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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para famílias com renda até cinco salários mínimos, registrou taxa de 1,04% em abril deste ano, a maior variação para um mês de abril desde 2003 (1,38%). Em março deste ano, a taxa havia ficado em 1,71%.

Segundo os dados divulgados hoje (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no mês de abril, o INPC ficou abaixo da inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que registrou taxa de 1,06%.

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No acumulado de 12 meses, no entanto, o INPC chegou a 12,47%, acima dos 12,13% apurados pelo IPCA.

Em abril, os produtos alimentícios tiveram inflação de 2,26%, enquanto os não alimentícios registraram taxa de 0,66%.

Além de zerar o imposto para os 11 produtos que pressionam a inflação, o governo brasileiro também estuda uma nova redução nas tarifas cobradas para importações de fora do Mercosul. Pelas regras do bloco, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai deveriam cobrar uma mesma alíquota de importação - a Tarifa Externa Comum (TEC) -, salvo exceções negociadas.

Depois de tentar que o bloco todo baixasse as alíquotas em geral, sem sucesso, o Brasil resolveu fazer o movimento unilateralmente no ano passado.

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Em novembro, os ministérios da Economia e das Relações Exteriores anunciaram a redução em 10% das alíquotas de 87% da pauta comercial, mantendo de fora bens como automóveis e sucroalcooleiros, que já têm tratamento diferenciado pelo bloco.

Pelas regras do Mercosul, a TEC só poderia ser alterada em comum acordo pelos quatro países. Mas o Brasil deve, novamente, recorrer a um dispositivo que permite a adoção de medidas voltadas à "proteção da vida e da saúde das pessoas".

Em novembro, o governo brasileiro justificou a medida após a alta de preços gerada com a pandemia do coronavírus. Agora, a justificativa é de que a guerra no Leste Europeu tem sido responsável pelo aumento global dos preços, o que permitiria o corte de tarifas.

Desde que assumiu, em 2019, o ministro da Economia, Paulo Guedes, defende uma redução da TEC como forma de abrir o mercado brasileiro e integrar a produção interna a outras cadeias produtivas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O novo aumento no preço do diesel nas refinarias, anunciado nesta segunda-feira (9) pela Petrobras, ajuda a encarecer os preços dos alimentos, afirmou o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, em nota.

"O novo aumento do diesel anunciado nesta segunda-feira (9/5) é mais uma medida com impactos cruéis sobre a inflação e que contribui ainda mais para a explosão dos preços da comida dos brasileiros", declarou Bacelar, na nota da entidade.

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A Petrobras elevará o preço do óleo diesel nas refinarias nesta terça-feira (10) em cerca de 8,87%. O preço médio de venda de diesel para as distribuidoras passará de R$ 4,51 centavos para R$ 4,91 por litro, R$ 0,40 centavos a mais. Os preços de gasolina e do GLP (gás liquefeito de petróleo) permanecerão, por ora, inalterados. A companhia justificou o aumento ressaltando que o megarreajuste feito em 11 de março "refletia apenas parte da elevação observada nos preços de mercado" e que, no momento, há uma redução mundial na oferta de diesel, o que pressiona os preços globalmente.

A FUP calcula que, na gestão de Jair Bolsonaro na Presidência da República, ou seja, de janeiro de 2019 a 9 de maio de 2022, houve um aumento de 155,8% no preço da gasolina nas refinarias, enquanto o óleo diesel subiu 165,6%, e o GLP encareceu em 119,1%, "levando o preço médio do botijão de gás de 13 quilos para acima de R$ 120,00".

"A estratégia da Petrobrás, sob a vigência do PPI (política de Paridade de Preço Internacional), está ancorada na geração de caixa com objetivo de ampliar a distribuição de dividendo", criticou Bacelar.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) deve encerrar o mandato com um feito inédito: ser o primeiro presidente a entregar o salário mínimo valendo menos do que quando foi eleito. Desde o Plano Real, nenhum outro gestor desvalorizou o abono dos trabalhadores dessa forma.

A corretora Tullet Prebon Brasil calcula que a perda percentual será de 1,7%. Há três anos, o piso salarial não é reajustado acima da inflação.

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Se a inflação não acelerar ainda mais do que é esperado pelo Boletim Focus, do Banco Central, o salário mínimo cairá de R$ 1.213,84 para R$ 1.193,37 entre dezembro de 2018 e dezembro de 2022, descontada a inflação.

Os motivos da desvalorização seriam a disparada da inflação e o ajuste fiscal, que puxa o aumento do piso salarial com as despesas da Presidência e os benefícios sociais, por exemplo.

A escalada da inflação no País, com índices acima de dois dígitos (no acumulado em 12 meses) desde setembro do ano passado, tem dificultado bastante o planejamento das empresas até mesmo no curto prazo. Sem previsão de quanto vai custar a matéria-prima ou o frete no mês seguinte, muitas delas estão tendo de engavetar investimentos importantes para a melhoria do processo produtivo, mudar modelos de vendas e reajustar os preços mais vezes durante o ano, para não comprometer as margens financeiras.

Algumas, no entanto, têm feito várias manobras para retardar cada vez mais o repasse de preços e não perder vendas. O fato é que a inflação alta provoca um ciclo vicioso difícil para uma retomada consistente da economia.

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Os preços altos comprometem a renda da população. Consequentemente, o consumo cai e as vendas das empresas diminuem. Com faturamento menor, as companhias não têm opção a não ser deixar de investir e reduzir mão de obra, o que eleva o desemprego.

"Tem sido complicado acertar as previsões", afirma o copresidente da indústria de papel cartão Papirus, Amando Varella. O executivo conta que, por causa dessa dificuldade, a empresa tem feito mais reajustes de preços aos clientes se comparado aos anos anteriores, quando essa mudança ocorria a cada 12 meses.

Em 2021, a companhia realizou três reajustes. Neste ano, uma nova revisão já foi informada aos clientes e deve ser implementada em junho.

EQUILÍBRIO

A Finder, fabricante de relés - componente eletrônico usado, por exemplo, em equipamentos de energia, tornos, fresas, alarmes e automação predial -, também foi obrigada a rever seus preços antes da data prevista.

Normalmente, a Finder altera sua tabela uma vez, sempre no fim do ano. Mas, agora, terá de mudar a estratégia. A partir de junho, a companhia vai aplicar reajustes de até 10%, de acordo com a linha de produtos. Alguns componentes, porém, não terão aumento.

O diretor comercial da empresa, Juarez Guerra, afirma que acompanha diariamente os custos da empresa e busca mecanismos para manter um ponto de equilíbrio nas contas. "Tenho de ficar com um olho no peixe e outro no gato", brinca ele.

A variação cambial também foi um fator que impactou as margens da empresa, com fábrica localizada em São Caetano do Sul, no ABC paulista. A empresa recebe da matriz italiana a maior parte dos componentes para a produção, informa Guerra. "Ainda bem que agora a questão cambial está melhorando."

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A possibilidade de o Brasil registrar uma inflação acima de 10% em 2022, pelo segundo ano seguido (em 2021, o IPCA foi a 10,06%), entrou no radar dos economistas. A previsão vem crescendo em meio a impactos da guerra na Ucrânia, dúvidas sobre o efeito da política de "covid zero" da China nas cadeias produtivas, aumento dos juros nos Estados Unidos e disseminação das altas de preços no Brasil. O cenário eleitoral aparece como fator de pressão adicional.

Se isso acontecer, será a primeira vez, desde o início do Plano Real, que o País terá inflação de dois dígitos por dois anos seguidos. Com esse cenário, a taxa de juros básica, elevada pelo Banco Central (BC) anteontem para 12,75% ao ano, teria provavelmente de subir acima dos patamares hoje projetados e se manter alta por mais tempo. E começam a voltar os temores de inércia inflacionária e indexação, "doenças" da época da hiperinflação em que as altas de preços passadas se refletiam nos preços futuros e mantinham a inflação em alta.

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O banco BNP Paribas foi o primeiro a elevar, oficialmente, a projeção de IPCA em 2022 para 10% - o dobro do teto da meta. "Esperamos pressão dos mesmos setores, mas com impacto mais forte e duradouro", escreveram em relatório Gustavo Arruda, chefe de pesquisa para América Latina do BNP, e Laiz Carvalho, economista para Brasil da instituição. Já a projeção do BNP Paribas para o IPCA fechado em 2023 subiu de 4,5% para 5% (o teto da meta no ano que vem é de 4,75%).

Segundo Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, a probabilidade de o IPCA atingir dois dígitos em 2022 aumentou de 10% para 30% nos últimos dois meses. "Há alguns meses, imaginávamos que essa inflação mais elevada tinha a mesma característica da de 2021. Hoje, vemos uma situação diferente, com espalhamento preocupante e núcleos afetados, sem a evolução esperada para os itens que o BC tem maior condição de controlar", diz. "Nossa expectativa para o IPCA 2022 está em 8,4%, mas pode chegar a um patamar até mais elevado que o de 2021. É uma possibilidade que não é remota."

João Fernandes, economista da Quantitas, elevou a projeção de IPCA de 2022 de 8,8% para 9% e alertou que os riscos ainda são para cima. Um novo reajuste dos combustíveis por parte da Petrobras, por exemplo, adicionaria até 0,2 ponto porcentual à estimativa.

O governo anunciou em março uma estimativa de 6,55% para o IPCA no ano. Esse dado será atualizado neste mês.

ALIMENTOS

Segundo o BNP, a principal pressão virá de alimentos, que devem ter a maior variação de preços em 2022, de 17%. O banco estima ainda impactos do petróleo, de problemas na cadeia de suprimentos mundial e da expectativa de aceleração da atividade de serviços no Brasil.

Na XP Investimentos, as projeções para o IPCA são de 7,4%, para 2022, e de 4% para 2023, mas o economista-chefe, Caio Megale, admite que uma taxa de 9% neste ano é um cenário bastante plausível, mesmo com a previsão de a Selic chegar a 13,75% em junho.

Megale cita riscos na projeção de preços de alimentos, de serviços (sustentados pela reabertura econômica e por programas de antecipação de renda do governo), no setor industrial (com os lockdowns na China) e em preços administrados (com os reajustes anuais nas distribuidoras rodando em torno de 20%).

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu para 3% a estimativa de crescimento do PIB das economias europeias avançadas em 2022 - 1 ponto porcentual a menos do que nas projeções de janeiro -, e para 3,2% a do avanço do PIB das economias europeias emergentes (excluindo Belarus, Rússia, Turquia e Ucrânia), 1,5 ponto porcentual a menos na mesma comparação. As revisões aconteceram após o início do conflito entre Rússia e Ucrânia, que contribuiu para os altos preços de itens como alimentos e energia.

Já a estimativa de inflação nas economias europeias avançadas e emergentes subiu para 5,5% e 9,1%, respectivamente.

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"Uma guerra prolongada aumentaria o número de refugiados indo para a Europa, os problemas de logística, pressionaria a inflação e aprofundaria as perdas na produção", afirma a entidade em nota. A recomendação é para que países lidem com essas questões usando principalmente a política fiscal. "Estabilizadores fiscais automáticos devem poder operar livremente, enquanto gastos adicionais são alocados para apoio humanitário para refugiados e para transferências a domicílios de baixa renda e a empresas vulneráveis, porém viáveis", afirmou.

As avaliações foram publicadas no documento Perspectiva Econômica Regional para a Europa, divulgado nesta sexta, 22, pelo FMI. O diretor do Departamento de Europa do Fundo, Alfred Kammer, escreveu no blog da entidade que a guerra tem sido um obstáculo para que a Europa se recupere da pandemia de covid-19. "Aumentos de preços de energia e alimentos estão reduzindo o consumo, e a incerteza econômica deve restringir investimentos", afirma. Ele lembra ainda que a Europa deveria melhorar sua segurança energética, principalmente por meio da maior eficiência e da expansão de fontes renováveis.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A candidata do partido Reagrupamento Nacional (RN, extrema-direita) à eleição presidencial francesa, Marine Le Pen, afirmou nesta quarta-feira que o governo e o presidente, o também candidato Emmanuel Macron, "ignoram" o "muro da inflação" que o país vai enfrentar.

"Vamos assistir um grande aumento dos preços e ninguém quer falar sobre isso, há uma forma de negação por parte do governo. Fico surpresa que o presidente da República não fale sobre esta inflação e as medidas que contempla adotar para enfrentá-la", disse Le Pen, durante uma visita a uma empresa nas proximidades de Paris.

Macron, centrista liberal, e Le Pen disputarão o segundo turno da eleição presidencial francesa em 24 de abril, depois que foram os mais votados no primeiro turno do domingo passado.

"Estamos diante de um muro de inflação que está chegando" e que afetará indivíduos e empresas, acrescentou Le Pen.

"Gás, combustível: o aumento dos preços tem consequências catastróficas para o tecido econômico (...) apresento este elemento porque acredito que deve ser considerado quando se fala em geopolítica, assuntos internacionais", acrescentou Le Pen, em referência às sanções contra a Rússia, que está em guerra contra a Ucrânia, apoiadas pela França.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, registrou taxa de 1,62% em março deste ano. O indicador ficou acima dos observados no mês anterior (1,01%) e em março do ano passado (0,93%). Essa é a maior taxa para um mês de março desde a implantação do Plano Real, em 1994.

O dado foi divulgado hoje (8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O IPCA acumula taxa de 3,20% no ano. Em 12 meses, o acumulado chega a 11,30%, acima dos 10,54% de fevereiro.

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O principal impacto na inflação de março veio dos transportes, que subiram 3,02% no mês. A taxa foi puxada pela alta nos combustíveis, que subiram 6,70% no período. A gasolina foi o item de maior impacto no IPCA de março (6,95%).

Outros combustíveis com alta de preços foram o óleo diesel (13,65%), gás veicular (5,29%) e etanol (3,02%). Também tiveram aumento itens como transporte por aplicativo (7,98%), seguro voluntário de veículo (3,93%) e conserto de automóvel (1,47%). 

Em seguida, aparecem os alimentos, com alta de 2,42%, puxada por itens como tomate (27,22%), cenoura (31,47%), leite longa vida (9,34%), óleo de soja (8,99%), frutas (6,39%) e pão francês (2,97%). A refeição fora de casa subiu 0,65%.

Oito dos nove grupos tiveram alta de preços: vestuário (1,82%), habitação (1,15%), saúde e cuidados pessoais (0,88%), despesas pessoais (0,59%), artigos de residência (0,57%) e educação (0,15%). O único com queda foi comunicação, com -0,05%.

A sétima edição do Boletim de Desigualdade nas Metrópoles foi divulgada nesta quinta-feira (07) e mostrou que a renda média dos brasileiros atingiu o valor de RS$1,378, menor valor registrado desde o início das medições em 2012. O boletim apontou a diminuição na renda das famílias, ainda que o número absoluto de pessoas ocupadas tenha aumentado.

Segundo os pesquisadores responsáveis pelo Boletim, a diminuição na renda é resultado do impacto direto da inflação no bolso da população. O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços do Consumidor Amplo 15), considerado como a prévia oficial da inflação, registrou a maior alta desde 2015, subindo 0,95%. Dentre os itens mais afetados pela inflação, o custo dos alimentos foi o que mais pesou.

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A pesquisa aponta que os mais pobres estão recuperando uma parcela da renda perdida em decorrência da pandemia, porém, os números absolutos ainda são 8,9% menores em relação ao mesmo período pré-pandemia. Segundo os idealizadores do estudo, a retomada na renda das famílias mais pobres está relacionada ao crescimento no número de ocupações informais, principal fonte de renda destas famílias.

A pesquisa foi realizada em parceria entre os pesquisadores da PUC-RS, do Observatório das Metrópoles e da Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), a partir de dados do PNAD Contínua trimestral, do IBGE.

Por Matheus de Maio

 

 

 

Faltam 12 dias para a Páscoa e os brasileiros terão que regular os tradicionais presentes da celebração às mudanças nos preços dos ovos de páscoa. Segundo um levantamento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE, os produtos mais consumidos no feriado acumularam uma inflação de até 83% nos últimos 12 meses.  

Chocolates em barra e bombons tiveram um aumento de 10,74%. Já os açúcares e derivados, usados em sobremesas, acumularam uma alta de 19,85%. No caso do açúcar refinado, a variação chegou a 43,77%. 

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De acordo com o gerente do IPCA do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Pedro Kislanov, o açúcar foi prejudicado pelas questões climáticas, tanto pelas geadas de inverno quanto pelo período de seca. “Tivemos altas seguidas de mais de 4% ao mês no preço do açúcar no segundo semestre de 2021. A cana-de-açúcar tem uma competição como produto alimentício e como base para a produção de etanol”, afirmou o gerente do IPCA. 

Segundo o economista e professor do Ibmec, Gilberto Braga, os preços dos produtos também foram afetados pelas variações nas importações e exportações durante a pandemia de Covid-19. Ele projetou que as vendas deste ano podem não crescer tanto, devido ao aumento de custo de vida, que pesa na decisão da compra. 

De acordo com a Associação de Supermercados em São Paulo, os preços de ovos de páscoa estão até 40% mais caros em 2022.

Por Camily Maciel

 

 

Com o desarranjo das cadeias globais de produção em meio à pandemia, a inflação ao motorista acumulou alta de 17,03% nos 12 meses encerrados em março, segundo cálculos feitos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) a pedido do Estadão/Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), com dados do Índice de Preços ao Consumidor-10 (IPC-10). A cesta inclui preços de veículos, combustíveis, peças, serviços correlatos e tarifas públicas como multas e licenciamento. A inflação oficial, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumula 10,79% em 12 meses até março.

A guerra na Ucrânia acrescenta uma pressão adicional nas cotações do petróleo: caso nada mais aumente em abril, apenas o reajuste de combustíveis feito em março pela Petrobras elevará essa taxa para 22,08%.

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"Combustível é o foco (da inflação em abril), mas, com a retomada das atividades pós-pandemia, a gente pode ver novos reajustes em serviços que estavam meio congelados, como oficina, por exemplo", previu Matheus Peçanha, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/Ibre).

No lado dos produtos, os dados mais recentes do IPCA, referentes a fevereiro, mostram que os automóveis novos já acumulam alta de 22,94% em 18 meses de aumentos consecutivos, apurou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"Movimento semelhante ocorre em automóveis usados e motocicletas. A explicação por trás é exatamente a mesma, o setor automotivo tem sido um dos mais impactados pelo desarranjo das cadeias produtivas", afirmou Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE, à época da divulgação dos números.

O automóvel usado já sobe há 20 meses, com alta acumulada de 22,66%. As motocicletas sobem há 15 meses seguidos e já ficaram 17,72% mais caras no período. Outros serviços correlacionados também tiveram aumento, como seguro voluntário, emplacamento e conserto.

Graças à demanda aquecida, o setor automotivo é o único entre os dez que integram o comércio varejista ampliado que tem conseguido repassar ao consumidor quase integralmente a elevação de preços dos produtos na porta de fábrica, conforme levantamento do economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Peças

Nos 12 meses terminados em janeiro de 2022, os preços de produtos da indústria automotiva ficaram 17% mais altos na porta de fábrica. No varejo, a alta de preços ao consumidor nas lojas de veículos e motos, partes e peças foi de 16,5%. Isso significa que 96,8% do aumento de custos do atacado foi repassado ao cliente final, calculou Bentes. "O setor está tentando retomar a margem de lucro que perdeu durante o período mais crítico da pandemia", avaliou Bentes.

A indústria automobilística foi afetada pelo desarranjo das cadeias produtivas e pela falta de insumos, mas também pelo aumento de custos de matérias-primas e de energia, apontou André Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV/Ibre. "Se a indústria automobilística não conseguia atender o mercado, isso ajudou a aquecer o mercado de usados. Os automóveis novos subiram tanto quando os usados. Se não tinha peça, o carro fica mais escasso, isso provoca um choque de oferta", disse Braz.

Preços altos e juros elevados devem afastar cliente

O sonho do automóvel novo ficou mais distante para os brasileiros. Os preços mais elevados e a alta das taxas de juros no financiamento esfriarão a demanda, preveem especialistas.

Após dois anos de fortes reajustes, o preço médio dos "hatchbacks", categoria que inclui os carros mais baratos, ficou em R$ 79 mil em janeiro deste ano, segundo Cassio Pagliarini, da Bright Consulting, consultoria especializada no setor automotivo. Em 2016, o preço médio era de R$ 48 mil. Corrigindo pela inflação, seria o equivalente a R$ 62 mil.

O crédito mais caro deve servir para desacelerar os aumentos nos próximos meses, mesmo com a persistência de encarecimento de custos, estima o economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). "Nenhum segmento do varejo depende tanto do crédito quanto o automotivo. Essa tentativa de recomposição de margem (de lucro) não vai longe."

A taxa média de juros para aquisição de veículos foi de 26,86% em janeiro de 2022, segundo dados do Banco Central (BC) compilados por Bentes.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A inflação dos alimentos também vai dar as caras na Páscoa. Com a elevação do valor do cacau neste ano e com a alta dos custos operacionais - reflexo de fatores como o reajuste de combustíveis -, os ovos de chocolate estarão até 8,5% mais caros nos supermercados e chocolaterias. Para driblar a perda de poder aquisitivo do consumidor e garantir as vendas na primeira Páscoa não afetada pela pandemia desde 2020, as marcas estão apostando nas "lembrancinhas", como as barras e bombons.

Segundo projeções da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as vendas para a Páscoa devem ser de R$ 2,16 bilhões neste ano. Se confirmado, o desempenho será 1,9% superior ao de 2020, já descontada a inflação do período.

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Além de pagar mais caro, quem não está disposto a abrir mão dos ovos de Páscoa vai ter que pesquisar antes de comprar. Levantamento feito pelo CNC, a pedido do Estadão, mostra a variação de preços dos produtos. Dependendo do estabelecimento, um mesmo ovo de chocolate pode custar até 181% a mais (veja quadro). A análise considera os cinco itens mais procurados pelos consumidores. "É mais um reflexo da inflação, que desorienta os preços e deixa o consumidor sem uma base de comparação", explica o economista- chefe do CNC, Fábio Bentes.

Estratégia

De olho no orçamento restrito da clientela, a Cacau Show desenvolveu para a data uma lista de opções para todos os bolsos. Para atender às lojas próprias e franquias, a companhia aumentou em 24% a produção de chocolates em relação a 2021 e espera crescer 60% em faturamento, segundo o fundador e presidente da marca, Alexandre Costa. "Hoje temos produtos na marca com os mesmos preços que são praticados nos supermercados, mas com outra experiência de compra", afirma.

Mesmo com um público menos sensível à inflação, a marca de luxo Dengo também preferiu pensar a Páscoa com opções mais baratas, como barras e bombons. Dentro do setor de chocolates premium, a companhia espera crescer em faturamento na primeira Páscoa com lojas funcionando sem restrições por causa da pandemia. "Temos visto cada vez menos interesse pelos ovos. As pessoas estão mais preocupadas com a qualidade do chocolate", diz o presidente da Dengo, Estevan Sartoreli.

De acordo com Sérgio Molinari, fundador da consultoria Food Consulting, apesar de os ovos de chocolate terem um valor agregado muito superior ao de barras e bombons, essa mudança de estratégia das companhias, que vem se intensificando nos últimos anos, pode significar uma redução das perdas com encalhes, já que os ovos são um produto sazonal e podem ter de ser vendidos a preço de custo posteriormente para evitar que estraguem. "Essa mudança pode ser boa para a indústria, pois mantém o prazo de comercialização do produto, aumenta o tempo de prateleira e a chance de venda."

Físico x digital

Apesar da alta de preços e da menor propensão das famílias ao consumo, a Americanas ainda aposta no símbolo maior da data: espera vender 10 milhões de ovos na Páscoa deste ano, 20% a mais que no ano anterior. Para alcançar esse resultado, a companhia aposta na combinação das operações com a B2W Digital, que vai permitir expandir a ampliação do uso da plataforma digital para vender produtos.

Quem também quer surfar no digital é a Lacta. A marca da gigante de alimentos Mondelez relançou seu site de vendas e preparou um esquema de entregas com lojas físicas parceiras. Segundo o diretor de vendas da Mondelez no Brasil, Álvaro Garcia, por causa da redução no valor médio das compras, além das tradicionais parreiras de ovos, a empresa optou por trazer, pela primeira vez na Páscoa, espaços de destaque para os produtos de menor valor, como bombons soltos e barras. 

A disparada da inflação esvaziou o carrinho de compras de supermercado dos brasileiros no ano passado, e as novas pressões de preços das commodities, como trigo, soja, petróleo, provocadas pela guerra, devem piorar a situação.

Pesquisa da consultoria global Kantar mostra que, em 2021, com IPCA a 10,06%, o brasileiro levou para casa um volume 5,6% menor de produtos de uma cesta com 120 categorias, entre alimentos, bebidas, higiene e limpeza, na comparação com o ano anterior. Em número de unidades, o recuo foi de 2,6%. Mesmo comprando menos, o consumidor gastou 8,6% a mais do que em 2020. Em 2022, a alta de preços não deu trégua, pelo contrário (em 12 meses, até fevereiro, subiu para 10,54%).

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Esse cenário de bolso apertado com compras menores "se consolidou no final de 2021, especialmente no caso das commodities e dos produtos perecíveis, que inclui carnes", afirma Raquel Ferreira, diretora comercial da Kantar.

Mensalmente, a consultoria tira uma fotografia da despensa de 11 mil domicílios para projetar as compras de 58,8 milhões de lares existentes no País.

No último trimestre do ano passado, o consumo dessa cesta de produtos caiu ainda mais em unidades, 5% em relação a igual período de 2020. No caso das commodities, que incluem farinha, arroz, óleo de soja, a retração foi de 7,7%. E o desembolso em reais pela cesta como um todo aumentou 5,5%.

"A cesta de commodities já sofreu muito no fim de 2021 e deve ter um primeiro trimestre mais impactado pela alta de preço por conta da guerra", diz Raquel.

Mudança de hábito

Diante do aperto no orçamento que deve piorar em razão de novas pressões inflacionárias, a alternativa para o consumidor é intensificar o que ele já vinha fazendo ao longo de 2021. Isto é, buscar promoções, trocar marcas caras por econômicas, substituir carne por proteínas mais baratas, como ovo e empanados.

A pesquisa mostra que a disparada da inflação a partir do segundo semestre do ano passado provocou um aumento da participação das marcas econômicas, aquelas cujos preços estão 20% abaixo da média do mercado, no carrinho de compras. Até meados de 2021, respondiam por 14% da cesta total e fecharam o ano em 16%.

A perspectiva, diz Raquel, é de que a fatia das marcas econômicas, especialmente as regionais, avance e represente 18% da cesta. Essa foi a participação na época da hiperinflação, antes da estabilização com o Plano Real.

Sem marca

A publicitária e designer Sibele Monice, de 56 anos, que mora com filho de 17 anos e a mãe no ABC paulista, está um passo à frente de boa parte dos brasileiros. Para economizar, ela tirou as marcas da sua lista de supermercado e começou a comprar muitos produtos a granel, como cereais, arroz, feijão, e itens de limpeza, como sabão líquido, lustra móveis, por exemplo. "Eu não fui para a marca regional, mas aboli a marca", diz.

Na compra a granel de produtos sem uma marca específica, o consumidor tem a possibilidade de levar para casa a quantidade exata que precisa e não paga pela embalagem.

Arroz, por exemplo, ela costuma comprar três quilos. É uma quantidade diferente das embalagens comuns de marca, encontradas nos supermercados.

No caso do sabão líquido, Sibele trocou o Omo, cuja embalagem de três litros chegava a custar quase R$ 50, pelo sabão líquido a granel, que sai por R$ 20 cinco litros. "É muito mais barato comprar grãos e itens de limpeza a granel."

Ao optar por esse tipo de compra, ela reduziu a participação do supermercado como canal de abastecimento de produtos básicos e incluiu as lojas de bairro.

Em itens nos quais não é possível comprar a granel, Sibele continua se abastecendo no supermercado, mas trocou de marca para economizar. Só a marca de pó de café, trocou quatro vezes e assim baixou em R$ 7 o gasto com o item. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse em Nova York, em entrevista à TV Bloomberg, que uma das consequências imediatas da guerra na Ucrânia podem ser pressões inflacionárias mundiais, em alimentos, grãos, fertilizantes e energia. Perguntado sobre a posição "neutra" de Jair Bolsonaro sobre o conflito militar, Guedes afirmou que o Brasil votou duas vezes no Conselho de Segurança das Nações Unidas condenando a guerra e votará novamente assim. "Queremos que o conflito se resolva de forma pacífica o mais rápido possível."

"Estamos apenas começando a nos recuperar da pandemia. Não é bom para o mundo", disse, ao falar dos impactos inflacionários do conflito para a economia mundial.

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Guedes afirmou que a economia mundial passa por um processo sincronizado de desaceleração do crescimento, enquanto a inflação está subindo em vários países. As consequências da guerra só podem agravar esses efeitos.

Já o Brasil está "fora de sintonia" com a economia mundial, pois está crescendo. "O Brasil está na outra direção", afirmou o ministro, para quem o País está em transição de uma economia guiada pelo Estado para uma gerida pelo mercado.

"Até o fim do ano teremos US$ 200 bilhões em compromissos de investimento, em contratos já assinados de investimentos privados." Guedes citou que são investimentos em portos, concessões de rodovias e setor elétrico, no que ele diz ser equivalente a "dois Planos Marshall", o que reconstruiu a Europa no pós-Segunda Guerra.

Inflação

"A inflação no Brasil pode ser ainda menor que a dos Estados Unidos este ano", afirmou Guedes. "A inflação pode cair de 10% para a casa dos 5% e o Brasil pode surpreender no crescimento pelo lado positivo", afirmou.

Perguntado sobre a necessidade de um novo programa de crédito este ano, já que a economia está crescendo, Guedes disse que o governo não está imprimindo dinheiro ou expandindo o crédito, está apenas renovando dinheiro que voltou ao governo. Foi a primeira vez em uma recuperação da economia brasileira que metade dos empréstimos foram para empresas de menor porte e também atingiram os mais vulneráveis, disse o ministro. "A economia voltou de forma forte."

Guedes disse que o Brasil é provavelmente um dos poucos países que está retirando estímulos monetários e fiscais, enquanto outros estão atrasados neste processo. Nesse momento, ele disse que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e o Banco Central Europeu (BCE) "estão bem atrás da curva", ou seja, ainda vão precisar elevar muito os juros. Por isso, Guedes disse que está bem mais preocupado com a situação nos EUA, onde a inflação está vindo e o Fed "está dormindo no volante".

Sobre as contas públicas, Guedes afirmou que o Brasil reduziu o déficit fiscal de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para zero em um ano. "Nós contraímos a política fiscal durante a recuperação. Não há pressão inflacionária." Guedes disse ainda que todos os gastos sociais do governo Bolsonaro estão dentro do teto.

A inflação brasileira, que terminou 2021 acima dos 10%, começou este ano ainda bastante pressionada e com números ainda altos. O IPCA de janeiro ficou em 0,54%, o maior número para o mês desde 2016, puxado principalmente pelos alimentos. As previsões para o ano, até agora, vinham variando entre 5,5% a algo pouco acima dos 6% (lembrando que o teto da meta perseguida pelo Banco Central é de 5%). Mas essas previsões devem mudar, e para pior, por conta da Guerra na Ucrânia.

Um dos impactos mais imediatos é no preço do trigo, um dos grãos mais importantes usados na alimentação - está presente nos pães, nas massas, nas bebidas e também nas rações animais. O Brasil é um importador desse produto, já que produz menos do que consome. Em 2021, o País produziu 7,7 milhões de toneladas e importou um pouco mais de 6,2 milhões de toneladas, principalmente da Argentina.

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E, embora a importação direta da Rússia ou da Ucrânia (respectivamente o primeiro e o quarto maiores exportadores mundiais) não seja relevante, o Brasil sentirá o efeito da alta nos preços que pode ocorrer por conta da guerra. Segundo a consultoria Agroconsult, os preços internacionais já subiram 20% desde o início do ano e tendem a subir ainda mais com o conflito.

O milho, grão fundamental para a alimentação animal, é outro que afetar a inflação. Segundo os especialistas, o produto já está com cotações muito elevadas no mercado internacional, e qualquer aumento adicional vai pressionar ainda mais os custos dos produtores de carne. A Ucrânia é responsável por cerca de 16% das exportações mundiais de milho.

Também há o impacto nos fertilizantes. A Rússia é o maior fornecedor desse produto para o Brasil, com cerca de 20% dos adubos comprados pelo País. Este é exatamente o momento do ano em que os produtores estão comprando os fertilizantes para a safra 2022/2023, e o aumento dos custos por conta do conflito tornou-se motivo de grande preocupação.

Petróleo

A tudo isso se junta o preço dos combustíveis, que tem impacto direto e indireto na inflação. Na semana passada, após o início da invasão russa, o barril do petróleo chegou a passar dos US$ 105. O dólar, que tende a se fortalecer, também deve pressionar os preços.

Com esse cenário, especialistas já começaram a prever um quadro de estagflação - mistura de inflação alta com atividade econômica estagnada. O economista Armando Castellar, pesquisador associado da FGV/Ibre, por exemplo, disse esperar agora uma inflação na casa dos 6,2% ou 6,3%, com o PIB subindo entre 0,3% ou 0,4%, números piores que os projetados antes do início da guerra. Mas todos esses ainda são números preliminares, que vão depender da extensão da guerra, das sanções, dos efeitos que virão. O certo mesmo é que nada de positivo se pode esperar dessa situação.

Gás natural

A invasão da Rússia à Ucrânia deve ter reflexos no mercado global de gás natural, encarecendo ainda mais o preço do produto também no mercado brasileiro nos próximos meses, segundo especialistas consultados pelo Estadão/Broadcast. Nesse cenário, haveria pressão também sobre o custo da geração de energia em termoelétricas, embora não se fale, nesse momento, em risco de falta de gás.

Isso ocorre porque a Rússia responde sozinha por 40% do gás utilizado na Europa, que, em meio ao conflito diplomático e econômico com seu principal fornecedor, pode recorrer ao Gás Natural Liquefeito (GNL) importado de outras localidades para suprir sua demanda, pressionando ainda mais os preços globais. Além disso, um encarecimento do gás na Europa tem reflexos diretos em parte dos contratos de importação para o Brasil, uma vez que esses documentos costumam atrelar os valores às rubricas praticadas no mercado global.

Retaliação

"Não é apenas a questão militar, com as sanções, há também um risco econômico e regulatório, por isso há uma situação tensa no mercado", disse o professor do Instituto de Energia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/Rio), Edmar Luiz Fagundes de Almeida.

Segundo ele, as retaliações econômicas e sanções impostas à Rússia, além da suspensão da licença do gasoduto Nord Stream 2, construído para levar gás diretamente da Rússia à Alemanha - mas que ainda não começou a operar -, têm potencial para gerar desarranjo na economia global, mesmo que as forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não partam para um conflito armado. "É um momento muito delicado porque, dependendo do desenrolar da questão, pode trazer muitos malefícios para a economia mundial", disse.

Opinião semelhante tem o engenheiro e fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Adriano Pires. Ele, contudo, lembra que o Brasil adquire no mercado internacional, principalmente da Bolívia, boa parte do gás que consome, mas ele acredita que no caso do produto entregue pelas concessionárias de distribuição, os aumentos devem acontecer apenas no momento das revisões tarifárias feitas pelas agências reguladoras estaduais. "Antes havia a percepção de que no segundo semestre teríamos uma estabilidade, mas (com essa situação) provavelmente teremos novos aumentos no preço do gás esse ano", disse.

Ele também lembrou queno ano passado, quando a cadeia global de fornecimento de gás deu os primeiros sinais de desarranjo, o mercado já sentiu um estresse com aumentos de preços pela Petrobras, principal fornecedora nacional do produto no Brasil. Na época, a estatal anunciou elevação superior a 50% para contratos no mercado nacional, o que provocou uma onda de judicialização da questão e reclamações contra a empresa no Cade.

Infraestrutura

Embora o Brasil tenha uma grande reserva de gás natural, o País reinjeta pelo menos metade desse insumo de volta nos campos de petróleo, pois falta infraestrutura de gasodutos para escoamento desse gás. Caso ela existisse, o cenário poderia ser diferente e o País teria mais fôlego para enfrentar a crises como a atual.

Outro especialista que enxerga pressão nos preços do gás como consequência dos conflitos na Europa é o advogado Ali El Hage Filho, sócio do escritório Veirano. "O GNL acaba influenciando os preços do gás no mundo todo, e a gente já vinha de um cenário de pressão de preços mesmo antes da situação da Ucrânia. Acho que certamente vai continuar aumentando", disse.

Ele lembrou que, nos últimos anos, a Petrobras tem buscado paridade internacional para seus preços, e que outros supridores compram gás no exterior para atender contratos no mercado brasileiro. Essa situação de novos reajustes neste ano pode intensificar os problemas políticos e econômicos que a escalada nos preços do gás e dos combustíveis tem provocado no País.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Depois de subir 54% em 2021 - o que resultou em uma alta de 47,5% no preço da gasolina no Brasil, tornando-se umas das principais fontes de pressão inflacionária -, o petróleo já avançou mais 18,2% neste começo de ano. Na sexta-feira, o barril atingiu US$ 95 e, diante da ameaça da Rússia de invadir a Ucrânia, alguns economistas já falam da possibilidade de a cotação ultrapassar US$ 120.

Importante produtor de petróleo, a Rússia poderia, em meio a uma guerra, interromper o fluxo do produto - o que elevaria a cotação da commodity. "Só a expectativa de invasão já causa uma pressão nos preços. Estamos revisando nossas projeções de petróleo para incorporar essa história toda. O viés é de alta", diz a economista-chefe da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro.

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Com a expectativa de que haveria um aumento da oferta de petróleo na América do Norte e uma leve desaceleração na demanda, Alessandra projetava que o barril terminaria 2022 ao redor de US$ 65. "Esse patamar daria um bom alívio para a inflação." Inclusive, significaria uma queda de 16% na comparação com o valor registrado no fim de 2021. O cenário, no entanto, mudou mais uma vez, e o petróleo, seu efeito na inflação e na atividade voltaram a se tornar uma preocupação para governos de todo o mundo.

REVIRAVOLTAS

Há 22 meses, sobrava petróleo no mundo. Com a pandemia e países em lockdown, a demanda pelo produto despencou em 2020, os estoques ficaram abarrotados e, de repente, era preciso pagar para armazenar o óleo - o que fez o preço do WTI (tipo de petróleo produzido nos EUA) retrair. O barril do Brent (um petróleo mais leve e que serve como principal referência global) caiu na época para menos de US$ 20 - a primeira vez desde 2001 -, e a cotação parecia longe de se tornar um problema.

A demanda, porém, voltou muito mais rápido do que se previa, impulsionada por estímulos econômicos adotados por vários governos, e os países produtores não acompanharam o ritmo. Agora, quando se esperava uma acomodação, o preço voltou a disparar.

"Se houver um conflito, o céu é o limite (para a cotação). Caso não haja, provavelmente estamos perto do pico. A conclusão é de que, nos próximos meses, o preço ainda vai ser alto. Se não tiver guerra e o Banco Central dos EUA aumentar o juro, é possível que a demanda esfrie um pouco", diz José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados.

O podcast Educação Financeira do G1 inaugura um novo quadro com entrevistas mais longas com especialistas, para que o ouvinte entenda mais a fundo os assuntos fundamentais para guardar e gerir bem o dinheiro, além de dicas tradicionais de organização para sair das dívidas.  

Na primeira edição, a conversa é com Sara Delfim, sócia da Dahlia Capital e profissional com 20 anos de experiência no mercado financeiro. Ela fala sobre as perspectivas para a economia em 2022 e os principais desafios para quem começa ou procura oportunidades para investir. 

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“O nosso trabalho é prever o futuro, mas foge do nosso alcance. A pandemia é um grande exemplo. Como se preparar no mundo dos investimentos com o imprevisível?”, começou Sara. Para ela, a crise de 2008 foi o período em que marcou suas finanças, pois trabalhava no banco americano do qual faliu. Na situação atual do Brasil, a vacina avançou melhor que a economia.  

 

A inflação no Brasil, na pandemia, tem as causas principais: reabertura das economias com a demanda voltando, problema de desequilíbrio na cadeia de oferta e suprimento, questões das secas, falta de energia e por último, o petróleo. Isso impacta no frete, exportação e importação de alguns produtos. A inflação determina o rumo e os juros do Brasil.  

O processo de ajuste da inflação tem volatilidade e com o tempo, se normaliza e acomoda. O mercado vem se preparando para esses sinais, principalmente no Brasil, a mudança da renda variável para a fixa que é um movimento natural. “O imprevisível pode ocorrer a qualquer momento", relembrou Sara. As empresas perderam 70% do seu valor em 1 ano e a Bolsa ficou barata. No ponto de vista da Sara, nunca tiveram uma saúde financeira tão boa quanto tem hoje. As empresas que estão na Bolsa são as maiores e melhores do Brasil, são sobreviventes em qualquer crise.

O podcast pode ser ouvido no Spotfy em: https://open.spotify.com/episode/0jUxgwaARDcyqG6Fnu2593?si=2ipQoobDQlq6dGP1iiBEaw&utm_source=copy-link

por Camily Maciel

A mediana apurada para IPCA, o índice de inflação oficial, de 2022 avançou pela quarta semana consecutiva no Relatório Focus, se afastando ainda mais do teto da meta deste ano (5,0%). A estimativa avançou de 5,38% para 5,44%, de 5,03% há um mês, conforme divulgação desta segunda-feira (7) do Banco Central.

O objetivo a ser perseguido pelo BC este ano é uma inflação de 3,50%, com tolerância de 2,0% a 5,0%. Ou seja, o Boletim Focus segue indicando o segundo ano consecutivo de rompimento da meta, após o desvio de 4,81 pontos porcentuais do IPCA de 2021 (10,06%).

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Já a expectativa para o IPCA em 2023 permaneceu em 3,50%, mantendo-se acima do centro da meta (3,25%, banda de 1,75% a 4,75%). A mediana era de 3,36% há quatro semanas.

Considerando as 46 alterações nos últimos cinco dias úteis, a mediana para 2022 também subiu, de 5,45% para 5,50%. Para 2023, as 41 alterações feitas nos últimos cinco dias úteis mantiveram a estimativa mediana em 3,50%.

No comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) deste mês, o BC também passou a esperar novo rompimento da meta este ano, com a projeção subindo de 4,7% para 5,40%. Para 2023, a estimativa seguiu em 3,2%. O colegiado elevou a Selic em 1,5 ponto porcentual, para 10,75% ao ano.

No Boletim Focus, a mediana para 2024 continuou em 3,00%, assim como a de 2025 (3,0%). Há quatro semanas, ambas as projeções eram de 3,00%.

A meta para 2024 é de 3,00%, com margem de 1,5 ponto porcentual (de 1,5% a 4,5%). Para 2025, por sua vez, a meta ainda não foi definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

A tempestade que parecia ter ficado para trás ganhou novos capítulos em 2022. Pelo menos no início do ano, a inflação continuará pressionada por uma combinação de fatores domésticos e externos, segundo especialistas e o próprio Banco Central (BC).

Tensões geopolíticas internacionais, como a ameaça de conflito militar entre Rússia e Ucrânia, e fatores internos, como problemas climáticos e as incertezas políticas deste ano, puxarão os índices de preços pelo menos no primeiro trimestre.

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Em parte, o fenômeno da inflação tem origem externa e aflige inclusive países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, a inflação ao consumidor atingiu 7% em 2021, o nível mais alto desde 1982.

Na zona do euro, a inflação chegou a 5%, alcançando o maior valor desde a criação da moeda única no continente europeu. Esse cenário ocorreu mesmo com o desemprego elevado em vários países.

A reabertura das economias após a fase mais aguda das restrições sociais provocada pela pandemia fez o preço internacional do barril de petróleo subir para US$ 80, quatro vezes acima do que na fase mais aguda da pandemia, quando a cotação chegou a cair para US$ 19.

O problema não ocorreu apenas com o petróleo. Fontes de energia como carvão e urânio também ficaram mais caras.

As tensões entre Rússia e Ucrânia agravaram e um bombardeio a caminhões de combustível nos Emirados Árabes Unidos, perpetrado por rebeldes financiados pelo Irã, agravaram a situação.

Com o barril caminhando para US$ 90, a Petrobras anunciou o primeiro aumento de combustíveis em três meses. O reajuste terá impacto no bolso dos brasileiros nas próximas semanas, com a decisão dos governadores de descongelar o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre os combustíveis.

Outro fator que pressionou a inflação mundialmente foi o gargalo nas cadeias de produção após a reabertura da economia em diversos países. Além do aumento da demanda global, a política de lockdowns em zonas industriais e portuárias da China para conter o avanço da covid-19 provocou escassez de insumos e de mercadorias importadas.

Produtos industrializados passaram a ficar mais caros, com filas de duas a três semanas em vários portos para descarregar mercadorias. Os fretes quadruplicaram ou quintuplicaram, dependendo do produto.

Banco Central

O próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu recentemente os desafios para a segurar a inflação no início de 2022. Na semana passada, ele admitiu que a seca no Sul e as enchentes em Minas Gerais e no Nordeste estão afetando a inflação no início de ano.

“A inflação em 12 meses no Brasil está perto do pico, mas ainda vemos aumento de preços do petróleo e altas provocadas por problemas climáticos. Regiões do país com muita chuva ou seca já tiveram a colheita prejudicada, e isso já afeta o preço da comida”, disse Campos Neto num evento virtual promovido por um banco.

Para o presidente do BC, a crise energética global e a desvalorização do real estão contribuindo para que o Brasil importe inflação de outros países. “Se imaginarmos que a inflação energética do Brasil estivesse na média dos demais países, a inflação total do Brasil seria menor que a dos Estados Unidos”, comparou.

Depois de alcançar 10,06% em 2021, o maior nível desde 2015, a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá cair pela metade neste ano, mas permanecerá acima do teto da meta.

Segundo o boletim Focus, pesquisa com instituições financeiras divulgadas toda semana pelo Banco Central (BC), a inflação deverá ficar em 5,15% neste ano.

Para 2022, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou uma meta de inflação de 3,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O indicador terá de ficar entre 2% e 5%, para o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, não ser obrigado a escrever uma carta justificando o estouro da meta, como ocorreu com a inflação de 2021.

No documento, Campos Neto disse que a pandemia de covid-19 e a crise hídrica, que diminuiu o nível dos reservatórios, foram os principais fatores que impulsionaram a inflação no ano passado. Ele também atribuiu o repique nos preços ao aumento no preço de várias commodities (bens primários com cotação internacional).

Mesmo com as pressões internacionais, existem peculiaridades na economia brasileira que influenciam a inflação. No ano passado, a seca no centro-sul provocou a quebra de safras como a de milho e cana-de açúcar.

Usado na alimentação de gado, o milho teve impacto no preço da carne. A redução da colheita de cana afetou o preço da gasolina, que contém 27% de etanol na composição. O inverno forte em 2021 provocou geadas que queimaram plantações de café. O grão acumula alta de 46% nos últimos seis meses.

Incertezas

O professor de Economia do Ibmec Gilberto Braga aponta outro fator que complicará a inflação neste ano: a incerteza política e as pressões para aumento de gastos em ano de eleições. Para ele, a imprevisibilidade gerada pelo processo eleitoral pressionará os preços, à medida que inibirá investimentos do setor produtivo:

“Acho que a inflação é uma combinação de fatores internos e externos. Os fatores externos certamente contribuem, mas os fatores internos são mais relevantes no momento. O fato de este ser um ano eleitoral aumenta a pressão por mais gastos públicos, diversas categorias de servidores públicos estão pressionando por reajustes, sem contar que o Ministério da Economia cedeu parte da gestão do Orçamento à Casa Civil. Isso gera uma imprevisibilidade que atrasa investimentos, a geração de empregos e desestimula o empreendedorismo”.

Segundo Braga, a inflação deve cair por causa dos aumentos de juros promovidos pelo Banco Central, mas isso só ocorrerá no segundo trimestre. “A inflação deve cair por causa de respostas aos juros mais altos ainda esperados para o início de 2022. Os índices devem começar a cair no meio do ano, mas se mantendo em torno de 5% anualizados, acima do teto da meta”, estima o professor de economia.

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