Tópicos | ensino online

Durante o período de isolamento social devido ao surto causado pelo novo coronavírus (Covid 19), o roteiro profissional dos educadores foi alterado. Para transmitir o conteúdo das aulas aos estudantes, muitos professores enfrentam dificuldades com a adaptação ao modelo de ensino a distância (EaD). Além da falta de estrutura para lecionar em casa, a falta de prática com equipamentos tecnológicos pode fazer com que o ensino essencial não chegue aos alunos como os mestres assim desejam.

Outro aspecto observado por alguns educadores não é relacionado apenas à distância imposta pelo período pandêmico. Para a pedagoga Eliana Soares, 51 anos, o afastamento dos alunos pode interferir em questões identificadas apenas de modo presencial. "Além de transmitir conhecimento, às vezes, fazemos o papel de mãe e pai. A distância nos permite usar a tecnologia, mas nos afasta emocionalmente, e essa é minha preocupação", comenta.

##RECOMENDA##

As educadoras Eliana Soares (á esq.) e Rita Panzolini | Foto: arquivo pessoal

Professora há 12 anos em um colégio particular na cidade de Santo André (SP), Eliana não esconde a frustração com o momento, mas afirma que tem se dedicado ao novo método. "Preparo todas as aulas com muito carinho, passo horas para gravar os videos e estar presente na vida dos meus alunos, mesmo que seja a distância", declara.

Já para a professora de ciências Graziella Colucci, 49 anos, um dos grandes empecilhos da educação a distância é a ausência da participação dos estudantes em aulas e atividades. "Tenho aproximadamente 150 alunos, e recebi cerca de 30 atividades. Em uma das salas com 28 alunos, apenas sete fizeram", lamenta. Atuante no ensino municipal de São Caetano do Sul (SP), ela afirma ter respaldo estrutural do poder público, mas entende que o problema possa estar relacionado à questão social e disciplinar dos aprendizes. "Além de serem muito jovens e não terem desenvolvido o empenho necessário para o EAD, as famílias têm dificuldades particulares que impedem o bom andamento", complementa.

A professora Graziella Colucci durante uma aula de ciências | Foto: arquivo pessoal

Profisisonal da rede privada de ensino, o professor de geografia Andre Rubinho, 46 anos, não sentiu dificuldade com o uso da tecnologia em suas aulas. Segundo ele, a formação como jornalista colaborou para sua adaptação. "O colégio disponibilizou um treinamento na ferramenta Zoom que foi rápido, mas bem produtivo", considera. Para Rubinho, os alunos estão preparados com recursos da modernidade, mas o que o preocupa são os demais colegas de trabalho. "Acredito que 80% deles estejam enfrentando dificuldades por não conhecerem todas as ferramentas e equipamentos, pois não são todos que podem ter recurso de ponta que permita a realização do trabalho", comenta.

Ainda segundo Rubinho, o módulo EaD também requer mais tempo de trabalho na rotina dos professores. Para elaborar um material que prenda a atenção do aluno, o profissional tem dobrado a jornada. "Fico a tarde inteira fazendo aula para apresentar aos alunos pela manhã. Descanso um pouco depois do almoço e volto a preparar conteúdo do dia seguinte", detalha. Apesar do volume maior de trabalho, ele está satisfeito com o rendimento dos alunos. "A adesão deles foi muito rápida. Na mesma semana, todos estavam adaptados", complementa.

O professor de geografia André Rubinho | Foto: arquivo pessoal

A preocupação do professor é ainda maior com o abismo social que pode se aprofundar mais após a pandemia. Para Rubinho, os colégios particulares saíram na frente, mas o poder público demorou para se adaptar à educação no isolamento social. "No colégio em que dou aula ninguém reclamou por não ter celular, internet, notebook, mas não dá para exigir dos pais de alunos de escola pública que tenham a mesma estrutura que os do ensino privado", afirma. "É mais uma mostra de aumento da desigualdade social e nunca evoluiremos como nação sem combater a desigualdade", finaliza.

Em escolas públicas de todo o país, a falta de estrutura para a oferta de aulas online é uma preocupação de gestores educacionais. Em nota, a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) sugere que, caso as atividades a distância sejam adotadas, em um primeiro momento elas sejam complementares e não substituam ainda, no calendário escolar, as aulas presenciais.   

No Brasil, há suspensão de aulas em todos os estados. Milhares de estudantes e professores estão em casa para evitar a propagação do novo coronavírus, vírus causador da doença covid-19. Nesse contexto, as aulas online surgem como alternativa para que os estudantes não percam o ritmo de estudos no período de isolamento social. 

##RECOMENDA##

Ainda não há uma orientação nacional sobre como as escolas podem proceder neste momento. Os Conselhos de Educação do Distrito Federal e do estado de São Paulo, por exemplo, se adiantaram e definiram regras para essa oferta. A Undime, para evitar que os estudantes recebam diferentes formações em todo o país, defende uma orientação única. 

“A falta de unicidade na tomada de decisões além de poder aumentar as desigualdades, pode gerar a instituição de diferentes formas de funcionamento de unidades de ensino dentro de uma mesma rede, que passaria a ter vários calendários, dificultando a gestão da rede e as ações de formação, acompanhamento e avaliação de suas unidades”, diz em nota.  

Fase de avaliação

A Undime defende que, em um primeiro momento, as aulas online sejam apenas complementares. Essa primeira fase deve ser monitorada e avaliada, por meio de indicadores, para verificar se de fato os estudantes tiveram acesso às aulas e se elas foram eficazes para o aprendizado. Então, dependendo dos resultados, as aulas passariam a contar oficialmente no calendário, ou não. 

De acordo com os gestores municipais, esses cuidados são necessários, entre outros motivos, porque nem todos os municípios possuem estrutura de tecnologia para oferta de educação a distância (EaD), nem todas as famílias possuem recursos para garantir a participação dos filhos nessas aulas e nem todos os professores têm a formação adequada para dar aulas nessa modalidade. 

Por lei, as escolas devem cumprir um calendário no ano de 200 dias letivos. Em nota, divulgada nessa quarta-feira (25), o Ministério da Educação (MEC) diz que conjuntamente com estados e municípios, “ainda estuda como flexibilizar o ensino no momento em que a maioria das escolas está sem aulas, o que inclui ainda a carga horária máxima de ensino a distância que as escolas públicas poderão utilizar”.

Opções de ensino

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2017, cerca de 75% dos lares brasileiros contavam com acesso a internet. Na área urbana, esse percentual é de cerca de 80% e, na rural, é menor, cerca de 40%. A principal forma de acesso é pelo celular. Em todo o país, 97% das pessoas acessavam a internet pelo celular, enquanto 57%, por computador.  

“Trabalhar com educação a distância vai pedir criatividade e o uso de exercícios que possam ser feitos por computadores, celulares. A TV aberta também vai ser grande aliada nesse momento”, diz a coordenadora de implementação regional do Itaú Social, Claudia Petri. 

Segundo ela, para que o ensino a distância funcione, uma dica é as escolas seguirem com as reuniões de professores, mesmo virtualmente. É importante que coordenadores orientem os professores e que os próprios professores que lecionam para anos e disciplinas semelhantes troquem experiências e pensem em atividades para os alunos e para as famílias desenvolverem com os alunos. “Todas as redes de ensino têm um horário coletivo semanal, importante que isso permaneça, que se crie um grupo por WhatsApp, ou outra rede coletiva”. 

As famílias, de acordo com Claudia podem também, na medida do possível, criar rotinas para as crianças e jovens em casa, para que eles permaneçam estudando, sejam por dispositivos eletrônicos, por livros ou exercícios.

Estados e municípios

Para ajudar as escolas públicas, a Undime e o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), que representam os dirigentes municipais e os secretários estaduais de educação, respectivamente, criaram um grupo de trabalho para apoiar o planejamento das redes de ensino na oferta emergencial de atividades educativas complementares. 

O objetivo, de acordo com as entidades, é elaborar e oferecer, gratuitamente, metodologias e materiais práticos para uso das Secretarias de Educação, que considerem as especificidades e a realidade de cada lugar. Até esta quinta-feira (26), eles coletam dados das redes por meio de uma pesquisa online.  

No Brasil, há suspensão de aulas em todos os estados. Os gestores educacionais, em nota pública, defendem a manutenção da suspensão das aulas. “Precisamos garantir o direito à vida, para termos um processo educativo com vidas saudáveis no futuro”, diz o documento. 

A medida não é exclusiva do Brasil, no mundo, de acordo com os últimos dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que monitora os impactos da pandemia na educação, 156 países determinaram o fechamento de escolas e universidades, afetando 1,4 bilhão de crianças e jovens, o que corresponde a 82,5% de todos os estudantes no mundo. 

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando