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Entre os dias 17, 18, 19 e 20 de agosto, a Prefeitura de Guarulhos realizará o 16º Encontro dos Povos Indígenas, com o tema “Pertencimento, Territórios e Direitos”. 

A cerimônia de abertura acontece no dia 17, às 14h, no auditório do Paço Municipal, no Jardim Bom Clima - com a palestra “Políticas Públicas para Indígenas em Contexto Urbano”, ministrada por Lavinia Santos de Souza Oliveira. O evento contará com a presença de indígenas de diversas etnias da cidade, distribuição de mudas de plantas e uma atividade especial para os alunos da rede municipal.

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Já no dia 19, das 8h às 23h, o Espaço Multiétnico Filhos desta Terra receberá uma experiência com momentos de oração, rodas de canto e dança, com indígenas de São Paulo e outros estados. A atividade é gratuita e aberta ao público, que poderá comprar artesanato e comidas típicas.

No domingo (20), acontece a Feira dos Povos Indígenas, a partir das 9h30, na tenda verde do Bosque Maia. Haverá apresentações culturais, rituais indígenas, cantos, danças, exposição e venda de produtos artesanais; e a presença de dez etnias: Wassú Cocal, Pankararé, Pankararú, Pataxó, Tupinambá e Xucuru. 

O objetivo é promover a cultura indígena da população, que reside em Guarulhos. A iniciativa é coordenada pela Subsecretaria da Igualdade Racial, parte da Secretaria de Direitos Humanos.

O julgamento sobre reintegração de posse em fazenda ocupada pelo povo Xucuru do Ororubá, do município de Pesqueira, no Agreste de Pernambuco, realizado nesta quarta-feira (9), foi suspenso após o pedido de vista feito pelo desembargador Leonardo Resende, do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, com sede no Recife. Antes da suspensão da sessão, a desembargadora Joana Carolina Lins Pereira deu o primeiro voto favorável ao povo indígena. 

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Desembargadora Joana Pereira. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

Após o pedido de vista, o desembargador Frederico Wildson da Silva Dantas solicitou antecipação do seu voto, que foi em favor da reintegração de posse. Com o placar parcial de três votos a um contra os Xucuru, ainda restam as apreciações de outros três desembargadores para definir o que será feito em relação à Aldeia Caípe. 

A família de fazendeiros que vivia no local pede a reintegração de posse do território de 300 hectares, com base na tese do marco temporal da Constituição de 1934. O povo Xucuru, que ocupa mais de 25 mil hectares da região, demandou, em ação rescisória, que o terreno continue sendo de propriedade dos povos tradicionais, conforme determinação da demarcação feita em 1992 pelo Ministério da Justiça com a Fundação dos Povos Indígenas (Funai). 

Cerca de www.leiaja.com/noticias/2023/08/08/reintegracao-de-posse-ameaca-povo-xuc...">https://www.leiaja.com/noticias/2023/08/08/reintegracao-de-posse-ameaca-...">50 lideranças indígenas Xucuru estiveram presentes no julgamento, inclusive o cacique, Marcos Xucuru. Ao LeiaJá, o cacique afirmou sua preocupação quanto ao caminhar da ação judicial. “A gente sente que não há uma sensibilidade de alguns que estão a julgar esse processo. Por mais que muitas vezes diga que não tem lado, a gente sabe que tem aquelas pessoas que são conservadoras e que militam por uma linha. O que é mais importante é que a nação Xucuru vai continuar firme, forte, vigilante em todo o processo”, declarou o líder. 

Cacique Marcos Xucuru. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

Mais um voto contrário 

Alguns argumentos apresentados pelo desembargador Frederico Dantas foram recebidos com certo desgosto pelos que estavam presentes no julgamento. Em dado momento, Dantas afirmou que a família de fazendeiros que pede a reintegração de posse ocupava o território há 100 anos, afirmando a existência de uma ancestralidade naquela propriedade. 

“Entendemos que o território é nosso, dos nossos ancestrais, por mais que ele alegue que tem a posse, título de mais de 100 anos, e a gente tá lá há mais de 500 anos. Então, isso pra gente não é argumento para tomar uma decisão como foi tomada, um voto como esse. Porém, sigamos vigilantes e espero que o voto da desembargadora [Joana Pereira, favorável ao povo] possa sensibilizar os demais, para que possam depurar melhor o processo e os argumentos ali apresentados por ela”, afirmou Marcos Xucuru. 

Indígenas se manifestam em frente ao TRF-5. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

Com o pedido de vistas, o presidente do tribunal, Fernando Braga Damasceno, suspendeu o julgamento. “Eu creio que, como ele disse que não recebeu o material a tempo, e que precisava dar uma analisada melhor, estou torcendo e acreditando que seja para que, efetivamente ele dê uma olhada com mais critério, para que ele possa tomar uma decisão de forma coerente, com os fatos na atualidade que vivemos”, comentou o cacique. 

O desembargador Leonardo Resende, por meio do TRF-5, deverá anunciar em breve a próxima data do julgamento para dar continuidade à votação. 

 

A Prefeitura de Guarulhos anunciou o 15º Encontro dos Povos Indígenas, que ocorrerá em 19, 20, e 21 de agosto, no Espaço Multiétnico Filhos desta Terra (Cabuçu) e no Bosque Maia.

Entre as atividades previstas estão rodas de conversa, apresentação de cantos e danças indígenas, exposição e venda de artesanatos e comidas típicas. Além da realização do ritual sagrado Toré, que celebra a amizade entre aldeias distintas e realça o sentimento de grupo e de nação.

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O objetivo do evento é promover a cultura indígena da população que reside no município. A iniciativa é coordenada pela Subsecretaria da Igualdade Racial (SIR), que integra a Secretaria de Direitos Humanos.

De acordo com o censo de 2010, cerca de 1.434 indígenas vivem Guarulhos, distribuídos em 14 povos: Pankararé, Pankararú, Wassu Cocal, Tupi, Kaimbé, Guarani, Geripanko, Guajajara, Xavante, Pataxó, Tupinambá de Olivença, Xucuru, Terena e Tabajara.

Segundo o IBGE, no Brasil há uma população de quase 900 mil indígenas de 305 etnias, que falam 274 línguas. A maior concentração fica no Norte do país, com quase 306 mil indígenas.

Confira a programação do 15º Encontro dos Povos Indígenas em Guarulhos:

19 DE AGOSTO (Sexta-feira)

Local: Espaço Multiétnico Filhos Desta Terra 

Endereço: Avenida Benjamin Harris Hunnicutt, º 4.112, e rua Onze, em frente ao nº36 - Cabuçu, Guarulhos - SP

- Durante o dia haverá a recepção dos indígenas do Estado de São Paulo e de convidados e apresentação da aldeia

18h: Cerimônia de abertura na Oca Multiétnica Principal e em seguida um momento de oração com uma roda de cantorias e dança

20 DE AGOSTO (Sábado)

Local: Espaço Multiétnico Filhos Desta Terra

Endereço: Avenida Benjamin Harris Hunnicutt, º 4.112, e rua Onze, em frente ao nº36 - Cabuçu, Guarulhos - SP

8h: Recepção dos convidados

10h: Encontro na Oca Multiétnica Principal para início das atividades do dia

- Acolhimento dos convidados (indígenas e não indígenas)

- Roda de conversa “Dos encontros, lutas e resistência dos povos indígenas”, com Awá Kuaray Wera (Tupi) na Oca principal

- Apresentação de canto e dança indígena da Aldeia Multiétnica Filhos Desta Terra

- Participação do subsecretário da Igualdade Racial de Guarulhos, Anderson Guimarães

- Apresentação de canto e dança indígena da reserva

12h: Almoço e venda de comidas típicas na cozinha comunitária da oca principal

13h: Roda de conversa “A juventude tá on! Educação e cultura”, com Mateus Werá (Mbya Guarani), mediada por Beatriz Pankararu, no Espaço Pankararu

13h30: Apresentação de canto e dança indígena (Mbya Guarani)

14h: Roda de conversa “A juventude tá on! Saúde e moradia”, com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), mediada por Beatriz Pankararu, no Espaço Pankararu

14h30: Apresentação de canto e dança indígena (Pankararu)

15h: Roda de conversa “Fala Parente!” com Zé Dantas, representante do povo Kaimbé na Reserva, no Espaço Kaimbé e apresentação do povo Kaimbé

15h30: Fala Parente!: Com o cacique Alaíde Pankararé, no Terreiro Multiétnico e apresentação do povo Pankararé

16h: Fala Parente!: Com Ybyrassu Máximo Wassu, no Terreiro Multiétnico e apresentação do povo Wassu Cocal

16h30: Exposição e venda de artesanatos

- Pausa para socialização entre parentes e convidados

17h: Encontro na oca principal para encerramento das atividades do dia

DIA 21 DE AGOSTO (Domingo)

Manhã

Local: Aldeia Multiétnica Filhos Desta Terra 

Atividade: Rodas de conversa na oca principal

Tarde

Local: Bosque Maia

Endereço: Avenida Paulo Faccini, s/nº - Centro, Guarulhos - SP

13h: Roda de conversa “Dos encontros, lutas e resistência dos povos indígenas”, com Awá Kuaray Wera (Tupi)

14h: Roda de conversa “A juventude tá on!”, com Mateus Werá (Mbya Guarani) e apresentação com o povo Mbya Guarani

15h: Roda de conversa “A juventude tá on”, com Beatriz Pankararu, Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e convidados. Em seguida, apresentação do povo Pankararu

16h: Fala, Parente!: com Kamuny Kariri Xocóe Akanawá Xucuru e apresentação do povo Kariri Xocó e Xucuru Kariri

16h30: Fala, Parente!: com Ybyrassu Máximo Wassu e apresentação com o povo Wassu

17h: Fala, Parente!: Roda de conversa e apresentação do povo Pankararé

17h30: Fala, Parente!: Roda de conversa e apresentação do povo Kaimbé

18h: Encerramento com os povos indígenas

 

Lideranças indígenas de diversas etnias brasileiras fizeram um ato de protesto na Câmara dos Deputados, nesta sexta-feira (9), em defesa dos povos originários do Brasil e contra a possibilidade de mineração nos territórios dos índios, intenção anunciada pelo governo Bolsonaro.

O ato foi promovido pela Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, por ocasião do Dia Internacional dos Povos Indígenas. A frente parlamentar conta com 210 deputados e 27 senadores, sob a coordenação da deputada Joenia Wapichana (Rede-RR).

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"Há uma necessidade de o Brasil conhecer a realidade dos povos indígenas e de dizer que nós contribuímos para a sustentabilidade do planeta, para a proteção das nascentes de águas e para a cultura. E dizendo que nós indígenas temos direitos e garantias constitucionais que foram fruto de manifestações e que precisam ser protegidos", disse a deputada.

Segundo dados do Censo Demográfico de 2010, existem no Brasil mais de 800 mil indígenas, de 305 etnias diferentes, com cerca de 274 idiomas. Cerca de 98% das terras indígenas estão na Amazônia, com 60% da população de índios. É nesta região que se concentra o maior número de pedidos de pesquisa e lavra de mineração no Brasil.

Visibilidade

Joenia Wapichana, a única indígena com mandato na Câmara dos Deputados, espera ampliar o debate sobre os povos originários. "E também tentar visibilizar e sensibilizar os demais parlamentares para essa causa, que é uma causa necessária, justa, urgente e fundamental para construir um Brasil mais inclusivo, mais democrático e que realmente pondere pelas conquistas que já estão na nossa Constituição", afirmou.

Outros três deputados estavam representando seus partidos durante o ato. O deputado Túlio Gadêlha (PDT-PE) disse que apresentou projeto de lei (PL 4386/19) para garantir vagas para índios no magistério nas escolas públicas.

Por sua vez, o deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP) informou que parlamentares vão visitar na próxima semana a terra indígena Wajãpi, onde um líder dessa etnia foi assassinado recentemente.

Ameaças

Já o deputado Airton Faleiro (PT-PA) afirmou que os povos indígenas são o segmento mais ameaçado desde a instalação do novo governo em janeiro.

Essa afirmação foi reforçada pela líder indígena Sônia Guajajara, que foi candidata a vice-presidente da República nas eleições do ano passado pelo Psol. Para ela, há uma situação de desmonte dos órgãos ambientais.

Sônia Guajajara também criticou outros atos do governo, como a extinção do Ministério da Cultura e de órgãos da área de direitos humanos. "A primeira medida do governo Bolsonaro foi a Medida Provisória 870, que tentou acabar, esfacelar a Funai [Fundação Nacional do Índio]. E a gente veio pra cima, viemos lutando porque a Funai é um órgão de Estado, não é um órgão de governo, e ela precisa estar ali a serviço da promoção e da defesa dos povos indígenas", declarou.

"Nós fizemos essa luta para que a Funai se mantivesse no Ministério da Justiça com todas as suas atribuições, de demarcação, de licenciamento lá dentro, e a gente conseguiu isso. Foi uma vitória importante. Mas a outra luta é garantir esse destravamento da demarcação das terras [indígenas]", afirmou Sônia.

Em nota distribuída no ato público na Câmara, a Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas afirma que "o presidente da República, ao anunciar que não demarcaria mais nenhuma terra indígena e ao comparar os índios a animais e seus territórios a zoológicos, rompe com a Constituição Federal e a obrigação da União de proteger a vida e os bens indígenas".

O ato em defesa dos povos indígenas também contou com o apoio da Presidência de duas comissões da Câmara (a de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e a de Direitos Humanos e Minorias) e de outras duas frentes parlamentares (a Ambientalista; e a de Defesa da Democracia e dos Direitos Humanos).

*Da Agência Câmara Notícias

Foi-se o tempo em que se acreditava que os indígenas não convergiam com o ambiente tecnológico. Fugindo de estereótipos e abraçando as diferentes necessidades dos povos originários plataformas mobile, ou feitas para desktop, promovem a integração de uma população que precisa, cada vez mais, elevar sua voz para garantir seu lugar em uma sociedade que tem que reaprender a dar valor às suas pautas. Para celebrar o Dia Internacional dos Povos Indígenas e dar um pouco mais de luz à essa cultura tão rica, separamos cinco plataformas com conteúdos e soluções voltados à essa parcela de brasileiros. Confira:

Alerta Clima Indígena 

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Um dos vencedores do prêmio Desafio de Impacto Social Google 2016, o aplicativo foi pensado para solucionar a dificuldade dos povos indígenas em terem informações frequentes e de qualidade sobre os impactos das mudanças climáticas. Criado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia - IPAM, o Alerta Clima Indígena envia informações sobre focos de calor, desmatamento e risco de seca para as Terras Indígenas da Amazônia brasileira. 

Avañeʼẽ - Dicionário Guarani - Português

Como o próprio nome já diz é um app que se propõe a traduzir palavras do Guarani para o Português e vice-versa. A ferramenta ainda permite a possibilidade de incluir palavras, fazer buscas por grupo de palavras usando as iniciais da letra, além de também funcionar off-line, após a primeira vez em contato com a internet para carregar o banco de dados.

Kiriri

Kiriri ou Quiriri é um povo indígena que habita na região norte da Bahia e serviu de inspiração para a criação de um aplicativo que ensina a valorizar a água. Como a população do Quiriri é ribeirinha o app foca em ensinar sobre o uso racional do elemento e, por meio de jogos e quebra-cabeças, aborda temas como o ciclo hidrológico associado à conservação de solos.

Vídeo nas Aldeias

Saindo um pouco dos aplicativos para mobile e indo para outras plataformas online, nos deparamos com o Vídeo nas Aldeias. Funcionando como uma espécie de locadora online, onde é possível comprar e alugar produções, o site disponibiliza mais de 88 filmes resultado da formação de cineastas indígenas. Mantido por um projeto homônimo que busca a produção e difusão de seus filmes, a plataforma é uma das mais importantes, funcionando como arquivo audiovisual da realidade indígena contemporânea.

Rádio Yandê

A webrádio é, talvez, um dos projetos mais importantes de visibilidade indígena dentre todos. Feita por indígenas para a população de povos originários o veículo de comunicação traz programas informativos e educativos abordando um pouco da realidade indígena brasileira. A intenção é levar não apenas um conteúdo confiável para as aldeias, mas também desfazer antigos estereótipos e preconceitos ocasionados pela falta de informação especializada em veículos de comunicação não indígenas.

Cerca de 150 pessoas participaram nesta quinta-feira (9) de um ato no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília, contra o Parecer Normativo 001/2017, da Advocacia-Geral da União (AGU), que trata da demarcação de terras indígenas. Segundo o parecer, ratificado em julho do ano passado pelo presidente Michel Temer, em todos os processos de demarcação deverão prevalecer parâmetros considerados no caso de Raposa do Sol, em Roraima, além da tese do marco temporal, que estabelece que os povos terão direito somente às áreas que já estivessem sob sua posse em 5 de outubro de 1988, quando a Constituição Federal foi promulgada.

No protesto, programado para coincidir com o Dia Internacional dos Povos Indígenas, foi divulgada uma carta assinada pela Mobilização Nacional Indígena (MNI), coletivo que reúne mais de 120 entidades da sociedade civil. No documento, as organizações assinalam que, ao adotar o conceito de marco temporal, legaliza-se a violência à qual os povos indígenas foram submetidos antes de 1988.

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"Ignorando dados técnicos apresentados por integrantes do próprio governo que apontam que o parecer tem, de fato, paralisado as demarcações, o apelo do Ministério Público Federal que, através de documentos, demonstrou a inconstitucionalidade do parecer, e os apelos das lideranças que fizeram testemunhos sobre o aumento da violência contra as comunidades indígenas, a ministra [advogada-geral da União, Grace Mendonça] não só se recusou a discutir a revogação do Parecer 001/2017, como resolveu criar um Grupo de Trabalho (GT) para 'aprimorar' os entendimentos sobre ele, à revelia da posição das lideranças indígenas", escrevem as entidades, destacando que encaram o grupo de trabalho como uma estratégia do governo para prorrogar a vigência do parecer.

No entendimento de Antonio Carlos Alpino Bigonha, procurador da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (MPF) - Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais, o parecer revela uma posição "antiquada" e, ainda, uma perspectiva jurídica "tosca". "[O parecer] Gera uma grande insegurança jurídica para os grandes interessados, que são os indígenas, gera uma insegurança jurídica enorme para os órgãos de governo que têm interesse em atuar em prol da causa indígena e na sociedade civil como um todo, porque faz reacender antigas pretensões privadas contra o reconhecimento da posse tradicional", afirmou, durante o protesto.

Na avaliação da coordenadora do Instituto Socioambiental (ISA) Adriana Ramos, os guarani e outros povos indígenas que residem em determinadas regiões do país, como o Sul e o Centro-Oeste, têm amargado situações mais críticas após a oficialização do parecer, sendo vítimas, inclusive, de racismo e violência física. "Na medida em que o Estado sinaliza publicamente que não está respeitando a Constituição, cumprindo seu papel de proteger essas populações, deixa-as mais vulneráveis à ação daqueles que, por interesses espúrios, preferem tirar essas pessoas, na marra, da sua frente, para ocupar de forma irregular seus territórios", destacou.

A Agência Brasil procurou a AGU para que o órgão comentasse as atividades do grupo de trabalho que discute o parecer e as críticas feitas, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

Imagine a seguinte situação: é 19 de abril, Dia do Índio. Nas escolas infantis, ao redor do Brasil, as crianças estarão com os rostos pintados de tinta guache, usando cocares feitos de papel sulfite - elementos que deveriam ser entendidos enquanto cultura e não fantasia - e fazendo danças circulares numa "homenagem" aos povos originários do país, celebrados nesta data. Desde o "descobrimento" das terras, que hoje conhecemos como nação brasileira, os povos autóctones são vistos pelas lentes do estereótipo, como se fossem personagens de livros de história, presos em 1500, num misto de mitificação e romantização.  

O estudante Tarisson Nawa, de 21 anos, entende bem sobre esse senso comum arraigado na cultura brasileira. Indígena da etnia Nawa, do estado do Acre, ele é incisivo ao declarar: "Existem muitos equívocos com relação às populações indígenasque precisam ser desfeitos, desmistificados. É preciso retirar essa ideia de que o indígena para ser indígena, tem que estar na aldeia, caçando, ou nú, usando cocar e pintura. Não. Ele vive na sociedade. E por viver em sociedade a gente troca simbolicamente as nossas experiências com outros indivíduos. Isso faz com que nós possamos ressignificar nossas expressões socioculturais".

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Essa ressignificação vem acontecendo desde que os primeiros povos tiveram de deixar suas terras originais em busca de sobrevivência. Segundo dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente, 47,3% dos cerca de 900 mil índios que vivem no Brasil, moram em áreas urbanas. "Isso tudo é produto de um deslocamento, de uma saída das terras que esses povos tradicionalmente ocupavam, por terem sido expulsos. Eles buscaram na cidade melhores condições de vida. Na atualidade, onde estão esses indígenas? Eles moram nas periferias e muitos não têm espaço. Então, eles não se reconhecem e isso acaba silenciando muitas questões que deveriam ser pautadas em relação ao indígena na cidade", diz Tarisson.

As cidades, majoritariamente habitadas por não-índios, acabam por não terem um preparo para receber as populações indígenas, que consequentemente acabam passando por esse "processo de negação e silenciamento da sua identidade", como conta o estudante. Ele próprio, crescido fora da aldeia por conta do processo de deslocamento de sua família, compreendeu este mecanismo e hoje faz o caminho inverso de boa parte de seus parentes: "A minha família perdeu o vínculo com a aldeia - embora se reconheça ainda hoje. A minha intenção é retomar as práticas e expressões socioculturais do meu povo, a nossa tradição".   

Riqueza étnica

Segundo estudo realizado pelo IBGE, publicado em julho de 2016, o Brasil contabiliza 305 etnias com cerca de 274 línguas. Esses números fazem do país um dos lugares com maior diversidade sociocultural do planeta. A etnia Nawa, de Tarisson, é uma delas. Ele conta um pouco sobre o seu povo: "Nossa terra tradicional fica no município de Mâncio Lima, no estado do Acre, o município mais ocidental do país. A nossa etnia foi reconhecida pelo estado brasileiro no início deste século, lá pelos anos 2000. A gente vem de uma história de violência grande, como na maioria dos casos dos povos indígenas, de violência tanto física quanto simbólica. Fomos considerados um povo extinto. A emergência identitária, acontecida por volta de 2000, fez com que nosso povo se tornasse politizado e reconhecesse que nós somos indivíduos, sujeitos de direitos." O estudante diz que, desde o reconhecimento, há 17 anos, os Nawa estão na luta pela demarcação de suas terras: "Na formação dos seringais do Acre nós fomos expulsos da nossa terra e tivemos que morar em outros locais". Este é o mesmo problema enfrentado por tantos outros povos indígenas que vivem ao redor do país.

Indígenas na universidade

Desde 2012, a Lei de Cotas (lei 12.711), determina que as instituições de ensino superior federais devem reservar vagas para estudantes pardos, negros e indígenas vindos da rede pública de ensino. Hoje, 36 das 59 universidades federais do país oferecem algum tipo de ação afirmativa de reserva de vagas em seus processos seletivos.

Tarisson Nawa cursa jornalismo na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Para ele, ocupar este espaço vai muito além de adquirir conhecimento: "Estar na universidade é o Estado Brasileiro reconhecendo que existem sociodiversidades no país - que existem povos indígenas, negros, ciganos, várias expressões sócio-culturais - e essas expressões só têm a contribuir com esse modelo acadêmico que é pautado num conhecimento europeu que negligencia, silencia e nega o saber das populações tradicionais. Então eu, na posição de indígena, venho justamente pra tensionar esse poder ideológico dentro da universidade e inserir as demandas das populações indígenas enquanto um tema que deve ser pautado dentro dessa formação do saber". O jovem pretende seguir a vida acadêmica e fazer uso da sua posição para dar voz e vez aos seus: "No decorrer dessa minha vivência acadêmica pretendo usar meus conhecimentos na tentativa de quebrar preconceitos. Quero defender as causas dos meus parentes."

Originalmente publicado em www.unama.br

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