Tópicos | Darcy Ribeiro

A Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, bairro da zona sul da capital fluminense, abre ao público nesta sexta-feira (2), às 19h, o espetáculo Cartas de Darcy. A peça foi selecionada no edital 100 Anos de Darcy, lançado pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro no final do ano passado. A classificação indicativa é 12 anos.

O projeto foi idealizado pelo ator e historiador Max Oliveira, que escreveu o texto da dramaturgia e é o ator em cena. Também professor de história da rede pública de ensino a partir de 2020, dando aulas para estudantes do ensino médio no Rio de Janeiro, ele afirmou ser impossível, quando se fala do novo ensino médio integral, não se compreender o desmonte que a educação sofreu no governo passado. “O que se vê hoje é um ensino ainda mais precarizado.”

##RECOMENDA##

Para Oliveira, o antropólogo, historiador, sociólogo, escritor e político brasileiro Darcy Ribeiro toca muito pela ideia de ver a educação como saída para o Brasil.

“Darcy é uma figura que a gente quer falar, quer trazer para dialogar, porque ele é fundamental para pensar não só a educação, mas o país. Em tudo que ele pensava, a questão indígena, a desigualdade social, a educação é um ponto central”. Para Darcy, a educação é o caminho para fazer o Brasil dar certo, afirmou o ator.

Quando pensou o projeto, logo após as eleições passadas, havia “um governo muito ruim para as áreas de educação e cultura”. Max Oliveira argumentou que se Darcy estivesse vivo, teria a impressão que não existia uma luz no fim do túnel. “O que ele diria de tudo isso?”.

Essas reflexões sobre o que Darcy Ribeiro diria ao povo brasileiro constituem o ponto de partida da peça Cartas de Darcy, que terá sessões às sextas e sábados, às 19h, e domingos, às 18h. Os ingressos têm valores de R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia entrada) e podem ser comprados na plataforma Eleventickets.

Vivências

Ao mesmo tempo em que contará a trajetória do antropólogo e suas utopias, o espetáculo mescla os pensamentos de Darcy Ribeiro com vivências do próprio ator, que era criança quando teve os primeiros contatos com ele, por meio de seu pai, político filiado ao Partido Democrático Trabalhista (PDT).

“Eu acabo trazendo um pouco da minha vida para o palco, porque trabalho em cena com uma linguagem que é o teatro documentário. Ou seja, eu estou trazendo essa linguagem para ver documentos históricos, com noções de biodrama, para mostrar de que maneira o Darcy me atravessa”, disse. “Darcy é a grande figura que a gente traz para a cena.”

Oliveira considera que as ideias do antropólogo hoje “são absurdamente atuais o que, ao mesmo tempo, é muito triste, porque não era para estar tendo essas discussões ainda hoje”. Os discursos de Darcy Ribeiro sobre a formação do povo brasileiro e seus projetos para a educação no país, feitos na década de 1980, continuam necessários, na avaliação do ator. A temporada se estenderá até o dia 25 deste mês.

Darcy

Darcy Ribeiro é um dos intelectuais brasileiros mais importantes do século 20. Sua contribuição para a compreensão do que foi a formação do povo brasileiro é considerada valiosa e, sua vivência entre os indígenas produziu um conhecimento de quem esteve dentro e não distante, como costumavam ser os estudos eurocentrados.

Ele foi um antropólogo que conseguiu contribuir para o pensamento intelectual da América Latina. A educação, uma das suas maiores bandeiras, está presente em boa parte dos seus argumentos para a superação da desigualdade social no Brasil. Na avaliação da diretora da peça, Carmen Frenzel, “Darcy precisa falar novamente ao povo, Darcy precisa escrever suas cartas.”

O espetáculo Cartas de Darcy tem cenários e figurinos assinados por Oswaldo Eduardo Lioi, iluminação de Hebert Said, pesquisa da antropóloga Daphne Cordeiro e produção de Gaby Freitaz, Max Oliveira e Thiago Prado. 

 

Darcy Ribeiro completaria nesta sexta-feira 90 anos. Em homenagem ao mineiro de Montes Claros, morto em 1997, que foi professor, antropólogo, escritor, educador, político, ministro da Educação e membro da Academia Brasileira de Letras, a Biblioteca Nacional relançou ontem um projeto idealizado por ele no início da década de 1960, que acabou sendo abortado pela ditadura militar: a coleção Biblioteca Básica Brasileira (BBB).

Darcy dizia que fracassou em tudo o que tentou na vida, mas que os fracassos eram os orgulhos que tinha. Sua proposta original era lançar dez livros por ano durante uma década. Apenas o primeiro lançamento ocorreu, em 1963. Agora, numa parceria da Fundação Darcy Ribeiro com a Editora UnB e a Fundação Biblioteca Nacional (FNB), a coleção foi ampliada. Terá 150 títulos, que serão doados a 6 mil bibliotecas públicas do País. Os 900 mil livros serão distribuídos em três anos, diz FNB.

##RECOMENDA##

"Era um sonho do Darcy. Mas veio a ditadura e proibiu. Livros são subversivos, ideias levam a pensar", diz o sobrinho Paulo Ribeiro, de 53 anos, presidente da Fundação Darcy Ribeiro. Segundo Ribeiro, a ideia da biblioteca foi retomada após a construção, na UnB, do Memorial Darcy Ribeiro, desenhado pelo arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, e inaugurado em dezembro de 2010 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo presidente do Uruguai, José Mujica.

"O Darcy deu para o memorial o nome de Beijódromo. Ele dizia que era uma analogia com o Sambódromo, que ele criou. Ele não sabia sambar nem dançar, o que gostava era de beijar, por isso queria que fosse construído um Beijódromo."

Os temas da coleção foram definidos por Darcy: O Brasil e os Brasileiros, Os Cronistas da Edificação, Cultura Popular e Cultura Erudita, Estudos Brasileiros e A Criação Literária. "Nosso modelo de País era copiar o que vinha de fora. Darcy sempre foi crítico disso. Queria valorizar autores brasileiros, nossas soluções, a cultura indígena, a herança negra. Por isso a biblioteca abrange todos os ramos: formação econômica, questão histórica, filosofia, romance, poesia, etc."

O projeto tem uma segunda fase, a criação do site Cultive um Livro. Qualquer pessoa poderá se cadastrar, escolher um dos títulos da lista e sugerir seu envio gratuito a uma escola, ponto de cultura ou outra pessoa cadastrada. Nas quatro fases do projeto serão publicados e distribuídos gratuitamente 2,7 milhões de exemplares, sendo 900 mil para as bibliotecas cadastradas.

Paixão

A idealização da biblioteca foi só uma das numerosas contribuições desse intelectual que demonstrava um grande amor por seu País e sua gente. "Darcy era um homem apaixonado, antes de tudo. É impossível alguém ter passado perto dele e saído incólume. E esses seres apaixonados são muito generosos, têm a preocupação de deixar um legado para as futuras gerações", diz Irene Ferraz, sua última mulher. Foi com ela que Darcy teve a ideia de criar uma escola de cinema que refletisse a grande diversidade cultural do Brasil.

Mas o intelectual morreu em 1997, de câncer, e não chegou a ver o projeto concretizado. Após cinco anos, começariam as atividades na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, da qual Irene é fundadora e diretora, que já formou mais de 3 mil alunos em uma década.

Dentre seus inúmeros "fazimentos", como Darcy costumava dizer, estão ainda a criação do Museu do Índio, do Parque Nacional do Xingu, a fundação da Universidade de Brasília (UnB), da qual foi o primeiro reitor, e a concepção da Universidade Aberta do Brasil, de cursos de educação a distância, e da Escola Normal Superior, para formação de professores do ensino básico.

Seu legado como educador também está na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, da qual foi o mentor quando era senador, e na criação dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), as escolas de funcionamento em período integral da gestão de Leonel Brizola, implantadas na década de 1980, quando Darcy foi vice-governador do Rio. Na época, foram planejados 515 prédios para abrigar os Cieps. Hoje, há 296 em atividade no Estado, 76 em período integral.

"Quiçá ele não teria pensado: ‘Puxa vida, avançamos tanto na economia e na democracia. E ainda estamos devendo a educação para o nosso povo’", diz Irene. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando