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*Por Alice Albuquerque e Jameson Ramos

"Eu sou bem sincera e como mãe de Miguel não estou satisfeita com o tempo de prisão que foi dado", disse Mirtes Renata, mãe do menino Miguel, em pronunciamento oficial nesta quarta-feira (1º), após a sentença de oito anos e seis meses de Sarí Corte Real. "Por mim, teria prisão perpétua", ressaltou Mirtes.

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Sarí Corte Real foi condenada a oito anos e seis meses de prisão pela 1ª Vara dos Crimes Contra a Criança e o Adolescente da Capital pelo crime de abandono de incapaz com resultado em morte, com as agravantes de cometimento de crime contra a criança em ocasião de calamidade pública. A decisão, dada na terça-feira (31), diz que a acusada vai cumprir a pena inicial em regime fechado, mas ainda tem o direito de recorrer em liberdade. 

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De acordo com a mãe de Miguel, que declarou não estar satisfeita com o resultado, a pena máxima que Sarí poderia pegar era de 12 anos. "Meus advogados vão recorrer. O que não me deixa muito satisfeita é essa questão dela poder correr em liberdade, o que está na lei, mas essa lei não é cumprida para todos. Ela teve esse privilégio de poder recorrer em liberdade". 

Mesmo abalada e apesar do resultado, Mirtes comemorou uma das grandes vitórias que envolvem a morte do filho. "O que aconteceu ontem é parte da nossa vitória. A gente só vai estar satisfeito mesmo quando Sarí estiver atrás das grades. Essa é a justiça que eu quero. Não só Sarí condenada, mas Sarí presa atrás das grades. Ela não é diferente, tem que estar lá também". 

-> Mirtes não está satisfeita com tempo de condenação de Sarí

"Quero agradecer as pessoas que me deram força na campanha enviando e-mail para a Vara da Infância cobrando a sentença de Miguel, isso foi muito importante para que a gente pudesse estar aqui hoje e ter a sentença. Que vocês possam continuar comigo até o fim, porque a gente não pode deixar o caso de Miguel cair no esquecimento", lembrou. 

Renata convidou, ainda, a população para participar de um ato em memória aos dois anos da passagem de Miguel. O ato acontecerá na Ponte da Boa Vista, mais conhecida como Ponte de Ferro, no centro do Recife, às 7h. 

O advogado de acusação de Mirtes, Rodrigo Almendra, chamou atenção para as "inverdades e maldades" que foram ditas a Miguel por Sarí e sua defesa. "Ora lhe atribuindo a expectativa de indivíduo auto-tutelável aos cinco anos de idade, que é um processo de adultização, ora lhe etiquetando como criança endiabrada, tinhosa, maldita. A condenada tentou desqualificar a educação recebida por Miguel". 

-> Inquérito final indicia Sari por abandono de incapaz

A advogada do Gajop (Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares) na assistência da acusação, Maria Clara D'Ávila, informou que vão seguir "acima de tudo, lutando pela preservação da memória de Miguel, que é o que mais importa neste momento, e lutando para que esse discurso da defesa seja, por fim, extinto, e Mirtes e sua família consiga seguir em luto, finalmente". 

Ativista e representante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e Articulação Negra de Pernambuco (Anepe), os quais Mirtes também integra, Mônica Oliveira pontuou que a condenação de Sarí é um marco histórico. "O Brasil não é um País onde se costuma ter esse tipo de resultado nesses processos. A condenação marca um caso que vem sendo tratado por nós como um caso emblemático. A morte de Miguel não foi um caso simples, incidente. É importante que isso seja reconhecido". 

Retrospectiva do caso Miguel 

No dia 2 de junho de 2020, Mirtes Renata Santana perdia o seu único filho, o menino Miguel Otávio Santana da Silva, que caiu do 9º andar do Edifício Pier Maurício de Nassau, mais conhecido como "as torres gêmeas", no Centro do Recife. O garoto morreu com apenas cinco anos de vida.

No momento do acidente, Miguel ficou com Sari Corte Real, então patroa de Mirtes, para que a empregada doméstica fosse passear com o cachorro dos patrões. Segundo investigações da polícia, enquanto Mirtes Renata andava pelo prédio com o animal, o seu filho queria encontrá-la.

-> Miguel: família pede que Sarí responda por crime na prisão

Imagens de câmeras de segurança mostram o garoto correndo e entrando sozinho no elevador de serviço. A patroa aparece nas filmagens aparentando conversar para que Miguel Otávio saísse do local. Sem sucesso, ela aperta um botão antes de abandonar a vítima sozinha no elevador. 

A perícia confirma que Miguel foi do 5º ao 9º andar só. No hall do nono andar, a criança vai até a área onde ficam peças de ar-condicionado, escala a grade de proteção e cai de uma altura de 35 metros. Ele não resistiu aos ferimentos. 

Na portaria do prédio para pegar uma encomenda, Mirtes soube que alguém caiu. Ao chegar no local se depara com o seu único filho ensanguentado no chão. Ela disse na época que quando pegou o filho nos braços ele ainda dava sinal de vida, mas no Hospital da Restauração, para onde ele foi socorrido com a ajuda de Sarí Corte Real, a vítima não resistiu aos ferimentos e morreu pouco tempo depois de dar entrada.

-> Caso Miguel: assista à cronologia dos eventos na íntegra

A patroa chegou a ser presa em flagrante na época da morte, acusada de homicídio culposo, quando não há intenção de matar. No entanto, ela foi liberada após pagar fiança de R$ 20 mil. 

Em julho de 2020, depois de 30 dias de um processo de investigação com 452 fases e 21 pessoas ouvidas, o inquérito do caso foi concluído pela polícia. À época, o delegado Ramon Teixeira anunciou que Sari seria indiciada por abandono de incapaz. 

A primeira audiência de instrução e julgamento de Sari Corte Real foi realizada no final de 2020, na 1ª Vara de Crimes contra a Criança e o Adolescente. Por conta do crime, a acusada poderia pegar até 12 anos de prisão.

Nesta última terça-feira (31), Sarí Corte Real foi condenada a oito anos e seis meses de prisão pelo crime de abandono de incapaz com resultado em morte. Por decisão do juiz e titular da Vara, José Roberto Bezerra, Sarí vai cumprir a pena inicial em regime fechado, mas ainda tem o direito de recorrer em liberdade.

O Centro de Internação Provisória (Cenip) do Recife, localizado na Zona Oeste da Capital, recebeu uma vistoria surpresa na quinta-feira (20) por representantes do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), da Defensoria Pública de Pernambuco (DPPE) e do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop). Entre as irregularidades encontradas estão a falta de colchão, alojamentos sem luz elétrica, falta de medicamentos e infestação de ratos. 

"Foi espantoso", resume o técnico do Gajop Romero Silva, que participou da fiscalização. "Chamou muito a nossa atenção a nãoo preocupação da propria Funase [Fundação de Atendimento Socioeducativo] com tudo aquilo. A situação é visível para qualquer um que entra lá", completa.  Segundo ele, os ratos eram vistos com frequência no local ao longo da visita. "Vimos com frequência. E não é rato pequeno. Os adolescentes disseram que os ratos entram nos alojamentos, então eles ficam correndo o risco de serem mordidos, de leptospirose", afirmou.

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Havia 63 menores no local no momento da fiscalização. Boa parte deles não tem colchão ou lençol, tendo que dormir no chão. "As famílias trazem colchão, mas tem família que não tem condição de nada", diz Silva.

A fiscalização também identificou vazamentos na rede de água e esgoto, banheiros entupidos, acúmulo de lixo e de água. Os adolescentes relataram falta de médicos e que não estavam tendo acesso à atendimento médico. "Inclusive, a coordenadora técnica falou que está faltando remédio, que a prefeitura não estava disponibilizando", afirma o técnico do Gajop.

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No momento em que os visitantes estavam deixando o local, no início da noite, notaram que não havia iluminação nos alojamentos. "Os alojamentos ficam todos escuros, nenhum tem luz elétrica. Os meninos ficam no escuro e naquele dia, como a janta atrasou por causa da nossa presença, todos iriam comer no escuro. Parece ser algo simples, mas se torna uma forma grave de humilhar e subjugar o outro", ressalta Romero Silva. Segundo ele, apesar de existir a alegação de que uma lâmpada pode ser utilizada como uma arma, é possível adotar alternativas. "Existem outras estratégias, como um refletor de fora para dentro. O que não pode é ficar no escuro."

Na próxima segunda-feira (24), o Gajop deverá concluir um relatório de inspeção, que será enviado ao Governo de Pernambuco, ao Judiciário e demais órgãos competentes. O documento cobrará providências para a unidade.

Por meio de nota, o MPPE informou que a 6ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital constatou as condições insalubres da unidade provisória. Já existe uma ação civil pública ajuizada em 2018 requerendo melhorias na estrutura do Cenip. "A liminar foi indeferida pelo Juízo da Capital, contudo, com o material recolhido na inspeção de ontem, a 6ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital vai protocolar o relatório da inspeção, para requerer reconsideração do indeferimento da liminar a fim de que haja avanço dentro desse processo", diz o órgão.

Extrajudicialmente, a 6ª Promotoria está programando junto com o Gajop e a Defensoria Pública uma reunião com o secretário de Políticas Sociais e com o próprio Governo do Estado, "em virtude de a situação ser muito grave e antiga, mas que piorou muito e não se pode admitir as condições atuais.”

A Fundação de Atendimento Socioeducativa (Funase) se pronunciou sobre a denúncia por nota. Segundo o órgão, não procede a denúncia acerca da falta de profissionais de saúde e de medicamentos. "O ambulatório da unidade dispõe de uma médica, uma dentista, oito enfermeiros e 14 técnicos de enfermagem distribuídos por plantões, que seguem realizando atendimentos normalmente", declara.

A instituição ressalta ainda que a retirada de remédios ocorre no distrito sanitário que atende a região sempre que há necessidade. Informa que está em articulação com a Prefeitura do Recife para reforçar os atendimentos, conforme responsabilidades previstas pela Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Adolescente em Conflito com a Lei (PNAISARI), do Ministério da Saúde.

Sobre a falta de iluminação e limpeza, a Funase afirmou que a troca das lâmpadas é feita rotineiramente, assim como a higienização dos espaços. "O local dispõe de rede elétrica normalmente", diz a nota.

A instituição declara que as desratizações ocorrem de forma mensal, tendo a mais recente sido realizada na segunda-feira (17). A existência de dois imóveis abandonados ao lado do Cenip Recife, entretanto, estaria dificultando esse trabalho. "A fundação já acionou a Vigilância Sanitária e está em contato com o órgão proprietário desses locais para que sejam reforçadas as ações de zeladoria."

Sobre o fornecimento de colchões, a Funase alegou que tem buscado subrir a falta desses materiais. Uma licitação para a compra de colchões já foi concluída. 

Mirtes Renata Santana de Souza, mãe de Miguel Santana, menino de 5 anos que morreu após cair do 9º andar de prédio de luxo no Recife, está convocando um ato para a próxima quinta-feira (20) na capital. O protesto cobra a anulação da oitiva de uma testemunha, ocorrida sem a presença dos advogados de Mirtes.

O ato está marcado para as 9h em frente ao Centro Integrado da Criança e do Adolescente (CICA), no bairro da Boa Vista, área central do Recife, com a presença de movimentos sociais que apoiam a causa. Nesse local foram realizadas as audiências e oitivas anteriores sobre o caso.

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Segundo o Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares (Gajop), que presta assistência a Mirtes, apenas os representantes de Sari Corte Real, que responde ao processo por abandono de incapaz com resultado morte, e do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) estavam presentes na oitiva. "Tal fato gera nulidade processual, tornando a audição da testemunha imparcial, beneficiando uma das partes, no caso, a da acusada, Sari", acusa o Gajop.

Em 3 de maio, Mirtes Renata protocolou no MPPE um pedido de anulação da oitiva. Por não receber retorno, ela decidiu fazer o protesto. "Meus advogados não foram informados de forma alguma e o Judiciário  não  respondeu o porquê de ter agido dessa forma", disse Mirtes.

O Gajop destaca que a fase inicial do processo ainda não foi encerrada."Este e outros fatos demonstram as dificuldades diárias de acesso à justiça e os entraves enfrentados por Mirtes para conseguir a responsabilização efetiva de Sari", completa o gabinete.

O LeiaJá procurou o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) e aguarda o posicionamento.

O caso

Miguel Otávio Santana da Silva morreu no dia 2 de junho após cair do nono andar, uma altura de cerca de 35 metros, do edifício de luxo Píer Maurício de Nassau, que integra o conjunto conhecido popularmente como "Torres Gêmeas" no bairro de São José, centro do Recife. A queda ocorreu durante os minutos em que Mirtes, que trabalhava como empregada doméstica, estava ausente levando a cachorra da patroa Sari Gaspar Corte Real para passear.

Miguel queria ficar com a mãe e tentou mais de uma vez usar o elevador para encontrá-la. Não suportando a desobediência do menino, Sari apertou o botão da cobertura no elevador e deixou o menino só dentro do equipamento. Ele saiu no 9º andar, de onde caiu.

No dia do ocorrido, Sari chegou a ser presa em flagrante, mas pagou fiança de R$ 20 mil e pôde responder ao processo em liberdade. Posteriormente, após análise das câmeras de segurança, a Polícia Civil indiciou a primeira-dama por abandono de incapaz que resultou em morte. As gravações mostravam que o menino entrou várias vezes no elevador querendo encontrar a mãe, sendo retirado por Sari. Na última vez, a primeira-dama apertou o botão da cobertura e deixou ele sozinho, voltando para o apartamento, onde fazia as unhas com uma manicure. 

O Ministério Público de Pernambuco denunciou Sari com agravamento da pena, pelo crime ter sido contra criança e em meio à conjuntura de calamidade pública.

Em 3 de dezembro, no Recife, ocorreu a primeira audiência de instrução e julgamento do caso. Na ocasião, foram ouvidas oito testemunhas de acusação, entre elas, Mirtes, Marta e o pai de Miguel, Paulo Inocêncio da Silva. Sari estava presente, mas não foi interrogada.

O Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares | GAJOP lança, hoje (26), o Projeto BAYO - Laboratório de Estudos e Produção de Narrativas Antirracistas, na sede da ONG no Recife, das 14h às 17h. Na ocasião, também acontecerá a reinauguração da biblioteca institucional “Inaldete Pinheiro”.

O BAYO surgiu da ideia de reativar o uso da biblioteca do GAJOP, com a intenção de torná-la um espaço de leitura, formação, cuidado individual e coletivo. Através das suas ações pretende-se auxiliar a compreensão qualificada dos diversos condicionantes que estruturam e sustentam a prática do racismo em nossa sociedade, visando o fortalecimento da luta antirracista.

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A escolha da escritora Inaldete Pinheiro como homenageada para dar nome à biblioteca foi algo pensado a partir do percurso de luta, engajamento e protagonismo desta mulher negra, contra o racismo. O local passou um longo período inativo, ocasionando a perda de alguns exemplares. A equipe do GAJOP se mobilizou em mutirão para a reorganização e contagem do acervo que é bastante diverso, abrangendo livros e DVDs com temáticas sobre Direitos Humanos e intersecções com outras áreas de conhecimento. A previsão é ampliar e atualizar as publicações, fortalecendo conteúdos raciais. 

O evento contará com participação de convidadas especiais. São elas: a homenageada, Inaldete Pinheiro, Flávia Clemente | Conselho Político do GAJOP, ativista negra e docente da Universidade Federal de Pernambuco, Bernadete Alves | Coordenadora de projetos na comunidade Santa Luzia e Nzinga Cavalcante | Liderança camponesa do Sítio Ágatha. A agenda será aberta ao público e tem o apoio da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e do Afoxé Oyá Tokolê. Na ocasião, também estarão presentes movimentos sociais, adolescentes e jovens do Sistema Socioeducativo de Pernambuco, atendidos pelos projetos da ONG.

“Consideramos de extrema importância a reabertura da biblioteca institucional do GAJOP, como espaço de construção de conhecimento para a população atendida pelos nossos projetos e para toda a rede de movimentos sociais periféricos que, por vezes, não possuem um local de estudo, reflexão e articulação. O fato da educadora Inaldete Pinheiro ser a homenageada, fortalece a pauta de gênero e raça, dentro dessa construção do conhecimento e ações que pretendemos alicerçar” comenta Waneska Viana – socióloga, assessora de projetos do GAJOP e uma das idealizadoras do BAYO.

O Projeto BAYO terá uma duração inicial de seis meses e promoverá diversas ações formativas como, debates temáticos e rodas de discussões envolvendo entidades, coletivos e movimentos que tenham a temática racial como eixo orientador de suas ações e intervenções. A facilitação das atividades ficará tanto a cargo dos organizadores do Projeto quanto, a depender da temática que será trabalhada, dos técnicos do GAJOP e convidados externos.

Lançamento do Projeto BAYO - Laboratório de Estudos e Produção de Narrativas Antirracistas e reinauguração da biblioteca institucional “Inaldete Pinheiro.

Data: 26 de setembro de 2019.

Horário: 14h às 17h.

Local: sede do GAJOP Recife – Rua do Sossego, n° 432, Boa Vista.

*Da assessoria de imprensa

O bairro de Peixinhos, em Olinda, Região Metropolitana do Recife (RMR), receberá o seminário "Prevenção da Violência: Os caminhos da periferia" na próxima terça-feira (30). O encontro reunirá pesquisadores de cinco estados para discutir segurança pública a partir das perspectivas e prioridades das comunidades.

O evento é uma iniciativa da Rede de Observatórios da Segurança em parceria com o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop) e apoio local do Grupo Comunidade Assumindo Suas Crianças (Gcasc). Este é o primeiro encontro dos cinco observatórios da segurança que formam a rede e atuam na Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. 

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"A proposta do seminário é reunir vários pontos de vista, tanto de representantes comunitários quanto de especialistas, com foco em uma concepção de segurança que não se resuma à polícia e à repressão, mas que se baseie no acesso a direitos, como o de ir e vir, de educação, saúde e lazer", diz Edna Jatobá, coordenadora do Gajop. A mesa de abertura do evento está marcada para as 9h e o encerramento, previsto para as 19h.

Coordenada pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), a Rede monitora informações sobre segurança pública, violência e direitos humanos nos cinco estados. “A concepção da Rede de Observatórios não se baseia apenas na colaboração entre centros dedicados à pesquisa, mas também envolve a troca com organizações sociais e coletivos. Esse intercâmbio é essencial para produzir uma análise dos dados qualificada”, diz o coordenador de Pesquisa da Rede, Pablo Nunes. Confira a programação do evento:

8h - Credenciamento e café da manhã

9h - Mesa de abertura: GCASC | GAJOP | Fórum Popular de Segurança Publica | Rede de Observatórios da Segurança

9h20 - Apresentação cultural da comunidade

9h40 - Mesa 1: Olhares sobre a segurança pública nos territórios periféricos 

Representantes dos Observatórios da Segurança (BA, CE, PE, RJ e SP)

13h30 - Mesa 2 : Comunicação popular como forma de prevenção da violência 

Ciara Carvalho (Jornal do Commercio; projeto UmaPorUma)| Coletivo Tururu| Fala Alto | Fogo Cruzado | Comunicação GCASC

15h30 - Mesa 3 : Criminalização da cultura periférica 

Coletivo Ibura Mais Cultura | Policiais Antifascismo | Rayssa Dias (cantora)

19h - Encerramento : Apresentação de Brega Funk

Adolescentes internos do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife (RMR), participaram de formação em direitos humanos na unidade. O projeto, intitulado "Diálogos para mudança: enfrentando os desafios da socioeducação", foi realizado na última sexta-feira (15).

Ao todo, 50 socioeducandos participaram da atividade. Através de dinâmicas de grupo e roda de diálogo, foram trabalhados os conceitos de Direitos Humanos e Direitos da Criança e do Adolescente, com foco na correlação entre a legislação e a realidade vivenciada dentro e fora das unidades socioeducativas.

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O projeto é realizado pelo Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop). "Através das atividades desenvolvidas buscamos incidir sobre a realidade de vulnerabilidade destes adolescentes, dentro e fora do Sistema, que perpassa as questões de violações de direitos e violência institucional, trabalhando ainda perspectivas de vida fora da criminalidade", explica o coordenador do projeto, Davi Malveira.

Ao longo dos dois anos de execução da proposta, também serão realizadas atividades formativas com agentes socioeducativos e familiares de adolescentes com medida de internação e egressos. No final do primeiro ano está prevista a publicação de um artigo sobre o atendimento em medida de internação e, no segundo, um caderno de orientações técnicas sobre o atendimento em meio aberto. O mesmo projeto será realizado em unidades da Fundação de Atendimento Socioeducativo do Recife, Cabo de Santo Agostinho, Vitória de Santo Antão e Caruaru. 

Com informações da assessoria

Nestas segunda (9) e terça-feira (10), a Organização Mundial de Prevenção e Combate à Tortura (OMCT) visitará unidades da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) de Pernambuco. O objetivo da visita é acompanhar a situação das unidades, contribuir na formação de agentes socioeducativos e se articular com a rede socioassistencial local.

O representante da OMCT responsável pela atividade é o uruguaio Dr. Luis Ernesto Pedernera Reyna, membro do Comitê da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos da Criança e do Conselho Nacional Honorário e Consultivo da Infância e da Adolescência do Uruguai. O uruguaio é especialista em coordenação de sistemas de monitoramento de unidades de internação para crianças e adolescentes, com vasta experiência no combate à tortura.

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No primeiro dia de atividade, a OMCT, com apoio do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), visitará o Centro de Acolhimento Socioeducativo de Caruaru (Case Caruaru) e o de Santa Luzia (Case Santas Luzia, Recife). Tais unidades atendem adolescentes do sexo masculino e feminino, respectivamente. 

A agenda prevê ainda participação na reunião de Pleno do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente (Cedca-PE). No segundo dia, a OMCT orientará 40 agentes socioeducativos que atuam nos Cases do Recife sobre prevenção e combate à tortura. Segundo o Gajop, a articulação para a vinda da OMCT se deu após denúncias de violências, violação de direitos, rebeliões e fugas nas unidades.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), em decisão histórica, reconheceu a responsabilidade internacional do Estado brasileiro na violação aos Direitos de propriedade coletiva, garantia judicial de um prazo razoável e proteção judicial em relação ao povo indígena Xukuru de Ororubá de Pesqueira, no Agreste de Pernambuco. O país foi condenado a finalizar o processo de demarcação do território do poxo Xukuru em um prazo de 18 meses. 

A decisão foi publicada na última segunda-feira (12). No prazo de um ano, o Estado brasileiro já deverá apresentar um relatório sobre as medidas adotadas.

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De acordo com o Conselho Missionário Indigenista (CIMI), a ação é a primeira na qual o Brasil é condenado por violações contra os direitos dos povos indígenas. Ela foi julgada no dia 21 de março, na Cidade da Guatemala. O poxo Xukuru foi assessorado pelo CIMI, pelo Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (GAJOP) e pela Justiça Global.

O processo de demarcação do território desse povo foi iniciado em 1989, mas não houve finalização. Conforme o CIMI, também não houve retirada de ocupantes não indígenas e garantia de proteção, o que já levou a assassinatos de indígenas no passado.

Para o cacique Marcos Xukuru, que participou do julgamento na Guatemala, as perdas são irreparáveis, mas ainda é motivo de celebração. “No tempo em que o Estado brasileiro demorou para demarcar a terra indígena, na Serra do Ororubá, o povo Xukuru conviveu com assassinatos, ameaças e criminalizações. Nosso direito à terra foi negado pelo Estado. As perdas são irreparáveis, mas sentimos que alguma justiça foi feita”, ele afirmou.

O cacique completou: “O território Xukuru só está sob os pés do povo porque fizemos retomadas, derramamos sangue. Espero que o STF [Supremo Tribunal Federal] leve em consideração a decisão da Corte Interamericana como jurisprudência para muitos casos que tramitam por lá". O pai de Marcos, cacique Xikão, foi assassinado por questões territoriais e é um símbolo da luta dos índios. 

O processo - Xikão foi nomeado como cacique nos anos 1880, o que levou a uma articulação do povo Xukuru. Em 2001, a tribo conseguiu a homologação dos 27.555 hectares em que vivem na Serra do Ororubá, em Pesqueira. Mais de 11 mil indígenas vivem no local.

O caso dos Xukuru foi denunciado à CIDH em 2202. No relatório do mérito do caso, divulgado em julho de 2015, a comissão concluiu que o Estado brasileiro era responsável pelas violações de direitos do povo indígena Xukuru e fez recomendações ao Estado brasileiro, que ainda não foram cumpridas. 

Com informações da assessoria

 

Diversas organizações e movimentos da sociedade civil se reuniram nesta segunda-feira (22) para discutir o novo Fórum Popular de Segurança Pública de Pernambuco. Criado após uma audiência pública sobre segurança pública no último dia 12 de maio, o fórum pede mais transparência do governo e mais participação da sociedade civil nas discussões.

Uma das cobranças é a realização da 2ª Conferência Estadual de Segurança Pública -  a última aconteceu em 2009. O fórum também cobra um conselho estadual de Defesa Social. “A gente cobra a reestruturação do conselho estadual de Defesa Social, que não existe. Toda política pública vem acompanhada de seu conselho, para garantir a participação social”, comenta Edna Jatobá, coordenadora do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop).

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Cerca de 70 organizações da sociedade civil da Região Metropolitana do Recife (RMR) estão envolvidos com o fórum. Durante a reunião desta segunda, o grupo também planejou estratégias para a participação na próxima audiência pública sobre segurança, prevista para ocorrer na próxima quinta-feira (25) com a participação do secretário Angelo Gioia. 

A situação das mulheres presas será tema do debate “O encarceramento feminino: violações de gênero no cárcere”, marcado para a próxima quarta-feira (17) na Faculdade de Direito do Recife. Organizam o encontro o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), o Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC), Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), Marcha das Vadias e Coletivo Antiproibicionista de Pernambuco. 

Atualmente, o sistema carcerário de Pernambuco tem 1368 mulheres presas. Segundo o Gajop, as mulheres em situação de privação de liberdade estão longe do foco das discussões sobre sistema penitenciário e segurança pública.

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“As mulheres são invisibilizadas e têm questões de gênero bem particulares, que quase nunca se discute. O debate quer trazer luz para essa temática, discutir essas questões que ficam na sombra, como maternidade na prisão, o papel que essas mulheres cumprem e guerra às drogas que atinge principalmente a população negra, pobre e da periferia”, comenta Edna Jatobá, coordenadora do gabinete.

O diálogo será realizado no auditório Tobias Barreto, que tem capacidade para aproximadamente 80 pessoas. O debate está marcado para ocorrer das 9h às 12h. Não é preciso fazer inscrição. 

Em coletiva de imprensa realizada na tarde desta sexta-feira (25), no Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), na área central do Recife, as condições das Funases de Pernambuco foram tema de discussão. Durante a ocasião, os debates da audiência pública realizada nesta sexta-feira (25), na Assembleia Legislativa de Pernambuco, também foram analisados, bem como a atuação do secretário de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, Isaltino Nascimento, e a escolha do novo presidente da Funase, Roberto Franca.

Durante a abertura da audiência pública, Victor Cavalcante, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no Conselho Nacional de Defesa da Criança e do Adolescente (Conanda), apontou que, em Pernambuco, não há sistema socioeducativo, e sim, de contenção. Mas em defesa do Estado, Isaltino Nascimento disse não admitir que pessoas de fora falassem mal do sistema daqui. “Isso gerou um desconforto, pela forma grosseira e indelicada de abordar a comissão. Ele ainda disse que esse era um problema nacional e que eles deveriam se preocupar com outros estados porque, para Pernambuco, isso não cabia”, declarou a coordenadora executiva do Gajop, Deila Cavalcante, criticando o secretário Nascimento.

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Questionado sobre a postura do secretário, Everaldo Patriota, representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Conanda, disse que Nascimento tem "uma dialética tensa". "Isaltino defendeu uma posição de governo. Isso é natural de quem é agente político. Nós vemos isso como uma resistência a querer ver a superação dos impasses como uma construção coletiva, porque tem que ter participação da sociedade civil, judiciário, Ministério Público, defensoria e Executivo”, apontou.

Patriota ainda alegou que o político deve saber enxergar os erros existentes não ter um discurso meramente defesor do governo. “Não se pode ter um discurso de impasse, confronto ou transferir as responsabilidades que são do executivo para outras esferas”. 

A Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude se limitou a dizer que, numa circunstância como uma audiência pública, é normal a existência desse tipo de discordância, principalmente porque Isaltino Nascimento era o úni representante do governo. 

Novo presidente da Funase é elogiado

Por outro lado, a escolha de Roberto Franca à frente da Funase foi ressaltada como positiva pelos membros da comissão . “Julgo como uma boa escolha o nome de Franca. Ele tem histórico nos direitos humanos e pode ter a sensibilidade necessária para o cargo”, disse Everaldo Patriota. Mesmo com a esperança de que o novo nome possa fazer diferença nas busca por melhorias das condições existentes, a coordenadora do Gajop apela pela sua autonomia. “É importante que ele possa fazer o trabalho dele, sem que existam determinações que impeçam isso”. 

A situação das Funases em Pernambuco foi levada a uma audiência pública, na Assembleia Legislativa de Pernambuco, nesta sexta-feira (25). Na sequências, representantes do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional de Defesa da Criança e do Adolescente (Conanda) apresentaram o resultado das discussões - principalmente após a vistoria da unidade em Caruaru - em coletiva de imprensa no Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop). 

“Essa é uma realidade já denunciada pela sociedade civil, Ministério Público e entidades. Esses adolescentes estão desde a rebelião sem banho de sol, confinados em menor quantidade de alojamentos, porque alguns deles foram destruídos”, detalhou Everaldo Patriota, representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Conanda. Ele ainda denuncia que há cerca de sete reeducandos em um mesmo alojamento, não há colchão suficiente para todos e as aulas e oficinas não têm sido realizadas. “Estão 24 horas em celas que deveriam conter somente dois, sem qualquer atividade”. 

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Cenário encontrado em Caruaru

A equipe critica que a gestão tem feito uma "maquiagem" dentro da Funase de Caruaru. “A unidade foi limpa em uma quinta-feira, o que não é usual. O espaço também foi pintado, mas a limpeza não foi total”, apontou Patriota. Ele aponta que foram encontrados lugares sem nenhum padrão de higiene, mas “90% da unidade estava arrumada. Inclusive, todos os professores estavam lá, mas não está havendo aula”. 

De acordo com Victor Cavalcante, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no Conanda, as unidades de internação contam com a Lei do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) 2594/2012, que estabelece um tipo arquitetônico para essas casas. É determinado um quarto para cada dois adolescentes, a existência de salas de aula, espaços de atendimento médico, lazer e oficinas.

“Já em Caruaru não há nada disso, ela foge completamente de toda a determinação. Inclusive a norma diz que ela tem que ter o mínimo de caráter prisional e não foi isso que encontramos”. A equipe ainda apontou para o número de equipe técnica - abaixo do esperado - e a falta de divisão entre idades e atos infracionais praticados. “Ficam todos juntos no mesmo alojamento. Não há qualquer distinção”. 

Outro ponto apresentado foi a ocorrência de “chaveiros”. Esses reeducandos determinam quem deve ser direcionado ou não àquela unidade. O presidente ainda aponta para a possibilidade do acionamento de medidas. “Por fugir dos parâmetros, o Ministério Público pode ser acionado para o fechamento da unidade ou audiências concentradas para a redução de internações. Ver os atos infracionais, se são de maior ou menor potencial ofensivo e determinar progressão de pena”.

Próximos passos

No próximo dia 5 de dezembro haverá uma reunião com os colegiados, a fim de fecharem um relatório com as medidas necessárias para melhorar o sistema das Funases. O material final deverá ser apresentado ao governo. Outras unidades também serão visitadas no intuito de serem observadas as irregularidades, mas o grupo não divulgou quais seriam as próximas.   

Números de mortes nas Funases

A estatística de mortes registradas nas Funases é considerada alarmante para as entidades, tanto que um comparativo com a tragédia do Carandiru foi feita por Everaldo Patriota. “Lá eram sete mil detentos e foram 132 mortos. É um fato que nunca mais sairá da história da humanidade. É muito triste para o estado de Pernambuco ter 40 mortos num período de cinco anos, considerando que toda a população internada não chega a 1.500 pessoas”, explicou.

Deila Cavalcante, coordenadora executiva do Gajop, apontou que a entidade - em vista dos números de homicídios - recorrerá a instâncias internacionais “porque todos os órgãos brasileiros que poderiam ser acionados já foram procurados”.

Representantes do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e Conselho Nacional de Defesa da Criança e do Adolescente (CONANDA) vão visitar unidades da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) nestas quinta (24) e sexta-feira (25). Na quinta (24) eles vão visitar a unidade de Caruaru, no Agreste. 

A presença dos conselhos no Estado atende a uma solicitação do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), que enviou denúncias sobre mortes, violação de direitos humanos e falta de estrutura nas unidades. No mês de outubro, 11 adolescentes que cumpriam medidas socioeducativas morreram, sendo sete deles na unidade da Funase de Caruaru e quatro na de Timbaúba, na Mata Norte de Pernambuco.

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A unidade da Funase que será visitada na sexta-feira (25) ainda não foi divulgada. A missão conta também com integrantes do Conselho Estadual de Direitos Humanos (CEDH-PE), do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA-PE), do Comitê Estadual de Prevenção e Combate à Tortura (CPCT-PE) e da Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). 

Os motins resultaram no afastamento das funções do presidente da Funase, Moacir Carneiro Leão. Ele foi substituído pelo advogado Roberto Franca, que deve apresentar um projeto de reformulação do sistema. 

No início de outubro, após uma visita à Funase de Caruaru, o Gajop havia enviado um relatório informando sobre um risco iminente de rebelião na unidade. No dia 30 do mesmo mês, um motim causou a morte de sete internos.

A missão de visita à Funase começa ainda nesta manhã, com uma reunião com a Rede de Atenção à Criança e ao Adolescente. Também está prevista uma reunião com o Ministério Público de Pernambuco (MPPE). Na sexta, será realizada uma audiência pública na Alepe e uma coletiva de imprensa. 

No dia 15 de outubro, o modelo catarinense Paulo Ricardo Evangelista Mantovani, de 28 anos, foi preso no Aeroporto do Recife com 3,3 kg de haxixe em sua mochila, divididos em 120 pacotes. Como foi preso em flagrante, ele passou pela audiência de custódia. Lá, o modelo foi liberado para responder ao processo em liberdade.

A liberação do modelo causou um debate nas redes sociais e nos próprios grupos da imprensa. A Justiça Federal em Pernambuco (JFPE) se manifestou através de nota dizendo que o magistrado que optou pela soltura levou em conta a quantidade de droga transportada, o fato do flagrante haver colaborado com as investigações e a comprovação de que ele possui endereço fixo e profissão definida.

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Apesar de a imprensa ter cobrado a prisão do modelo, o LeiaJá ouviu especialistas que defendiam a opinião de que o acusado realmente deveria ser solto. O que chamava a atenção dos especialistas, na verdade, é que muitas pessoas em situações semelhantes às de Mantovani têm a prisão preventiva decretada. Essas pessoas geralmente são negras, pobres, moradoradas das periferias. No vídeo abaixo, você pode conferir o debate sobre as audiências de custódia, seus indícios de seletividade, preconceito, erros e acertos. 

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Desde o início do mês, o Governo de Pernambuco havia sido informado do risco iminente de rebelião na Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) de Caruaru, no Agreste. Na noite do domingo (30), um motim na unidade resultou em sete mortos.

As informações sobre o risco de um grande tumulto constam no relatório construído pelo Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), no início do mês de outubro. Na ocasião, representantes do Gajop estiveram na Funase de Caruaru justamente para apurar denúncias de uma possível rebelião violenta e uma ocorrência envolvendo adolescentes feridos após um procedimento de revista. 

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A visita ocorreu no último dia 7 de outubro. No dia 10, o relatório foi entregue ao Conselho Estadual de Direitos da Criança e Adolescente (CEDCA), do qual fazem parte representantes da sociedade civil e do governo. A última folha do relatório apresenta recomendações, todas aprovadas na reunião do CEDCA.

Os internos relataram ao Gajop que havia uma tendência à rebelião porque o tratamento estava desumano. O clima na unidade já se encontrava tenso no início do mês, quando eles estavam há três semanas sem sequer tomar banho de sol, nem realizar qualquer atividade socioeducativa. 

Diferentes versões

A ocorrência com adolescentes feridos aconteceu no dia 5 de outubro. Na versão do diretor da unidade, identificado como Paulo Pinto, e do chefe de segurança, identificado como Florêncio, é contado que três adolescentes de 17 anos estavam de posse de um celular. Eles teriam se negado a entregar o aparelho ao agente socioeducativo que, ao tentar buscar o objeto, foi atingido por um aparelho de TV e um DVD.

O agente teria revidado a agressão, o que causou um tumulto, com adolescentes de outras casas da unidade batendo nas grades; a polícia precisou ir ao local para intervir. Os três adolescentes permaneceram na unidade enquanto o agente conseguiu licença médica. Na versão dos três adolescentes, o relato do ocorrido é um pouco diferente. Eles confessaram ao Gajop que de fato existia um celular que eles se negaram e entregar. Os agentes, então, usando toucas ninjas, teriam apagado as luzes da casa 01 e, com os três adolescentes sem roupa, teriam realizado agressões com barrotes de madeira.

Um dos adolescentes contou ter levado uma furada de punhal na perna direita e choque elétrico. Contaram ainda ter havido uso indiscriminado de spray de pimenta contra todos os adolescentes da casa 01, que teriam ficado assustados e aí começado a bater nas grades. Consta no relatório que os adolescentes disseram ter a polícia ido ao local, mas sem chegar a intervir na situação. 

Além disso, o relato dos adolescentes também menciona que os agentes acusaram um dos adolescentes de ser tarado. O objetivo seria provocar um dano maior ao menor, visto que essas práticas não são aceitas pelos internos. Os adolescentes, mesmo com escoriações e hematomas visíveis, não haviam sido levados ao atendimento médico. Eles revelaram o nome dos agentes agressores diante do chefe de segurança.

Pressão de movimentos sociais

Após a visita, o Gajop recomendou uma denúncia ao Ministério Público de Caruaru com o objetivo de interditar a Funase de Caruaru. O relatório foi entregue, nesta segunda-feira (31), ao Ministério Público da Vara Regional de Infância e Juventude de Caruaru.

LeiaJá questionou à Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude como a rebelião com sete mortes veio a acontecer, mesmo a pasta estando ciente da possibilidade. De maneira simplória, a secretaria respondeu apenas que está ciente das questões levantadas e que a Funase trabalha para enfrentar o problema de lotação em suas unidades.

A nota da secretaria aponta que o governo está construindo mais uma unidade no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife (RMR), e outra em Jaboatão, também na RMR. Ainda, estão sendo finalizadas a unidade de Arcoverde e a reforma no Centro de Informação Provisória (Cenip), no Recife. Por fim, a nota alega que os agentes socioeducativos são treinados dentro da política de respeito aos direitos humanos.

O Movimento Nacional de Direitos Humanos de Pernambuco (MNDH-PE) enviou uma nota de repúdio ao que chamaram de “caos no sistema socioeducativo em Pernambuco”. A carta lembra que no intervalo de cinco dias 11 internos morreram, contando com o motim da Funase de Timbaúba. 

O texto ainda pedia que o governador Paulo Câmara se pronunciasse firmemente com relação à efetivação do Estatuto da Criança e do Adolescente, com recursos e investimentos. O movimento ainda solicitou que o secretário de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, Isaltino Nascimento, e o presidente da Funase, Moacir Carneiro Leão, sejam afastados do cargo.

Resposta imedita: Funase terá novo presidente a partir de amanhã

Após as mortes e denúncias contra a Funase, o governador Paulo Câmara designou a mudança na presidência da Fundação. Sai Moacir Carneiro Leão e entra o advogado Roberto França. A nomeação será publicada no Diário Oficial do Estado, nesta terça-feira (1°).

"Franca tem uma larga experiência no serviço público, na área de Direitos Humanos e Justiça, e acredito que é a pessoa certa para realizar uma reformulação imprescindível na Funase", declarou Câmara. O novo gestor terá um prazo de 60 dias para apresentar um plano de reestruturação. 

No último sábado (2), um adolescente de 15 anos foi assassinado a facadas na Ilha de Itamaracá, na Região Metropolitana do Recife (RMR). A vítima fazia parte do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) desde o dia 26 de fevereiro e havia deixado a cidade de Alagoinha, no Agreste, já para não ser assassinado.  

Esta é a primeira morte de uma pessoa incluída no PPCAAM nos seus oito anos de existência em Pernambuco. Para muitos, o crime revela uma fragilidade do Estado em dar o devido acompanhamento a estas pessoas.

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Na última quarta-feira (6), na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), o deputado estadual Edilson Silva (PSOL) exigiu a exoneração do secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico. “Ele [Pedro Eurico] é um secretário ausente. Este crime é um reflexo da falta de diálogo do secretário com a sociedade civil. Houve negligência”, disse o deputado ao Portal LeiaJá

Não há informações se a morte do adolescente está relacionada ao motivo pelo qual ele entrou no PPCAAM; há suspeitas de que ele estaria envolvido com a criminalidade local. O conselheiro tutelar e militante dos direitos da criança e adolescente André Torres classifica como lastimável a morte de um adolescente que devia estar sendo protegido pelo governo. “Houve negligência desde o momento do assassinato até o sepultamento. Se ele está no programa é preciso monitoramento. Se o jovem cometeu alguma desobediência, então tinha que ser desligado do programa ou advertido, receber alguma orientação”, opina Torres.

A menção ao sepultamento do adolescente, citado por Torres, se deve a uma denúncia feita pelo Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop) de que, além de ter sido assassinado dentro do programa de proteção, a vítima foi enterrada como indigente. O administrador do cemitério de Alagoinha teria revelado a um integrante do Gajop que o adolescente havia sido enterrado na terça-feira (5) sem a declaração de óbito. O documento só teria sido expedido no dia seguinte, na quarta-feira (6). “Este documento ter saído apenas no dia seguinte é um procedimento, no mínimo, não cuidadoso. Isso demonstra falta de cuidado e respeito. Esta família, estando no programa, conta com o Estado, que teria responsabilidade de cuidar de todo este trâmite”, critica a coordenadora executiva do Gajop, Deila Martins. 

Para André Torres, também chama atenção o fato de o adolescente ainda não possuir o documento de identidade. “A primeira medida num programa como esse é a identificação da pessoa. Eu, como conselheiro tutelar, pergunto primeiramente pelo documento da pessoa”, destaca. A Secretaria de Justiça e Direitos Humanos rebateu, alegando que o assassinado não foi enterrado como indigente. “O sepultamento foi realizado de forma digna, com a certidão provisória, expedida pelo IML, com o nome do adolescente, identificação dos pais e registro de identidade, além de endereço residencial”, diz trecho da nota.

A secretaria também destaca que o Estado articulou junto ao município de Alagoinha o transporte do corpo para o sepultamento, além de prestar apoio à família, que contou com escolta da Polícia Militar para comparecer à cerimônia. Segundo a pasta, a família do menor de idade já foi transferida para um novo local de proteção no dia do crime e recebeu uma visita de acompanhamento no domingo (3). 

A nota da secretaria lembra também que a equipe do programa de proteção realizou acompanhamento semanal da família, conforme documentário do Diário de Campo, assinado pela própria família. O adolescente e seus irmãos já estavam frequentando a escola e durante este período a família não teria denunciando ameaças. A Secretaria de Justiça e Direitos Humanos está acompanhando o caso, que está sob a responsabilidade da Divisão de Homicídios da Região Metropolitana. 

Organização Social – Outra crítica que vem sendo tecida nesta história é com relação à empresa que executa o projeto. De 2007 a 2014, o programa era executado pela ONG Tortura Nunca Mais e em 2015, pelo Gajop.  Neste ano, assumiu uma Organização Social (OS). “No final de dezembro, o governo decidiu direcionar este serviço para uma organização que não é reconhecida como de defesa dos direitos humanos”, aponta Deila Martins, do Gajop. Ela lembra ainda que o Estado deu apenas 24 horas para o Gajop fazer todo o procedimento de entrega do programa e acusa a medida de ser uma retaliação pelo fato do gabinete ter pedido para se desligar do programa de proteção de a vítimas, testemunhas e familiares de vítimas de violência (Provita). Em 2015, o PPCAAM protegia cerca de 25 adolescentes.  

“Essa OS não é uma entidade de direitos humanos. Entre os serviços que ela desenvolve está administração e estacionamento de aeroporto. Não é uma coincidência que uma vítima de perseguição, que está sob a tutela do Estado, seja assassinada”, acusa Edilson Silva. 

O conselheiro tutelar André Torres cogita denunciar ao Ministério Público que a OS também não tem o registro necessário para executar este tipo de trabalho. A Coordenação Geral do Conselho Tutelar do Recife, do qual Torres faz parte, emitiu um posicionamento revelando ter recebido em janeiro denúncia de que a organização não estava regularmente registrada no Conselho Municipal do Direito das Crianças e Adolescentes (COMDICA) do Recife, o que seria obrigatório conforme a Lei Federal 8.069/90, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O LeiaJá entrou em contato com a OS, que não terá o nome divulgado por uma medida de segurança, e ela apenas informou que os posicionamentos são dados pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos. 

Foi anunciada, na tarde desta sexta-feira (2), a não renovação do convênio do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop) para a execução do Programa Estadual de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas de Morte em Pernambuco (Provita). 

Durante pronunciamento foi explicitado que o motivo de deixar o projeto, que há 20 anos era executado pelo gabinete, foi a excessiva conjuntura de desrespeito e violação promovida contra as políticas públicas de proteção no Estado. A decisão foi tomada em reunião realizada no último dia 29 de setembro.  

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De acordo com Rodrigo Deodato, Coordenador Executivo do Gajop, o modelo estruturado vigente de conveniamento tem impedido a realização dos objetivos essenciais do projeto. “Nós não aceitamos mais a estrutura de violação e desrespeito que vem sendo estabelecida nos últimos anos. Por conta disso, essa decisão é irreversível e irrevogável, mas continuaremos mantendo a assistência em prol da proteção pública”, explica Rodrigo. 

De acordo com o coordenador, o repasse da verba do Governo do Estado para o projeto estava atrasado há sete meses e, por conta disso, houve atraso de alugueis, além da não distribuição de recursos para alimentação e necessidades básicas, ausência de continuidade de acompanhamento psicossocial adequado, dificuldade de acesso às demais políticas públicas no âmbito da assistência social.

Todas essas questões impossibilitaram o gabinete de seguir, com a execução do projeto que tem que permanecer, visto que a existência dessa política faz parte da lei. Para isso, uma assembleia deverá acontecer para definir qual entidade cuidará do projeto a partir de agora. Por enquanto, não há nenhum nome cotado. 

O projeto – De acordo com Cristiane Meireles, coordenadora do programa, o Provita dá proteção a 30 pessoas, sendo 11 testemunhas de crimes como homicídio (em sua maioria); tráfico de drogas; extorsão e tortura. Os outros 19 correspondem a familiares que acompanham o parente na proteção. No geral, as pessoas possuem idades entre 20 e 39 anos, mas há crianças e bebês presentes. Em 20 anos de programa no estado, não houve nenhum assassinato a protegido.

Confira o vídeo com a conselheira do Provita, Verônica Carrazzone, que explica os próximos passos do projeto:

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A Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) debate, nesta segunda-feira (17), às 10h, o conteúdo de dois projetos de lei que tramitam na Casa e que dispõem sobre as manifestações populares e a atuação das forças policiais em protestos pacíficos.

A primeira proposta, de autoria do deputado Antônio Moraes (PSDB), impõe restrições à liberdade de manifestação, como aviso prévio de 72 horas às autoridades e multa para quem descumpri-lo. A segunda proposta foi elaborada por entidades da sociedade civil, como Gajop e CPDH (Centro Popular de Dirietos Humanos), e busca regulamentar a ação policial, como a obrigatoriedade de identificação na farda, por exemplo, e disciplinamento no uso das armas menos letais.

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A comissão é presidida pelo deputado Edilson Silva (PSOL). Representantes da sociedade civil e do governo estadual foram convidados para participar do encontro.

Devido as suspeitas da morte do estudante Raimundo Matias Dantas Neto, conhecido como Samambaia, o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (GAJOP) enviará na segunda-feira (14) uma nota pública à Organização das Nações Unidas (ONU) pedindo um acompanhamento do caso do estudante. 

A Organização Não Governamental (ONG) acredita que a morte do estudante tenha sido motivado por questão racial e pede a Organização que acompanhe o inquérito policial e que a organização cobre do Governo Brasileiro, políticas públicas eficazes que permitam coibir esse tipo de crime. A nota está sendo enviada para três “estâncias” da ONU, a Relatoria Especial da ONU sobre execuções sumárias, arbitrárias e extrajudiciais; a sobre tortura e outros tratamentos cruéis e desumanos e a de Discriminação Racial e Xenofobia.

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O coordenador Executivo da GAJOP, Rodrigo Deodato, falou sobre a necessidade de tornar público para a Organização das Nações Unidas o caso de Samambaia. “Em Pernambuco encontra-se, entre os oito Estados onde a morte de jovens negros ultrapassa a marca de 100 mil homicídios para cada 100 mil habitantes. Tal contexto não pode e nem deve ser tolerado, pois representa a constatação patente do aprofundamento das violações aos Direitos Humanos em nosso País”, afirmou o coordenador.

A morte de Raimundo Matias está sendo investigada pelo Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) e de acordo com o laudo divulgado pelo Instituto de Medicina Legal (IML), o jovem teria morrido de “asfixia por afogamento”. As fotos apresentadas no inquérito constavam que o jovem estava apenas de bermuda, escoriações pelo corpo e parte do cabelo cortado. 

 

Nesta terça-feira (11), o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), realiza a 1ª Mostra de Direitos Humanos – Ações e Políticas Públicas. O evento ocorre em comemoração ao Dia Internacional dos Direitos Humanos celebrado nesta segunda (10).

Na mostra, stands de organizações não governamentais (ONGs), movimentos populares e secretarias e órgãos do poder público exposição de fotografias, cartazes, folders e panfletos informativos, cartilhas e outros materiais e objetos produzidos pelas entidades que atuam na área de Direitos Humanos no estado de Pernambuco.

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Além disso, em  uma “Mesa de Abertura” será discutida a “Educação e Cultura em Direitos Humanos – concepções e relatos de uma experiência”, na qual serão apresentados fundamentos, mobilização e metodologia do Projeto de Capacitação em Direitos Humanos para Lideranças Comunitárias, desenvolvido pelo GAJOP. O evento será realizado das 9h às 17h, no Espaço Ciência, que fica no Complexo de Salgadinho, em Olinda.

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