Tópicos | Dia Mundial da Saúde Mental

Após longos períodos de isolamento por causa da Covid-19, o retorno às atividades presenciais já é uma realidade para muitos trabalhadores que ficaram em casa na época mais crítica da pandemia. Com a retomada, no entanto, algumas pessoas têm manifestado o que se conhece como ansiedade social. O medo da contaminação e a perda da habilidade de convívio são aspectos que podem explicar, neste momento, essa questão de saúde mental. O Dia Mundial da Saúde Mental, que ocorre neste domingo (10), marca a importância de ter um olhar atento e sem estigmas para o assunto. 

“A apreensão, o desconforto, aquela sensação de evitação, é muito comum para quem está retornando. [É preocupante] quando essa ansiedade passa a ser muito intensa, a ponto de gerar reações físicas muito desagradáveis, muito intensas, que não passam a partir do primeiro contato”, explica Flávia Dalpicolo, professora do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).

Flávia, que é também psicóloga, explica que os sintomas são similares aos da ansiedade por razões diversas, como apreensão, alteração no padrão de respiração e elevação da frequência cardíaca. “Só que [está] direcionada às situações que envolvem contextos sociais, ou situações envolvendo contextos de avaliação de exposição, ou ainda as situações que envolvem um volume maior de pessoas, ou mesmo qualquer situação, mesmo que seja um contato mais íntimo, mas que exista a possibilidade de uma avaliação [externa].”

A professora acrescenta que a ansiedade social costuma ser mais frequente em pessoas que já vivenciaram situações na história de vida em que foi exposta ou ridicularizada, como casos de bullying, ou que têm habilidades sociais deficitárias, como timidez ou introversão.

“Agora, por conta da pandemia, com o retorno das atividades presenciais, os contextos sociais ficaram muito marcados como perigosos, aversivos. Tem sido bastante frequente que pessoas que nunca vivenciaram sentimentos de ansiedade diante de encontros sociais ou de um volume maior de pessoas se sentirem ameaçadas. Sentirem que ali pode ser uma situação de potencial risco, e aí, a partir disso, desencadeiam-se reações de ansiedade”, afirma.

Retomada das aulas

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A professora Sílvia Almeida, de 56 anos, conseguiu cumprir a maior parte das atividades remotas com seus alunos na pandemia. Em poucos momentos, precisou estar presencialmente na escola, desde o início das restrições por causa do novo coronavírus. Nesse período, ela conciliou as aulas de educação física  na tela do computador com os cuidados com a mãe e o tio, já idosos.

Com o retorno das aulas, no entanto, sem entender ao certo o que se passava, Sílvia encarou um processo rápido de adoecimento: tontura, taquicardia, fraqueza, dores musculares e crises agudas de fibromialgia. A filha percebeu a necessidade de uma ajuda psiquiátrica e, após 20 dias de medicação antidepressiva e de psicoterapia, a professora começou a melhorar.

“Em alguns casos em que os sintomas estão muito intensos, a gente precisa da avaliação psiquiátrica somada à psicoterapia justamente para diminuir a presença desses sintomas”, explica Flávia Dalpicolo. A psicóloga acrescenta que, em casos não patológicos, a orientação é a exposição gradual. “A gente não precisa enfrentar tudo de uma vez, pode ser gradualmente, mas a exposição, o enfrentamento desses contextos, é o que nos permite desenvolver repertório, habilidade, para lidar com esse novo normal.”

 

Com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para a questão da saúde mental e combater o preconceito relacionado à saúde psicológica, a Federação Mundial de Saúde Mental instituiu o dia 10 de outubro como o Dia Mundial da Saúde Mental, em 1992. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada quarenta segundos, uma pessoa morre por suicídio. No Brasil, 9,3 % da população convive com o transtorno de ansiedade.

Diante destes fatos, o professor de redação Diogo Didier, acredita que saúde mental pode ser tema da redação da edição 2019 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).  “É uma discussão super interessante e o mais esperado é que caia algo ligado ao suicídio, pela questão do viés juvenil, além da depressão, que é um mal que acomete a sociedade. Já a ansiedade, pode cair também como um outro ponto correlato.”, explica o docente.

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De acordo com Felipe Rodrigues, professor de linguagens e redação, na presença desse tema na prova, é muito importante que, primeiramente, o aluno tenha consciência dos problemas e das consequências trazidas pelas doenças relacionadas à saúde mental. “A depressão, por exemplo, é uma doença que pode levar o indivíduo a uma consequência drástica, que é a morte”, declara o docente.

A estrutura da redação

Para uma boa introdução, Didier conta que o ideal é que o aluno comece como, em suas palavras, "o Enem gosta": com uma alusão histórica. “Para não ficar tão comum, o fera pode ligar história e literatura em um único enunciado ao citar, por exemplo, a segunda geração do romantismo e o byronismo, que está ligado ao mal do século”, explica.

“Na argumentação é importante que o aluno fale sobre determinados problemas relacionados à saúde mental, mas que foque em apenas um, para não fugir do seu argumento”, declara Rodrigues sobre como o fera deve realizar o desenvolvimento da redação, além de alertar sobre a importância dele não deixar de falar sobre o Sistema Público de Saúde (SUS). 

Segundo Diogo Didier, a argumentação é a parte que mais interessa para a banca, já que é nela que o candidato mostra seus conhecimentos para o corretor. Por isso, ele deve ser inovador. “Colocar estudos ligados à análise do suicídio, depressão e ansiedade é uma boa alternativa, além de citar obras literárias também.”, comenta.

Já sobre a proposta de intervenção, o professor Felipe Rodrigues conta que é o ideal é que ela esteja presente na conclusão, para que, assim, não tome o espaço da argumentação. No entanto, ressalta que o estudante não pode esquecer a estrutura do texto. “É importante que o aluno fale sobre criar uma proposta de intervenção em que o assunto seja trabalhado dentro do ambiente escolar, com oficinas e gincanas, por exemplo, mas ele também não pode esquecer que precisa fechar a conclusão dos problemas que já foram pontuados.”, esclarece.

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