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No ar em "Verão 90" como a jornalista Moana, Giovana Cordeiro ostenta na novela das sete o seu cabelo cacheado. Mas quando era modelo, Giovana teve que passar por mudanças radicais para desempenhar o seu trabalho.

A atriz contou em entrevista ao site Uol que alisou o cabelo por aproximadamente cinco anos. Após decidir que iria começar a transição capilar, Giovana teve que ouvir muitos argumentos sobre a sua escolha de assumir os cachos.

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"Uma vez no trabalho me perguntaram: 'Você pode voltar a vir de cabelo liso, fica mais sofisticado'. Essa mulher achava que eu ficava com cara de rica de cabelo liso", disse, explicando que voltou atrás e decidiu passar por cima da sua decisão. "Precisava de dinheiro e aceitei. Nesse trabalho aceitei muitas coisas", afirmou a atriz de 22 anos.

Progressiva, relaxamento, escova de rubi, escova de açúcar, definitiva. Todos esses, métodos químicos que mulheres utilizam para deixar os cabelos lisos. Atualmente, há um discurso mais forte sobre aceitação do cabelo natural. Em muitas mulheres, entretanto, esse discurso não encontra espaço para se propagar mesmo com os sacrifícios relacionados com o uso recorrente de tais procedimentos.

Esse cenário é apresentado na dissertação de mestrado em Administração de Bianca Ferreira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela entrevistou 22 pessoas, a maior parte do Recife, entre mulheres que fazem o procedimento de alisamento capilar e profissionais que aplicam o procedimento.

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Segundo a pesquisadora, o principal motivo alegado pelas mulheres para alisar o cabelo é o da autoestima. Elas não dizem ser afetadas pela pressão externa de ter que se enquadrar em um perfil de beleza, apesar de deixarem perceptível em suas falas o impacto da influência social em seu comportamento.

"Há elementos que denotam que há pressões, por exemplo no trabalho, como a mulher que diz que os clientes percebem quando ela está com o cabelo alisado. Uma diz que o namorado elogia quando ela está com o cabelo alisado, então óbvio que ela vai estar com o cabelo alisado para receber elogios", diz Bianca. Ela continua: "Eu acredito sim que elas se sintam melhores, mas elas se sentem melhores porque estão alcançando esses padrões".

Uma característica presente nessas mulheres é a idade com a qual começaram o alisamento. Uma média de 12 anos. "Algumas delas não se lembram como é o cabelo natural. Mais de uma entrevistada afirma que 'talvez se eu fosse criança hoje, com cabelo afro, com essa diversidade de produtos que existem e esse discurso forte de aceitação, eu não teria começado, mas agora que eu comecei eu não quero mais parar, porque não me reconheço mais", complementa a mestra em Administração.

As entrevistadas também rejeitam a ideia de que se sacrificam pelo procedimento. O conceito de sacrifício no consumo ainda seria muito novo e não absorvido por essas mulheres. Porém, elas mesmas elencam naturalmente exemplos de sacrifícios: danos à saúde (queda de cabelo, queimaduras, etc), longas horas no salão, gasto elevado, mau cheiro dos produtos. "Mas eu vou fazer o quê, não é?", questionou uma de forma resignada.

O aspecto das terminologias também é destacado na pesquisa. O tipo crespo ainda é lembrado como o 'ruim'. As pesquisadas dizem frases como "se o meu fosse cacheado eu pararia de fazer o procedimento, mas ele é crespo".

Quem percebeu desde jovem essa depreciação do cabelo foi Letícia Carvalho, 21 anos, idealizadora do movimento “Faça Amor, Não Faça Chapinha”. O que surgiu como uma simples fanpage hoje se tornou um grupo atuante na luta contra o racismo. Em 2013, quando a página foi criada, começou a receber fotos e relatos de mulheres que começavam a assumir o crespo. “Elas não tinham ninguém para falar sobre isso, não tinham espaço para falar sobre o próprio cabelo”, lembra a jovem.

Segundo Letícia, que quando menor usava chapinha, a sociedade é guiada por uma noção de estética que estabelece padrões de beleza. “Essa estética pode trazer consequências, desde sofrer bullying e ouvir piadinhas na escola a você ser agredido por um policial na rua. A estética negra é associada a violência, criminalidade, uso de drogas, falta de cuidados, sujeira, miséria”, cita.

Ainda conforme a jovem, a pressão pelo que ela chama de ‘embranquecimento’ persiste mesmo após o abandono dos alisamentos. “Mesmo eu tendo assumido o cabelo em 2009, ainda escuto de vizinhos, de pessoas que conheço: ‘você assumiu, mas dá um jeito nele’ ou ‘você não sente saudade do cabelo liso?’. Você assume o cabelo, mas tem que ser baixinho, com pouco volume, que fique parecido com liso ou encaixe europeu”.

Negras e brancas

Bianca Ferreira, durante sua pesquisa, se deparou com uma literatura internacional que dizia que os alisamentos capilares eram feitos apenas por mulheres negras. Ela notou que no Brasil isso é diferente.

"Devido a mistura de etnias, não só mulheres que se consideram negras tem cabelos crespos. Mas há uma diferença: mulheres negras afirmam que sabem que traem a identidade, mas fazem porque se sentem melhor. Enquanto as mulheres brancas dizem 'não, cabelo alisado sou eu, aquilo ali é quem eu represento'", destaca a autora do estudo.

De acordo com Letícia Carvalho, do “Faça Amor, Não Faça Chapinha”, a página no Facebook precisou passar por uma mudança e ser exclusiva para divulgação de cabelo de mulheres negras para reforçar o papel de combate ao racismo. “Mulheres brancas que postavam na página eram muito mais valorizadas do que as negras. A gente não queria reforçar outras ideias de páginas e youtubers do ‘cacho perfeito’. Era importante que a gente valorizasse o cabelo crespo, que é perseguido”, salienta.

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