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Mãe Terezinha Bulhões é uma das mais antigas iyalorixás e juremeiras de Pernambuco. Aos 90 anos de idade, ela continua se dedicando a seus trabalhos espirituais e sociais e consolidou-se como uma das mais importantes referências das tradições de matriz africana e indígena no Estado. Nesta quarta (7), dia de seu nonagésimo aniversário, a iyá recebe, como homenagem, o lançamento do documentário Mãe Terezinha Bulhões, Um Mar de Amor no Coração do Recife. 

O média metragem que conta a trajetória de Mãe Terezinha tem roteiro e direção assinados por Alexandre L’Omi L’Odò. O objetivo do documentário é deixar registrados a história e memória dessa liderança religiosa, que não havia recebido nenhum registro oficial até então. O filme tem produção da Angola Filmes e realização do Quilombo Cultural Malunguinho e a Casa das Matas do Reis Malunguinho e dá início ao projeto Mourão que não bambeia, que visa salvaguardar a memória e história oral do povo de terreiro de Pernambuco. 

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Em entrevista ao LeiaJá, Alexandre L’Omi L’Odò falou sobre a relevância desse trabalho. “Mãe Terezinha Bulhões é uma iyalorixá das mais antigas de pernambuco que tem um trabalho ininterrupto de benefício social, então ela não pode ter sua memória apagada. Respeitada e considerada, a história dela tem que ser contada. Ela é esse mar de amor mesmo, porque ela é doce, ela é essa representação de Iemanjá, uma mulher acolhedora, uma grande mãe, uma grande instrutora, orientadora de inúmeras vidas. Então, por isso, ela é digna de todas as homenagens para além de ser uma pessoa que leva à frente as insígnias religiosas do candomblé e da Jurema Sagrada, ela é um patrimônio vivo, ela é um depoimento vivo da diáspora africana e da resistência indígena no Brasil". 

O lançamento do filme acontece com exibição e apresentações de maracatu e coco, além do ‘’parabéns’ à Mãe Terezinha. A festa acontece na Praça da Vila das Lavadeiras, bairro de Areias. A produção pede que os visitantes façam o uso de máscaras individuais e álcool em gel, em respeito às normas sanitárias de segurança contra o coronavírus. O acesso ao local será restrito a 100 pessoas, de acordo com decretos governamentais relativos à pandemia. 

Serviço

Lançamento do documentário e aniversário de 90 anos de Mãe Terezinha Bulhões

Quarta (7) - 19h

Praça da Vila das Lavadeiras, Areias/Recife

Gratuito

*Lotação máxima de 100 pessoas

Há 15 anos, juremeiros e juremeiras de Pernambuco, e de todo o Brasil, ganharam um evento para celebrar a fé e a ancestralidade ligadas ao culto da Jurema Sagrada, religião de matriz indígena, o Kipupa Malunguinho. A festa conta com uma programação formada por atividades religiosas, educativas e artísticas que têm como objetivo celebrar e homenagear essa tradição e seu representante maior, o mestre Reis Malunguinho.

Porém, o ano de 2020 ficará marcado pelo silêncio na mata do Catucá, local onde a festa é realizada, no município de Abreu e Lima, Região Metropolitana do Recife. Em respeito aos protocolos de segurança impostos pela pandemia do novo coronavírus, que proíbem aglomeração de pessoas, o evento não será realizado. 

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Realizado pelo Quilombo Cultural Malunguinho e Casa das Matas do Reis Malunguinho, o Kipupa reúne, todos os anos, pessoas vindas de todos os lugares do território brasileiro, tendo contabilizado já 10 mil participantes em uma única edição. O evento, um dos únicos voltados à religiosidade indígena no país, cresceu rapidamente transformando-se em importante ferramenta de manutenção e proteção dessas tradições. "São 15 anos dessa trajetória, de muito sucesso. O Kipupa hoje assume esse lugar dentro do Estado como sendo o maior evento da cultura popular e dos povos tradicionais de Pernambuco, já que não temos mais a Festa da Lavadeira. O Kipupa ocupa essa lacuna que deixou tanta saudade e ele assume no Brasil como sendo um evento do país do povo da Jurema", diz o fundador da festa, Alexandre L’Omi L'Odò, sacerdote juremeiro, historiador e mestre em Ciências da Religião. 

A organização da festa pretendia trazer uma atração nacional e os nomes de Leci Brandão e Rita Benedito foram cogitados. Também seriam celebrados os 90 anos da sacerdotisa Terezinha Bulhões e do Terreiro Xambá. A chegada do coronavírus, no entanto, frustrou os planos não só dos realizadores como dos frequentadores do Kipupa. "Realmente, quando começou a pandemia a gente começou a perder as esperanças porque já imaginávamos que seria impossível aglomerar 10 mil pessoas num contexto de pandemia, então todos os planos foram por água abaixo", lamenta Alexandre.

Alexandre L'Omi L'Odo é um dos idealizadores e fundadores do Kipupa. Foto: Reprodução/Flickr Kipupa Malunguinho

A espiritualidade também se posicionou orientando seus seguidores a não realizar qualquer programação sem a devida segurança. Os filhos, prontamente, obedeceram. "Malunguinho, que é a divindade que tá à frente, ele se manteve apoiando o lado de que não haveria o evento. Ele sempre orientou que a festa se faz a qualquer momento mas o importante nessa hora seria preservar a vida. Foi uma orientação expressa da própria divindade, ele disse que não queria de jeito nenhum, a gente até tentou forçar a barra mas ele bateu o pé e disse que não e a gente respeita primeiramente as vontades dele". 

O Sacerdote explica ainda, que este é um momento delicado, para todos de maneira geral, e que tem sido necessário um certo afastamento de determinadas atividades para que a espiritualidade possa atuar. "Para a Jurema, esse momento tem sido de muito trabalho espiritual já que eles estão recebendo muitas pessoas do outro lado e é preciso orientar os espíritos que estão perdidos lá. Então, nesse momento é importante o silêncio, o resguardo, ficar quieto".

Para 2021, Alexandre ainda não tem qualquer previsão e acha precoce tomar qualquer decisão em relação ao futuro do evento agora. "É muito cedo ainda, não temos vacina nem uma solução viável para a resolução do coronavírus. Em setembro do ano que vem talvez ainda estejamos nesse processo, mas estamos de coração bem tranquilo esperando todo o desfecho dessa situação; apenas rezando muito na Jurema por todos aqueles que estão sofrendo e pedindo muito para q a Jurema e os bons espíritos de luz e os orixás possam abençoar a vida de todos e a gente possa sair dessa situação".   

O evento já chegou a reunir 10 mil pessoas na Mata do Catucá. Foto: Reprodução/Flickr Kipupa Malunguinho

Sendo assim, o Kipupa Malunguinho passará pelo seu 15° ano silenciado, mas não por completo. Nesta sexta (18), acontece o seminário Malunguinho 185 anos vivo na alma de um povo. Aberto a todos os interessados, o evento online vai cumprir a etapa educativa do Kipupa. "Mesmo com a trajetória de quase 20 anos de luta do Quilombo Cultural Malunguinho, que é a instituição que realiza o Kipupa Malunguinho ainda é um grande desconhecido da sociedade e não tem 30% do reconhecimento que Zumbi dos Palmares tem como líder pela luta da liberdade do seu povo. Ele (Malunguinho), é o único líder quilombola que não morreu, ele se manteve vivo no terreiro e se comunica com todos, por mais forte que seja o racismo no Brasil, Malunguinho é o exemplo de superação da vida sobre a morte e a cada ano ele agrega mais e mais pessoas".

O Seminário será conduzido pelo professor titular da Universidade federal de Pernambuco e PhD em História, Marcus Carvalho. A transmissão começa às 20h30, no canal de Alexandre L'Omi no Youtube. Os participantes receberão certificado após a atividade. 

 

 

No dia 18 deste mês, às 20h30, será realizado o “Seminário Malunguinho: 185 anos vivo na alma de um povo”. Gratuito, o evento celebra a figura de um herói “negríndio”, morto há 185 anos nas terras da antiga região Maricota, hoje a cidade de Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife. Líder do Quilombo do Catucá, João Batista, conhecido como Malunguinho, é considerado um personagem heroico para os povos negro e indígena de Pernambuco, bem como foi imortalizado como divindade na Jurema Sagrada.

O seminário será on-line, por meio do YouTube, e contará com a participação do professor de história Marcus Carvalho, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Um dos objetivos do evento é congregar os saberes acadêmicos acerca dos quilombos e das resistências negras e indígenas, além de abordar a tradição oral, a discussão sobre direitos humanos, racismo religioso, meio ambiente e saberes tradicionais do povo de terreiro.

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“O seminário Malunguinho: 185 anos vivo na alma de um povo acontece de cinco em cinco anos e tem uma relevância gigantesca para demarcar a importância de Malunguinho como um dos últimos líderes negro quilombolas na luta pela liberdade do povo negríndio do Brasil. Sendo ele também o único líder quilombola, ou os únicos líderes quilombolas a virarem divindade em uma religião no Brasil, para demonstrar a sociedade que é possível combater o racismo, que é possível resistir contra todo um processo da abolição da escravatura não conclusa, usando exemplos de vitórias, exemplos de sucesso como Malunguinho, porque tudo o que nós temos hoje em Pernambuco como cultura popular, religiosidade afroindígena nos terreiros, são resquícios do quilombo do Catucá e da luta desses grandes personagens históricos”, destaca Alexandre L’Omi L’Odò, organizador do evento, mestre em ciências da religião e sacerdote da Jurema Sagrada.

De acordo com Alexandre, o seminário também traz a figura de Malunguinho como um exemplo de resistência. “Vivo na alma de um povo, porque o povo da Jurema preservou Malunguinho vivo na sua religião e isso é um tesouro de tamanho imensurável, é um patrimônio imaterial do nosso povo que tem que ser valorizado pelo Estado Brasileiro, porque Malunguinho é um exemplo vivo da superação do negro, além da superação da vida sobre a morte e, sobretudo, da superação do racismo, porque ele, até hoje, como líder quilombola, cuida do seu povo nos terreiros pobres de Jurema, nos recônditos espaços das favelas, Malunguinho está lá aconselhando, dando caminho, ajudando aqueles e aquelas que precisam de cura nos seus diversos âmbitos e a gente tem o maior orgulho de fazer esse seminário de cinco em 5 anos”, explica o mestre em ciências da religião.

Os interessados em participar da ação devem se inscrever pelo WhatsApp (81) 99738-2278, enviando nome completo, RG, e-mail e telefone. Será dado certificado a quem participar, efetivamente, da live, postando comentários do início ao fim da transmissão.

Dezembro é um mês repleto de tradições e rituais que marcam a chegada de um novo ano, além do Natal. Muitos desses ritos são ligados à religiosidade e fé, passando a ter um significado mais profundo e importante para quem os pratica. No entanto, em cada religião, o momento é vivenciado de maneira diferente - alguns nem mesmo consideram a data - e, sendo assim, o LeiaJá foi em busca de descobrir como algumas das diferentes crenças existentes no mundo comemoram (ou não) o período natalino e o Réveillon. 

No Brasil, país onde a maioria da população se diz cristã - de acordo com dados do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), esse número gira em torno de 86,8% - é comum vermos nas casas a típica celebração natalina que reverencia o nascimento do menino Jesus, com troca de presentes e ceia servida pontualmente às 0h. Porém, essas práticas sequer existem, ou fazem sentido, para os praticantes de outras religiões que vivenciam esse momento do final de ano de outras maneiras. 

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Na cultura judaica, por exemplo, não existe o modelo de Natal cristão. Ao invés disso, a comunidade celebra o Chanucá, ou Hanukkah, a Festa das Luzes. O rabino Clifford Kulwin explica a tradição: "O Natal não tem um papel na religião judaica. Por acaso, uma festa judaica acontece na mesma época do ano, o Hannukah. Ela está ligada ao calendário hebraico e nela comemoramos uma vitória de mais de dois mil anos atrás, onde os macabeus estavam vitoriosos contra os gregos. Comemoramos a vitória deste momento e também o milagre dado por Deus por ter facilitado essa oportunidade de entrar no templo sagrado". 

Em dezembro, os judeus celebram o Hannukak. Foto: Pixabay

Segundo o rabino, quando chegaram ao templo, os macabeus perceberam que só haveria luz na Menorá, o candelabro de oito braços, para um dia, foi quando houve um milagre que manteve a luz acesa por oito dias - tempo que hoje dura a festa. Mas, apesar das diferenças nos rituais, os judeus se alegram pelo momento de celebrações entre os diferentes povos. "É importante lembrar que o cristianismo nasceu no judaísmo, então no Natal os cristãos celebram o nascimento de Jesus, é um momento de alegria e reflexão e nós, como bons parceiros na comunidade mais ampla, estamos felizes em ver os outros festejando os dias importantes deles".  

Matrizes indígena e africana

No Recife, existem mais de 1.200 terreiros de religiões de matriz africana e indígena. O levantamento foi feito pelo historiador, mestre em Ciências da Religião e sacerdote juremeiro, Alexandre L'Omi L'Odò. Ele recebeu o LeiaJá na Casa das Matas do Reis Malunguinho, em Olinda, para explicar como são as festividades de fim de ano para os fiéis dessas crenças. 

Na Jurema Sagrada, existem dois rituais bastante particulares que marcam o fim de ano, é um momento de resgate que tem sido reavivado por alguns terreiros, como o de Alexandre. "Sou extremamente tradicionalista, dentro do conceito da religião, mas existem coisas da questão histórica que a gente quer mudar. É um processo decolonial, para que a gente se encontre com nosso próprios conceitos de mundo. É uma luta a gente conseguir fazer isso porque sempre tem aqueles filhos de santo que querem fazer a festa de Natal. A gente respeita, mas todo mundo sabe meu posicionamento em relação a isso.", explica.

No dia 25 de dezembro, é feito o Corte do Pão, ritual em que o alimento é oferecido como símbolo de abundância: "É um dia que celebra a fartura para dentro do terreiro. O pão, pra gente, também é sagrado, não pela lógica de que ele seja o corpo de Cristo, mas o pão é um alimento que a população pobre se utiliza bastante. É um ritual mais interno, muito simples. Pra gente de terreiro é muito importante essa questão da comida e da sobrevivência, porque muitos dos nossos ainda está em situação de risco". 

Alexandre L'Omi L'Odò faou sobre as tradições da Jurema Sagrada e do Candomblé. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

Além disso, também  há celebrações "dentro da mesa da Jurema para os senhores mestres e para as senhoras mestras, e para Malunguinho, que é o dono da casa". No final do ano, os juremeiros fazem uma celebração que "fecha" o ano, para depois ser reaberto um novo ciclo, no dia seis de janeiro, o Seis de Reis. 

No Candomblé, também há dois rituais específicos para marcar o final do ano. Alexandre, que é de tradição jeje-nagô, membro do Ilê Iemanjá Ogunté, conta que na casa nagô é feita, no dia 25, a obrigação de Olofin. Segundo o sacerdote esse orixá é a "sustentação da casa". "Pra gente, ele é o orixá mais importante, ele é o ‘ododuá’, que é o civilizador do povo yorubá -, não é todo terreiro que conhece esse ritual, ele é muito fechado".

Já no dia 31, são feitas oferendas para todos os orixás e às 0h, em ponto, o Pai de Santo joga os búzios para descobrir qual orixá será o regente da casa naquele ano. "Antigamente, (a prática) era mais rígida. Os filhos de santo eram obrigados a passar o ano novo dentro do terreiro, ninguém tinha vida social no final do ano. Já ficava da obrigação de Olofin até o dia 31 dentro do terreiro, acompanhando todos os rituais até chegar a jogar os búzios, primeiro pra casa geral, depois o jogo para cada filho, até cear. Depois era feito uma festa".

Outras crenças

Para os budistas, doutrina de origem oriental, a figura de Jesus Cristo não existe. Sendo assim, o Natal, de tradição cristã, não existe para quem professa o budismo. Para os fiéis da religião Testemunhas de Jeová, qualquer festividade de aniversário é considerada pagã, sendo assim, eles não comemoram no dia 25 de dezembro. Além disso, segundo eles, não há nada na Bíblia que indique essa data como sendo o dia do nascimento de Jesus, portanto, não há celebração. 

Diferentes mas iguais

Apesar das diferenças no que se acredita e na maneira de se colocar a fé em prática, uma coisa pode ser considerada unanimidade: toda religião busca o bem estar dos seus e o cultivo do amor e respeito. Que assim seja nos lares de quem comemora, e de quem não comemora as festas de fim de ano, e que em 2020, todos possam professar sua fé livres de todo e qualquer preconceito.  

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A religião de matriz afro-indígena Jurema Sagrada é o mote para a exposição coletiva 'Olhares Negrxs Sobre a Jurema Sagrada', que abre suas portas nesta quinta (10), no Museu Murillo La Greca. A cerimônia de abertura terá a participação de Alexandre L'Omi L'Odò, juremeiro, historiador e mestre em Ciências da Religião, além da apresentação do grupo de rap Guerrilha Zona Norte.

Com 21 imagens produzidas por Rennan Peixe, Karla Fagundes e Kayo Ferreira, a mostra busca reafirmar a memória, história e a arte afro-indígena brasileira em um diálogo poético a partir da representatividade do universo da Jurema Sagrada em Pernambuco. Além disso, as obras se propõem a afirmar seu espaço no campo da fotografia documental e da arte.

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Antes da abertura da exposição, nesta quarta (9), às 19h, o Murillo La Greca promove uma roda de conversa sobre a mostra. Participam do debate os pesquisadores Valkiria Dias, Leonardo Moraes, Hélio Menezes, Rafael Pinto e André Vitor Brandão. Os artistas Rennan Peixe, Karla Fagundes e Kayo Ferreira também estão confirmados no debate. 

Serviço

Roda de Conversa sobre Olhares Negrxs Sobre a Jurema Sagrada

Quarta (9) - 19h

Gratuito

Abertura da exposição Olhares Negrxs Sobre a Jurema Sagrada

Quinta (10) - 18h

Gratuito

Museu Murillo La Greca (Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti, 366, Parnamirim)

Era março de 1896, quando o estivador Antônio da Costa recebeu uma missão: ele deveria organizar um grupo fantasiado de índio, para ganhar as ruas do Recife no Carnaval e, assim, preservar a cultura regional. O recado foi passado em uma reunião de Jurema Sagrada - religião de matriz indígena -, através do caboclo Carijós. Antônio, que tinha por guia este caboclo, acatou a ordem e montou o Caboclinho Carijós do Recife, que passou a brincar os dias carnavalescos sem descuidar dos preceitos e fundamentos da espiritualidade. Hoje, 122 anos depois, a agremiação tornou-se uma das mais importantes de Pernambuco, além de ser a mais antiga em atividade, e continua preservando o seu legado ancorada na fé e na ancestralidade.

Em 2017, o Caboclinho Carijós foi o homenageado do Carnaval do Recife, levou o título de campeão e, em 2018, conquistou o bicampeonato pelo grupo especial, no concurso carnavalesco da cidade, levando 180 integrantes à passarela no dia de seu desfile oficial. Todos desfilaram sob a proteção do patrono da agremiação, o Caboclo Carijós, pois, segundo Jefferson Nagô, presidente da agremiação, se diferente fosse, "nada daria certo": "Carijós vem de um povo antigo que cultuava aquela Jurema raiz. A tribo foi fundada, praticamente, numa mesa de reunião de Jurema, então a ligação é muito forte.", explica. Ele conta que 15 dias antes do Carnaval são feitas obrigações e rituais para pedir a permissão para participar da festa e proteção durante ela: "Não se pode ir para a rua sem fazer as oferendas. Carijós é movido a fé", completa.

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Não são todos os integrantes que participam dos rituais, embora todos sejam atingidos por eles: "Quando a gente faz o trabalho espiritual é para segurar a tribo toda. A gente dá e pede por todo mundo, todo o povo que sai na tribo Carijós", diz Jefferson. É dele, também, a responsabilidade de cuidar da espiritualidade da agremiação através das obrigações feitas em matas ou na própria sede do caboclinho, que também é um terreiro. Antes de "ir para a rua", os integrantes mais fundamentais do brinquedo, como caboclos, os músicos do terno, rei e rainha, tomam banhos preparados com ervas e passam por defumadores. "Não é chegar, botar uma roupa e desfilar, isso não é correto. É um diferencial de Carijós, a espiritualidade na nossa agremiação é muito forte. Os antepassados deixaram esse legado, de sempre preservar a religiosidade dentro do caboclinho", diz Jefferson.

Ele próprio foi levado à agremiação por um chamado espiritual. Após um sonho com o Caboclo Carijós, em 2011, o jovem assumiu a presidência do caboclinho que estava, então, desativado: "Ele me mostrou em sonhos e recados transportados por outros guias espirituais que queria que os momentos em que ele brilhou na avenida se repetissem no Carnaval", relembra. A missão, porém, não é fácil: "Muita gente desacreditou de mim, achou que eu não teria força para manter esse legado. Eu, um jovem de 27 anos à frente de uma agremiação de 122. Mas eu pedi à espiritualidade e Carijós me mostrou todo o caminho".

Jefferson fala sobre o patrono da tribo com muita reverência. De acordo com os preceitos da Jurema Sagrada, Carijós é um caboclo "muito antigo, um caboclo de ciência, de luz, muito elevado e que já não incorpora mais". Segundo o presidente, toda a comunicação com o caboclo é feita através de sonhos e recados, pelos quais ele indica como deseja ver a agremiação no Carnaval: "É uma ligação muito forte, se não fosse nada daria certo. É toda uma ciência que o caboclo mostra pra gente. Por terem sido os primeiros habitantes da Terra, eles são de uma espiritualidade muito forte e muito presente em nossas vidas". Além de Carijós, a tribo possui outra guia espiritual, a cabocla Nanci. A questão religiosa se mantém inabalável no cotidiano da agremiação e dela depende todo o seu funcionamento: "A agremiação pode um dia parar, mas a espiritualidade é sempre viva dentro dos nossos corações", afirma o presidente.

                                              

Ciência

Passado o Carnaval é hora de agradecer pela proteção e cuidado dos seres superiores. Em abril, é realizada uma grande festa, na sede do caboclinho, em louvor ao patrono da agremiação: "Depois do Carnaval, a primeira festa é o Toré de Caboclo, que a gente dedica a Carijós em agradecimento por toda a trajetória do ano que passou, independente de resultado. A gente agradece com cânticos, com rezas e oferendas. A gente louva à Jurema e aos caboclos", conta Jefferson Nagô. No resto do ano, são feitas, ainda, de duas a três obrigações para Carijós, até que chega o período de preparação para a festa carnavalesca do ano seguinte. "Muito caboclinho esquece a parte principal, que é a religiosa. É uma agremiação que requer todos os preceitos dentro da religião. Se não existir Jurema, não existe caboclinho".

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Aniversário

Na próxima segunda (5), o Caboclinho Carijós do Recife promove uma grande festa, em sua comunidade, na Mangabeira, para celebrar o aniversário de 122 anos. A festa, aberta ao público e com direito a cortejo, também vai comemorar o título de bicampeão do Carnaval recifense, conquistado um ano depois da agremiação ter sido uma das grandes homenageadas nesta que é, talvez, a maior festa do Estado: “O coração fica a mil! Ano passado fomos homenageados do Carnaval e campeões. A gente foi trabalhando, se apertando de um lado e de outro, para que as coisas pudessem fluir e alcançar o bicampeonato. Foi muita luta e pra gente é um orgulho muito grande hoje ser uma das agremiações mais antigas dentro do Carnaval, dando continuidade a essa história. É muito importante”. diz Jefferson.

Serviço

Aniversário do Caboclinho Carijós do Recife - 122 anos

Segunda (5) | 18h30

Rua Coremas, 40 – Mangabeira (Perto do Mangabeira Clube)

Gratuito

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