As autoridades de Israel proibiram nesta quinta-feira (15) a entrada de duas congressistas americanas no país e nos Territórios Palestinos ocupados, devido ao seu apoio à campanha de boicote contra o Estado hebreu e a um pedido do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Ilhan Omar e Rashida Tlaib, as duas primeiras mulheres muçulmanas eleitas no Congresso e integrantes da ala mais à esquerda do Partido Democrata, deveriam desembarcar neste fim de semana em Tel Aviv para visitar os Territórios Palestinos, onde eram aguardadas.
Mas depois de uma controvérsia na imprensa local e um pedido do presidente Donald Trump, o Ministério do Interior israelense decidiu proibir a entrada das duas legisladoras no país, considerando que sua visita era parte das "atividades anti-israelenses de boicote".
A decisão foi tomada em comum "acordo" com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e os ministros das Relações Exteriores e das Relações Estratégicas, informou o ministério do Interior.
"Essas congressistas utilizam o cenário internacional para dar seu apoio ao movimento BDS (sigla para Boicote, Desinvestimento, Sanções) que pedem boicote a Israel", acrescentou a pasta.
O organismo justifica sua decisão com base numa lei israelense que permite desde 2017 proibir a entrada de simpatizantes do movimento BDS (Boicote, Desinvestimento, Sanções), que defende um boicote econômico, cultural ou científico contra Israel em retaliação à ocupação dos Territórios Palestinos.
- Uma "afronta" -
A colonização de Israel na Cisjordânia ocupada e na Jerusalém Oriental anexada continuou sob todos os governos israelenses desde 1967, mas nos últimos anos acelerou com Benjamin Netanyahu, que tem apoio de Washington.
Trump considerou nesta quinta-feira que Israel mostraria uma "grande fraqueza" se permitisse a visita de Rashida Tlaib e Ilhan Omar.
"Odeiam Israel e todo povo judeu, e não há nada que se possa dizer ou fazer para mudar sua opinião", insistiu o presidente na mesma rede social. "São uma vergonha!", acrescentou.
"Nenhum país respeita os Estados Unidos e seu Congresso mais do que o Estado de Israel", disse Netanyahu. "Israel está aberto aos visitantes com uma exceção, aqueles que exigem e defendem o boicote", acrescentou.
"É uma afronta que o primeiro-ministro israelense Netanyahu, sob pressão do presidente (Donald) Trump, negue a entrada a representantes do governo americano", criticou Omar, em um comunicado.
"Um Estado que não tem nada a esconder não pensaria em impedir a chegada de dois membros do Congresso. É mais uma vez uma tentativa desesperada de esconder a realidade do mundo", comentou Ayman Odeh, um deputado árabe-israelense.
A acadêmica palestina Hanan Ashrawi denunciou a medida como "um ato ultrajante de hostilidade contra o povo americano e seus representantes".
A presidente da Câmara de Deputados dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, classificou a decisão israelense de "sinal de fraqueza [...] abaixo da dignidade do grande Estado de Israel".
A entidade americana que faz lobby pró-Israel AIPAC, que não aprova o apoio das duas congressistas ao movimento BDS, criticou a decisão das autoridades israelenses.
"Todos os membros do Congresso deveriam poder visitar e experimentar in loco como é nosso aliado democrático Israel", informou o grupo.
- No povoado -
Tlaib nasceu em Detroit, Michigan, é a primeira congressista americana de origem palestina. Seus pais cresceram na Cisjordânia ocupada. Omar nasceu na Somália e chegou aos Estados Unidos como refugiada, quando era pequena.
No povoado de Beit Ur al Fauqa, a família de Tlaib esperava com impaciência a chegada do "orgulho local", que pretendia se reunir a partir de domingo com organizações locais e visitar parentes.
"Preparamos uma festa para ela e Ilhan. Queremos sacrificar um cordeiro para recebê-las", disse à AFP a avó de 85 anos da democrata Muftia Tlaib, cercada por familiares, pouco antes do anúncio do veto ao desembarque da congressista.
Para seu tio Bassam, de 53 anos, que diz que espera desde 2006 o regresso de Rashida, sua entrada foi proibida "porque defende sua nação e a causa palestina".