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Depois de a presidente Dilma Rousseff (PT) chamar de "golpe" a utilização eleitoral dos depoimentos do ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, e do doleiro Alberto Youssef no processo de delação premiada da Polícia Federal, os tucanos exaltaram nesta segunda-feira, 13, em Curitiba, o juiz Sérgio Moro, responsável pelo processo, e defenderam a divulgação dos depoimentos pela imprensa.

"Golpe, só se for da democracia", disse o presidenciável Aécio Neves (PSDB) na saída de um evento na sede da Pastoral da Criança, na capital paranaense, onde cumpriu agenda eleitoral.

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Antes disso, o senador Álvaro Dias, que foi reeleito, fez um discurso exaltado ao lado de Aécio em um ato político com prefeitos e correligionários no qual citou nominalmente. "O juiz paranaense Sérgio Moro, com as marretadas da indignação nacional, está destruindo esse castelo de propina e corrupção instalado na Petrobrás".

Em conversa com os jornalistas depois do evento, Dias voltou a defender os "vazamentos". "Ás vezes temos a responsabilidade de promover vazamentos. Não podemos ser coniventes com corrupção. O vazamento, em determinadas situações, interessa ao País", disse o senador.

A Polícia Federal e a Procuradoria da República estão realizando uma devassa em contratos de concessões públicas em áreas estratégicas como saneamento, energia, aeroportos e rodovias. As investigações foram abertas a partir de documentos apreendidos com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa no âmbito da Operação Lava Jato.

O grupo é acusado de manter um esquema de loteamento político, corrupção, superfaturamento, desvios de recursos e lavagem de dinheiro na Petrobras, que abastecia o caixa 2 de partidos como PT, PMDB e PP. O esquema envolvia empreiteiras em "cartel" na estatal petrolífera. A análise do novo material dá indícios de que o grupo atuou em outras áreas do governo.

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"Essas empresas tinham interesses em outros ministérios capitaneados por partidos. As empresas são as mesmas que participaram de várias outras obras no Brasil, como ferrovias, rodovias, aeroportos, portos, usinas hidrelétricas, saneamento básico, Minha Casa Minha Vida", afirmou Costa à Justiça Federal, após a delação premiada.

"Se ela (empresa) deixasse de contribuir com determinado partido, isso ia refletir em outras obras no governo", disse Costa. Ele afirmou não se lembrar "de nenhuma empresa que deixou de pagar" a propina.

Costa revelou que as diretorias da Petrobras eram loteadas entre as três siglas. O esquema serviu para bancar campanhas em 2010. "Usam muito a oração de São Francisco: ‘É dando que se recebe’", disse o ex-diretor.

Concessões

São ao todo 140 procedimentos abertos a partir do processo principal da Lava Jato. Pelo menos 40 têm como alvo as empresas que operaram com Costa e Youssef. A frente de investigações inclui pelo menos três grandes concessões assinadas nos governos Lula e Dilma.

Um deles envolve o grupo espanhol OHL (atual Arteris), e o primeiro pacote de concessões de rodovias federais, em 2007, por Lula. O grupo venceu cinco dos sete trechos leiloados, em grandes rodovias como Fernão Dias (BR-381), pelo valor de R$ 4,3 bilhões, e três trechos da Regis Bittencourt (BR-116), totalizando R$ 9,6 bilhões.

Entre os papéis apreendidos na casa de Costa há referências a contratos intermediados por ele com a OHL. Num deles, o ex-diretor registra uma reunião em 16 de janeiro de 2013, sob o nome OHL e as referências: "concessões de rodovias", "(15%)" e "consórcio c/ empresas brasileiras".

Um alvo é a concessionária Aeroportos Brasil Viracopos S.A. Uma empresa investigada na Lava Jato como ligada a Youssef, a UTC Participações, integra o consórcio que venceu em 2012 o leilão do aeroporto de Campinas, pelo valor de R$ 3,8 bilhões.

A concessionária Aeroportos Brasil Viracopos S.A. informou que não há irregularidades no leilão nem na formação do consórcio. A Arteris foi procurada, mas ninguém foi localizado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A presidente Dilma Rousseff criticou nesta sexta-feira (10) o vazamento "seletivo" e "leviano" das gravações nas quais o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef detalham à Justiça um esquema de pagamento de propina montado na estatal, sob a alegação de que elas, neste momento, de forma incompleta, tem objetivo eleitoral. "Acho estranho e muito estarrecedor que no meio de uma campanha eleitoral façam esse tipo de divulgação. É muito importante para que, de fato, a gente combata a corrupção, que não se use isso de forma leviana em períodos eleitorais, de forma incompleta", disse, em entrevista no Palácio da Alvorada

Dilma disse ter sido "surpreendida" com a divulgação do áudio dos depoimentos e reafirmou que tem "tolerância zero com a corrupção ou com qualquer outro malfeito". Fez questão ainda de atacar o PSDB, do candidato Aécio Neves, ao dizer que seu governo tomou medidas para garantir que nem a Polícia Federal, nem o Ministério Público tivessem "aparelhamentos" e que "fossem induzidos nesta ou naquela direção". "Nem sempre foi assim no Brasil. A Polícia Federal foi aparelhada e dirigida durante algum tempo por pessoas que tinha filiação ao PSDB", acusou, depois de ressaltar que na sua gestão PF e Ministério Publico agem com autonomia. A presidente lembrou ainda que, durante a campanha eleitoral, surgem denúncias "que depois não se comprovam e assim que acaba a eleição, ninguém se responsabiliza por elas".

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Questionada sobre os estragos que as denúncias podem provocar em sua campanha à reeleição, a presidente respondeu: "Eu não sei se não é este o interesse de alguns. Agora, eu lutarei com unhas e dentes para que o que não seja justo não ocorra. Eu, na minha vida, aprendi uma coisa e isso acho que o povo brasileiro sabe. Aprendi que quem luta e quem luta com fé, quem luta sabendo que está lutando pela coisa justa, faz a boa luta".

A Justiça Federal do Paraná autorizou o acesso às provas e depoimentos das investigações da Operação Lava Jato à Corregedoria Geral da União (CGU), e também à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que investigam as denúncias de irregularidades na Petrobras. A própria estatal também terá acesso aos depoimentos do ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, e do doleiro Alberto Youssef.

A autorização se refere à ação penal que tramita na Justiça, e aos depoimentos prestados na última quarta-feira, em audiência em Curitiba. O processo analisa os contratos e desvios ocorridos na diretoria de abastecimento em relação às obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco. Segundo Costa, partidos da base aliada recebiam comissões de até 3% dos contratos. Além de autorizar "expressamente" o uso das provas e depoimentos "em seus procedimentos de apuração de ilícitos administrativos", o juiz também solicita que os órgãos autorizados compartilhem com a Justiça Federal o resultado de suas investigações próprias.

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À Polícia Federal, o juiz Sérgio Moro, responsável pela ação, também concedeu autorização para realizar "outras investigações conexas à assim denominada operação Lava Jato, não havendo qualquer motivo para restringir o seu emprego para esta ação penal". Ao citar a Petrobras, o juiz faz uma ressalva, afirmando que a empresa "é a vítima dos supostos crimes narrados neste feito".

Na decisão, o juiz Sérgio Moro avalia que a ação "tramita sem segredo de justiça (...) tornando imperativa a transparência, única forma de garantir o escrutínio público sobre a gestão da coisa pública e a integridade da Justiça". No documento, o juiz Sérgio Moro também faz uma ressalva sobre os depoimentos de Paulo Roberto Costa e Alberto Yousseff na audiência da última quarta-feira. Segundo o juiz, os depoimentos "não foram 'vazados' por esta Corte de Justiça ou por quem quer que seja. A sua divulgação, ainda que pela imprensa, é normal, do interesse público e do princípio da publicidade dos atos processuais".

Parecer técnico do Ministério Público Federal (MPF) aponta superfaturamento de R$ 613,3 milhões nas obras da Unidade de Coqueamento Retardado (UCR) da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, alvo da Operação Lava Jato.

A obra foi executada pelo Consórcio CNCC, controlado pela Camargo Corrêa, no valor de R$ 3,4 bilhões. Segundo o documento, o superfaturamento alcançou 16% do valor final do contrato.

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"Diante da possibilidade de um superfaturamento dessa monta, não se pode cogitar que toda a rentabilidade do CNCC se restringe ao lucro de 9,96% explicitados na proposta comercial", observa o parecer em referência à estimativa de lucro apresentada pela CNCC durante a licitação.

Coqueamento retardado é um processo térmico utilizado em refinarias de petróleo. O processo é importante especialmente para óleos pesados. As obras da Abreu e Lima são alvo central da Lava Jato, que desvendou grande esquema de lavagem de dinheiro e corrupção na Petrobras.

"A relação entre a receita e os custos (rentabilidade) pode alcançar um patamar de quase 26%, dos quais 16% de forma irregular", assinala o engenheiro Rafael Martins, assistente técnico do Ministério Público Federal. Martins emitiu parecer técnico sobre laudo de perícia criminal da Polícia Federal. O documento faz parte dos autos da Operação Lava Jato.

"Valendo-se de metodologias consolidadas da engenharia de custos e de atuações técnicas do Tribunal de Contas da União (TCU), vislumbrou-se um superfaturamento de até R$ 613,25 milhões, 16% do valor final do contrato", cravou o engenheiro do MPF.

O assistente técnico anota que "o valor estimado de superfaturamento nessa obra específica era inferior e já fazia menção ao pagamento não justificado de R$ 38 milhões para a Sanko-Sider e Sanko Serviços".

A reportagem entrou em contato com o consórcio CNCC na noite desta quinta-feira, 9 mas foi informada que, devido ao horário, a empresa só conseguiria responder à solicitação nesta sexta-feira.

O Grupo Sanko Sider assinala que "é uma empresa conceituada, regularmente constituída há 18 anos" e que "todas as suas vendas se dão por meio de contratos legítimos". "Nossas normas de conduta sempre determinaram comportamento de respeito estrito às leis", diz a empresa em nota.O grupo protesta com veemência porque alega que tem sido "fortemente prejudicado, equivocadamente acusado, vítima de ilações, acusações e afirmações levianas".

Causaram muita preocupação no Planalto e no comando da campanha de Dilma Rousseff os depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef à Justiça Federal. Em conversas reservadas, integrantes da equipe da presidente disseram ter certeza de que os áudios dos depoimentos serão um "prato cheio" para o candidato do PSDB, Aécio Neves, usar na propaganda da TV.

Os petistas mostraram apreensão com o impacto das denúncias, principalmente porque agora se ouve a voz do delator, e acreditam que as acusações podem ter potencial tão explosivo como o mensalão. Dilma estava em Aracaju quando soube dos vídeos e baixou a lei do silêncio. Na tarde dessa quinta-feira (9), nenhum coordenador da campanha nem ministros falaram sobre as denúncias de corrupção.

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O presidente do PT, Rui Falcão, e o tesoureiro do partido, João Vaccari, divulgaram notas repudiando com veemência as declarações de Costa. A candidata do PT à reeleição foi aconselhada a reagir "à altura", partindo para o confronto público com Aécio, que já chama o escândalo de "petrolão", termo usado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

A campanha do tucano, por sua vez, decidiu não abordar as novas denúncias na noite de ontem, no primeiro programa de TV do 2.º turno, mas vai incluir o tema nas próximas propagandas de dez minutos e nos comerciais diários, a partir de hoje.

Dilma vai responder aos ataques no primeiro debate com Aécio, na próxima terça-feira (14), na TV Bandeirantes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em nota divulgada na tarde desta quinta-feira, 9, a Secretaria Nacional de Finanças do PT negou as acusações feitas pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa de que João Vaccari Neto, secretário nacional de finanças da sigla, era o responsável por repassar os 3% de propina nos contratos da Petrobras destinados ao PT. A secretaria afirma ainda que Vaccari vai "processar civil e criminalmente aqueles que têm investido contra sua honra e reputação".

Na nota, a Secretaria afirma que o depoimento de Costa à Justiça está "carregado de afirmações distorcidas e mentirosas". "o secretário João Vaccari Neto nunca tratou sobre contribuições financeiras do partido, ou de qualquer outro assunto, com o sr. Paulo Roberto Costa", afirma o texto que afirma ainda que os advogados do PT não têm acesso aos depoimentos o que impede o "exercício constitucional da ampla defesa".

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"Reiteramos que as contribuições financeiras recebidas pelo PT são transparentes e realizadas sempre de acordo com a legislação em vigor.", continua o texto.

O presidente do PT, Rui Falcão, divulgou nesta quinta-feira, 9, nota em que repudia com "veemência e indignação" as declarações "caluniosas" do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, tratado como "réu" pelo partido. Em declarações à Justiça Federal do Paraná prestadas nessa quarta-feira, 8, Costa afirmou, entre outras acusações, que 3% do valor dos contratos da Petrobras eram para "atender ao PT".

Falcão questiona o fato de que as declarações prestadas pelo ex-diretor ao juiz Sérgio Moro, responsável por ouvi-lo, terem se tornado públicas. Ele disse que, anteriormente, o mesmo magistrado acolheu o depoimento de Costa, sob sigilo de Justiça, no curso de um processo de delação premiada.

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"O PT desmente a totalidade das ilações de que o partido teria recebido repasses financeiros originados de contratos com a Petrobras", afirma a nota. "Todas as doações para o Partido dos Trabalhadores seguem as normas legais e são registradas na Justiça Eleitoral", completa.

A Direção Nacional do PT, segundo Falcão, estranha a "repetição" de vazamentos de depoimentos no Judiciário, "tanto mais quando se trata de acusações sem provas". "Lamentamos que estejam sendo valorizadas as palavras do investigado, em detrimento de qualquer indício ou evidência comprovada", critica.

Rui Falcão afirma que a Direção Nacional do PT, por intermédio de seus advogados, "analisa a adoção de medidas judiciais cabíveis".

Paulo Roberto Costa deixou a prisão na semana passada após ter sido homologado pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), o acordo de delação premiada. Pelas cláusulas do acordo, Costa deixou a carceragem da Polícia Federal em Curitiba (PR) para cumprir pena em regime domiciliar no Rio de Janeiro, mas sempre tem de colaborar com a Justiça, como ocorreu ontem, sob pena de quebrar o acerto.

O diretor da Petrobras José Eduardo Dutra divulgou nesta quinta-feira, 9, nota à imprensa para esclarecer informações do depoimento de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal, em audiência sobre o esquema de desvio e lavagem de recursos investigado pela Operação Lava Jato. Filiado ao PT e atual diretor Corporativo e de Serviços, Dutra diz "repudiar quaisquer ligações que procurem vincular meu nome a práticas criminosas".

Na nota, Dutra afirma que um advogado da Petrobras, Carlos Fontes, acompanhou os depoimentos de Costa e outros nove citados na ação penal que investiga denúncias de corrupção envolvendo empreiteiras e prestadoras de serviço na obra da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco. "(Ele) constatou que o meu nome foi citado uma única vez pelo ex-diretor de Abastecimento no contexto de 'indicações políticas para diretoria da Petrobras', não tendo havido posteriormente qualquer citação ao meu nome em irregularidades investigadas pela operação", diz o documento.

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"Minhas vinculações com o PT são públicas e notórias, bem como os períodos em que ocupei a presidência da Petrobras, BR Distribuidora e, atualmente, a Diretoria Corporativa da Petrobras. Repudio quaisquer ilações que procurem vincular meu nome a práticas criminosas e tomarei as providências judiciais cabíveis", informa o comunicado, assinado pelo próprio José Eduardo Dutra, e encaminhado à imprensa pela assessoria da Petrobras.

Procurado durante toda a manhã, Dutra não se pronunciou sobre as declarações do ex-colega de diretoria da Petrobras. Costa teria afirmado que outros diretores da companhia também mantinham esquemas paralelos de cobrança de comissão nos contratos com empresas fornecedoras, citando as áreas de gás e energia, de serviços e também de produção.

Segundo o ex-diretor de abastecimento, no depoimento, "Outras diretorias como gás e energia e produção também eram do PT". Costa também afirma que "tinha PT na diretoria de Produção, Gás e Energia e na área de Serviços. O comentário que pautava a companhia nesses casos era que 3% iam diretamente para o PT."

Dutra foi presidente da estatal entre 2003 e 2005, quando foi substituído por José Sérgio Gabrielli, atual secretário estadual de Planejamento da Bahia. Dutra também foi senador pelo PT em Sergipe, entre 1995 e 2003. Após deixar a Petrobras, ele assumiu a presidência do Partido entre 2010 e 2011. Desde 2012, ele ocupa o cargo de diretor corporativo e de serviços da estatal. Ele tomou posse após a saída dos ex-diretor de serviços, Renato Duque, já durante a gestão da atual presidente, Graça Foster.

A Polícia Federal (PF) e a Procuradoria da República identificaram depósitos no valor global de US$ 4,8 milhões da OAS African Investments Limited na conta bancária da offshore Santa Thereza Services Ltd na Suíça, controlada pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, alvo maior da Operação Lava Jato.

Os depósitos - divididos em três créditos no valor de US$ 1,6 milhão cada - foram realizados nos dias 7 de maio, 11 de junho e 17 de julho de 2013 na conta da Santa Thereza. A OAS African Investments faz parte da gigante da construção OAS.

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O Ministério Público Federal e a PF localizaram documentos sobre as transferências durante buscas no escritório e na residência do executivo João Procópio Junqueira de Almeida Prado, apontado como operador do doleiro Alberto Youssef - mentor do esquema de lavagem de dinheiro, segundo a PF.

Acordo

As buscas foram realizadas em julho, por ordem judicial. A Santa Thereza é uma das 11 offshores controladas por Costa, que fez acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. No acordo, o ex-diretor da Petrobras abriu mão de todos os ativos depositados em contas das offshores por ele administradas, inclusive a Santa Thereza Services Ltd. Costa já autorizou a repatriação de US$ 25,8 mi depositados na Suíça e em Cayman.

Com o executivo João Procópio Junqueira de Almeida Prado, a PF apreendeu extrato da conta da Santa Thereza no período de 8 de outubro de 2012 a 4 de março de 2013, com diversas operações em valores iguais de US$ 1 milhão cada.

Em 2011, segundo o MPF, a conta da Santa Thereza na Suíça recebeu "onze operações sequenciais" de créditos originadas da Sanko Sider. A conta da offshore recebeu 289,74 mil da Sanko Sider entre 24 de janeiro de 2013 e 7 de fevereiro de 2014.

"Esse valor é relacionado aos crimes de corrupção, peculato, contra o sistema financeiro e tributário", afirma a Procuradoria da República.

A PF e o Ministério Público Federal apuraram que dentro da conta da offshore Santa Thereza há quatro subcontas denominadas Fianca, CC, Premier e Sanko "todas controladas pela organização criminosa de Youssef e utilizadas para práticas delitivas", segundo o MPF.

Ainda de acordo com a Procuradoria, a OAS "está diretamente envolvida com os desvios de valores e crimes contra a administração".

No acordo de delação, Costa reconheceu que todos os valores depositados em contas das offshores, inclusive da Santa Thereza, são "integralmente produto de atividade criminosa". O ex-diretor se comprometeu a contribuir para a "repatriação desses valores em benefício do País". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Polícia Federal afirma que a Petrobras bancou a compra de um lote de materiais das obras da refinaria de Abreu e Lima a um preço 17 vezes superior ao que foi pago pelo Consórcio CNCC para o Grupo Sanko.

Segundo o laudo 1786/2014, do Serviço Técnico Científico da PF, o consórcio pagou o equivalente a R$ 1,27 milhão por 155 unidades de um material e esse mesmo lote de produtos foi vendido para a Petrobras ao custo de R$ 16,2 milhões.

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Os peritos suspeitam que a manobra configurou o chamado "jogo de planilha", que consiste na alteração das planilhas de contrato "que modifiquem o ponto de equilíbrio econômico-financeiro, sem justificativa adequada, causando dano ao erário", afirma o laudo.

Os peritos também chamam a atenção para o fato de que o número de materiais comprados pelo consórcio e vendidos para Petrobras neste lote é o triplo do inicialmente previsto no Demonstrativo de Formação de Preços, planilha apresentada pela empresa que disputa a licitação com as estimativas de gastos.

No laudo, os técnicos da PF ressaltam ainda que não conseguiram comparar a amostra dos produtos analisados da empresa Sanko com os materiais negociados entre o CNCC e a Petrobras, "restando prejudicada a análise de superfaturamento no restante da lista de amostragem", afirma o documento.

Cadastro

O documento da Polícia Federal afirma ainda que a Petrobras descumpriu as próprias normas internas para dar às empresas do Grupo Sanko o Certificado de Registro e Classificação Cadastral (CRCC), que permite a elas fornecerem produtos ou serviços de maior qualidade ou valor à estatal petrolífera.

Em outras palavras, o CRCC faz com que uma empresa fique no Cadastro Corporativo da Petrobras, podendo fornecer materiais e serviços para obras da estatal petrolífera. Ao analisar a contabilidade da Sanko Sider entre 2009 e 2013, contudo, os peritos observaram que a empresa passou por grandes dificuldades financeiras, com "seguidos prejuízos e relevante endividamento".

Os critérios para uma empresa ter o CRCC são, segundo levantaram os agentes da PF: comprovar a habilitação jurídica, a capacidade técnica, a regularidade fiscal e a qualificação econômico-financeira. Os peritos também observaram que, de 2009 a 2011, a Sanko Sider registrou seguidos prejuízos, que só foram revertidos em 2012 e 2013.

A empresa não obteve o CRCC em 2008, e, de 2009 a 2011, conseguiu o certificado utilizando o balanço patrimonial da empresa Cia Mecânica Auxiliar LTDA que, segundo a PF, detêm 33% das ações da Sanko Sider.

Questionada pelos agentes, a Petrobras informou que é possível ao avaliador, em casos especiais em que as demonstrações contábeis da empresa não são aprovadas, analisar as demonstrações financeiras de uma holding, a sócia controladora da empresa. A própria estatal, contudo, não conseguiu confirmar se este foi o caso.

No primeiro dia de cumprimento da prisão domiciliar, o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, teve a vigilância constante de policiais federais na porta de sua residência, no Rio. Uma viatura da Polícia Federal permaneceu todo o dia em frente à sua casa, com equipes que se revezavam na vigilância ao delator do esquema de corrupção envolvendo a estatal.

No condomínio, o movimento foi tranquilo durante todo o dia. A prisão domiciliar do ex-diretor foi tema de conversas nas guaritas de segurança, entre vizinhos e mesmo entre os funcionários das diversas residências de alto padrão do local. Costa foi transferido na tarde de quarta-feira, 30, de Curitiba, onde estava preso desde junho, sob forte esquema de proteção policial.

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Sem se identificar, um vizinho e seguranças de uma guarita próxima a casa do ex-diretor comentaram que o ele se tornou "a nova celebridade" do condomínio, em referência à permanência da imprensa no local. "Já tínhamos vizinhos ilustres, como (o cantor) Dudu Nobre, e algumas atrizes. Agora temos um acusado de corrupção", comentou o vizinho. Entre os famosos com imóvel no condomínio, ele citou as atrizes Juliana Paes e Nívea Stelmann.

Alguns vizinhos, apreensivos com a exposição do condomínio, demonstraram irritação com os repórteres. Outro morador afirmou que desconhecia a vizinhança ligada a políticos e atos de corrupção. "Aqui as pessoas só se cumprimentam por educação. Não poderíamos imaginar que um ex-diretor da Petrobras, citado em denúncias, poderia morar aqui", comentou.

Paulo Roberto Costa responde a dois processos na Justiça Federal do Paraná, por envolvimento no esquema de desvio de dinheiro do doleiro Alberto Youssef, em que articulava fraudes e desvio de recursos em contratos da estatal, e destruição de provas. Também suas filhas e genros são investigados por destruição de provas e obstrução da justiça, além de integrarem empresas supostamente ligadas ao esquema.

Todos os membros da família foram beneficiados com a delação premiada. O ex-diretor prestou depoimento sobre o funcionamento do esquema de corrupção e denunciou políticos e empresas beneficiados com o esquema. Em troca, ele poderá aguardar o julgamento em prisão domiciliar, monitorado por uma tornozeleira eletrônica durante um ano. Além disso, terá a pena flexibilizada em caso de condenação, podendo cumprir a sentença em regime semiaberto.

A família de Paulo Roberto Costa foi incluída no acordo de delação premiada firmado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras com o Ministério Público Federal. A mulher, duas filhas e os genros de Costa, que também são alvos da Operação Lava Jato, vão firmar colaboração acessória e individual.

Cada um desses acordos seguirá as condições do 'acordo mãe' - subscrito por uma força tarefa de procuradores da República e por Costa -, ressalvado que há desnecessidade de pagamento de indenização adicional, incluindo necessariamente a renúncia a bens e valores que são produto e proveito de atividade criminosa.

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Na prática, assim como o próprio ex-diretor fez, seus familiares abrem mão de valores ilicitamente obtidos. Costa autorizou expressamente a repatriação de US$ 25,8 milhões que ele mantém depositados na Suíça e em Cayman, além de entregar uma lancha, imóveis e até a Range Rover, avaliada em R$ 300 mil, que ele ganhou de presente do doleiro Alberto Youssef.

A mulher do ex-diretor da estatal, Marici da Silva Azevedo Costa, as filhas do casal - Ariana Azevedo Costa Bachmann e Shanni Azevedo Costa Bachmann - e os genros,Marcio Lewkowicz e Humberto Sampaio de Mesquita, são investigados e processados criminalmente no âmbito da Lava Jato, por diversos crimes tais como corrupção, peculato e lavagem de dinheiro oriundo de crimes contra a administração pública, segundo o Ministério Público Federal. A Lava Jato também atribui aos familiares de Costa formação de organização criminosa e obstrução da investigação.

A quarta cláusula, de um total de 26 do acordo de delação premiada, destaca que essas apurações contra familiares de Costa estão relacionadas à atividade do ex-diretor que "atuou como líder de organização criminosa voltada ao cometimento de fraudes em contratações e desvio de recursos em diversos âmbitos e formas, totalizando dezenas de milhões de reais, tendo sido a vantagem distribuída entre diversos agentes públicos e privados, em grande parte ainda não identificados".

O Ministério Público Federal oferece um rol de sete benefícios aos familiares do ex-diretor da Petrobras:

1) Regime aberto de cumprimento de pena nas condenações relativas a novas acusações oferecidas, mesmo sem o preenchimento dos requisitos legais.

2) Substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos caso condenados.

3) Suspensão dos demais processos criminais instaurados, pelo prazo de 10 anos, depois de obtida uma condenação transitada em julgado por lavagem de dinheiro oriundo de crimes contra a administração.

4) Sobrestamento de inquéritos e outros procedimentos pré-judiciais ou judiciais a depender da efetividade da colaboração principal e/ou acessória, segundo avaliação do Ministério Público Federal.

5) Transcorrido o prazo de 10 anos sem quebra do acordo (principal ou acessório), a Procuradoria pleiteará que volte a correr o prazo prescricional até a extinção da punibilidade.

6) O Ministério Público não considerará violado o acordo principal pela violação dos acordos feitos com os familiares (acordos acessórios), mas a rescisão do acordo principal acarretará a rescisão dos acordos acessórios.

7) Multa no mínimo legal.

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, acusado de fraudes durante sua gestão na estatal e que fez um acordo com a Justiça para fazer delação premiada, deixou nesta quarta-feira (1), às 13h10, a sede da Polícia Federal, em Curitiba, onde estava preso.

Ele seguiu dentro de um veículo Pajero escoltado diretamente para o Aeroporto Afonso Pena, de onde partirá em um jato da PF. Costa cumprirá prisão domiciliar em sua residência e será monitorado por um grupo da PF, além de uma tornozeleira eletrônica colocada pela manhã.

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Preso pela Operação Lava Jato em março deste ano, Costa citou recentemente o nome de 30 políticos que estariam de alguma forma sendo beneficiados pelo esquema de fraudes e desvios de recursos da estatal, além do recebimento de US$ 23 milhões de uma empreiteira do exterior para facilitação de contratos com a empresa.

A previsão é de que ele retorne a Curitiba no dia 8 de outubro para um novo depoimento à Justiça Federal sobre o escândalo envolvendo a Petrobras.

O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa será transferido para o Rio na tarde desta quarta-feira, dia 1º, sob forte esquema de segurança. Após ter sua deleção premiada homologada ontem pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Costa deverá desembarcar na base aérea do Galeão por volta das 16h30.

Ele será escoltado até a sua residência, na Barra da Tijuca, onde ficará sob regime de prisão domiciliar por um ano, segundo os termos do acordo de delação.

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O ex-diretor será transferido em avião da própria Polícia Federal, com saída prevista do aeroporto Afonso Pena às 15h. No trajeto, ele também será escoltado por uma equipe de 50 agentes do Comando de Operações Táticas (COT), esquadrão de elite dos federais em Curitiba.

De acordo com a Polícia Federal do Paraná, Costa passou nesta manhã pelos últimos trâmites para sua transferência, com a formalização dos documentos do seu acordo de delação. Ao desembarcar no Rio, o ex-diretor já estará usando a tornozeleira eletrônica que irá monitorar o cumprimento da pena. Ao chegar ao aeroporto do Galeão, a Polícia Federal do Rio assumirá a operação de transferência até a sua casa.

O advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, réu na Operação Lava Jato e laranja do doleiro Alberto Youssef, declarou à Justiça Federal, nesta segunda feira, 29, que os contatos do doleiro na Construtora Camargo Correa eram os executivos Eduardo Leite - vice presidente da empreiteira - e João Auler, membro do conselho de administração.

O advogado foi ouvido como testemunha em uma das ações contra Youssef - personagem chave da investigação da Polícia Federal sobre esquema de lavagem de dinheiro e corrupção que pode ter alcançado R$ 10 bilhões. Carlos Costa decidiu colaborar com a Justiça, por isso foi colocado em liberdade.

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O depoimento confirma as suspeitas da PF que já havia interceptado trocas de mensagens entre Youssef, o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa e uma outra pessoa que utilizava o apelido "Leitoso", que seria um executivo da Camargo Corrêa.

No depoimento desta segunda-feira, 29, Carlos Costa voltou a mencionar ainda que as prestações de serviço previstas nos contratos da GFD não eram realizadas e, pela primeira vez, admitiu que eram relativos a comissões das negociações de Alberto Youssef com empreiteiras. "O que me disse o Alberto (Youssef) é que era um comissionamento sobre a negociação de venda de tubos da Sanko para a Camargo Corrêa. Não sei precisar qual o porcentual, não participei da negociação. Minha função era só como procurador da empresa (GFD)", afirmou o advogado ao ser questionado sobre um contrato da Sanko com a GFD Investimentos.

As empresas do Grupo Sanko (Sanko Sider e Sanko Serviços) são citadas nas investigações do MPF sobre os contratos para as obras da refinaria de Abreu e Lima da Petrobrás, em Pernambuco. O Consórcio CNCC (Consórcio Nacional Camargo Corrêa) foi o vencedor de uma das licitações das obras da refinaria em 2008 e contratou a Sanko Sider, que vendeu tubulações, flanges e conexões para a obra, e a Sanko Serviços.

As empresas do Grupo Sanko, então, firmaram contratos com a MO Consultoria e a GFD Investimentos empresas controladas por Youssef e colocadas em nome de "pessoas interpostas". A MO era empresa meramente de fachada, enquanto a GFD seria utilizada para ocultação do patrimônio de Youssef.No depoimento desta segunda, Carlos afirmou que um contrato de prestação de serviços da GFD com a Sanko nunca foi cumprido. "Sim era um contrato de consultoria financeira e não foi prestado esse serviço. Era comissionamento, mas a GFD não podia emitir nota de comissionamento porque no contrato social da GFD não prevê esse tipo de prestação de serviço (pagamento de comissões)", explicou o advogado.

Segundo a denúncia do MPF, com base na quebra do sigilo fiscal das empresas, a Sanko Sider e a Sanko Serviços receberam R$ 113 milhões do CNCC e da Camargo Corrêa entre 2009 e 2013. Parte deste valor, de acordo com a Procuradoria, incluía contratos superfaturados e desvio de dinheiro de recursos da Petrobrás que seriam utilizados para pagamento de propina a políticos.

Procurados pela reportagem, o Consórcio CNCC e a empreiteira Camargo Corrêa divulgaram nota negando ter relacionamento comercial com Youssef ou qualquer uma de suas empresas.

O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro confirmou nesta terça-feira, 23, que o doleiro Alberto Youssef decidiu fazer um acordo de delação premiada. Como consequência disso, Castro sairá do caso.

"A família convenceu o Youssef a fazer a delação. Por mais que eu tenha afirmado que a nossa tese no STJ (Superior Tribunal de Justiça) é muito forte e que eu acredito na hipótese de anular todo o processo, a família cansou e eu estou saindo do caso", afirmou o advogado.

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Castro afirmou que Youssef sempre foi correto com ele. "Pediu para me avisar dizendo que não pode segurar a família. Pediu desculpas e disse saber que eu ia sair, como combinado", completou.

Lava Jato

A operação Lava Jato foi deflagrada no dia 17 de março pela Polícia Federal. O alvo principal era o doleiro Alberto Youssef. Os investigadores descobriram suas relações com o ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que ocupou o cargo estratégico na estatal entre 2004 e 2012. O doleiro já tinha sinalizado a intenção de fazer uma nova delação premiada - em dezembro de 2003, Youssef adotou esse procedimento no âmbito do caso Banestado, investigação sobre evasão de divisas nos anos 1990.

O subprocurador-geral da República Mario Luiz Bonsaglia enviou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) na última sexta-feira, 19, duas manifestações desfavoráveis a presos da Operação Lava Jato. Em um parecer, o subprocurador se mostra contrário à alteração do juízo competente para conduzir o caso da Justiça Federal do Paraná para o Distrito Federal, e também se diz contra a liberação de um dos acusados da prisão preventiva. Na manifestação em outro caso, do doleiro Carlos Habib Chater, Bonsaglia pede desprovimento do recurso em que é pleiteada a suspensão da ação penal em curso.

Chater e seu funcionário André Catão de Miranda questionam no STJ, cada um com recurso próprio, decisões do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região de negar habeas corpus aos dois acusados. Os dois fazem parte do grupo que está detido na Casa de Custódia de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Carlos Habib Chater foi denunciado em ação penal pela prática do crime de lavagem de dinheiro e Catão é acusado pela prática de crimes de operação sem autorização de instituição financeira, evasão de divisas e lavagem de dinheiro, ambos no âmbito da Lava Jato.

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O doleiro pede ao STJ anulação de uma audiência de instrução e a suspensão da ação penal, até que sejam juntadas ao processo as diligências consideradas pela defesa como pendentes. O Ministério Público Federal, no entanto, considerou que não houve cerceamento da ampla defesa e do contraditório e opinou pelo desprovimento do recurso no STJ.

Catão, funcionário de Carlos Chater, na gerência do Posto da Torre, em Brasília, pede a declaração de incompetência da Justiça Federal do Paraná para julgar ação penal no caso e a remessa dos autos ao Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, no Distrito Federal.

Para o subprocurador-geral, contudo, há "evidente conexão" entre as condutas praticadas por quatro grupos criminosos liderados por Chater, pelo doleiro Alberto Youssef, por Nelma Mitsue Penasso Kodama e por Raul Henrique Srour, o que atrai a competência para o Juízo da 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba (PR). No inquérito policial derivado da Lava Jato, escreve o procurador, foram identificadas "diversas práticas delitivas, relativas a crimes contra o sistema financeiro nacional, lavagem de dinheiro e organização criminosa". "Portanto, a reunião de processos é de suma importância para a preservação da prova", escreveu.

A Justiça Federal de Curitiba foi a primeira a tomar conhecimento dos fatos que deram origem à Operação Lava Jato, afirma o subprocurador, "estando prevento para todas as medidas que dela se sigam, tais como decidir sobre pedidos de prisão, busca e apreensão, fiança, liberdade provisória, entre outras decisões judiciais que o caso comportar". Quem conduz as ações resultantes da Lava Jato, deflagrada em março deste ano, é o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba (PR).

Prisão preventiva

A defesa de Catão pedia ainda a liberação da prisão preventiva, com adoção de outras medidas cautelares, sob alegação de que os crimes não foram praticados com violência. O Ministério Público, no entanto, sustenta que as "ações perpetradas pela organização criminosa atingem diretamente a sociedade, considerando a magnitude da movimentação financeira ilegal, registrada em R$ 124,96 milhões". O funcionário de Chater é citado por Bonsaglia como personagem de "importante papel na organização criminosa, sendo o responsável pela realização das transações financeiras de recursos oriundos das atividades de câmbio e lavagem de dinheiro".

O subprocurador lembra ainda que Catão, juntamente com outros três réus - Chater, Rene Luiz Pereira e André Luiz Paula dos Santos - tentou fugir no último dia 3, segundo o relatório de um agente penitenciário.

O advogado de Chater, Ticiano Figueiredo, afirmou que há dois recursos no STJ, além da defesa na Justiça Federal do Paraná. Figueiredo criticou a condução do caso e afirmou que é preciso dar à defesa acesso às delações realizadas e juntar provas aos autos. Já Marcelo de Moura, advogado de Catão, diz ter expectativa de que o STJ reconheça a incompetência territorial da Justiça do Paraná para conduzir o caso.

Os recursos no STJ relativos à Lava Jato tramitavam sob relatoria da ministra Regina Helena Costa, na 5ª Turma da Corte, especializada em direito penal. Com uma recente mudança na composição do STJ, contudo, a ministra passou a atuar na 1ª Turma da Corte e os processos serão redistribuídos.

Em depoimento prestado à Justiça Federal, o operador de câmbio Luccas Pace, réu no processo da Operação Lava Jato, afirmou que alguns bancos foram coniventes com o esquema de lavagem montado pelo grupo da doleira Nelma Kodama, também conhecida como "dama do mercado". Segundo ele, o grupo movimentava cerca de U$S 300 mil por dia.

"O banco é conivente na movimentação financeira, porque se a mesma empresa, que não tem sede, que não tem radar, que não tem funcionários, movimenta no dia um valor que na verdade ela não teria condições de movimentar no mês, o banco também sabe o que está acontecendo", afirmou. Questionado pelo Ministério Público Federal, ele disse ainda que o grupo movimentava dinheiro em quatro bancos: Bradesco, Banco do Brasil, Itaú e Santander.

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"(...) Ele (o banco) vê isso todos os dias, porque para eu fechar o câmbio na corretora, o câmbio tem que ser pago pelo próprio importador, então eu tenho que encher essas contas todos os dias e fazer o pagamento todos os dias. Então, tem a conivência das corretoras dos fechamentos e dos bancos na movimentação financeira. De não conhecer sócio, sede...", concluiu o operador.

Acusado de lavagem de dinheiro pelo Ministério Público Federal, Pace, que trabalhou por 32 anos na área internacional de bancos antes de entrar para o grupo da doleira, decidiu colaborar com a Justiça no começo do mês. Ele relatou que era subordinado de Nelma Kodama há oito anos, atuando no fechamento das operações de câmbio do grupo. Apesar de não conseguir identificar as agências de cabeça, Pace cita dois episódios específicos de colaboração dos bancos com o esquema de Nelma, uma das quatro doleiras alvo da Lava Jato. Ele chega a mencionar um gerente do Banco do Brasil, Rinaldo Gonçalves de Carvalho, que colaboraria com o grupo.

Além disso, ele cita ainda uma operação fraudulenta realizada pelo Bradesco que conseguia simular uma transferência de clientes que sequer tinham conta no banco. "Alguns bancos conseguiram, principalmente o Bradesco, criar um mecanismo onde ele fazia como se saísse uma TED de um cliente que nem conta tinha no Bradesco", afirmou Pace. Ele disse ainda não ter conhecimento de como eram os procedimentos internos do banco para fazer esta operação.

Por fim, ele chega a mencionar ainda a falta de fiscalização do próprio Banco Central, que permitia brechas para o grupo atuar. "Tanto no cadastro do banco quanto da corretora, a norma exige que você conheça a empresa, vá fisicamente, conheça o sócio, pegue os documentos originais na mão e solicite os credenciamentos, inclusive de radar ou no caso de remessa de frete de agente de cargas. Se não solicitou, o caminho está aberto", disse."O Banco Central e a Receita nos últimos anos nunca mais se entenderam junto com os bancos, com relação a quem tem que controlar".

Outro lado

Procurados, os bancos citados informaram que não comentariam casos sob investigação da Justiça. O Banco do Brasil, por sua vez, informou que já demitiu o funcionário Rinaldo Gonçalves de Carvalho. O Banco Central também afirmou que não iria comentar o caso.

A seguir as notas divulgadas pelo Banco do Brasil, Santander e Bradesco: "O Banco do Brasil afirma que cumpre integralmente a legislação em vigor e adota controles rigorosos de prevenção e combate à lavagem de dinheiro. Repudiamos qualquer insinuação de conivência com os delitos investigados e informamos que o funcionário citado foi demitido do Banco do Brasil, por justa causa. Apurações internas sobre sua conduta foram repassadas às autoridades responsáveis pela investigação." "O Santander informa que não se manifesta em casos que estão sob o exame da justiça. O banco esclarece que cumpre rigorosamente as normas locais e internacionais de Compliance estabelecidas e avaliadas, periodicamente, pelos reguladores." "O Bradesco não comenta assuntos que estejam sob investigação pelas autoridades."

Atendendo a um pedido de Alberto Youssef, a deputada Aline Corrêa (PP-SP) contratou como assessora parlamentar do seu gabinete uma amiga íntima do doleiro. Taiana de Sousa Camargo afirmou ao Estado que foi apresentada à deputada por Youssef que pediu o emprego para ela.

"Ele me apresentou e pediu que me arrumasse um emprego. O Alberto era amigo do pai da deputada [o ex-deputado Pedro Correa, condenado no esquema do mensalão], conhecia toda a família", afirmou.

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Taiana trabalhou no gabinete da deputada como secretária parlamentar de 2010 a 2013 com salário de R$ 1.690. Ela foi contratada para assessorá-la em São Paulo onde vivia Youssef.

Conforme as investigações da Operação Lava Jato, que desbaratou o esquema do doleiro, a deputada recebeu R$ 350 mil de doação na sua campanha de 2010 a partir de uma solicitação de Youssef. A deputada tem afirmado que conhece o doleiro e que para ela "Youssef era apenas um empresário."

A quebra do sigilo telefônico de Youssef pela CPI mista da Petrobras revelou a proximidade da ex-assessora parlamentar com o doleiro. Entre 2010 e 2013 há o registro de 10.222 telefonemas entre os dois, uma média de sete contatos por dia. "Nós tínhamos uma relação extraconjugal. Então, namorado conversa muito mesmo", diz Taiana.

Ela afirma desconhecer as atividades ilícitas de Youssef. "Para mim, o Alberto era um empresário, um batalhador, que acordava todos os dias às cinco da manhã para trabalhar. Ele era extremamente discreto. Ele era um baita empresário." Youssef esta preso acusado de vários crimes, entre eles um esquema de corrupção envolvendo a Petrobras. Taiana foi intimada a depor no inquérito da Lava Jato, mas a data ainda não foi agendada.

No processo consta que ela ganhou dois apartamentos em bairros nobres de São Paulo e três restaurantes de presente para ela. Taiana afirmou que ganhou os bens de presente. A quebra de sigilo telefônico de Youssef também mostra mais de três mil conversas do doleiro com sua esposa, Joana Darc Fernandes Youssef. Entre 2010 e 2013 foram 3.247 chamadas.

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