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Marcelo Xavier, ex-presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), será ouvido pela CPI das ONGs em depoimento agendado para terça-feira (10), às 10h. Na ocasião, ele deverá prestar informações ao colegiado sobre a atuação de organizações não-governamentais (ONGs) e organizações da sociedade civil de interesse público (Oscips) na região amazônica. Xavier é delegado da Polícia Federal e presidiu a Funai entre 2019 e 2022.

O autor do requerimento de convite e relator da CPI, senador Marcio Bittar (União-AC), chamou atenção para o foco de muitas dessas organizações na questão dos povos indígenas. Ele acredita que o depoimento do ex-presidente da Funai poderá ajudar a “entender de que forma essas entidades paraestatais influenciam na formulação de políticas públicas para o setor, bem como a participação delas na execução dos programas voltados para os povos indígenas”.

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Objetivos 

Instalada em 14 de junho, a comissão parlamentar de inquérito tem o objetivo de investigar as atividades de organizações não governamentais financiadas com dinheiro público na região da Amazônia entre os anos 2002 e 2023. Ela deverá concluir seus trabalhos até o dia 23 de outubro, equivalente a 130 dias (pouco mais de quatro meses) a partir da sua instalação. O senador Plínio Valério (PSDB-AM) preside o colegiado.

*Da Agência Senado

Nesta terça-feira (5), é celebrado o Dia Internacional da Mulher Indígena, data que relembra a história de Bartolina Sisa, uma mulher da etnia aimara que encabeçou revoltas contra o domínio colonizador na América Latina. Sendo assim, o LeiaJá trouxe uma lista com cinco personalidades femininas indígenas que são reconhecidas no país devido a legitimidade de suas lutas.

Sonia Guajajara

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Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Ministra dos Povos Indígenas da gestão Lula (PT), é reconhecida internacionalmente pela luta em defesa dos direitos dos povos originários, seus territórios e causas socioambientais. Ela é graduada em letras e enfermagem, além dos cursos, a maranhense é pós-graduada em educação especial. Em 2022, foi eleita uma das 100 pessoas mais influentes do ano pela revista norte-americana Time.

A ministra fez parte da Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (Coapima), da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e atuou como coordenadora executiva da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil).

Joenia Wapichana

Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Atual presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia atua há décadas em defesa do seu povo. Em 2008, ela conseguiu o feito de ter sido a primeira advogada indígena da história do país a se pronunciar no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) durante a homologação que definiu os limites contínuos da Reserva Raposa Serra do Sol, localizada no estado de Roraima.

Em 2010, ela ganhou o Título de Ordem de Mérito Cultural, concedido pelo Ministério da Cultura. Três anos após esse reconhecimento, ela se tornou a primeira presidente da Comissão Nacional de Direitos dos Povos Indígenas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Em 2018, Joenia recebeu um Prêmio da Organização das Nações Unidas (ONU) por suas conquistas em direitos humanos. O mesmo prêmio já teve como vencedores o líder africano Nelson Mandela, Martin Luther King, Malala Yousafzai, as organizações Anistia Internacional e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Célia Xakriabá

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

A parlamentar mestra em desenvolvimento sustentável e doutoranda em antropologia, foi eleita em outubro de 2022 como a primeira deputada federal indígena pelo estado de Minas Gerais, alcançando 101.154 votos da população.

O seu mandato defende a demarcação dos territórios indígenas, titulação dos quilombos, reconhecimento de profissionais indígenas e quilombolas da educação e reforma agrária e urbana.

Em março deste ano, a mineira foi eleita presidente da Comissão da Amazônia e Povos Originários da Câmara dos Deputados, sendo considerada a primeira indígena a assumir a presidência de uma comissão no Congresso Nacional.

Ela assumiu o posto afirmando que o colegiado não iria se limitar aos temas da Amazônia, mas que também contribuiria para a qualidade de vida dos povos tradicionais de todo território nacional, como quilombolas e ribeirinhos em situação de vulnerabilidade.

Txai Suruí

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Única brasileira a discursar na abertura oficial da Conferência da Cúpula do Clima (COP26) em 2021, Walelasoetxeige Suruí, ou Txai Suruí, foi a primeira do povo Suruí a cursar a graduação de direito em uma universidade pública. Ela também é fundadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia.

Nos últimos anos, Txai vem participando de vários manifestos em defesa dos povos originários do país. À frente do seu grupo, a jovem já liderou atos contrários as políticas ambientais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a sua gestão (2019-2022), e fez questão de denunciar o avanço da agropecuária sobre a terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau em Rondônia.

Alice Pataxó

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Considerada em 2022 como uma das 100 mulheres mais influentes e inspiradoras do ano, segundo a BBC, a ativista do clima e jornalista Alice Pataxó tem se destacado pela defesa da demarcação do território indígena.

Natural da etnia Pataxó, na Bahia, é conhecida por ter denunciado a JBS, empresa considerada a maior produtora de carne do mundo. Ela afirma que a JBS realiza atividades relacionadas às produções dentro de territórios indígenas, ou seja, trabalhando de forma ilegal.

A jovem liderança leva na bagagem também informações de vários territórios indígenas do território nacional, a fim de denunciar as violações e violências que têm ocorrido no Brasil contra os povos, e como essas relações políticas contribuem para o genocídio dos povos originários.

 

A CPI das ONGs aprovou nesta terça-feira (29) um pedido do presidente da comissão, senador Plínio Valério (PSDB-AM), para que a presidente da Funai, Joenia Wapichana, preste esclarecimentos sobre a presença de visitantes estrangeiros em terras sob jurisdição da fundação. Deve ser encaminhada à CPI documentação sobre ingresso e circulação em territórios, reservas, parques indígenas, colônias agrícolas indígenas e territórios federais indígenas, assim como em reservas extrativistas, quando sob jurisdição da Funai.

Para Plínio, muitas vezes os visitantes estrangeiros acabam tendo mais facilidade de circulação nas terras indígenas do que cidadãos brasileiros, mesmo autoridades. Ele reclama que mesmo a CPI das ONGs, em diligência recente, foi submetida a averiguação rigorosa para que pudesse fazer a diligência. 

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"Para penetrar nesses territórios, a Funai exige documentos como passaportes, vistos, comprovação de vacinação e planos de trabalho. Como aconteceu com os integrantes da CPI, exercendo portanto controle sobre os visitantes. Queremos a listagem dos visitantes estrangeiros autorizados formalmente nesses territórios, com as informações que levaram à aceitação da permanência", pede o senador no requerimento aprovado.

Plínio Valério acrescenta que a CPI teria informações sobre o ingresso nessas terras e permanência de estrangeiros que se apresentam como cientistas, religiosos, funcionários de entidades assistenciais e etc. "Há, por exemplo, um elevado número de canadenses que circulam em áreas indígenas no norte do Amazonas", diz. 

Também a pedido do senador, foi aprovada uma oitiva com Virgílio Viana, controlador da ONG Fundação Amazônia Sustentável. Valério quer que Viana esclareça melhor como a ONG usa recursos públicos e de origem externa que recebe.

"Em depoimentos e documentação apresentada à CPI, há diversas menções à Fundação Amazônia Sustentável sobre o uso de recursos públicos recebidos. Assim como recursos de origem externa, é preciso informações sobre a origem, legalidade e destinação. Com especial interesse na prestação de contas dos anos de 2017 e 2018", pede. A data da oitiva ainda será definida.

Além da Fundação Amazônia Sustentável, também foram aprovadas oitivas com diretores do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), da Fundação Almerinda Malaquias, da Fundação Vitória Amazônica e do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE). As datas desses depoimentos também serão definidas posteriormente.  Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado) 

*Da Agência Senado

Um helicóptero que saiu de uma base aérea no Parque do Tumucumaque, no Pará, nesta quarta-feira (16), está desaparecido há mais de 24h. Na aeronave estavam três pessoas: o piloto, um mecânico e um servidor da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

Segundo informações do comandante do Grupo Tático Aéreo (GTA), Comandante Pinon, a aeronave levantou voo por volta de 11h com destino a Macapá. Estava previsto que os passageiros chegassem na capital amapaense às 14h do mesmo dia.

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O comandante informou também que as condições climáticas podem ter contribuído para problemas técnicos durante o voo. A aeronave, modelo colibri, é alugada pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI).

A secretária do Dsei Amapá e Norte do Pará, Simone Karipuna, solicitou apoio ao Comando da Força Aérea Brasileira (FAB) para as buscas da aeronave.

Em nota, a Secretaria de Saúde Indígena do Ministério da Saúde comunicou que até o momento "não há informações relativas" sobre o helicóptero e seus passageiros. Além disso, afirmou que a equipe presente na aeronave "fazia inspeção de pistas de pouso na região do Parque do Tumucumaque, lado leste Rio Paru D'Este".

A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quarta-feira, 28, em Mato Grosso, a Operação Sangradouro contra uma quadrilha apontada como responsável por fraudes previdenciárias em aposentadorias ilegais de indígenas. Segundo os investigadores, foram identificados 552 indígenas que se aposentaram no Estado com uso de documentos frios.

A corporação estima que a ofensiva evitou um prejuízo de R$ 260 milhões, considerando a suspensão de pagamentos relativos aos benefícios fraudados. O dano já causado aos cofres públicos é de R$ 64 milhões.

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A PF indica que o grupo era composto de "servidores da Funai, cartorários, proprietários de correspondentes bancários e lideranças indígenas locais". "A organização criminosa contava com a conivência de centenas de pessoas que obtiveram documentos falsos, a partir da adulteração de informações de identificação, em especial a data de nascimento, a fim de requerer aposentadorias por idade ilegais", informa a PF.

Agentes prenderam temporariamente um investigado e vasculharam 16 endereços em Barra do Garças, Primavera do Leste, Poxoréu e Cuiabá. Também foram decretadas duas ordens de afastamento temporário das funções públicas, uma contra um servidor da Funai e outra contra um tabelião.

A ofensiva mira supostos crimes de falsificação de documentos, estelionato previdenciário, formação de quadrilha e inserção de dados falsos em sistema de informação do governo.

Segundo a PF, a fraude tinha início com a expedição de documentos com dados falsos por parte de servidores da Funai. O Registro Administrativo de Nascimento de Indígenas (RANI) e a Certidão de Exercício de Atividade Rural contêm dados alterados, segundo a PF - "em especial a idade dos indígenas, para simular o atendimento da idade mínima para aposentadoria por idade rural: 60 anos para homem e 55 anos para mulher".

Com os documentos, os beneficiários do esquema faziam o registro de nascimento tardio no cartório, emitindo certidões de nascimento que depois eram usadas para a requisição de CPF e RG. Em seguida, eles iam até a agência do INSS para pedir aposentadoria por idade.

De acordo com os investigadores, os documentos sob suspeita eram, em geral, emitidos em intervalos curtos, meses antes da apresentação do requerimento de aposentadoria à Previdência. A quadrilha buscava os bancos para obter empréstimos consignados atrelados às aposentadorias fraudadas, assinalou a PF.

Defesa

A reportagem busca contato com a Funai. O espaço está aberto para manifestações.

No Maranhão, a Polícia Federal (PF) através da operação Arariboia Livre, prendeu oito pessoas em flagrante e cumpriu um mandado de prisão preventiva nas cidades de Grajaú, Arame e Amarante do Maranhão. 

As ações realizadas nos últimos dias contaram com a participação de equipes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) e dos Recursos Naturais Renováveis, Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). 

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Segundo a Polícia Federal, os estabelecimentos investigados, entre movelarias e serrarias, operavam de forma irregular ou não tinham licença de funcionamento. Além disso, havia madeira sem origem comprovada. 

Ainda de acordo com as equipes de investigação, há fortes indícios que a madeira seja oriunda de Terras Indígenas localizadas nas proximidades dos municípios. 

Os agentes também fizeram fiscalizações nas Terras Indígenas Arariboia, Bacurizinho e Porquinhos. Nos locais, foram encontrados caminhões realizando o transporte ilegal de madeira, toras armazenadas e carvoarias em pleno funcionamento. 

Os policiais apreenderam mais de 1.000 m³ e destruíram 15 fornos para a fabricação de carvão e 177 maquinários. A madeira serrada foi doada à Funai e será transportada para comunidades da área.

A Polícia Federal indiciou o ex-presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) Marcelo Xavier por dolo eventual nos assassinatos do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, mortos em junho de 2022 em uma emboscada na região amazônica. O ex-vice-presidente da então Fundação Nacional do Índio Alcir Amaral Teixeira também foi indiciado.

Em nota, a Polícia Federal diz que Xavier e Teixeira tomaram conhecimento, em reunião da Funai no dia 9 de outubro de 2019, do “risco de vida dos servidores do órgão e não adotaram as providências necessárias para a proteção dos funcionários”. Bruno era funcionário da Funai e estava licenciado.

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De acordo com a PF, por não tomarem providências, Marcelo Xavier e Alcir Teixeira “teriam assumido o risco do resultado de suas omissões, que culminou no duplo homicídio”.

Marcelo Xavier foi exonerado do comando da Funai em dezembro de 2022. Ele assumiu o cargo em julho de 2019.   

Caso Bruno e Dom

Bruno Pereira e Dom Phillips foram mortos nas proximidades da Terra Indígena do Vale do Javari, no Amazonas. Eles articulavam um trabalho conjunto para denunciar crimes socioambientais na região do Vale do Javari, onde há a maior concentração de povos isolados e de contato recente do mundo.

Na Terra Indígena Vale do Javari, encontram-se 64 aldeias de 26 povos e cerca de 6,3 mil pessoas.  As autoridades policiais colocaram sob suspeita pelo menos oito pessoas, por possível participação nos homicídios e na ocultação dos cadáveres.

A Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) decidiu nesta semana anular depoimento de três acusados pelos assassinatos. Pela decisão, devem ser anulados e colhidos novamente os depoimentos dos réus Amarildo da Costa Oliveira, Oseney da Costa Oliveira e Jefferson da Silva Lima.

Em depoimentos da semana passada, os réus voltaram atrás na confissão que haviam feito à polícia e passaram a sustentar uma versão segundo a qual agiram em legítima defesa. Foi a primeira vez que os três se manifestaram perante o juiz.

No final de outubro de 2022, o suposto mandante do assassinato, Rubens Villar Pereira, foi posto em liberdade provisória após pagar fiança de R$ 15 mil.

A Agência Brasil tenta contato com os ex-dirigentes da Funai, indiciados pela Polícia Federal.

A gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu em agosto de 2022, um relatório da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) que alertava sobre a gravidade da situação causada pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, no estado de Roraima, e optou por não agir, revelam documentos obtidos pelo jornalismo da UOL.

Na época, o orgão encaminhou ao Ministério da Justiça um relatório detalhado sobre o garimpo que ocupava a região, incluindo fotografias, que foi elaborado para embasar uma operação de combate aos crimes. Marcelo Xavier, o então presidente da Funai, cobrou a gestão, ações ''urgentes, efetivas e assertivas'' diante a situação preocupante.

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O relatório que comprova que o governo do líder do Partido Liberal tinha conhecimento do cenário que resultou em mortes e desnutrição do povo Yanomami, foi analisado no mesmo período em que o ex-mandatário iniciou sua campanha de reeleição. As informações divulgadas pela Uol, dizem que em menos de 48 horas os documentos foram arquivados pela equipe do ex-ministro Anderson Torres.

Em maio do mesmo ano, um servidor da Funai sobrevoou parte do território indígena com o objetivo de obter informações para a operação em parceria com o Ministério da Justiça, prevista para o segundo semestre. Durante o sobrevoo, foram identificados e fotografados mais de 80 pontos relacionados a atividade ilegal.

As informações revelaram a presença de 32 garimpos que atuavam em uma extensão de aproximadamente 800 quilômetros, nos rios Uraricoera, Couto Magalhães, Auaris, Parima e Mucajaí. Além disso, foram identificadas pistas de pouso, 13 pontos de apoio e três áreas descritas como portos, utilizados pelos garimpeiros na região inspecionada. Destruições ambientais também foram registradas.



 

Em mais uma ação contra o garimpo ilegal no território Yanomami, o Ibama e a Polícia Rodoviária Federal apreenderam e queimaram um avião, uma caminhonete e uma moto em Iracema, no sul de Roraima. Dados da Polícia Federal apontam a queda drástica de 96,6% alertas de garimpo ilegal na região. 

Os veículos destruídos nesse fim de semana foram encontrados em estradas e pistas de pouso ilegais. Eles eram usados pelos criminosos para chegar à Terra Indígena e facilitavam a prática de garimpo na região. Equipamentos e outros insumos também foram apreendidos. 

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As apreensões fazem parte da Operação Xapiri, que conta com apoio da Funai e outros órgãos governamentais. Nesse sábado (6), o corpo de uma mulher foi encontrado na comunidade Uxiú. Ele ainda não teve a identificação revelada, mas apresentava sinais de violência sexual e seria de uma venezuelana assassinada há dias. 

Alertas caíram em abril

O mês de abril fechou com a queda de 96,6% dos alertas de garimpo ilegal na região. No ano passado, o mês contou com 444 registros. Em 2023, o mesmo período teve apenas 18 chamados. Os alertas são monitorados por imagens de satélite, aponta a Polícia Federal. 

Nesta terça-feira (2), o presidente Lula (PT) anunciou a realização de concurso público com 600 vagas para a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e Ministério do Meio Ambiente (MMA). Desse total de oportunidades, 98 são destinadas ao ministério e 502 para a Funai, sendo 152 vagas para agentes em indigenismo com nível intermediário e outras 350 vagas para candidatos de nível superior.

Segundo as informações preliminares sobre o certame, 152 vagas, das 350, são   para indigenistas especialistas, mas também com previsão de contratação de profissionais de áreas como administração, arquitetura, antropologia, arquivologia, assistência social, biblioteconomia, contabilidade, economia, engenharia, estatística, geografia, psicologia, sociologia, educação e comunicação.

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"Autorizamos a realização de concursos para a @funaioficial e @mmeioambiente , para a contratação de 600 profissionais. Não se avança na proteção ambiental sem investimento em funcionários e melhorias no serviço público. Cuidar da questão ambiental é um compromisso que assumimos, e é isso que estamos fazendo", escreveu Lula em seu perfil no Twitter.

O Brasil possui uma população de mais de 1,6 milhão de indígenas vivendo nas comunidades e territórios protegidos ou em diversos centros urbanos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o grupo se autodeclara como indígena, etnia aceita em classificações raciais no país. Diferentemente do que se convencionou utilizar, o termo “índio” não é considerado abrangente o suficiente, nem de todo respeitoso. Desse modo, nesta quarta-feira (19) se comemora, pela primeira vez oficialmente, o Dia Nacional dos Povos Indígenas.

O início do governo Lula (PT) foi marcado pela inauguração no Ministério dos Povos Indígenas (MPI), que trabalha para garantir os direitos dos 305 povos que existem em diferentes regiões e territórios no Brasil. Na manhã de hoje, o órgão se reuniu na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e apresentou a campanha “Nunca Mais um Brasil Sem Nós”, que promove a proteção dos povos e a preservação de 274 línguas faladas.

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A mesa do evento foi composta pelas ministras Sonia Guajajara, do MPI, e Anielle Franco, do Ministério da Igualdade Racial, além do ministro Wellington Dias, do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, junto com Braulina Baniwa, da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade. A deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG), a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana e Dinamam Tuxá, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (API), também estiveram presentes.

Pela tarde será realizada uma reunião com a Funai, no Encontro MPI-Funai pelo fortalecimento da Política Indígena. Serão debatidos pontos importantes para a realidade dos povos originários do Brasil, como  “condições para o exercício do trabalho indigenista de qualidade” e “territórios, diversidade e ação indigenista de qualidade”. Ao final do evento, a presidenta da Funai, Joenia Wapichana, e a ministra do MPI, Sonia Guajajara, assinarão um Termo de Compromisso com a Valorização da Carreira e da Política Indigenista.

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A Medida Provisória (MP) 1168/23 abre crédito extraordinário de R$ 640 milhões para ações de proteção de comunidades indígenas. Os recursos estão divididos em cinco ministérios.O crédito atende decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou à União uma série de medidas emergenciais de assistência e proteção aos povos Yanomami, Karipuna e Kayapo, entre outros. 

Barroso é relator da ação ajuizada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que denunciou graves violações dos direitos humanos contra o povo Yanomami e invasão de terras indígenas pelo garimpo ilegal.  

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Garimpo, alimentos e fiscalização

A maior parte do crédito aberto pela medida provisória (R$ 146 milhões) será direcionada à Fundação Nacional do Índio (Funai), órgão vinculado ao Ministério dos Povos Indígenas, para fiscalização de terras indígenas e combate ao garimpo ilegal. 

O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social receberá R$ 144,7 milhões para custear a distribuição gratuita de alimentos e apoio a projetos de inclusão produtiva de povos indígenas. 

Já a pasta da Defesa será contemplada com R$ 135,5 milhões para ações emergenciais das Forças Armadas de apoio a terras indígenas. 

A medida provisória também destina recursos para os seguintes ministérios: 

Meio Ambiente e Mudança do Clima: receberá R$ 86,5 milhões para ações de fiscalização e de gestão de unidades de conservação em terras indígenas;

e Justiça e Segurança Pública: receberá R$ 126,7 milhões para cobrir gastos diversos, incluindo deslocamento de policiais federais e rodoviários federais.

Tramitação

A medida provisória será analisada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado.    

*Da Agência Câmara de Notícias

Proteção territorial e desintrução (retirada) de garimpeiros, além da aplicação correta de recursos. São medidas urgentes que devem ser tomadas no Território Yanomami, segundo avaliação da presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana.

Ela esteve nesta quarta-feira (29) na comissão do Senado criada para acompanhar as ações na região. Joenia Wapichana apontou o aumento das invasões e das áreas de garimpo e a desestruturação da assistência de saúde indígena, além da falta de políticas de proteção desses povos, como as causas de uma tragédia anunciada. Ela falou sobre o que deve ser feito. 

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"[É preciso] superar esse quadro, o desmatamento, a destruição dos ecossistemas, a contaminação do solo, da água, o assoreamento dos rios, a diminuição da população dos peixes, a contaminação de peixes por mercúrio, a diminuição da roça", destacou.

Isso, segundo ela, falando da questão ambiental. Da parte da saúde, a preocupação é com o aumento de doenças infectocontagiosas e da contaminação por mercúrio, da desestruturação das comunidades e do tráfico de drogas.

Da parte da fiscalização das leis, o rastro do ouro precisa ser revisto. Segundo ela, acabar com a boa-fé, a possibilidade de compra do ouro sem o certificado de origem.  Representante do Ministério dos Povos Indígenas, Marcos Kaigang disse que a pasta trabalha em conjunto com outras áreas para montar um plano de atuação conjunta mas que o principal, uma das coisas que deve ser o foco, é o aumento do efetivo na região, dos servidores da Funai, da equipe de saúde e mais orçamento para as ações na região.

 

O governo federal formalizou a nomeação de Joenia Batista de Carvalho, mais conhecida como Joenia Wapichana, para exercer o cargo de presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

O anúncio sobre a escolha de Joênia, que é advogada e ex-deputada federal, para o posto, foi feito ainda em dezembro passado. Ela é a primeira mulher indígena a ocupar a presidência do órgão e assume o posto diante da grave crise humanitária que atinge o povo Yanomami.

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A nomeação de Joenia Wapichana está publicada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) desta quarta-feira, dia 1º de fevereiro.

A Casa Civil da Presidência da República exonerou Marcelo Augusto Xavier da Silva do cargo de presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai). A portaria, assinada na quarta-feira (28), a três dias do fim do atual governo, está publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta quinta-feira (29).

Hoje, a Funai é vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, mas deverá ser transferida para o Ministério dos Povos Indígenas, a ser criado pelo futuro presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tomará posse neste domingo, 1º de janeiro de 2023.

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Delegado da Polícia Federal, Marcelo Xavier assumiu o posto ainda no primeiro ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro, em julho de 2019.

Ele entrou no lugar do general Franklimberg Ribeiro de Freitas, que deixou o cargo em 11 de junho daquele ano, após ser alvo de forte pressão de ruralistas.

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo apurou à época, Xavier agradara a bancada ruralista. Ele atuou de forma ostensiva na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Funai, em 2016, tendo apoiado os parlamentares que apuravam supostas irregularidades na Fundação. A CPI foi combatida por organizações socioambientais.

A deputada eleita Sônia Guajajara (PSOL-SP) disse nesta quarta-feira, 23, que a Fundação Nacional do Índio (Funai) deve continuar no Ministério da Justiça e que a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) irá seguir no Ministério da Saúde.

Segundo ela, o Ministério dos Povos Originários que será criado pelo novo governo, deve ter uma atuação mais de articulação do que de execução em 2023.

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"Estamos tentando definir os temas que iremos priorizar no ministério, para começarmos a apresentar propostas. Estamos pensando em qual será a missão do ministério, precisamos entender se será uma pasta de articulação ou mais executiva. A princípio será de articulação, até porque o orçamento de 2023 ainda não contempla o ministério", afirmou, no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), onde funciona o governo de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Após ficar 74 dias sob a guarda da Fundação Nacional do Índio (Funai), o último sobrevivente da terra indígena Tanaru foi sepultado, nesta sexta-feira (4), no mesmo local onde foi encontrado morto. De acordo com informações da TV Globo, os ritos fúnebres foram feitos por indígenas da região na última área em que viveu o chamado "índio do buraco".

O sepultamento atendeu a uma determinação da Justiça Federal em Vilhena (RO), após pedido urgente do Ministério Público Federal (MPF). Na ação de número 1002480-07.2022.4.01.4103, o MPF argumentou que a demora no sepultamento desrespeitava a dignidade e a memória do indígena, de seu povo, das tribos de Rondônia e do Brasil e dos servidores da Funai que o salvaram do extermínio e atuaram por décadas na sua proteção. A Funai alegou não ter obrigação legal de sepultar o indígena, mas esse argumento não foi aceito.

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A saga do corpo do indígena começou a 23 de agosto, quando a equipe da Frente de Proteção Etnoambiental mantida pela Funai em Guaporé o encontrou morto numa rede, ornado de penas de araras, como se tivesse se preparado para a morte, dentro de uma maloca. Levado para Vilhena, cidade a 50 quilômetros, o corpo foi transportado em seguida num avião da FAB para Brasília.

Na capital federal, passou por exames no Instituto de Criminalística. Um mês depois, retornou a Rondônia, indo para a sede da Polícia Federal.

Há 26 anos, o indígena era monitorado pela Funai, que registrou as habitações de palha ocupadas por ele durante esse tempo. Foram 53. Todas seguiam o mesmo padrão arquitetônico: uma única porta de entrada e saída e um buraco cavado no interior da casa.

Há quatro anos, a fundação divulgou imagens do índio isolado. Na época, informou que em algum momento na década de 1980 a colonização desordenada, a instalação de fazendas e a exploração ilegal de madeira em Rondônia provocaram sucessivos ataques aos povos indígenas isolados, em um constante processo de expulsão de suas terras e de morte.

Há dois meses, o corpo do indígena que viveu mais de duas décadas isolado na mata do sul de Rondônia permanece insepulto. A Funai e a Polícia Federal não informam quando vão enterrar os restos mortais do "Índio do Buraco", um homem de idade, língua e costumes desconhecidos, último sobrevivente de um grupo étnico envenenado e fuzilado por grileiros e madeireiros. A Funai limitou-se a informar que "aguarda os laudos para definir os melhores procedimentos quanto ao sepultamento" e a PF não se manifestou.

A saga do corpo do indígena começou em 23 de agosto, quando a equipe da Frente de Proteção Etnoambiental mantida pela Funai em Guaporé o encontrou morto em uma rede, ornado de penas de araras, como se tivesse se preparado para a morte, dentro de uma maloca. Levado para Vilhena, cidade a 50 quilômetros, o corpo foi transportado em seguida para Brasília. Na capital federal, passou por exames no Instituto de Criminalística. Um mês depois, retornou a Rondônia. Agora, está na sede da Polícia Federal.

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Em meio à demora das autoridades em dar resposta sobre o sepultamento, a terra onde o isolado resistia, sem aceitar contatos com órgãos oficiais, entidades civis ou mesmo xamãs de aldeias vizinhas, voltou a despertar a cobiça externa. Em 1998, um dos últimos trechos de floresta nas margens do Rio Tanaru foi reservado pela União exclusivamente para a sobrevivência dele.

O governo classificou o Território Tanaru, de 8.070 hectares, equivalente a 8 mil campos de futebol, como área de restrição de uso, isto é, para estudos e demarcação e homologação. De lá para cá, o lugar tornou-se um oásis numa região de desmatamento e expansão econômica, mesmo com clareiras abertas no passado por ruralistas. Indigenistas, antropólogos e procuradores se mobilizam para garantir que o corpo possa ser enterrado na terra em que o indígena vivia e onde seus ancestrais foram mortos. Seria um passo decisivo para garantir a proteção do lugar.

É o primeiro caso de território em processo de demarcação em que morreram todos os indígenas que nele habitavam. O prazo de restrição de uso expira em 2025. "O Estado Brasileiro deve ter o cuidado com a memória desse indígena que resistiu aos seus algozes", afirma Bruno Biagio, que chefiou a Coordenação de Índios Isolados e Recente Contato.

VENENO

Na área de floresta cercada de pastagens e grandes plantações, o "Índio do Buraco", de idade estimada de 60 anos quando morreu, construiu exatos 53 tapiris - malocas cobertas de palha - nos últimos 26 anos, sempre fugindo de madeireiros e grileiros. Ele mudava sempre de lugar dentro do território para não ser morto, numa vida de guerrilha. Assim, construía tapiris com uma entrada. Dentro, abria um buraco em forma ovalada, de meio metro de largura, um de comprimento e até três de fundura.

Em 1995, os indigenistas Marcelo Santos e Altair José Algayer estiveram pela primeira vez frente a frente com o "Índio do Buraco". Foram recepcionados com uma flechada. No tempo mais antigo, os integrantes desse povo eram conhecidos como exímios guerreiros. "Quem entrava na terra deles não saía", conta Marcelo. Com o tempo, os indígenas passaram a acreditar no pessoal das fazendas. Foi fatal.

Depoimentos coletados por Marcelo indicam que esse grupo sofreu dois massacres. No primeiro, nos anos 1980, os indígenas trocaram produtos de suas roças por açúcar com pistoleiros de uma fazenda. Os homens puseram veneno no açúcar e mataram parte da aldeia. Na década seguinte, um fazendeiro mandou atacar a tiros os sobreviventes, incendiar as casas restantes e passar o trator. Foi quando Marcelo encontrou seis buracos de antigas residências. Assim, restou apenas um indígena no Tanaru. "Não conheço outro grupo que fazia buracos dentro de casas. Tem significado místico e religioso", relata o indigenista.

Durante anos, a indigenista Ivaneide Bandeira atuou no monitoramento da área onde o "Índio do Buraco" vivia. "Ele nunca quis ser contactado por ninguém", relata. "Vivia fugindo, estava cercado por grandes fazendas", relata. Ivaneide reclama da demora em sepultar o corpo. "A Funai não deixa sepultar. Para mim, é assustador. Não consigo entender. Ele enfrentou todo o massacre de seu povo, resiste, morre e agora a Funai não deixa descansar. É desumano." Há 40 anos no trabalho com indígenas, ela avalia que a cobiça pelo território está por trás da demora no sepultamento. "Enterrá-lo lá é impedir a grilagem", avalia. "Não se pode negar a ele ser enterrado em sua terra."

O indigenista Altair José Algayer foi quem encontrou o corpo do "Índio do Buraco". Ele observa que jamais se saberá a origem, a língua e os costumes do homem do Tanaru. Ainda assim, observa que, no final, mesmo precisando de ajuda, não quis fazer contato. "Foi algo muito ruim que ocorreu com ele e seu povo para ter resistência de lutar mesmo sozinho, por anos."

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Ministério Público Federal denunciou nesta terça-feira, 26, o presidente da Fundação Nacional do Índio, Marcelo Augusto Xavier da Silva, pelo crime de denunciação caluniosa, por duas vezes. De acordo com a Procuradoria, o chefe da Funai imputou a diversos servidores do órgão e a integrantes da Associação Waimiri Atroari supostos crimes de tráfico de influência e de prevaricação, 'mesmo sabendo que eram inocentes'.

A acusação contra Marcelo Xavier foi entregue à 2ª Vara Federal no Amazonas, sendo que o MPF ainda pede que o presidente da Funai seja condenado ao pagamento de indenização de R$ 100 mil por danos morais causados às vítimas e à sociedade.

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Na denúncia, a Procuradoria narra que Marcelo Xavier 'utilizou a notificação para abertura de inquérito contra os servidores da Funai como instrumento de pressão política no processo de licenciamento ambiental, especificamente no que diz respeito ao componente indígena, da linha de transmissão de energia entre Manaus (AM) e Boa Vista (RR), o Linhão de Tucuruí'.

A investigação em questão acabou arquivada pelo Ministério Público Federal. Ao encerrar as apurações, a Procuradoria apontou 'total ausência de hipótese investigativa, tanto pela falta de caracterização mínima como crime das condutas apresentadas, quanto pela ausência de indícios de autoria e de materialidade'.

A avaliação do órgão foi a de que as condutas dos servidores questionados por Marcelo Xavier são compatíveis com quem pretende trabalhar em prol da defesa de direitos indígenas'.

"O representante (Marcelo Xavier) sabe (ou no mínimo deveria saber) acerca da ausência de conteúdo normativo que o autorizasse desencadear investigação criminal, uma vez que é também delegado de Polícia Federal", explicou o procurador Igor Spíndola no despacho de arquivamento do inquérito.

No entanto, após o caso ser arquivado, Marcelo Xavier, 'em caráter de revanche', representou criminalmente contra Spíndola perante a Procuradoria-Geral da República, diz o MPF.

O presidente da Funai imputou ao procurador da República supostos crimes tipificados no Código Penal e na Lei de Abuso de Autoridade, mas a ofensiva foi barrada. A avaliação da PGR sobre a conduta do procurador no Amazonas foi a de que Spíndola teve atuação 'técnica, fundamentada, impessoal e diligente'.

"Diante da patente atipicidade da conduta e da ausência de elementos informativos mínimos que permitam afirmar prática de um crime por parte do procurador da República Igor da Silva Spíndola, a eventual instauração de uma investigação contra a referida autoridade poderia servir apenas como (mais um) fator de pressão no já conturbado processo de licenciamento ambiental da Linha de Transmissão Waimiri Atroari. Tal utilização indevida dos órgãos de persecução penal e de Justiça não contará com a chancela da Procuradoria Regional da República da 1ª Região nem, certamente, do E. Tribunal Regional Federal da 1ª Região", aponta trecho da manifestação do MPF, que foi acolhida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, arquivando a representação contra Spíndola.

COM A PALAVRA, A FUNAI

Até a publicação deste texto, a reportagem buscou contato com a Funai e seu presidente, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestações.

Indígenas do Maranhão expulsaram de suas terras um coordenador da Funai nomeado para o cargo sem qualquer experiência em indigenismo. Ele substituiu uma servidora de carreira elogiada pelos indígenas da região, considerados um dos mais fragilizados do planeta.

O episódio, que não deixou feridos, foi protagonizado pelos Awá Guajá, um povo de recente contato marcado pelo histórico de genocídio na década de 60 e hoje alvo de invasões crescentes de fazendeiros.

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O coordenador em questão é Elton Henrique de Sá Magalhães, novo chefe da Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) Awá Guajá, uma das unidades regionais da Funai responsáveis por proteger povos isolados e de recente contato. No cargo desde o dia 7 de abril, Magalhães tem graduação em Gestão Hospitalar e, até dois meses antes da nomeação, foi dono de uma empresa de consultoria de gestão em saúde, que prestava serviço para órgãos municipais e estaduais.

Expulso sob a mira de arcos e flechas

A expulsão ocorreu durante uma reunião no dia 13 de julho, convocada a pedido dos indígenas. Magalhães compareceu ao encontro nos limites da Terra Indígena (TI) Caru, no município de Alto Alegre do Pindaré (MA). Após ouvirem Magalhães, cerca de 50 indígenas cercaram e deixaram claro que não reconhecem sua atuação como coordenador.

Com arcos e flechas nas mãos, ordenaram que ele se retirasse e cortaram a interlocução com a chefia regional do órgão indigenista. Um dos participantes do encontro foi Tatuxa’a Awa Guaja, presidente da associação Arari, entidade que representa os Awá Guajá.

"Esse pessoal queria vir para entrar e passar na frente da outra coordenadora. A comunidade não vai aceitar. A comunidade não aceita. [A gente] brigou, mas não encostamos nele [Magalhães]", afirmou ao Brasil de Fato.

A liderança diz que a associação indígena não foi consultada previamente sobre a troca de comando. "O governo que está aí não gosta de indígena. Ele quer eliminar [os indígenas]", enfatizou Tatuxa’a. "Todas as comunidades não gostam [do novo coordenador] e estão perguntando: 'por que o pessoal [da Funai] não trabalha bem para nós? Será que dá para tocar por outro [coordenador]?' Vamos reclamar e vamos pedir", garantiu o Awá Guajá.

Antecessora de Magalhães prestava "excelente trabalho"

Magalhães substituiu a indigenista da Funai Daianne Veras Pereira, elogiada pelos indígenas pelo trabalho conduzido ao longo da pandemia da covid-19. A Funai já recebeu oficialmente pedidos de organizações indígenas para realocá-la na função, todos ignorados.

A servidora de carreira atuava com "responsabilidade técnica indigenista”, segundo afirmaram em nota duas organizações indígenas do estado, a Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (Coapima) e a Articulação de Mulheres Indígenas do Maranhão (Amima).

"Destacamos que a servidora Daianne Veras Pereira tem prestado excelente trabalho no indigenismo institucional na Funai, realizando importantes ações de promoção e proteção dos direitos indígenas garantidos na Constituição Brasileira de 1988, nas áreas de proteção territorial, educação, saúde, etnodesenvolvimento", dizem as organizações indígenas.

Indígenas da região são um dos mais vulneráveis do planeta, diz servidor

As frentes de proteção de povos isolados e de recente contato, como a chefiada por Magalhães, são as que mais exigem conhecimento técnico, pois lidam com populações que pouco compreendem ou desconhecem inteiramente o modo de organização social, político e econômico da sociedade não indígena.

Nesses casos, a experiência administrativa não basta, pois o bom desempenho depende de uma compreensão aprofundada sobre os modos de vida ancestrais das populações originárias, só obtida após anos de convívio próximo com indígenas.

Um servidor da Funai que atua na região e não quis se identificar afirma que os Awá Guajá que vivem na TI Araribóia são um dos povos de recente contato mais vulneráveis do planeta.

"Eles têm uma situação muito grave de falta de recursos, tanto de alimentação como de recursos hídricos, e convivem com uma invasão garimpeira", afirmou o indigenista.

O entendimento é compartilhado pelo Observatório dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI). Segundo a entidade, a TI Awá é alvo de forte pressão de pecuaristas, que vem retomando terras protegidas de onde foram expulsos em um processo de desintrusão em 2014.

"As atividades para a proteção territorial dos indígenas isolados na Terra Indígena Caru e Araribóia é praticamente inexistente por parte da Funai, sendo executada principalmente pelos Guardiões da Floresta do Povo Tenetehara", afirmou o OPI em comunicado publicado em abril.

Nomeação foi moeda de troca eleitoral, diz ONG

O OPI considera que a nomeação de Magalhães é uma concessão a políticos locais em troca de apoio à reeleição de Bolsonaro, que está em desvantagem nas pesquisas de preferência do eleitorado maranhense. No Maranhão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desponta como favorito nas pesquisas de intenção de voto. O petista terá o provável apoio dos dois candidatos que lideram a disputa pelo governo maranhense, Wewerton Rocha (PDT) e Carlos Brandão (PSB).

"Faz parte de uma lógica de nomeações que favorecem políticos regionais que apoiam o Governo Bolsonaro. Trata-se de mais uma atitude de destruição da política pública para povos indígenas isolados e de recente contato, e soma-se às graves violações que estão sendo cometidas contra esses povos", escreveu o Opi.

Outro lado

Procurada pela reportagem, a Funai não se manifestou. Se houver resposta, o texto será atualizado.

Do Brasil de Fato. Reportagem: Murilo Pajolla Edição: Thalita Pires

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