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Apesar das disputas sobre os significados e desdobramentos das jornadas de protestos de junho de 2013, é impossível contestar que as manifestações de rua foram bem-sucedidas em evitar o aumento das tarifas do transporte público. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, estavam previstos reajustes de R$ 0,20 que foram cancelados à época como forma de responder às reivindicações dos atos.

Na capital paulista, dez anos depois, foi rompido um ciclo de reajustes acima da inflação. Entre 1994 e 2013, a tarifa do transporte coletivo na cidade passou de R$ 0,50 para R$ 3. Se tivesse simplesmente acompanhado o ritmo da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a tarifa teria chegado a 2013 custando R$ 2,17.

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No entanto, as passagens de ônibus, metrô e trem, que, atualmente custam R$ 4,40, seriam de R$ 5,31 se os reajustes tivessem acompanhado o índice ao longo da última década. No Rio de Janeiro, a tarifa, que hoje é de R$ 4,30, seria de R$ 4,83 se tivesse sido reajustada pelo IPCA do período.

Para o urbanista e militante do Movimento Passe Livre de Brasília, Paique Duques Santarém, os protestos de 2013 “mudaram radicalmente o debate sobre transporte público no país”. Ele destaca, por exemplo, o “custo político” dos aumentos. “Quando um prefeito aumenta a tarifa, já está no cálculo dele que pode ter manifestação, que os parlamentares vão se mobilizar contra, que a mídia vai bater nele”, diz.

Tarifa zero

Há ainda, avanços na pauta que dá nome ao movimento que desencadeou os protestos das jornadas de junho. O pesquisador destaca que, há dez anos, apenas 14 cidades no país ofereciam gratuidade universal no transporte coletivo. Atualmente são 72 municípios. “Nós temos hoje sete capitais com grupos de estudo discutindo tarifa zero”, acrescenta em referência a São Paulo, Cuiabá, Florianópolis, Palmas, São Luís, Porto Alegre e Brasília.

“O sistema de transporte, pela falência do modelo atual dele, tende a tarifa zero como mecanismo incontornável”, enfatiza Santarém. Na avaliação dele, há uma retração da lucratividade do transporte público nas cidades médias e grandes, o que ajuda a impulsionar o debate sobre a gratuidade universal. “São cidades que estão buscando mecanismos e considerando a possibilidade da tarifa zero, não se ela é viável ou não, porque já sabemos que é, mas métodos de implementação dela”, acrescenta.

Apesar dos avanços na discussão sobre a tarifa zero, o coordenador do Instituto Pólis, Rodrigo Iacovini, acredita que pouco mudou desde 2013.

“Na época, existiam alguns grandes gargalos relacionados à mobilidade urbana no Brasil. [Há] alguns desses motivadores do disparo das manifestações em 2013 que permanecem até hoje em alguma medida. Um deles é uma matriz de mobilidade brasileira centrada na prevalência do carro, no transporte individual motorizado”, analisa.

Para ele, as jornadas de protestos fizeram emergir demandas mais profundas do que somente o preço dos transportes. “Reivindicação do direito à cidade, que é muito mais complexo do que o acesso ao transporte público”, diz.

História de precariedade e protestos

“Eu encaixo junho de 2013 relacionado ao problema histórico da mobilidade precária na cidade de São Paulo. Os 20 centavos foram o estopim diante a um iceberg que está relacionado a esse problema histórico que a classe trabalhadora sempre enfrentou”, diz o professor do Campus Leste da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do grupo Rede Mobilidade e Periferia, Ricardo Barbosa da Silva.

A cidade de São Paulo tem, de acordo com o pesquisador, um longo histórico de mobilizações contra aumentos das tarifas de transportes. “Com a criação da CMTC em 1947 teve o primeiro quebra-quebra em manifestação porque houve um aumento da passagem”, acrescenta sobre a extinta Companhia Municipal de Transportes Coletivos.

No entanto, os atos, antes de 2013, costumavam ter, segundo Barbosa, adesão apenas de trabalhadores e estudantes. “De um lado você tem historicamente a classe trabalhadora e os estudantes que sempre lutaram contra o aumento e pela melhoria da mobilidade. Você tem, agora, uma juventude que está se interessando, inclusive, da classe média, por assuntos da pauta ambiental e pelo ativismo da mobilidade”, avalia o especialista.

Como legado das jornadas, o pesquisador também aponta que a pauta da mobilidade passou a ocupar um lugar central no debate público. “A mobilidade é uma pauta política. Até então, a pauta da mobilidade era um tema jocoso até. Não era levado a sério. Até nas campanhas políticas, com o Levy Fidelix [candidato à Presidência que tinha como proposta o ‘aerotrem’]”, compara.

Lotação e falta de investimentos

Mesmo assim, a qualidade do transporte melhorou pouco na Grande São Paulo, na opinião de Barbosa.

“O problema da lotação que é histórico, que a classe trabalhadora enfrenta no cotidiano, nem com a pandemia foi resolvido. Pelo contrário, principalmente as linhas mais periféricas, em que as pessoas não permaneceram no home office, permaneceram mais lotadas”, diz.

Entre outros problemas, o pesquisador destaca a falta de corredores de ônibus na zona leste paulistana e de ciclovias nas periferias da cidade. “Até hoje o monotrilho não chegou à Cidade Tiradentes”, acrescenta sobre uma das obras de infraestrutura previstas para a Copa do Mundo de 2014.

O processo de privatização, que tem concedido linhas de metro e trens a empresas privadas, tende, na avaliação de Barbosa, a agravar os problemas enfrentados pela população. “A privatização vai ampliar um problema, que é histórico, que é pensar o transporte simplesmente como um negócio, uma forma de as empresas ganharem dinheiro. Quando deveria ser pensado como um serviço público fundamental e de garantia de acesso a outros direitos da população”, defende.

Com o leilão do 5G definido, as operadoras de telecomunicações terão de correr agora para fazer frente aos compromissos de implementação das redes definidos pelo governo e colocar em prática seus planos de negócios para ganhar dinheiro com a nova tecnologia. Para isso, porém, o setor terá de superar alguns "gargalos".

Um deles é a escassez de mão de obra qualificada, na avaliação de Luiz Henrique Barbosa, presidente da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações (Telcomp). "Existem mais de 400 mil vagas abertas no ramo de telecomunicações, de tecnologia da informação, que não são preenchidas por falta de profissionais qualificados", afirma ele.

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Segundo Barbosa, a falta desses profissionais capacitados abrangeria de desenvolvedores de aplicativos para explorar as novas funcionalidades do 5G a técnicos que trabalham com a instalação de equipamentos.

Outro gargalo apontado pelo setor diz respeito à burocracia para instalação de antenas nos municípios. Embora exista legislação federal orientando o licenciamento de novas estações rádio-base, são as leis municipais que definem as regras de instalação.

Um levantamento realizado pela Conexis, o sindicato patronal das grandes operadoras, apontou que apenas 7 das 27 capitais brasileiras teriam legislações consideradas "modernas" para instalação de infraestrutura. Nos outros casos, as regras apresentariam defasagem, conflitos e excesso de burocracia.

"O 5G vai exigir de 5 a 10 vezes mais antenas do que o 4G, considerando a mesma área de cobertura, mas são antenas pequenas que podem ser instaladas nas fachadas dos edifícios", afirma o presidente executivo da Conexis, Marcos Ferrari.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), participa, nesta terça-feira (9), do anúncio da nova etapa do Programa de Investimento em Logística, do Governo Federal. Durante o evento, que acontece em Brasília, a presidente Dilma Rousseff (PT) deve anunciar, entre o pacote de concessões, a revitalização e ampliação das BRs-232 e 101, a implantação do Arco Metropolitano e de terminais do Porto de Suape. 

Caso sejam confirmadas, as concessões vão ajudar Paulo Câmara a cumprir promessas de campanha. No ano passado ele prometeu que duplicaria a BR-232 até Arcoverde e frisou que, mesmo sendo uma obra federal, se a presidente não instalasse o Arco Metropolitano a gestão estadual tomaria à frente. O anúncio dos estudos para as concessões rodoviárias, portuária e da aviação acontece às 10h. 

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A infraestrutura logística é um gargalo importante da economia brasileira. Os projetos em andamento no País precisam absorver tecnologia de ponta, disponível internacionalmente. Por causa disso, a Finep, empresa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, tem buscado financiar os estudos iniciais desses projetos, para modernização de portos, aeroportos e rodovias brasileiros.

Um exemplo é o Aeroporto de Viracopos, em Campinas, interior de São Paulo, que assinou em abril contrato de R$ 170,6 milhões com a instituição. Como contrapartida, a concessionária precisará investir pelo menos R$ 18,9 milhões. "A primeira parcela está prevista para ser liberada ainda este mês", disse Luiz Alberto Küster, presidente da concessionária Aeroportos Brasil Viracopos.

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O principal objetivo é financiar a transferência de tecnologia internacional de gestão e operação de aeroportos. Boa parte dos itens do contrato é de tecnologia da informação, como sistema de compartilhamento de terminais de check-in entre companhias aéreas, sistema de antenas compartilhadas para telefonia celular, banco de dados centralizado para a operação do aeroporto, centro de dados e anel de fibra óptica.

Só existe inovação quando as empresas conseguem obter resultados financeiros com base em novos produtos, serviços e processos. Em infraestrutura, os processos são essenciais, e eles são muitas vezes amparados por recursos de tecnologia da informação. "Nessa área, a inovação está muito ligada à engenharia básica, conceitual", disse Rodrigo Fonseca, diretor de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Finep. "As empresas estão correndo atrás das melhores práticas."

Com financiamento dos projetos básicos, a Finep espera ajudar a recuperar essa inteligência no País. "Os projetos começaram a chegar com mais frequência no último ano", afirmou o diretor da Finep.

Além de Viracopos, Fonseca citou um contrato de R$ 21,9 milhões, que deve ser assinado ainda este mês com a Contern, construtora do Grupo Bertin. O contrato da Finep vai financiar os estudos de engenharia para a instalação de uma nova rodovia até o Porto de Santos, interligando a Estrada dos Fernandes, em Suzano, até a Rodovia Cônego Domenico Rangoni.

Fonseca citou outro projeto que ainda está em processo de contratação, no valor de R$ 16 milhões, com a construtora WTorre. Ele deve financiar os projetos conceitual e básico do Terminal Portuário de São Luís, no Maranhão.

No dia 4 de junho, o Estado promove, em parceria com a Finep, o evento Inovação, Infraestrutura e Produtividade, em São Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) volta a mencionar os gargalos na infraestrutura como um fator para limitar um maior crescimento da economia brasileira. "O Brasil está correndo contra estrangulamentos pelo lado da oferta, que estão restringindo a expansão do produto e puxando a inflação para cima. Assim, não vemos o crescimento este ano maior que os 2,3% do ano passado", afirmou o diretor para o Hemisfério Ocidental do Fundo, Alejandro Werner, em uma entrevista à imprensa nesta quinta-feira.

Werner diz que a queda dos preços internacionais das commodities, por conta da economia chinesa crescendo menos, vai ofuscar um pouco a maior demanda por produtos brasileiros por conta da recuperação da economia dos EUA e na Europa. O diretor destaca ainda que as condições nos mercados financeiros internacionais vão ficar mais apertadas, em meio à retirada dos estímulos monetários pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). Isso se traduz em custos mais altos de empréstimos nos mercados financeiros.

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Na América Latina, o México deve ser um dos destaques de crescimento este ano e se expandir 3%, acima dos 1,2% do ano passado, puxado pela recuperação dos Estados Unidos. A projeção do FMI é que os EUA cresçam 2,8% em 2014, acima dos 1,9% de 2013.

Para países como Argentina e Venezuela, as perspectiva é menos favorável, diz o diretor. Pressões na inflação, no câmbio e no balanço de pagamentos estão pesando na confiança dos agentes e afetando a demanda agregada.

A falta de rotas alternativas para escoar a safra agrícola criou uma forte concentração no sistema portuário. Sem ferrovias e hidrovias suficientes e com estradas em péssimas condições, quase dois terços dos grãos exportados acabam indo para Santos e Paranaguá. O restante é dividido entre 16 terminais espalhados pela costa, especialmente entre aqueles instalados nas regiões Sul e Sudeste, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).

Se, em situações normais, essa dependência já não é saudável, num cenário de produção recorde, os problemas dobram. Os acessos terrestres da maioria dos portos não estão preparados para receber uma quantidade tão grande de grãos como a prevista para este ano.

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Foi o que se viu em Santos nos últimos dias, com filas que ultrapassaram 25 km na Cônego Domênico Rangoni, que dá acesso ao porto. Enquanto os motoristas ficavam horas estacionados na rodovia sem conseguir chegar ao terminal, os navios permaneciam parados no mar sem poder atracar por falta de carga para carregar. Até sexta-feira, eram 76 navios na barra de Santos.

O problema é agravado pela baixa participação das ferrovias no transporte de cargas. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), 55% da soja produzida no Brasil é movimentada em caminhões; 35% por ferrovia; e apenas 10% por hidrovia. Ou seja, a cada tonelada de aumento na safra, o número de caminhões também cresce nas estradas.

Parte dos grãos colhidos em Sorriso (MT), o maior produtor de soja do País, percorre 2.029 km para chegar a Santos. Se a BR-163, inaugurada em 1976, estivesse pavimentada, o caminho seria, pelo menos, 700 km mais curto - e, sem dúvida, mais barato. A situação de Sinop é ainda pior. São quase 1.000 km a mais por causa das restrições da rodovia. Neste ano, uma fatia da produção será desviada para o Porto de Rio Grande - distante mais de 2.800 km dos municípios.

A exportação das duas cidades - assim como a de todo Centro-Oeste - também seria beneficiada se o Brasil tivesse uma malha mais robusta de ferrovias e hidrovias que permitisse escoar a produção pelos portos do Norte. A rota é mais vantajosa financeiramente já que está mais próxima dos Estados Unidos, da Europa e do Canal do Panamá (passagem para as cargas rumo a China).

Apesar disso, no ano passado, os terminais de Itaqui (MA), Itacoatiara (AM) e Santarém (PA) movimentaram apenas 14% dos grãos exportados, segundo os dados da Antaq. O coordenador do Movimento Pró-Logística de Mato Grosso, Edeon Vaz Ferreira, explica que problemas não faltam para limitar a exportação pelo Norte. Um deles é a limitação da capacidade da hidrovia que leva os grãos até Itacoatiara e Santarém. Isso sem contar na BR-163 que praticamente inviabiliza o tráfego de caminhões.

Para chegar ao porto de Itaqui, há a ferrovia Norte-Sul, que opera a partir de Palmas. "Cerca de 800 toneladas de soja do Mato Grosso são transportadas pela ferrovia. O problema é a precariedade da estrada (BR-158) para chegar até ela." Além disso, o terminal de grãos de Itaqui demorou muito para ser construído.

Mas quem pensa que a rota para os portos do Sul e Sudeste não tem restrições engana-se. Há uma série de pontos de estrangulamento, diz Ferreira. Segundo ele, as passagens por Cuiabá e Rondonópolis, por exemplo, têm sido uma tormenta para os motoristas. Para atravessar uma ponte de apenas 28 km em Cuiabá demora-se mais de três horas.

Tormenta. "A taxa recorde de produção de soja e milho, que deveria ser festejada, tem tirado o sono de todo mundo já que todos os elos da cadeia logística se esgotaram", diz o gerente de economia da Abiove, Daniel Furlan Amaral. Ele observa que de cinco anos pra cá, a safra de grãos saltou de 135 milhões de toneladas para 185 milhões de toneladas. "Mas o que ocorreu durante esse tempo na infraestrutura? Não vemos grandes avanços."

Desde o ano passado, a presidente Dilma Rousseff anunciou uma série de pacotes para eliminar os gargalos da infraestrutura. Mas os modelos de negócios estão sendo revistos. No caso dos portos, a MP 595 ainda terá de ser aprovada pelo Congresso. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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