estabelecer aqui no Brasil e tocar suas vidas faz com que aceitem qualquer emprego. Eles estão dispostos", reforça Alberes Mendonça. 

Pernambuco terminou 2017 com uma taxa de 17,6% de desempregados, o equivalente a 723 mil pessoas. É a segunda maior taxa do país, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). O estado ficou atrás apenas do Amapá, com 17,7%.

O marceneiro Juan Carlos Vilar Varela mostra onde mora. A casa é compartilhada por duas famílias. Há, na entrada, uma sala de uso comum com uma tv que chuviscava. Subindo as escadas, dois quartos e o banheiro. Tanto na fachada quanto na porta de cada quarto, há o nome do refugiado escrito na folha de um papel. Na cama que Juan divide com Yolimar, uma carteira amassada de cigarro. Eles não podem fumar nem ingerir bebida alcoólica dentro da ong. 

“Eu saí da Venezuela pesando 54 quilos”, diz o marceneiro, que agora está com 73 kg. Apesar da melhora, Juan e a esposa sabem que o Brasil enfrenta crises e tem problemas graves como a violência. Yolimar já visualizou facetas negativas do povo brasileiro. Ela lembra: “Fomos a uma missa. Um homem na entrada da igreja disse ‘venezuelanos não’. Em uma padaria, não podíamos sentar nas cadeiras, disseram que era para exclusivos, imaginei que significasse que era apenas para brasileiros”. Apesar disso, ela conclui resiliente: “O que vivemos no Brasil não se compara. A Venezuela acabou, está em ruínas”.

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As forças da ordem francesas começaram, nesta quinta-feira (6), a evacuar um acampamento de migrantes perto da cidade de Dunkerque, onde centenas de pessoas vivem em condições precárias com a esperança de chegar ao Reino Unido.

"É uma operação para desmantelar o acampamento de Grande-Synthe", disse à AFP uma porta-voz da prefeitura do departamento do Norte.

Entre 500 e 800 migrantes, essencialmente curdos iraquianos, acampam nesta cidade do litoral, com a esperança de embarcar rumo à Grã-Bretanha.

A retirada acontece sem incidentes, disse à AFP o subprefeito de Dunkerque, Eric Etienne.

Etienne explicou que o governo quer evitar que se constituam "novos pontos de instalação", que depois acabam se transformando em "favelas" no litoral do mar do Norte.

A presença policial se reforçou na zona desde que se desmantelou, em 2016, a chamada "Selva", perto de Calais, onde viviam cerca de 10.000 migrantes.

O acampamento de Grande-Synthe já havia sido evacuado várias vezes. Os imigrantes que foram desalojados hoje terão a possibilidade de solicitar asilo na França, ou serão levados para os centros policiais para serem identificados.

No mês passado, a França aprovou uma nova lei sobre imigração que acelera o procedimento de asilo e, ao mesmo tempo, de expulsão dos que tiverem seu pedido rejeitado, uma medida denunciada por seus críticos como uma tentativa de limitar as chegadas.

A chanceler alemã, Angela Merkel, denunciou nesta segunda-feira (27) a "caçada coletiva" de migrantes por parte de militantes de extrema direita na Alemanha, após a morte de um homem durante uma briga, episódio que intensificou o debate sobre a questão migratória.

Esses fatos "não cabem em um Estado de Direito", afirmou o porta-voz da chanceler, Steffen Seibert, durante uma entrevista coletiva em Berlim.

"É importante para o governo, para todos os representantes democráticos e - acho que - para a grande maioria da população dizer claramente que esses tumultos ilegais e caçadas coletivas contra pessoas de aparência, ou origem, estrangeira (...) não têm lugar no nosso país", afirmou Seibert.

O porta-voz de Merkel fazia referência aos incidentes de domingo, na localidade de Chemnitz, no leste da Alemanha, e que podem voltar a acontecer nesta segunda à noite.

Ontem, quase mil pessoas participaram de uma manifestação ilegal da extrema direita após a morte de um alemão branco de 35 anos, durante uma briga, envolvendo cerca de dez pessoas nesta cidade.

- 'Fora, estrangeiros' -

A Polícia informou que houve atos violentos durantes esses protestos, como o lançamento de garrafas contra a Polícia.

Segundo várias testemunhas e vídeos publicados nas redes sociais, alguns manifestantes agrediram fisicamente e perseguiram migrantes durante a marcha. Também gritavam slogans como "fora, estrangeiros" e "nós somos o povo".

A Polícia informou ter recebido duas denúncias por golpes e ferimentos.

A prefeita de Chenmitz, Barbara Ludwig, expôs sua "indignação" com os recentes episódios.

"É grave que as pessoas possam se manifestar dessa forma (...) perseguindo e ameaçando outras pessoas pela cidade", disse ela à rede de televisão local MDR.

"Aqueles que se concentraram sem autorização queriam provocar o caos e espalhar o medo entre a população", denunciou.

Segundo a Polícia, ainda são incertas as circunstâncias da briga na origem da polêmica, registrada no sábado à noite.

A Polícia informou apenas que a vítima era de nacionalidade alemã e que, no confronto, estiveram envolvidas pessoas de "várias nacionalidades". Não mencionou se o autor do homicídio foi uma pessoa de origem estrangeira.

Outras duas pessoas, na faixa dos 30 anos, também ficaram feridas nesses incidentes. Dois jovens também foram detidos, mas não há informações sobre seu envolvimento na briga.

- Contexto político tenso -

Pelo segundo dia consecutivo, a extrema direita voltará às ruas hoje à tarde, em Chemnitz.

O movimento xenófobo e islamofóbico Pegida e o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) convocaram a manifestação no mesmo lugar onde aconteceu a polêmica disputa.

O Pegida exigiu do governo alemão que "reforce a segurança" dos cidadãos e "mude" sua política. O movimento de extrema direita garante que a vítima, de 35 anos, foi esfaqueada, "enquanto tentava proteger sua mulher".

Este incidente acontece em um momento de grande tensão do debate migratório no país. Merkel é, com frequência, criticada por ter favorecido um aumento da criminalidade na Alemanha, após ter permitido a chegada de mais de um milhão de refugiados entre 2015 e 2016.

As críticas surgem, sobretudo, da extrema direita, com grande adesão no leste do país.

Depois de ter-se tornado a terceira força do país no ano passado, com cerca de 90 deputados eleitos no Parlamento, a ultradireita da AfD marca a agenda política na Alemanha.

Todos os imigrantes, cerca de 140, que estavam a bordo do "Diciotti" no porto italiano de Catania, na Sicília, desembarcaram na madrugada deste domingo (26), informou a imprensa local.

O ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, que mantém uma linha dura sobre imigração, autorizou o desembarque no sábado à noite após o acordo da Igreja Católica da Itália, da Albânia e da Irlanda para distribuir os imigrantes que estavam a bordo do navio da Guarda Costeira italiana.

Salvini, que também é chefe do partido Liga de extrema-direita, havia proibido até então o desembarque desses imigrantes, resgatados no mar na madrugada de 15 a 16 de agosto.

A decisão de impedir o desembarque desses imigrantes levou à abertura de uma investigação judicial contra Salvini por "sequestro de pessoas, detenções ilegais e abuso de poder".

A governadora de Roraima, Suely Campos (PP), disse nesta segunda-feira (20) que as medidas anunciadas pelo governo federal para lidar com a crise humanitária enfrentada por refugiados venezuelanos no estado já tinham sido solicitadas pelo governo estadual desde 2016.

“As medidas anunciadas ontem [19] pelo presidente Michel Temer são as mesmas que solicito há mais de dois anos, exigindo que o governo federal assuma sua responsabilidade na crise migratória venezuelana em Roraima”, escreveu a governadora em sua conta pessoal no Twitter, hoje (20).

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Em nota, o governo de Roraima enfatizou que as medidas anunciadas pelo governo federal ontem (19), vinham sendo pedidas desde 2016. E que há, pelo menos, um ano Suely Campos vinha pedindo ao governo autorização para o emprego de tropas militares para reforçar a segurança, com a expedição de um decreto federal para garantia da lei e da ordem (GLO).

“Infelizmente, foi preciso um episódio de violência para o governo federal entender que precisa enfrentar o problema de forma mais efetiva”, acrescenta a governadora, na nota.

Reações

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, afirmou que o pedido estadual feito anteriormente ao governo federal se limitava ao patrulhamento na região de fronteiras, o que já vem sendo feito.

“O que a governadora pediu foi patrulhamento na região de fronteira, o que as leis já concedem [permite] e já se estava fazendo”, disse Etchegoyen na manhã de hoje.

“Já se fazia porque isso é da rotina das Forças Armadas na fronteira e a lei já permitia. Consequentemente, aquele pedido não se referia a GLO”, acrescentou. Segundo ele, hoje “a situação é mais calma, sem conflitos, apesar da tensão”. 

Para o ministro, agora compete ao governo estadual avaliar se há necessidade da presença das Forças Armadas. “Se for pedido, nos termos do que a lei define, o governo estadual precisa declarar que esgotou seus recursos de segurança pública, definir regiões, ações e o que precisa ser feito. Esta avaliação é do governo do estado”, declarou o ministro.

Conflitos

A chegada de imigrantes ao estado nos últimos meses tem pressionado os serviços públicos e gerado tensão entre a população local e os venezuelanos que fogem da crise que afeta o país vizinho. O conflito mais recente registrado ocorreu no último sábado (18), em Pacaraima (RR).

Logo após um comerciante local ter sido assaltado e espancado, supostamente por venezuelanos, brasileiros atacaram grupos de estrangeiros, chegando a queimar seus pertences pessoais e ameaçá-los.

De acordo com as autoridades locais, não houve registro de feridos, mas o Exército informou que cerca de 1,2 mil venezuelanos cruzaram de volta a fronteira do país com o Brasil logo após o conflito.

Ontem, o governo federal anunciou medidas emergenciais para auxiliar Roraima a lidar com a situação de crise. Além de enviar mais 120 agentes da Força Nacional de Segurança Pública e 36 voluntários da área da saúde, o Palácio do Planalto prometeu implementar e aperfeiçoar o controle da entrada de estrangeiros e ampliar a presença da União nas áreas social e de segurança. 

Os primeiros 60 agentes da Força Nacional embarcaram em Brasília, esta manhã, com destino à Boa Vista, de onde partirão para Pacaraima, na fronteira com a Venezuela. Desde o ano passado, 31 agentes da Força Nacional atuam na cidade em apoio à Polícia Federal.

Pedido ao STF

As autoridades estaduais sustentam que a implementação da medida pode aliviar os impactos da entrada desordenada de imigrantes no Brasil, mas não resolverão problemas como a incapacidade do estado, sozinho, oferecer atendimento aos estrangeiros e à população local.

O governo estadual voltou a pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão temporária de entrada de imigrantes em território brasileiro para tentar conter o perigo de conflitos e o “eventual derramamento de sangue entre brasileiros e venezuelanos”. Segundo a assessoria do governo, a ação foi protocolada na manhã de hoje (20), pela Procuradoria-Geral estadual. O STF, no entanto, ainda não confirma a informação.

O pedido reforça a Ação Civil Originária (ACO) 3121, que já pedia o fechamento da fronteira entre Roraima e a Venezuela. No último dia 6, a ministra Rosa Weber, relatora da ação no STF, indeferiu o pedido. Em sua sentença, a ministra apontou que, além de ausência dos pressupostos legais para emissão de liminar, o pedido do governo de Roraima contraria “os fundamentos da Constituição Federal, às leis brasileiras e aos tratados ratificados pelo Brasil”.

Esta manhã, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, classificou como “impensável” a hipótese de a fronteira ser “fechada”.

Há três anos, a ilha grega de Lesbos esteve no epicentro da crise migratória de 2015, a mais importante na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

No momento de maior intensidade da crise dos refugiados, cerca de 5.000 demandantes de asilo - sírios em sua maioria - chegavam diariamente à costa de Lesbos no verão de 2015.

Centenas deles morreram afogados. Mais de 800 pessoas, entre elas muitos menores de idade, faleceram em 2015 no leste do Mediterrâneo.

As autoridades de Lesbos se viram rapidamente assoberbadas com a situação e sua responsabilidade de registrar os refugiados e alojá-los.

Até a chegada de ONGs e de grupos voluntários, os habitantes locais lhes deram comida e roupa, oferecendo, em muitos casos, um teto a esses migrantes.

Três anos depois, a situação mudou de forma radical em Lesbos.

Após a assinatura do acordo entre UE e Turquia em março de 2016, no qual as autoridades turcas aceitaram impedir a passagem de migrantes clandestinos em troca de ajuda econômica, reduziu-se de forma significativa a chegada de estrangeiros ao litoral da Grécia.

Embarcações da agência europeia de controle das fronteiras, a Frontex, e da Otan patrulham as águas do Mediterrâneo oriental.

Hoje, entre 35 e 80 pessoas chegam por dia à costa grega.

Cerca de 9.500 refugiados tentam sobreviver no campo de acolhida de Moria, o que dobra a capacidade desse acampamento de Lesbos.

As autoridades dessa ilha grega tentam afastar os refugiados das praia mais turísticas. Depois do desembarque em Lesbos, eles são transportados para campos de refugiados.

Também retiram do litoral os coletes salva-vidas, os botes infláveis e outros objetos que expõem a chegada de imigrantes.

Vários turistas ignoram que, na mesma areia onde tomam sol, milhares de refugiados chegaram em busca de uma vida segura. E muitos deles ainda não a encontraram.

O Ministério Público Federal (MPF) em Roraima emitiu quatro recomendações ao governo federal, estadual e municipal cobrando um atendimento adequado a indígenas venezuelanos que vieram para o Brasil na crise migratória que vive o país vizinho. Os documentos tratam de assuntos como atendimento de saúde, acolhimento por equipes multidisciplinares e inclusão dos indígenas em processos decisórios.

A situação mais grave foi identificada em Pacaraima, cidade que faz fronteira com a Venezuela. A equipe constatou que o abrigo Janokoida está em péssimas condições sanitárias, com casos de indígenas gravemente doentes, mas sem atenção médica especializada. 

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O MPF recomendou que uma equipe de saúde com aparato suficiente de atenção básica faça atendimento duas vezes por semana e por tempo indeterminado. Pediu também que o coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena do Leste de Roraima e o coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami disponibilizem agentes dos respectivos distritos para ministrarem treinamento e compartilharem conhecimentos acerca das especificidades do atendimento de saúde a indígenas. 

Diante da constatação da falta de ambulâncias para fazer o transporte para hospitais, deve ser assegurado à equipe de saúde veículos adequados para a remoção de abrigados para hospital de Pacaraima ou de Boa Vista nos casos de urgência. 

Atendimento – Para o MPF/RR, é necessária ainda a manutenção de uma equipe multidisciplinar em todos os abrigos de migrantes indígenas (em Boa Vista e Pacaraima) pois existem diferenças culturais que precisam ser respeitadas. A ação deve incluir a contratação de antropólogo para atuação no abrigo Janokoida, item que já havia sido recomendado pelo MPF/RR, mas ainda não foi cumprido. Segundo a procuradora, a atual equipe técnica em Pacaraima é insuficiente para a elevada quantidade de abrigados.

Foi constatado ainda que não há articulação da equipe do governo estadual com entidades governamentais, como a FUNAI, e com entidades não governamentais com conhecimentos técnicos para garantir o respeito aos padrões culturais da população abrigada.

Regulamento interno - Os documentos reconhecem que, apesar da contribuição da Força-Tarefa Humanitária do Exército neste novo momento ter apresentado pontos positivos voltados à melhoria estrutural e ao atendimento de demandas emergenciais, ainda há a necessidade de fortalecer estruturas de diálogos entre os gestores dos abrigos e os indígenas abrigados.

Tanto em Boa Vista, como em Pacaraima, recomendou-se a adoção de mecanismos de consulta e solução de conflitos, considerando suas especificidades culturais e a elaboração do regulamento interno do abrigo com consulta prévia, livre e informada, nos termos da Convenção 169 da OIT.

As recomendações foram emitidas a diversas autoridades, incluindo a governadora de Roraima, Suely Campos, e o coordenador da Força-Tarefa Humanitária do Governo Federal em Roraima, general Eduardo Pazuello. A procuradora da República Manoela Lopes Lamenha Lins Cavalcante, que visitou os locais durante o mês de maio, é quem assina os documentos.

Com informações da assessoria

O presidente Michel Temer assinou, nesta segunda-feira (12), a Medida Provisória que libera R$190 milhões para ações de emergência em Roraima, devido à situação dos migrantes venezuelanos. O valor deste crédito extraordinário será repassado ao Ministério da Defesa, no intuito de concretizar medidas de assistência emergencial e acolhimento humanitário.

No início de março, o ministro de Direitos Humanos, Gustavo Rocha, esteve em Roraima acompanhado de comitiva composta pelo Conselho Nacional de Justiça e entidades do Ministério Público. A avaliação coletiva das autoridades foi da necessidade de abordar a crise coletivamente, em busca de soluções concretas que tragam benefício tanto aos recém-chegados quanto à população do estado.

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A Polícia Federal estima que 800 pessoas cruzam diariamente a fronteira entre o Brasil e a Venezuela em busca de melhores condições de vida.

A Marinha líbia resgatou neste sábado, em duas operações diferentes, um total de 252 migrantes que tentavam alcançar costas europeias. "Recebemos o alerta [...] sobre a posição do barco dos migrantes", a cerca de 30 km de Zawiya, ao oeste de Trípoli, informou o capitão de navio Rami al Hadi Ghomed.

Nesse barco havia 140 migrantes, entre eles 14 mulheres e quatro crianças. Todos eles foram trasladados à base naval de Trípoli e depois a um centro de detenção. A segunda embarcação foi avistada a cerca de 50 km das costas de Garabuli, ao leste da capital.

Nesse barco foram resgatados "112 migrantes, incluindo 30 mulheres e três crianças", indicou um porta-voz militar, Ayub Kacem. Ao menos 337 migrantes morreram ou desapareceram em frente às costas da Líbia desde o início do ano, segundo a Organização Internacional para as Migrações.

Em quatro dias, mais de 850 migrantes africanos conseguiram entrar na Espanha cruzando a cerca entre o Marrocos e o enclave espanhol de Ceuta. O fato acontece em um contexto de tensão entre a União Europeia (UE) e o governo marroquino. Os enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla, no norte da África, são as únicas fronteiras terrestres entre o continente africano e a Europa. O controle fronteiriço é realizado em conjunto pela Espanha e pelo Marrocos.  As informações são da Radio France Internationale.

"Na madrugada desta segunda-feira (20), cerca de 600 subsaarianos tentaram entrar em Ceuta e 359 deles conseguiram", disse, em um comunicado, a delegação do governo espanhol na cidade. "Eles entraram rompendo as portas de acesso com tesouras industriais e martelos. Não precisaram saltar a cerca fronteiriça de seis metros de altura."

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Na sexta-feira (17), quase 500 migrantes já haviam entrado na Espanha pelo mesmo local. A delegação do governo contabilizou 498 migrantes que conseguiram saltar a cerca, de um total de 700 pessoas que tentaram. Na ação, dois migrantes ficaram feridos, um com fratura na perna e outro com traumatismo. Onze guardas civis também ficaram feridos quando tentavam impedir a entrada.

A invasão dessa segunda-feira ocorreu em uma zona difícil de controlar. Segundo Isabel Brasero, porta-voz da Cruz Vermelha em Ceuta, desta vez não houve feridos graves. "Levamos 11 pessoas ao hospital: oito necessitavam suturas e três radiografias", disse. Já a delegação do governo informou que dois guardas civis e um migrante ficaram feridos.

Disputa Marrocos-UE

As invasões de imigrantes ocorrem num contexto em que as relações entre o Marrocos e a União Europeia não passam por um bom momento. O país africano tem lançado ameaças de relaxamento do controle migratório. O motivo da disputa são as diferentes interpretações do acordo de livre comércio sobre os produtos agrícolas e pesqueiros.

No final de 2016, o Tribunal de Justiça da UE estimou que, no Saara Ocidental, antiga colônia espanhola controlada pelo Marrocos, esse acordo não era aplicável, tendo em conta o estatuto separado e distinto desse território em relação ao Marrocos, reconhecido pelas Nações Unidas.

Desde então, associações que apoiam o movimento que pede a independência do Saara Ocidental protestam contra várias operações comerciais entre o Marrocos e os países europeus que afetam os produtos chegados do Saara.

O ministro marroquino de Agricultura, Aziz Akhannouch, advertiu no dia 6 de fevereiro que a Europa se expunha a um "verdadeiro risco de reativação dos fluxos migratórios que o Marrocos tem conseguido conter devido a um esforço contínuo", disse.

Da Radio France Internationale

Em um domingo, Saeed, Veronica, Farida e Matin se converteram ao cristianismo. O pastor Matthias Linke, da igreja evangélica livre de Kreuzberg, em Berlim, foi quem batizou os quatro refugiados iranianos e afegãos, vestidos de branco para a ocasião.

"Vocês creem do fundo de seus corações que Jesus Cristo é o seu Senhor e Salvador e querem segui-lo pelo resto de suas vidas? Se sim, digam sim", perguntou o pastor. Todos eles responderam "Sim!", sob os aplausos dos fiéis. Em seguida, um por um, submergiram-se da cabeça aos pés em uma espécie de piscina.

"Sinto-me muito, muito feliz, me sinto... como posso explicar?", declarou Matin logo após o batismo, com a mão no coração. Foi na Grécia que este iraniano de 20 anos conheceu o cristianismo. Assim que chegou à Alemanha, entrou em contato com esta igreja.

Sua irmã, Farida, seguiu seus passos e em outubro os dois começaram a se preparar para o batismo, em alemão e farsi. Farida queria escolher sua religião "livremente" e "estava à procura de uma igreja".

"É uma razão muito importante para tornar-se cristão", diz Matthias Linke. "Na maioria dos casos (dos refugiados que se convertem), há um forte desejo de decidir por si mesmos, de forma livre e pessoal, a orientação da sua vida".

'Cada vez mais'

Muitos refugiados muçulmanos se convertem ao cristianismo na Alemanha, país que recebeu quase 900 mil demandantes de asilo em 2015. As igrejas não fornecem estatísticas, mas reconhecem que este é um fenômeno notório, senão maciço.

"Em nossa diocese, existem vários grupos de refugiados que estão se preparando para o batismo e há uma demanda crescente", diz Felix Goldinger, um padre católico de Spire, no Palatinado (sudoeste). Muitos vêm do Irã e do Afeganistão e alguns da Síria e da Eritreia.

"Atualmente sou responsável por um grupo de 20 pessoas, mas não sei quantos vão ser batizados", diz ele. Nesta diocese, a preparação dura quase um ano. "Durante este período, é importante que examinem a sua religião original, o Islã, e as razões que os levaram a querer mudar", explica Felix Goldinger.

"Ficamos felizes, obviamente, que as pessoas queiram ser batizadas, mas para nós é importante que tenham certeza e clareza de sua decisão", ressalta. Este padre observa que "muitos falam sobre o que viveram em seu país, sobre os atos terroristas cometidos em nome da religião. Eles veem no cristianismo uma religião que fala de amor e respeito à vida".

Alguns iranianos estiveram em contato com igrejas não reconhecidas no Irã - onde a conversão é proibida - e que precisaram fugir, explica Matthias Linke.

Outros conheceram cristãos durante sua peregrinagem para a Europa. Como Saeed, engenheiro aeronáutico afegão de 31 anos que viveu quatro meses na Turquia na casa de um cristão e que se interessou por sua religião. A leitura da bíblia o "ajudou nos momentos difíceis", assegura.

Desejo de integração

As igrejas reconhecem que alguns desejos de conversão são motivados por um desejo de integração ou para reforçar um pedido de asilo, pois a apostasia ou blasfêmia são crimes puníveis com penas de prisão, morte ou tortura em países muçulmanos como o Irã, Mauritânia, Arábia Saudita ou Afeganistão.

Os grupos extremistas como o Estado Islâmico consideram a conversão um pecado punível com a morte. "Há refugiados que pensam que a conversão ajudaria para que ficassem aqui, quando na verdade não é algo sistemático", diz Felix Goldinger.

"Mudaram de religião para ficar na Alemanha? É uma questão importante para as autoridades", afirma Matthias Linke, que é consultado com frequência pelo Serviço Federal de Migração e Refugiados (BAMF). "Eu não tenho nenhuma garantia. Só posso perguntar se é uma decisão de coração. Depois do batismo, a maioria deles vivem como cristãos e vem à igreja", diz ele.

Fora do templo, os convertidos tentam passar despercebidos e falam sob condição de anonimato. "Eles podem se ver em situações difíceis nos centros de refugiados, onde a maioria das pessoas são muçulmanas", explica Thomas Klammt, encarregado das questões de migração na União das Igrejas Evangélicas Livres da Alemanha (BEFG).

"Também é possível que temam por seus parentes que ficaram em seus países", ressalta. Matin permanece em contato com a sua família, especialmente com sua mãe, que "aceitou" a sua conversão. "Ela me telefona todos os domingos para perguntar se eu fui à missa", ele ri.

Eles sonham em chegar ao Reino Unido, mas os menores de idade da "Selva" de Calais transferidos para os centros de acolhida na França após o desmantelamento do acampamento de imigrantes continuam à espera de uma decisão de Londres, que parece endurecer sua postura.

Em 24 de outubro começou o desmonte deste grande acampamento ilegal situado no porto de Calais, em frente à costa britânica, onde viviam mais de 7.000 migrantes, em sua maioria afegãos, eritreus e sudaneses. Entre eles também havia 1.900 menores de idade. Todos foram expulsos em poucos dias e logo evacuados, antes de serem levados para centros de acolhida espalhados por toda a França.

Um mês depois de seu fechamento, o local onde estava a "Selva" está agora vazio e é vigiado pelas forças de segurança. A cerca de 500 metros de distância, o porto de Calais, o mais importante da França e o segundo da Europa, parece ter recuperado sua atividade normal. Desde o início de novembro, os transportadores voltaram ao porto e o tráfego aumentou em 10%. Mas a 40 quilômetros de Calais continua existindo outro acampamento, situado no povoado de Grande-Synthe.

As instalações, abertas em março pela organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) e pela Prefeitura de Grande-Synthe, que hoje tem o apoio do governo, acolhem 1.000 migrantes e às vezes têm que fazer frente a grupos de traficantes violentos. O acampamento, com capacidade para 1.500 pessoas, não tem data de fechamento e não aceita novos migrantes, mesmo que sejam mulheres ou crianças.

Critérios restritivos

Os menores de idade que estavam em Calais agora se encontram instalados em centros ao longo da França, onde esperam uma resposta a suas demandas de transferência para o Reino Unido, e que são examinadas por Londres. Segundo o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, os britânicos se comprometeram a acolher os menores isolados que estavam em Calais e os que conseguissem comprovar laços familiares.

Desde meados de outubro, 300 jovens cruzaram o Canal da Mancha, mas agora Londres endureceu seus critérios. Para poderem ser acolhidos, deverão ter 12 anos ou menos ou terem sido expostos a um alto risco de exploração sexual. No caso de sírios e sudaneses, eles devem ter 15 anos ou menos, mas poderão aceitar menores de 18 anos acompanhados de outro menor que cumpra um dos três critérios.

A esses parâmetros acrescenta-se mais uma condição: os menores devem ter chegado a Calais o mais tardar em 24 de outubro, dia que começou o desmantelamento da "Selva". Alf Dubs, deputado trabalhista da Câmara dos Lordes e impulsionador de uma emenda para acolher as crianças refugiadas, criticou esses critérios e acusou o governo de "não cumprir sua promessa (...) para acolher apenas uma parte das crianças".

Por isso, o futuro dos que vivem na "Selva" é incerto. "Existe o risco de que voltem para Calais ou fiquem em Paris", afirma Christian Salomé, da associação Auberge de Migrants, pois muitos dos que aceitaram ir para outros centros de acolhida "acreditaram que logo passariam" para o lado britânico. Um sonho que agora parece cada vez mais distante.

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