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Mais de 43.000 pessoas foram deslocadas pelas inundações provocadas pela tempestade Daniel, que devastaram o nordeste da Líbia há 10 dias, anunciou a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

"Segundo as estimativas mais recentes da OIM, 43.059 pessoas foram deslocadas pelas inundações no nordeste da Líbia", afirmou a agência da ONU em seu boletim mais recente.

A tempestade Daniel afetou a cidade líbia de Derna durante a noite de 10 de setembro e provocou o rompimento de duas barragens. A água dos reservatórios gerou um fluxo que destruiu bairros inteiros.

Mais de 3.300 pessoas morreram na tragédia, segundo um balanço provisório das autoridades do leste da Líbia. O balanço real, no entanto, deve ser muito maior porque milhares de pessoas estão desaparecidas.

A OIM destacou que a falta de abastecimento de água obrigou vários desabrigados a abandonar Derna.

As autoridades líbias pediram aos moradores da região que não consumam a água procedente das tubulações porque o abastecimento foi contaminado pelas inundações.

A Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL) anunciou esta semana que suas agências estavam trabalhando para "prevenir a propagação de doenças e evitar uma segunda crise devastadora na região".

A empresa nacional de telecomunicações informou que restabeleceu as redes de telefonia e de internet em Derna nesta quinta-feira, após um apagão durante a semana e dos protestos contra as autoridades locais pela gestão da catástrofe.

As autoridades relataram uma "ruptura na fibra óptica", mas vários especialistas afirmaram que o apagão foi deliberado.

Eram duas da manhã quando gritos de desespero acordaram Abdel Moneim Awad al Sheikh. Ao se levantar, descobriu que a água se espalhava por todo o lado, até arrancar as portas de sua casa em Derna, no leste da Líbia.

As chuvas torrenciais que caíram sobre esta cidade na noite de 10 para 11 de setembro provocaram o rompimento de duas represas, e uma inundação colossal, como um tsunami, varreu tudo.

Na frente de sua casa em ruínas, Abdel Moneim, com o olhar perdido ante uma paisagem de desolação, recorda como ele e sua família sobreviveram à catástrofe, que deixou milhares de mortos e desaparecidos.

"Saí de casa sem levar nada, apenas meus óculos e o celular. Saí e vi a água bater nas portas de ferro como um terremoto", descreveu este homem de 73 anos em entrevista à AFP.

Algumas partes de Derna, como edifícios e infraestruturas, foram destruídas pela tromba d'água. Pontes que ligavam o leste e o oeste da cidade também desapareceram. A maioria das vítimas foi soterrada pela lama, ou arrastada até o mar Mediterrâneo.

Entre a casa de Abdel Moneim e o rio que atravessa a cidade, "havia três ou quatro edifícios".

"Agora não tem nada, apenas terra, como se nunca tivesse havido construção ali", relata.

O chão de sua casa, no primeiro andar, está coberto por uma espessa camada de terra seca. As janelas estão quebradas, e as paredes, estão cheias de rachaduras, ou em pedaços. Ele mora com sua esposa, enquanto seus dois filhos ocupam os demais andares do prédio com suas famílias.

Quando a torrente destruiu a porta de sua casa, eles subiram ao quarto andar. Mas não foi o fim de seu "pesadelo". Abdel Moneim conta que, depois de cerca de 15 minutos, "meu filho gritou para dizer que uma outra onda estava chegando e que era muito maior do que a primeira, com cerca de 20 metros de altura".

- "Vi a morte" -

A família decidiu subir mais, até o quinto andar, no telhado da casa dos vizinhos.

"Usamos uma escada de madeira e ficamos (lá) até o amanhecer, quando jovens voluntários vieram nos resgatar", lembra.

Assim como Abdel Moneim, muitas outras famílias em Derna viveram estes momentos aterradores. Mohamad Abdelhafidh, um libanês residente do local, afirma: "eu vi a morte".

O homem de 50 anos estava dormindo quando sentiu o "choque".

"Achei que fosse um terremoto", diz ele, que pediu à sua irmã e ao seu pai que fossem para a rua.

Ao sair na varanda, descobriu que a água tinha subido até o nível de seu apartamento, no terceiro andar. Ele e sua família rapidamente se refugiaram nos níveis superiores, onde permaneceram até a água baixar.

De acordo com o último relatório divulgado pelo ministro da Saúde do leste da Líbia, Othman Abdeljalil, as inundações deixaram 3.283 mortos. Teme-se, no entanto, que este balanço seja muito maior, devido aos milhares de desaparecidos.

"Na véspera, recebemos um aviso de que iria chover muito e que teríamos que ficar em casa. Só isso", lembra Mohammed Al Zawi, de 25 anos.

Depois de se abrigar, com a família, no telhado de sua casa de dois andares, este homem conta que, quando as águas baixaram, viu "25 ou 30 corpos" na rua.

"A água arrastou carros com gente dentro, pessoas, bens. Tudo foi parar no mar", acrescenta, ainda abalado.

A ajuda internacional chegava neste sábado à cidade líbia de Derna, devastada por inundações, embora a esperança de encontrar sobreviventes entre os milhares de desaparecidos tenham diminuído, seis dias após o desastre.

A tempestade Daniel, que atingiu a cidade de 100 mil habitantes, localizada no leste da Líbia, provocou o rompimento de duas barragens e uma enchente comparável a um maremoto, que destruiu prédios, veículos e arrastou milhares de pessoas em sua trajetória.

Prédios inteiros foram varridos pela água e outros foram parcialmente destruídos. A catástrofe castiga um país assolado por anos de conflito, onde há dois governos rivais.

Autoridades do governo que controla a região leste --não reconhecido pela ONU-- relatam balanços contraditórios.

Othman Abdeljalil, chefe da pasta de Saúde do governo do Leste, indicou 3.166 mortes em um relatório divulgado na noite de sexta-feira, que incluiu 101 mortos encontrados durante o dia.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou hoje que haviam sido identificados os corpos de 3.958 pessoas, e que mais de 9.000 continuavam desaparecidas, sem mencionar a fonte desses dados.

- Toneladas de ajuda -

A mobilização internacional continuava intensa. No aeroporto da cidade de Benghazi, um avião dos Emirados Árabes e outro do Irã descarregaram hoje toneladas de ajuda, que serão transportadas para a área do desastre, a 300 km.

A embaixada da Itália anunciou a chegada de uma embarcação à costa de Derna transportando barracas e cobertores, bem como de dois helicópteros e escavadeiras.

Toneladas de ajuda da Arábia Saudita e do Kuwait também chegaram ao leste do país, incluindo suprimentos médicos. Dois aviões franceses pousaram no leste para “implantar um hospital de campanha o mais próximo possível das populações afetadas em Derna”, informou o embaixador francês na Líbia, Mostafa Mihraje.

A OMS, por sua vez, anunciou a chegada a Benghazi de 29 toneladas de material médico procedente do seu centro logístico global, localizado em Dubai, "suficientes para ajudar quase 250 mil pessoas". "Esta é uma catástrofe de proporções épicas", ressaltou Ahmed Zouiten, representante da OMS na Líbia.

- Situação caótica -

Organizações humanitárias, como Médicos sem Fronteiras (MSF) e Islamic Relief, alertaram que existe o risco de propagação de doenças e dificuldades na entrega de ajuda aos mais necessitados nos próximos dias.

A situação "é caótica", o que dificulta a contagem e identificação das vítimas, explicou Manoelle Carton, coordenadora médica de uma equipe da MSF. "Muitos voluntários de toda a Líbia e do estrangeiro estão no local. A coordenação da ajuda é urgente", insistiu.

O trabalho das equipes de resgate é dificultado pelo caos político que impera no país desde a morte do ditador Muammar Kadhafi, em 2011.

Para acelerar os esforços de busca, o chefe do governo do leste da Líbia, Osama Hamad, decretou que serão aplicadas novas restrições a partir de hoje na área do desastre. “Apenas equipes de busca e investigadores líbios e estrangeiros terão acesso”, informou.

Depois de abrir uma investigação sobre as circunstâncias da tragédia, o procurador-geral da Líbia, Al-Seddik al-Sour, afirmou que as duas barragens que causaram o desastre apresentavam rachaduras desde 1998.

Em 2010, uma empresa turca começou a fazer obras após anos de atraso, mas os trabalhos foram suspensos meses depois, devido à revolução líbia de 2011, e nunca mais foram retomados.

O esforço internacional para ajudar a Líbia, vítima de inundações similares a um tsunami que deixaram quase 4.000 mortos e milhares de desaparecidos, foi intensificado nesta quinta-feira (14).

Aviões e navios militares de países do Oriente Médio e Europa transportam ajuda de emergência ao país do norte da África, já devastado pela guerra.

Além dos mortos e desaparecidos, dezenas de milhares de pessoas foram deslocadas pelas inundações repentinas de domingo, provocadas pela tempestade Daniel, que afetaram em particular a cidade costeira de Derna.

As testemunhas compararam as inundações a um tsunami. Duas barragens do rio Derna romperam e provocaram inundações de água e lama que destruíram edifícios e veículos no caminho.

Muitas pessoas foram arrastadas para o mar. Na terça-feira, corpos começaram a aparecer no Mediterrâneo, cuja água ficou com a cor da lama.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU afirmou que a maioria das vítimas "poderia ter sido evitada", caso os sistemas de alerta precoce e de gestão de emergências tivessem funcionado da maneira correta.

Este é o segundo fenômeno natural que afeta o norte da África nos últimos dias.

Um terremoto violento abalou Marrocos na sexta-feira passada e matou quase 3.000 pessoas.

A ONU prometeu US$ 10 milhões (R$ 49,2 milhões, na cotação atual) para ajudar os sobreviventes na Líbia, incluindo ao menos 30.000 pessoas que, segundo a organização, ficaram desabrigadas em Derna.

O número representa quase um terço da população da cidade do leste da Líbia antes do desastre.

- Desafios imensos -

Os desafios para os trabalhadores humanitários são imensos.

"As rodovias estão obstruídas, destruídas e inundadas, o que dificulta o acesso de ajuda humanitária", afirmou a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Além disso, as pontes sobre o rio Derna que ligam a zona leste da cidade com a zona oeste desabaram, informou a agência da ONU.

O Reino Unido anunciou uma ajuda inicial de US$ 1,25 milhão (R$ 6,1 milhões na cotação atual) e afirmou que está trabalhando com "parceiros confiáveis no local" para identificar as necessidades básicas mais urgentes, incluindo abrigo, atendimento médico e saneamento.

O presidente do vizinho Egito, Abdel Fattah al-Sissi, ordenou a criação de acampamentos para os desabrigados, segundo a imprensa estatal.

A França enviou quase 40 socorristas e toneladas de material de saúde, além de um hospital de campanha.

A Turquia, uma das primeiras nações a oferecer assistência, anunciou o envio de ajuda adicional por barco, incluindo dois hospitais de campanha.

O país também aguarda a chegada de um navio italiano com assistência logística e médica.

- Combinação de fatores -

A União Europeia anunciou o envio de ajuda por parte da Alemanha, Romênia e Finlândia.

Argélia, Catar e Tunísia também prometeram auxílio. O governo dos Emirados Árabes Unidos enviou dois aviões com 150 toneladas de ajuda.

A imprensa palestina anunciou o envio de uma missão de resgate, e a Jordânia enviou um avião militar com alimentos, barracas, cobertores e colchões.

A Líbia, um país com grandes reservas de petróleo, ainda se recupera da guerra e do caos posteriores ao levante que derrubou e matou o ditador Muamar Khadafi em 2011.

O país está dividido entre dois governos rivais: a administração reconhecida internacionalmente com sede na capital Trípoli; e uma administração separada, no leste, a região afetada pelo desastre.

O porta-voz do Ministério do Interior do governo instalado no leste do país, o tenente Tarek al Kharraz, afirmou que, até quarta-feira, foram contabilizados 3.840 mortos na cidade de Derna. Deste total, 3.190 já foram enterrados. Entre as vítimas, estão ao menos 400 estrangeiros, principalmente sudaneses e egípcios.

Mais de 2.400 pessoas continuam desaparecidas, segundo as autoridades do leste.

Já a imprensa divulga balanços ainda mais graves de vítimas, com base em vários depoimentos.

Uma fonte da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICR) afirmou que as inundações podem ter deixado 10.000 desaparecidos.

Outra fonte da Cruz Vermelha fez um alerta contra o risco vinculado às minas terrestres arrastadas pela água.

A tempestade Daniel chegou à costa leste da Líbia no domingo. Atingiu, primeiramente, a metrópole de Benghazi e, depois, seguiu para o leste, impactando as cidades de Jabal al Akhdar (nordeste), Shahat (Cirene), Al Marj, Al Bayda e Susa (Apolônia). Derna foi afetada com particular violência.

Os cientistas vinculam a tragédia ao aumento da temperatura da água no Mediterrâneo, ao caos político e às infraestruturas deficientes do país.

Lentamente, a ajuda internacional começa a alcançar Derna, na Líbia, ao mesmo tempo em que crescem as perguntas sobre como a cidade pôde ser devastada pela tempestade Daniel, no fim de semana. São 10 mil desaparecidos. O número de mortos foi estimado na quarta-feira (13) em 20 mil pelo diretor do centro médico Al-Bayda, Abdul Rahim Maziq.

No entanto, Moin Kikhia, ex-funcionário público do Ministério das Finanças da Líbia, disse que o autoproclamado governo que controla o leste do país teme que o verdadeiro número de vítimas possa rondar as dezenas de milhares. "O número de mortes é muito maior do que se pensava. O governo acredita que sejam 40 mil, mas ninguém quer dizê-lo por medo de irritar as pessoas", disse Kikhia, fundador do Instituto Democrático Líbio, ao jornal britânico Telegraph.

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A Organização Internacional para as Migrações (OIM) afirmou ontem que 30 mil estão desabrigados. As inundações causaram danos significativos à infraestrutura de Derna, que ainda está praticamente inacessível.

Devastação

Equipes de resgate vasculharam prédios destruídos em busca de vítimas e recuperaram corpos que flutuavam no Mediterrâneo.

"Os cadáveres estão por todo o lado, dentro das casas, nas ruas, no mar. Onde quer que você vá, você encontra homens, mulheres e crianças mortos", disse Emad al-Falah, um trabalhador humanitário de Benghazi que está atuando em Derna. "Famílias inteiras foram perdidas."

Mais de 2 mil cadáveres foram recolhidos ontem e mais da metade deles foi enterrada em valas comuns em Derna, de acordo com o ministro da Saúde do governo local, Othman Abduljaleel. Muitos corpos foram retirados do mar.

"O mar despeja constantemente dezenas de corpos todos os dias", disse Hichem Abu Chkiouat, ministro da Aviação Civil do governo que dirige o leste da Líbia.

A surpreendente devastação refletia a intensidade da tempestade, mas também a vulnerabilidade da Líbia. O país está dividido por governos rivais, um no leste, o outro no oeste, e o resultado foi a negligência da infraestrutura.

Das sete estradas que levam à cidade, apenas duas estavam acessíveis ontem. Várias pontes que cruzam o Rio Derna caíram. A Câmara Municipal pediu a abertura de uma passagem marítima para a cidade e uma intervenção internacional urgente.

A tempestade em Derna é o mais recente golpe em um país que já foi devastado por anos de caos e guerra civil.

Trata-se do desastre ambiental mais fatal da história moderna da Líbia. Anos de conflito e a falta de um governo central deixaram a infraestrutura líbia em ruínas e vulnerável a chuvas intensas. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A tempestade Daniel, que atingiu a Líbia no fim de semana, matou 5,3 mil pessoas e deixou mais de 10 mil desaparecidos, de acordo com a Cruz Vermelha. Pelo menos 1,3 mil vítimas foram identificadas e enterradas ontem, mas centenas estão empilhadas em cemitérios e poucos sobreviveram para identificar os cadáveres.

O rompimento de duas barragens agravou a tragédia. A cidade portuária de Derna foi a mais atingida. Tariq al-Kharraz, porta-voz da administração que controla o leste da Líbia, disse que bairros inteiros foram arrasados, com muitos corpos arrastados para o mar. O número total de mortos, segundo ele, pode jamais ser conhecido.

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"Há corpos espalhados por toda parte - no mar, nos vales, sob os edifícios", disse Hichem Chkiouat, ministro da Aviação Civil do governo que controla o leste da Líbia. "Não estou exagerando quando digo que 25% da cidade de Derna desapareceu. Muitos edifícios desabaram."

A cidade tem 90 mil habitantes e é cortada pelo Wadi Derna, um rio sazonal que corre das terras altas, no sul, em direção ao Mar Mediterrâneo. O vale era protegido de inundações por barragens. Na noite de domingo, duas represas se romperam, provocando uma violenta enxurrada que foi levando tudo o que encontrava pela frente nas duas margens do rio.

Divisão

O rompimento das duas barragens no Wadi Derna é a demonstração do colapso da infraestrutura da Líbia depois da morte do ditador Muamar Kadafi e mais de uma década de guerra civil. Um dos países mais ricos em petróleo do mundo está dividido entre duas facções rivais: uma no leste e outra no oeste, cada uma apoiada por diferentes milícias e governos estrangeiros.

O Governo de Unidade Nacional (GNU), com sede em Trípoli, controla o oeste da Líbia. Seu líder, Abdul Hamid Dbeibeh, tem o reconhecimento da maior parte da comunidade internacional e recebe apoio da Turquia.

Já o Governo de Estabilidade Nacional (GEN), com base em Tobruk, liderado pelo general Khalifa Haftar, comanda o Exército Nacional Líbio (ELN) no leste do país - onde ocorreram as enchentes. O GEN tem apoio dos mercenários russos do Grupo Wagner.

A falta de um governo central atrapalha os investimentos em estradas e serviços públicos na Líbia. Durante anos, Derna foi ocupada por militantes islâmicos, até ser capturada pelo general Haftar, em 2019.

Tempestade

A enorme quantidade de chuva é resultado de um sistema muito forte de baixa pressão que provocou inundações catastróficas na Grécia, Turquia e Bulgária, na semana passada, deixando 27 mortos. Classificada como um "fenômeno extremo em termos de volume de água", a tempestade Daniel deslocou-se para o Mediterrâneo antes de se transformar em ciclone tropical. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Ao menos 27 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas nos combates registrados desde segunda-feira em Trípoli entre dois grupos armados influentes, informou o Centro de Medicina de Emergência.

Em um balanço "provisório" publicado no Facebook, a agência responsável pelos serviços de emergência no oeste da Líbia registra 27 mortos e 106 feridos nos confrontos no sudeste de Trípoli.

Os combates começaram na segunda-feira (14) após a detenção do coronel Mahmoud Hamza, comandante da Brigada 444, por membros da Força Rada.

Na terça-feira à noite, o "conselho social", formado por notáveis de Soug al Joumaa, setor ao sudeste de Trípoli e reduto da Força Rada, anunciou que Hamza seria transferido para uma zona neutra.

A medida acalmou a situação na madrugada de terça-feira para quarta-feira.

O navio humanitário "Ocean Viking" resgatou, neste sábado (7), 37 migrantes que naufragaram perto da costa da Líbia, no Mediterrâneo, segundo a ONG SOS Méditerranée, proprietária da embarcação.

Na manhã deste sábado, o "Ocean Viking" resgatou "37 pessoas" a bordo de "um pequeno barco inflável superlotado em águas internacionais perto da Líbia", comunicou a ONG em sua declaração.

A SOS Méditerranée disse à AFP que o navio humanitário segue em direção a Ancona, no nordeste da Itália, após as autoridades italianas permitirem o desembarque neste porto.

"O porto está localizado a 1.575 quilômetros da área de operação, ou seja, quatro dias de navegação", lamentou a ONG.

"As previsões meteorológicas vão piorar a partir de domingo à noite" e isso pode expor os migrantes a "ventos fortes e mar agitado", explicou.

Das 37 pessoas resgatadas, duas são mulheres e 12 menores de idade sem a companhia de parentes.

Depois de resgatar 113 migrantes no final de dezembro, o "Ocean Viking" precisou desembarcar no porto de Ravenna, distante de sua área de operação, após mais uma polêmica decisão do governo de extrema-direita da Itália.

A enviada da ONU Stephanie Williams se reuniu neste domingo (13) com os dois líderes rivais da Líbia e pediu que "preservem a estabilidade", sem se posicionar a favor de nenhum deles.

A Líbia, um país marcado por lutas e divisões de poder, atualmente tem dois primeiros-ministros baseados na capital, Trípoli. Em 10 de fevereiro, o Parlamento nomeou Fathi Bashagha como substituto de Abdelhamid Dbeibah, que se recusa a deixar o poder.

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Em meio ao caos político, a americana Stephanie Williams, conselheira especial do secretário-geral da ONU, António Guterres, para a Líbia, se reuniu em Trípoli com Dbeibah, e sublinhou "a importância de todos os atores" na preservação da estabilidade.

Williams também "se reuniu com o primeiro-ministro designado", Bashagha, a quem "enfatizou a necessidade de avançar de maneira inclusiva, transparente e consensual e de manter a estabilidade".

"A ênfase deve continuar sendo a realização de eleições nacionais livres, justas e inclusivas o mais rápido possível", disse a emissário, confirmando que a ONU permanecerá neutra sobre este assunto.

Na quinta-feira, o porta-voz da ONU declarou inicialmente que a organização continuava reconhecendo Dbeibah como primeiro-ministro. Mas, no dia seguinte, Guterres suavizou essa posição, indicando que "tomou nota" da nomeação de Bashagha e instou "todas as partes a continuarem preservando a estabilidade na Líbia como uma prioridade absoluta".

A Líbia vive um caos desde a queda do regime de Muammar Gaddafi em 2011, após uma revolta popular.

Após anos de violência, um processo político apoiado pela ONU levou à nomeação de Abdelhamid Dbeibah para administrar a transição até as eleições legislativas e presidenciais. Estas deveriam ter sido realizados em dezembro de 2021, mas foram adiadas indefinidamente devido a divergências.

O Parlamento, com sede em Tobruk (leste), considerou que o mandato de Dbeibah expirou com esse adiamento, embora este já tenha advertido que só cederia o poder a um governo eleito pelas urnas.

Bashagha tem até 24 de fevereiro para formar um governo e submetê-lo à votação no parlamento.

O navio de resgate SOS Méditerranée resgatou 114 pessoas nesta quinta-feira (16), incluindo dois recém-nascidos, que viajavam a bordo de "um barco em dificuldades na costa da Líbia", para tentar chegar à Europa, disse a ONG.

“O resgate ocorreu em águas internacionais após uma noite inteira de buscas por esta embarcação em dificuldades”, informou a SOS Méditerranée, com sede em Marselha. Seu navio, Ocean Viking, opera em colaboração com a Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.

Entre os resgatados estão "30 menores, 26 deles desacompanhados" e dois recém-nascidos, o mais jovem com apenas 11 dias de idade, disse a porta-voz da ONG Meryl Sotty à AFP.

Em sua última missão, o Ocean Viking resgatou 314 migrantes no início de novembro. Após várias evacuações por motivos médicos, 306 puderam desembarcar no dia 11 de novembro em um porto da Sicília (sul da Itália).

Apesar da insegurança persistente, a Líbia continua sendo o principal ponto de passagem para dezenas de milhares de imigrantes que a cada ano procuram entrar na Europa através da Itália, a 300 quilômetros da costa da Líbia.

De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), quase 23.000 pessoas morreram ou desapareceram no Mediterrâneo desde 2014 tentando chegar à Europa, incluindo mais de 1.600 desde o início de 2021.

O papa Francisco pediu neste domingo (24) à comunidade internacional para solucionar a crise migratória da Líbia, apesar da falta de acordo entre os países da União Europeia (UE) sobre como administrar os fluxos de migrantes ao bloco.

"Expresso minha proximidade com os milhares de migrantes, refugiados e outras pessoas que precisam de proteção na Líbia", afirmou, antes de destacar que nunca esquecerá estas pessoas.

"Escuto os seus gritos e rezo por vocês", declarou Francisco durante a tradicional oração dominical do Angelus na Praça de São Pedro, no Vaticano.

"Muitos destes homens, mulheres e crianças são objetos de uma violência desumana (...) Mais uma vez exorto a comunidade internacional a cumprir suas promessas e encontrar soluções comuns, concretas e duradouras para administrar os fluxos migratórios na Líbia e em todo o Mediterrâneo", acrescentou o papa.

"Devemos acabar com a devolução de migrantes a países inseguros", priorizando o resgate e salvamento no mar, assim como um desembarque seguro, "garantindo condições de vida dignas, alternativas à detenção, rotas migratórias regulares e acesso aos procedimentos de asilo".

A Itália enfrenta ondas de migrantes que atravessam o Mediterrâneo a partir da Líbia, com centenas de pessoas que chegam a suas costas quase diariamente.

Neste domingo, a linha direta para o resgate de migrantes Alarm Phone indicou que dois botes infláveis com entre 60 e 68 pessoas a bordo precisam de ajuda urgente no Mediterrâneo.

A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) informou que o navio de auxílio "Geo Barents" resgatou 95 pessoas no sábado à noite, o que eleva a 296 o número de migrantes atualmente a bordo.

A UE, no entanto, deslocou a atenção do Mediterrâneo para a fronteira entre Belarus e seus vizinhos do bloco, Letônia, Lituânia e Polônia, depois que milhares de migrantes tentaram entrar nestes Estados do leste da UE durante os últimos meses.

Uma reunião esta semana mostrou mais uma vez as divisões entre os países membros da UE sobre questão dos migrantes. Alguns Estados, incluindo Polônia e Lituânia, pediram que o bloco financie as barreiras nas fronteiras com países extracomunitários.

O assessor de Segurança Nacional de Joe Biden, Jake Sullivan, conversou nesta quarta-feira (29) com o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi, para promover a realização de eleições na Líbia, país assolado pelas lutas de poder, informou a Presidência egípcia.

O Cairo, grande aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio, se consolidou como um ator-chave no cenário regional, tanto na questão palestina quanto na da vizinha Líbia, que desde a queda de Muamar Gadafi em 2011 vive um conflito sangrento.

O Egito recebeu recentemente o homem que controla o leste da Líbia, o marechal Khalifa Haftar, líder do autoproclamado Exército Nacional Líbio (ENL) e possível candidato às eleições presidenciais previstas para 24 de dezembro, assim como seu rival, o primeiro-ministro Abdelhamid Dbeibah.

O Cairo pediu que as eleições legislativas e presidenciais ocorram na data prevista para acelerar o retorno à estabilidade.

Sullivan e Sissi falaram de "organizar eleições" na Líbia, de "retirar as tropas estrangeiras e os mercenários" e de "unificar as forças armadas" do país, disse o porta-voz de Sissi, Basam Radi, em um comunicado.

As eleições líbias estão atualmente ameaçadas, já que o presidente do Parlamento, Aguila Saleh, ratificou uma controversa lei eleitoral que favorece o general Haftar, enquanto o Parlamento da cidade de Tobruk (leste) aprovou uma moção de censura contra o governo.

O Ministério da Saúde da Líbia informou neste domingo que o país recebeu a primeira remessa de vacinas contra o coronavírus. Segundo as autoridades, 101.250 doses da vacina russa Sputnik V chegaram à capital, Trípoli, e foram levadas aos depósitos do governo. O primeiro-ministro, Abdul Hamid Dbeibah, publicou em sua conta do Twitter que outras remessas estavam para chegar, mas não informou o prazo.

O país vem observando um aumento na confirmação de casos de Covid-19 nas últimas semanas. Até o momento, são mais de 161 mil infecções identificadas e 2.684 mortes desde o início da pandemia.

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A Líbia inicia neste sábado uma nova fase de sua transição política, após a eleição de um novo Executivo temporário e unido que tem várias missões: instaurar um novo governo, preparar as eleições de dezembro e acabar com uma década de caos.

Quatro novos dirigentes procedentes de três regiões da Líbia terão, segundo a ONU, que "reunificar as instituições do Estado", em um país dividido e com duas autoridades rivais, no oeste e leste, e "garantir a segurança" até as eleições nacionais previstas para 24 de dezembro.

O novo passo foi elogiado ao redor do mundo.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, aplaudiu "uma ótima notícia em nossa busca pela paz".

Os governos da Alemanha, Itália, França, Estados Unidos e Reino Unido celebraram em um comunicado conjunto o novo governo interino, mas advertiram que resta um "longo caminho".

O engenheiro Abdel Hamid Dbeibah, de 61 anos, foi designado na sexta-feira o primeiro-ministro interino pelos 75 participantes no Fórum de Diálogo Político, na região de Genebra, no âmbito de um processo iniciado pela ONU em novembro.

Natural de Misrata (noroeste), perto da capital Trípoli, o rico empresário tem 21 dias para formar seu gabinete. Ele terá outros 21 dias adicionais para obter a confiança do Parlamento, ou seja, no mais tardar 19 de março.

Com esta escolha começa uma fase e termina outra: a dos acordos de Skhirat (Marrocos), assinados em 2015 com a mediação da ONU, que levaram à formação do Governo de União Nacional (GNA, com sede em Trípoli) e a designação de seu chefe, Fayez al-Sarraj.

Mas Sarraj não conseguiu em nenhum momento a confiança do Parlamento nem impôs sua autoridade na conjunto das forças políticas e militares do país.

Um conselho presidencial interino, integrado pelo primeiro-ministro e por outros três membros, também foi designado na sexta-feira.

O novo primeiro-ministro está longe de gerar unanimidade, pois ocupou cargos importantes durante o regime de Muamar Khadafi, que foi derrubado em 2011, depois de passar 42 anos no poder.

Além disso, ao lado de seu primo Ali Dbeibah - outro empresário -, ele é alvo de investigações na Líbia e outros países por desvio de verbas. O mesmo primo integrava o Fórum que votou na sexta-feira para o novo Executivo.

Dez anos depois da queda de Khadafi, a Líbia permanece em uma grave crise política, com dois Executivos rivais: no oeste o GNA reconhecido pela ONU e apoiado pela Turquia; no leste uma autoridade representada por Khalifa Haftar, apoiado pela Rússia.

Após o fracasso da ofensiva iniciada pelo marechal Haftar em abril de 2019 para conquistar Trípoli, os dois lados assinaram um cessar-fogo em outubro e retomaram o diálogo, estimulado pela ONU.

Mas a nova autoridade executiva terá o recursos para retirar o país do marasmo?

"Terá muito pouco poder no terreno. Vai custar muito exercer qualquer influência no leste da Líbia e até no oeste do país enfrentará uma forte oposição. Não é um Executivo que possa unir a Líbia", avalia Wolfram Lacher, pesquisador do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança.

A União Europeia (UE) puniu nesta segunda-feira (21) três empresas de Turquia, Jordânia e Cazaquistão por violação do embargo de armas imposto à Líbia pela ONU, uma decisão criticada por Ancara.

Trata-se das empresas Avrasya Shipping (turca), Jordanian Med Wave Shipping e Kazakh Sigma Airlines, segundo um comunicado da UE. Dois líbios também foram punidos. De acordo com o bloco, as três empresas participaram da entrega de material de guerra a participantes do conflito na Líbia.

Em virtude das sanções, serão congelados ativos destas empresas na Europa, nenhuma empresa poderá manter relações comerciais com as companhias punidas, e elas não terão acesso aos mercados financeiros europeus.

Segundo fontes diplomáticas, as sanções foram definidas na última sexta-feira em nível de embaixadores ante a UE, e confirmadas hoje pelos chanceleres, reunidos em Bruxelas.

Esta decisão ilustra "o uso estratégico pela UE de seu regime de sanções e sua capacidade de reagir aos fatos em campo para apoiar o processo político e dissuadir os autores passados e presentes de novas violações", assinala o comunicado da UE.

O bloco lançou a operação naval Irini para fiscalizar o respeito ao embargo da ONU, o que permitiu "documentar" violações do embargo cometidas pela Turquia, destacaram fontes diplomáticas. "Estas violações minam o processo político empreendido para pôr fim ao conflito na Líbia", criticou Bruxelas. As provas das violações são enviadas à ONU, que também pode impor sanções.

"No momento em que esforços são feitos para reduzir a tensão no leste do Mediterrâneo, tomar uma decisão tão equivocada é extremamente lamentável", criticou a chancelaria turca, estimando que o que foi decidido "não tem valor algum" para Ancara.

A Líbia está mergulhada em um caos político desde que uma aliança apoiada por países europeus derrubou o governo de Muamar Khadafi, em 2011. O Governo de União Nacional é reconhecido pela ONU, mas enfrenta uma oposição armada liderada pelo marechal Haftar, que controla praticamente todo o sul e leste daquele país.

As autoridades rivais na Líbia anunciaram, nesta sexta-feira (21), o fim dos combates em todo o território e a organização de eleições num futuro breve, um "entendimento" saudado pela ONU.

Fayez al-Sarraj, chefe do Governo de União Nacional (GNA) com sede em Trípoli e reconhecido pela ONU, pediu a realização "de eleições presidenciais e parlamentares em março do próximo ano, tendo uma base constitucional resultante do consenso de todos os líbios", segundo um comunicado publicado no Facebook.

Por sua vez, Aguila Saleh, presidente do Parlamento com sede no leste do país, anunciou, em um comunicado distinto, eleições, sem citar uma data, e pediu que todas as partes respeitem "um cessar-fogo imediato e acabem com todos os combates em território líbio".

Imediatamente após a divulgação das declarações, o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sissi, cujo país considerou enviar tropas para a vizinha Líbia, saudou o anúncio das autoridades rivais.

"Saúdo as declarações do Conselho Presidencial da Líbia e da Câmara dos Representantes pedindo um cessar-fogo e o fim das operações militares em todo o território líbio", disse Sissi no Twitter.

Desde a queda do regime de Muammar Khadafi em 2011, a Líbia está mergulhada em vários conflitos e numa disputa por influência entre duas autoridades rivais: o GNA, e um poder personificado pelo marechal Khalifa Haftar, um homem forte do leste do país que conta com o apoio de parte do Parlamento eleito e em particular do seu presidente, Aguila Saleh.

O GNA, apoiado pela Turquia, conseguiu repelir uma ofensiva do marechal Haftar lançada em abril de 2019 contra Trípoli, retomando o controle de todo o noroeste do país em junho.

Depois de mais de um ano de combates mortais, Sarraj "ordenou a todas as forças armadas um cessar-fogo imediato e o fim de todas as operações de combate em todo o território líbio", a fim de criar zonas desmilitarizadas em Sirte (norte) e na região de Joufra, mais ao sul, atualmente sob o controle de combatentes pró-Haftar.

No comunicado de Aguila Saleh, divulgado nesta sexta-feira pela Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (Manul), Saleh não menciona, porém, a desmilitarização de Sirte e Joufra, mas propõe a instalação de um novo governo em Sirte, local de nascimento do ex-ditador Muammar Khaddafi, então reduto do grupo Estado Islâmico (EI).

Por seu lado, a Manul acolheu "calorosamente o entendimento nas declarações de hoje do primeiro-ministro (Fayez) al-Sarraj e do presidente Aguila (Saleh), apelando a um cessar-fogo e a retomada do processo político".

O GNA, apoiado por Ancara, conseguiu repelir uma ofensiva do marechal Haftar lançada em abril de 2019 contra Trípoli, retomando o controle de todo o noroeste do país em junho passado.

Após 14 meses de combates mortais, os pró-Haftar retiraram-se para Sirte, uma cidade costeira 450 km a leste de Trípoli.

Os combates entre as forças do governo e os rebeldes perderam intensidade na Síria, graças a um cessar-fogo lançado pela Rússia e pela Turquia, mas o conflito se deslocou para a Líbia, onde mercenários de ambos os lados se enfrentam, protegidos por seus respectivos "padrinhos" russo e turco.

A Turquia apoia grupos rebeldes na Síria e o Governo de União (GNA) reconhecido pela ONU na Líbia. Já Moscou defende militarmente o regime sírio de Bashar al-Assad e apoia a ofensiva conduzida há mais de um ano pelo líder militar do leste líbio, marechal Khalifa Haftar, contra Trípoli, a sede do GNA.

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A recente aproximação entre o regime de Damasco e o marechal Haftar ilustra a crescente sobreposição entre esses dois conflitos.

Em março, o governo paralelo pró-Haftar, com sede no leste do país, reabriu uma embaixada da Líbia na capital síria, fechada desde 2012. E já existem voos entre Damasco e Benghazi, reduto de Haftar a 1.000 quilômetros de Trípoli.

Segundo um relatório confidencial da ONU, esses voos da empresa privada síria Cham Wings permitiram que centenas de mercenários fossem despachados para a frente líbia.

Segundo este relatório de especialistas encarregados de monitorar o embargo de armas imposto à Líbia, 33 voos foram realizados desde 1º de janeiro.

"O número de combatentes sírios que apoiam as operações do marechal Haftar é inferior a 2.000", afirma o documento.

Segundo a mesma fonte, esses combatentes foram recrutados pelo grupo mercenário privado russo Wagner, em nome do marechal Haftar.

Moscou nega qualquer envolvimento de seu governo na presença de mercenários russos na Líbia.

- "Inimigo comum" -

Questionado pelo grupo de especialistas da ONU, o regime sírio alegou que os voos da Cham Wings para Benghazi são limitados "ao transporte de civis, principalmente sírios que vivem na Líbia".

Damasco e o marechal Haftar estão unidos, porque têm um "inimigo comum": a Turquia, segundo Samuel Ramani, pesquisador da Universidade de Oxford, em conversa com a AFP.

Para a Rússia, "o objetivo seria alertar a Turquia de que pode sofrer retaliação assimétrica em resposta às ações militares turcas na Síria, com uma escalada recíproca na Líbia".

A Turquia seria ameaçada com uma frente dupla - na Síria e na Líbia - o que a levaria "ao limite de suas capacidades", diz ele.

Especialistas da ONU citam "algumas fontes" para estimar o número total de combatentes sírios na Líbia em cerca de 5.000, incluindo aqueles "recrutados pela Turquia para o GNA".

Questionado pela AFP, o diretor do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman, fala de até 9.000 mercenários sírios enviados pela Turquia para a Líbia, incluindo adolescentes com idades entre 16 e 18 anos.

"Outros 3.300 combatentes estão atualmente treinando em quartéis turcos", esperando para serem enviados para a frente, ao sul de Trípoli, diz Abdel Rahman.

Segundo ele, esses mercenários pertencem ao "Exército Nacional", uma coalizão de grupos rebeldes sírios pró-turcos com sede no noroeste da Síria.

Abdel Rahman estima em 298 o número de combatentes sírios mortos em combate na Líbia. Entre eles, estariam 17 adolescentes.

Segundo Ramani, os Emirados Árabes Unidos, que apoiam Haftar, contratam mercenários sudaneses.

Na Líbia, assim como na Síria, a interferência armada estrangeira não se limita à Rússia e à Turquia, nesses conflitos que deixaram centenas de milhares de mortos e deslocados nos últimos anos.

O ministro das Relações Exteriores do governo interino da Líbia, Abdelhadi Lahouij, disse que o fechamento de campos de extração de petróleo e de refinarias de seu país chegariam ao fim "quando os líbios estiverem garantidos de uma distribuição justa de seus recursos". Os campos foram bloqueados em uma ação de grupos tribais leais ao comandante militar Khalifa Hifter, rival do governo líbio, em meados de janeiro.

"Esses recursos são protegidos por nosso governo e por seu exército", disse Lahouij, "Pagamos o dinheiro para a polícia guardar as instalações de petróleo e proteger os estrangeiros que trabalham nas instalações", afirmou.

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Forças de Hifter, que controlam o leste e grande parte do sul do país, lançaram uma ofensiva em abril para capturar a capital da Líbia, Trípoli, colidindo com uma série de milícias aliadas a um governo apoiado pela ONU, mas fraco, com base no país.

O fechamento das instalações de petróleo foi visto como parte dos esforços da Hifter para capturar Tripoli e punir seus adversários lá por selar a segurança e acordos marítimos com a Turquia, abrindo portas para apoio militar ilimitado de Ancara. O petróleo é a base da economia da Líbia, que tem a nona maior reserva do óleo do mundo e a maior da África. A commodity é um fator chave da guerra civil no país.

O governo de Trípoli controla apenas uma parte cada vez menor do oeste do país, mas possui controle sobre o Banco Central da Líbia, que detém a receita de petróleo do país.

Forças de Hifter acusam o banco de desviar ativos de petróleo para pagar sírios para defender a capital.

Grupos rivais líbios se enfrentaram, nesta quinta-feira (13), no sul de Trípoli, apesar da resolução do Conselho de Segurança da ONU por um "cessar-fogo duradouro" - relataram testemunhas e forças leais ao Governo de União Nacional (GNA).

No aeroporto de Mitiga, o único em funcionamento na capital, os voos foram suspensos, após a queda de um foguete. No sul de Trípoli, houve novos combates entre as tropas do GNA, com sede na capital, e as do marechal Khalifa Haftar.

As testemunhas ouviram uma explosão de foguetes na região de Machru al-Hadhba, uma zona agrícola situada cerca de 30 quilômetros ao sul do centro da cidade.

Outros foguetes alcançaram os bairros residenciais e deixaram vários feridos, acrescentaram as mesmas fontes ouvidas pela AFP.

Mustafa al-Mejii, porta-voz das forças do GNA, reconhecido pela ONU, confirmou para a AFP os combates em curso nessa região.

O porta-voz acusou as forças leais ao marechal Haftar de violar, novamente, a frágil trégua decretada em 12 de janeiro passado.

"As milícias de Haftar tentaram avançar na região de Machru al-Hadhba, mas nossas forças reprimiram o ataque", afirmou.

Apesar da trégua, há combates esporádicos perto de Trípoli, e as armas continuam entrando no país.

Na quarta-feira, o Conselho de Segurança da ONU aprovou, pela primeira vez desde abril, quando começou a ofensiva de Haftar contra Trípoli, uma resolução pedindo um "cessar-fogo duradouro", após a trégua declarada em janeiro.

A resolução pede para que continuem as negociações da comissão militar conjunta criada em janeiro. Este painel reúne os dois lados, com o objetivo de chegar a um "cessar-fogo permanente" que inclua um mecanismo de controle, uma separação de forças e medidas de confiança.

Redigido por representantes do Reino Unido, o texto foi aprovado por 14 votos de 15, com a abstenção da Rússia.

O debate se prolongou por mais de três semanas e mostra as persistentes divisões da comunidade internacional quanto ao conflito líbio, apesar da unidade exposta durante a conferência em Berlim, em 19 de janeiro.

Participaram da reunião os presidentes da Rússia e da Turquia, cujos países apoiam os dois partidos da oposição na Líbia.

Reunida em Genebra, a comissão se separou no último sábado (8) sem chegar a um acordo. A ONU propôs retomar as discussões a partir desta semana, em 18 de fevereiro.

Os confrontos ao redor de Trípoli deixaram mais de mil mortos até o momento, e pelo menos 140 mil pessoas foram forçadas a se deslocar, segundo números da ONU.

A Missão das Nações Unidas na Líbia (Manul) denunciou neste domingo as violações do embargo sobre as armas na Líbia, apesar dos compromissos assumidos em uma recente conferência internacional em Berlim.

A Manul "lamenta profundamente as violações flagrantes e persistentes do embargo sobre as armas", objeto da resolução 1970 de 2011 do Conselho de Segurança, "apesar dos compromissos dos países envolvidos na conferência internacional sobre a Líbia em Berlim, em 19 de janeiro", afirma em comunicado.

Entre os principais compromissos assumidos pelos participantes desta conferência internacional estava o fim da entrega de armas aos poderes rivais, o Governo de União (GNA) em Trípoli e o marechal Khalifa Haftar, homem forte do leste líbio.

Em Berlim, as partes presentes, incluindo a Turquia, que apoia o GNA, também se comprometeram a abster-se de qualquer interferência nos assuntos líbios e de qualquer ato que possa exacerbar o conflito, como o financiamento ou recrutamento de mercenários.

O marechal Haftar, que é apoiado pela Rússia, Emirados Árabes Unidos e Egito, lançou em 4 de abril uma ofensiva para tomar a capital Trípoli, sede do GNA, reconhecido pela ONU.

Um cessar-fogo foi estabelecido em 12 de janeiro por iniciativa de Moscou e Ancara.

Apesar das acusações recíprocas e de alguns combates relatados, a trégua tem sido respeitada no geral, segundo a ONU, o que representa "um descanso bem-vindo aos habitantes da capital".

"Esta trégua frágil está hoje ameaçada pelo envio de combatentes estrangeiros, armas, munições e sistemas avançados para as partes pelos Estados membros, muitos dos quais participaram da Conferência de Berlim", disse a Manul, sem identificar esses países.

Segundo a ONU, essas cargas pousaram em aeroportos no oeste e leste do país nos últimos dez dias para entregar aos beligerantes "armas avançadas, veículos blindados, conselheiros e combatentes".

Essas "violações em curso" ameaçam mergulhar o país de volta em "uma nova espiral de intensos combates", alertou a Manul.

No sábado, os confrontos em Trípoli deixaram pelo menos um civil (marroquino) morto e sete feridos entre civis.

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