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O epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), afirmou nesta quinta-feira (24) à CPI da Covid que um recorte étnico apresentado através dos resultados do Epicovid-19 foi censurado em evento no Palácio do Planalto, em junho de 2020. Na apresentação, seria exibido o alto grau de contágio dos indígenas do país, além do índice de mortalidade nessa população, junta à população negra (considerando pretos e pardos), e à população pobre. O slide foi retirado arbitrariamente do material. Segundo Hallal, a atitude pode ter sido do ex-secretário-executivo Elcio Franco.

Hallal coordenou o Epicovid, programa financiado pelo Ministério da Saúde que tinha como meta monitorar o avanço do novo coronavírus no Brasil. O projeto foi a campo entre maio e junho do ano passado, e acompanhou moradores de 133 cidades. Segundo artigo publicado na revista científica The Lancet, considerando os 300 melhores projetos ativos de acompanhamento, o Epicovid ficou entre os oito que atingiram nota máxima, sendo o estudo de maior credibilidade em vigor no país, à época.

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Sem aviso prévio ou justificativa técnica, o Ministério da Saúde decidiu descontinuar o monitoramento. Desde junho do ano passado até março de 2021, o Brasil ficou sem esse tipo de mapeamento epidemiológico.

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O epidemiologista contou que o estudo descobriu que o número de indígenas infectados em junho de 2020 era cinco vezes maior do que a quantidade de infectados na população branca. "Pegando a fase 3 do estudo, [vimos que] 7,8% dos índios já tinham tido contato com o vírus, e entre os brancos esse percentual era 1,7%. Esse abismo de diferença foi o que o Epicovid mostrou", disse Hallal.

"Esse slide que apresentava a diferença entre os grupos étnicos foi censurado na coletiva de imprensa do Palácio do Planalto na qual apresentei os resultados dessa pesquisa. Faltando 15 minutos, fui avisado pela assessoria de comunicação do Planalto de que o slide tinha sido retirado da apresentação”, continuou o professor da Ufpel.

Questionado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) se sabia dizer de quem partiu a censura, Hallal respondeu que não poderia ter certeza que a ordem tenha saído de pessoas do evento ou de uma autoridade superior.

"Mas quem estava lidando com a questão da coletiva e participou dela foi o secretário executivo do ministério à época, Elcio Franco, que acho que até esteve aqui na CPI. Então, antes que se tenha outra informação, foi dele a decisão de que aquele slide mostrando a desigualdade étnico-racial não poderia ser apresentada no Palácio do Planalto".

A CPI da Covid ouve nesta quinta-feira (24) o epidemiologista, pesquisador e professor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Pedro Hallal. O especialista é coordenador do estudo Epicovid-19, que estuda a incidência do coronavírus no Estado, e que foi descontinuado ainda em 2020, após intervenção do Ministério da Saúde. Durante o testemunho, dado na condição de convidado, Hallal mostrou dados obtidos através da pesquisa e que mostram que o Brasil poderia ter poupado quatro em cada cinco das mortes ocorridas por Covid nacionalmente. O número também pode ser lido da seguinte forma: 400 mil mortes evitadas, se o país tivesse conseguido, ao menos, entrar para a média mundial.

“O número de casos não é uma estimativa confiável. O Epicovid mostrou que haviam seis vezes mais casos do que o número oficial. A política de testagem é o que determina o número de casos. Isso é usado no mundo todo. Não há artigos científicos comparando a taxa de letalidade em localidades, mas a taxa de mortalidade. O Brasil tem 2,7% da população mundial e desde o começo da pandemia concentra cerca de 13% das mortes de Covid no mundo. Uma em cada três mortes por Covid foi no mundo foi no Brasil. Quatro em cada cinco mortes por Covid no Brasil estão em excesso, considerando o tamanho da população. Morreram 2.345 pessoas para cada um milhão de habitantes. Se estivéssemos na média mundial, teríamos poupado 400 mil vidas”, informou Hallal, enquanto exibia slides apresentando os dados.

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As mortes em excesso, segundo explicou a outra depoente, Jurema Werneck, executiva da Anistia Internacional, pertencem ao conceito de excesso que foge ao padrão considerado normal de mortalidade no país. Na presença de um evento mais grave na pandemia, há uma fuga dessa curva. O excesso mencionado foi calculado somente contemplando as primeiras 52 semanas epidemiológicas. Ele considera pessoas que morreram por Covid-19, diretamente, e por outras doenças naturais e estados mórbidos, não contabilizando mortes por outras razões, como violência, acidentes ou suicídios.

O cientista também mencionou “sete pecados capitais” na condução da pandemia por parte do Governo Federal. São eles a pouca testagem e rastreamento de contágio e isolamento; a demora para comprar vacinas e o desestímulo à vacinação; gestão de tratamento ineficaz; ausência de liderança do Ministério e de um comitê de crise; o desincentivo ao uso de máscara; abordagem clínica versus epidemiológica; falta de comunicação unificada.

Sobre os dois últimos, o pesquisador se estende. “A abordagem clínica foi usada para curar cada pessoa acometida pelo vírus, para comprar respiradores, garantir kit intubação e ampliar leitos, mas a pandemia precisa ser vencida, é preciso cessar o alcance do vírus. Faltou comunicação unificada, estimulando a população a usar máscaras e se proteger, o que não foi feito”, explicou o coordenador do Epicovid. Hallal acredita que a postura anti-ciência do Governo Federal foi decisiva para os resultados ruins da gestão.

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