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Nesta semana, completam-se 45 anos desde que "Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976) chegou aos cinemas brasileiros. O filme é inspirado na obra literária de mesmo nome escrita por Jorge Amado (1912 – 2001) e conta a história de uma viúva (Sônia Braga) que se casa com um farmacêutico (Mauro Mendonça), mas ainda assim, não consegue esquecer seu ex-marido, o falecido Vadinho (José Wilker). Vale lembrar que o filme de Bruno Barreto é um marco da cultura audiovisual brasileira e durante 34 anos foi o longa-metragem mais assistido nos cinemas brasileiros, posto que foi tomado por “Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro” (2010).

De acordo com o historiador e cineasta Pierre Grangeiro, o período que o Brasil vivia foi um dos fatores que levaram “Dona Flor e Seus Dois Maridos” a se tornar um clássico. “Foi um fenômeno, muito por conta da questão sócio-política da época. Em 1976 houve a morte de Juscelino Kubitschek [1902 – 1976], e foi um período de grande comoção popular. As pessoas queriam algo que as fizessem sorrir, que os fizessem entreter de maneira envolvente, que não falasse de política, e falasse mais sobre a questão popular e cultural brasileira”, contextualiza.

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Junte-se a isso a composição artística do filme, que também foi um dos trunfos da obra, principalmente na junção dos trabalhos de direção de Bruno Barreto ao texto de Jorge Amado. Segundo Grangeiro, ainda que houvessem grande novelas brasileiras baseadas em obras de Jorge Amado como “Gabriela” (1975) e “Tieta” (1989), elas não conseguiram captar a essência do universo do autor de maneira tão profunda e tão forte quanto “Dona Flor e Seus Dois Maridos” e muito disso se deve ao elenco principal.

Para o cineasta, os atores foram fundamentais para o sucesso do filme. “Sônia Braga é popular, bonita e sensual, que transmite essa imagem da mulher brasileira. É muito talentosa, e nós vimos isso nos últimos filmes que ela fez décadas depois como ‘Aquarius’ [2016] e ‘Bacurau’ [2019]”. Além dela, a presença de Mauro Mendonça foi essencial para retratar um personagem mais certinho e dentro 'da caixa', enquanto José Wilker (1944-2014) traz uma interpretação de um homem mais mulherengo, malandro e muito sedutor. “A química entre eles é extraordinária e impressionante”, analisa.

Toda grande obra cinematográfica possui também elementos secundários, indispensáveis na composição do todo, e com “Dona Flor e Seus Dois Maridos” não é diferente. Segundo Grangeiro, a trilha sonora e a direção de arte são responsáveis por trazer uma ambientação mais crível de uma Bahia na década de 1940, em pleno Carnaval. “Parece que você entra naquele universo. É um filme que funciona em todos os aspectos, não apenas como uma comédia, mas também com um pouco de drama e um pouco de erotismo. É um filme muito cultural, que mostra a cultura baiana, desde o acarajé até o samba”, expõe.

Influência na dramaturgia brasileira

 “Dona Flor e Seus Maridos” passou a ter grande influência em obras que estavam por vir, não apenas filmes, mas também novelas. “É uma obra que marca o cinema brasileiro. Foi, e ainda é extremamente relevante e atual. Ele não envelheceu nada, até hoje pode-se assistir com família e amigos e se divertir da mesma forma”. Além disso, a obra de Bruno Barreto conseguiu trazer um novo significado ao cinema e ao audiovisual brasileiro.

Devido a sua grandeza, acabou por influenciar outras obras nacionais audiovisuais posteriores, como “Cidade Baixa” (2005) e “Ó Paí, Ó” (2007), estrelado por Lázaro Ramos. “Enquanto um retrata uma Bahia um pouco mais realista, mostrando a realidade de um submundo, o outro apresenta uma Bahia mais humorística, com axé, dança e capoeira”. Por essas e por outras, Grangeiro afirma que “Dona Flor e Seus Dois Maridos” é um dos pontos altos do cinema brasileiro e está no topo entre melhores, assim como “O Bandido Da Luz Vermelha” (1968), “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964) e “Cidade de Deus” (2002).

 

 

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