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O ministro Celso de Mello está começando a sair do Supremo Tribunal Federal (STF), onde é juiz há quase 28 anos. É o mais antigo dos onze ministros - o decano, como se diz. "Pode ser que este seja o meu último ano aqui", disse ele ao Estado, em seu gabinete, na noite já avançada da terça-feira passada.

Se for, significa que o presidente Michel Temer, mantido no cargo, poderá indicar seu segundo ministro em 2018. "De todo modo, se não for neste ano, eu certamente não pretendo ficar até os 75", afirmou o ministro. É a idade limite para o cargo, que, aos 71 anos, só atingirá em 2021.

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"Já vou caminhando para 48 anos de serviço público (os outros 20 foram no Ministério Público de São Paulo) e está na hora de parar um pouco", complementou, na única mesa vazia de seu amplo gabinete no terceiro andar do anexo 2. As outras duas mesas estavam tomadas por processos em andamento. O acervo do decano registrava, naquela terça-feira, 3.298 processos, quarto lugar no ranking dos onze ministros (o primeiro é Ricardo Lewandowski, com 3.020; o último, para não variar, Marco Aurélio Mello, com 7.639).

O ministro tem um visível e crônico problema no quadril, com o desgaste do osso do fêmur, que o obriga a andar de bengala, se a distância é curta, ou de cadeira de rodas, se é maior, como tem feito em shoppings de São Paulo, que frequenta eventualmente com as duas filhas, ambas publicitárias.

"Estou com a mobilidade cada vez mais reduzida, e é uma dor 24 horas, todo dia", contou o paulista de Tatuí (que volta e meia aparece na conversa). "Não posso tomar anti-inflamatórios, que me fazem subir a pressão. Então tenho que tomar analgésicos comuns, que já não fazem mais efeito. Vou ter que fazer uma cirurgia, para colocar uma prótese de quadril. Já fiz uma série de exames, só falta marcar a data. Mas eu preciso fazer, ainda neste ano, porque está ficando a cada dia mais difícil."

E por que já não marcou? "A minha família me pressiona, mas eu me preocupo com o volume de serviço que tem aqui. Talvez tenha que ficar dois meses de licença. E isso vai onerar os outros ministros." Não se aborreceu, data vênia, com o comentário "é melhor parar por bem do que parar por mal". Sopesou, olhou para a bengala encostada na parede próxima, e disse: "É. Eu vou marcar".

Bengala

O decano recebeu o Estado às 19 horas da terça-feira passada - logo depois de uma cansativa sessão da Segunda Turma da Corte, começada às 14h30. É a turma que herdou o ministro Edson Fachin como o novo relator da Operação Lava Jato, substituindo o falecido Teori Zavascki, a toda hora lembrado nas sessões.

Os demais são os ministros Gilmar Mendes, que a comanda, da poltrona central, e os ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli. Celso de Mello é o vice-presidente. É visível a dificuldade que tem para ocupar o lugar de Gilmar Mendes, apenas duas cadeiras adiante, quando este se ausenta. Vai bengalando, com um assessor por perto caso precise de apoio.

Depois das sessões - sejam as da Turma, sejam as de plenário, nas quartas e quintas - o decano continua a trabalhar no gabinete, madrugada afora. Houve época em que saía às cinco, seis da manhã seguinte. "Agora, com o quadril atrapalhando, eu saio mais cedo, ali pelas duas", disse ao Estado, já perto da meia-noite. O expediente noturno é o que mais o agrada. Os assessores são chamados quando ele precisa de livros ou pesquisas, o garçom de plantão aparece volta e meia com água e café, ou coca-cola; o motorista do plantão, ou o que o serve, já sabem que é sempre o último a sair - e esperam na garagem, onde ele chega pelo elevador privativo.

Música

No gabinete, além de trabalhar (sem juízes auxiliares, que nunca quis ter), desfruta o tempo todo de uma pouco conhecida paixão: a de ouvir música. Seu acervo de canções é maior do que o processual: quatro mil delas, estima, de quase todos os gêneros, muitas verdadeiras raridades que garimpa em programa de streaming que sabe manejar com habilidade.

O som é permanente, baixo, mas bem audível, e o repertório muito variado, a depender do estado de espírito. Música clássica tem para todo gosto. MPB das antigas nem se fala. Standards americanos, jazz, sertanejos do arco da velha, conjuntos vocais inimagináveis.

Além da audição, o decano oferece, se questionado, impressionante erudição musical. Às vezes, além das músicas, ele procura áudios de discursos históricos - Churchill, Kennedy, Lênin... Conhece as circunstâncias e o contexto em que foram feitos. Acompanha os oradores - tudo com emoção, mesmo que a meia-noite já vá longe.

Mc Donald’s

O detalhe, daquela terça, é que até aquela hora tardia o ministro estava sem almoçar. Na boa. É comum que isso aconteça. Às vezes, no caminho de volta para casa, já madrugada, ele pede que o motorista pare num drive-thru do McDonald’s ainda aberto. Paga dois sanduíches - um para o próprio motorista, e outro que leva para comer em casa.

O decano é um frequente consumidor dos sanduíches da lanchonete de fast food, vício adquirido nos dois anos que morou nos Estados Unidos, 1963 e 1964, com uma família norte-americana ultraconservadora e racista. Morava lá, por exemplo, quando o presidente John Kennedy foi assassinado, episódio histórico que o marcou.

Decano do Supremo Tribunal Federal, o ministro Celso de Mello contrariou orientação do plenário e . A medida foi tomada em meio à expectativa de que a Corte volte a analisar a prisão antes do trânsito em julgado - quando se esgotam todas as possibilidades de recurso.

Em julgamento em fevereiro, por 7 votos a 4, os ministros entenderam que a pena poderia ser cumprida logo após a confirmação da sentença em segunda instância.

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A decisão do decano - ele foi voto vencido no julgamento de fevereiro - causou reação da força-tarefa da Operação Lava Jato. O procurador da República Deltan Dallagnol afirmou que a interpretação de que a execução da pena em segundo grau não é regra "pode prejudicar a realização de acordos de colaboração" premiada.

"Porque o réu passa a ver o horizonte da impunidade como algo alcançável. É uma lição básica de negociação que ninguém faz um acordo quando a existe uma alternativa melhor do que o acordo. Por que um réu vai admitir os crimes, devolver o que desviou e se submeter a uma pena se a alternativa é a impunidade?", disse Dalllagnol ao jornal O Estado de S. Paulo.

Encarado como uma forma de combater a morosidade da Justiça, o entendimento da maioria do STF tem como defensor o juiz Sérgio Moro. Na Operação Abismo, deflagrada na segunda-feira, 4, ele afirmou em seu despacho que a "corrupção se alastrou no País porque prisão não é regra". Uma das consequências do entendimento, por exemplo, é estimular que condenados, na iminência de serem presos, façam acordo de delação premiada e contribuam com as investigações.

A questão se tornou polêmica depois da divulgação de gravações de conversas do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, em maio. Num dos diálogos, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirma que o Congresso precisa aprovar uma nova lei para restabelecer as prisões somente após o trânsito em julgado. "A lei diz que não pode prender depois da segunda instância, e ele aí dá uma decisão, interpreta isso e acaba isso", disse Renan.

Para entidades e especialistas, o posicionamento do decano do STF traz insegurança jurídica.

Celso de Mello, no entanto, afirmou que a decisão do STF sobre o assunto "não se reveste de eficácia vinculante", o que significa que a jurisprudência da Corte "não se impõe à compulsória observância dos juízes e tribunais em geral".

"Em nosso sistema jurídico, ninguém pode ser despojado do direito fundamental de ser considerado inocente até que sobrevenha o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Ninguém, absolutamente ninguém, pode ser tratado como se culpado fosse antes que sobrevenha contra ele condenação penal transitada em julgado", escreveu o ministro, em decisão do dia 1.º deste mês.

Neste semestre, o STF deverá voltar ao tema para analisar a constitucionalidade da medida.

'Minoria'

O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, José Robalinho, afirmou que a posição do ministro não ajuda nem o STF nem instâncias inferiores. "Isso diminui a segurança jurídica da decisão, e ele, como decano, sabe disso. Não faz bem a ninguém quando a minoria começa a desrespeitar decisão colegiada."

Na avaliação da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a decisão não tem implicação direta no entendimento do STF sobre o caso. "O ministro tem o direito de defender sua posição, mas não seria normal se o STF mudasse de posição com tão pouco tempo", disse o presidente da entidade, João Ricardo Costa.

Claudio Langroiva Pereira, professor de Processo Penal da PUC-SP, considerou a decisão de Celso de Mello acertada ao corroborar entendimento de convenções internacionais ratificadas pelo Brasil.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), uma das autoras de ação direta de constitucionalidade que pede a revisão da decisão do Supremo, também é contrária à jurisprudência "preocupante" da Corte. A entidade prevê que a decisão vai punir acusados injustamente e desrespeitar o princípio da presunção de inocência.

O ministro Gilmar Mendes afirmou à reportagem que "continua com a mesma convicção" - ele votou com a maioria. "Uma coisa é presunção de inocência. Outra coisa é presunção de inocência de quem vem sendo envolvido sistematicamente em condenações. Tem de haver uma mitigação do conceito de presunção de inocência."

Juízes garantistas

O criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay - autor de uma ação direta de constitucionalidade que pede a revisão da decisão do Supremo de permitir a prisão definitiva antes do trânsito em julgado - considerou positiva a medida tomada pelo ministro Celso de Mello.

Responsável pela defesa de ao menos 15 políticos que são alvo da Lava Jato, Kakay protocolou a ação no Supremo Tribunal Federal por meio do Partido Ecológico Nacional (PEN). Agremiações partidárias têm legitimidade para representar na Corte.

"A grande vantagem dessa ação (de Celso de Mello) é trazer de volta essa discussão que está perpassando toda a sociedade brasileira", afirmou o advogado. "Então, nós temos juízes garantistas que têm a preocupação de manter o entendimento anterior."

Outra ação que questiona a decisão do Supremo foi proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A expectativa de Kakay é de que o STF analise as ações em meados de agosto, após o fim do recesso do Judiciário. Ele afirma que sua iniciativa não tem relação com os clientes que defende.

"Todo mundo está cansado do excesso de corrupção, daquilo que se chamava impunidade no Brasil. A discussão é a seguinte: para levar 20 ou 30 figurões da Lava Jato para cadeia na segunda instância, é preciso sacrificar um direito constitucional que estava arraigado e levar cento e tantas mil pessoas para a cadeia?" As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O decano mundial dos cineastas, Manoel de Oliveira, que, em dezembro, completou 105 anos, volta ao trabalho esta semana no Porto, sua cidade natal, para filmar um curta-metragem. "Finalmente conseguiu o financiamento que esperava há vários meses", declarou Adelaide Maria Trepa, filha do cineasta.

As filmagens do novo curta-metragem, também confirmadas pela produtora O som e a fúria, acontecerão na cidade do Porto, onde Oliveira começou nos anos 30 com o filme Douro, Faina Fluvial, um documentário mudo sobre as margens do rio Douro. O novo filme, que tem o título O Velho do Restelo, é inspirado em um personagem do poema épico Os Lusíadas, escrito no século XVI por Luís de Camões para relatar as grandes descobertas marítimas dos navegantes portugueses.

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O projeto de Manoel de Oliveira foi adiado por um contexto muito difícil para o cinema português, que sofre com os cortes orçamentários do governo para atender as exigências dos credores internacionais do país. O diretor, que tem mais de 50 longas-metragens de ficção e documentários no currículo, e que foi hospitalizado em várias ocasiões em 2012 por complicações após uma infecção, não quer ouvir falar de aposentadoria. "Está muito concentrado nas filmagens", explicou a filha.

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