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Uma casa na Península dos Ministros, em Brasília, foi palco de um encontro, no fim de semana, destinado a arrecadar contribuições de empresários para a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) à reeleição. O ato ocorreu no sábado, 21, com a presença de Bolsonaro, e na lista de convidados havia investigados pelas operações Sanguessuga e Desolata, da Polícia Federal.

Cem pessoas, entre políticos, ruralistas e lobistas, foram chamadas para o almoço de arrecadação, que teve o ex-senador Cidinho Santos (União Brasil) como um dos organizadores. Na mensagem do convite, distribuída em um grupo de WhatsApp, empresários que convocaram o evento, como o ex-prefeito de Água Boa (MT) Maurício Tonhá - dono da leiloeira de gado Estância Bahia -, disseram que o ato seria o "primeiro" de uma série voltada a ruralistas para "pagar os custos da campanha do presidente".

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Todos fizeram questão de destacar, porém, que tudo ali seria "discreto", "sem divulgação de mídia" e com "pessoas de confiança". "O objetivo é que esse grupo se espalhe para os 27 Estados para ajudar na campanha", afirmava a mensagem, obtida pelo Estadão.

Cidinho fez um discurso ao lado de Bolsonaro e agradeceu a todos por aceitarem o convite. "Nós pegamos essa missão", disse o ex-senador. Em 2019, ele foi condenado pela 8.ª Vara da Justiça Federal, em Cuiabá, no âmbito da Operação Sanguessuga, por "inflacionar" equipamentos hospitalares quando era prefeito de Nova Marilândia (MT). Apelou ao Tribunal Regional Federal e a Procuradoria da República da 1.ª Região emitiu parecer pela anulação da sentença, mas o processo está parado.

Valdemar Costa Neto, presidente do PL - partido ao qual Bolsonaro se filiou há seis meses - estava no encontro, que foi flagrado pela reportagem. A ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (Progressistas-MS), pré-candidata ao Senado, também compareceu. O titular da Secretaria de Governo, Célio Faria Júnior, acertava o almoço desde o início do mês, mas, mesmo assim, não o incluiu na agenda oficial de Bolsonaro.

Diante de uma plateia formada por políticos e empresários, Cidinho contou ter procurado "Fernandão" para ajudá-lo, porque ele tinha uma "casa boa". A referência era a Fernando de Castro Marques, dono do laboratório União Química. No ano passado, a farmacêutica fez lobby para tentar vender a vacina russa Sputnik contra a covid-19, mas enfrentou resistências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Hoje, Marques quer ser suplente da ex-ministra Damares Alves, que deve concorrer ao Senado. O empresário é filiado ao Progressistas, partido do Centrão. Em 2018, ele disputou uma cadeira de senador pelo Solidariedade, mas não obteve sucesso. À época, declarou um patrimônio de R$ 667 milhões, o maior registrado por um candidato naquelas eleições. Mesmo assim, responde na Justiça por uma dívida com a gráfica Coronário pela impressão de santinhos, como informou a Coluna do Estadão. Ele nega o débito.

Valdinei Mauro de Souza, o Nei Garimpeiro, também prestigiou a reunião na casa do dono da União Química. O homem que entrou na mira da Operação Desolata por garimpo ilegal, em Poconé (MT), desembarcou em Brasília em um avião Cessna, especialmente para almoçar com Bolsonaro. Já Maurício Tonhá, que caiu em uma investigação da Receita e foi citado na Lava Jato por vender bois para o doleiro Alberto Youssef, veio em voo de carreira.

Bolsonaro foi saudado na casa aos gritos de "mito". Chegou ali à tarde, vindo de Curitiba, onde participara da Marcha para Jesus. "É muita satisfação encontrar pessoas que trabalham e lutam para fazer o Brasil dar certo", disse ele, em uma alusão aos ruralistas. O empresário Luiz Olavo fez uma oração.

Após a saída do presidente, participantes da reunião foram instados a oferecer doações para a conta do PL. Com chapéu texano, o ruralista Celso Gomes dos Santos, o Celso Bala, contribuiu com R$ 500 mil.

Em março, o Estadão revelou que empresários se apresentaram a representantes do agronegócio e pediram contribuições para o comitê de Bolsonaro. O grupo dizia falar em nome de Costa Neto e do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), coordenador da campanha. Maurício Tonhá estava na lista de ruralistas que se reuniram depois com o presidente, no Planalto.

Especialista em Direito Eleitoral, a advogada Juliana Bertholdi disse que a forma lícita de arrecadar recursos para campanhas, neste momento, é por meio de vaquinha virtual em plataformas autorizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Doações de empresas são proibidas. "Pessoa jurídica de forma alguma, em nenhum momento da campanha", observou Juliana. As candidaturas podem ser registradas entre 20 de julho e 15 de agosto.

Procurado, Cidinho disse desconhecer o convite que citava arrecadação para campanha. "Fizemos um almoço lá para a ministra Tereza, em homenagem a ela. Não teve esse objetivo de arrecadar nada, não", afirmou. "O presidente não estava nem previsto para estar lá." A presença de Bolsonaro, porém, estava confirmada. "Tivemos um momento especial reunindo empreendedores de todo o País em apoio ao presidente Bolsonaro", escreveu o ex-senador no Instagram.

Tonhá disse não ter o que comentar. "Eu não preciso dar satisfação da minha vida, não, querida. Não tenho nada a declarar", afirmou, desligando o telefone. A Secretaria de Comunicação da Presidência não se manifestou. O Estadão não conseguiu localizar Valdinei Mauro de Souza nem Celso Gomes dos Santos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, decidiu nesta sexta-feira (5) manter presos o lobista Mauro Marcondes Machado e a mulher dele, Cristina Mautoni, acusados de operar suposto esquema de lobby e corrupção para "comprar" medidas provisórias no governo federal. O caso, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo em outubro, é investigado na Operação Zelotes.

Os advogados do casal haviam solicitado a sua libertação justificando que ambos têm relevantes problemas de saúde. Mauro sofreria de hipertensão, insuficiência renal e precisaria de implante de marcapasso. Cristina sentiria fortes dores em razão de uma cirurgia vascular nas pernas feita em outubro. No caso dela, a defesa sugeriu, alternativamente, a transferência para a prisão domiciliar.

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O magistrado, na decisão, justificou que o caso de Mauro já foi analisado, não cabendo reconsideração agora. Quanto a Cristina, argumentou que ainda não foi feito um laudo judicial sobe suas condições de saúde. Ele determinou uma perícia a ser realizada na próxima quinta-feira, 11. Uma eventual saída do regime fechado dependerá da avaliação médica.

O juiz ainda destacou que a prisão do casal é necessária para conveniência da instrução criminal, ainda em curso, e garantia da ordem pública.

Cristina, inicialmente, cumpriu prisão preventiva em casa, pois se recuperava de uma cirurgia vascular. Em janeiro, contudo, a Justiça determinou a remoção dela para uma unidade prisional em Brasília, baseada em laudo médico da Polícia Federal que indicava estar apta ao regime fechado.

Cristina tem se apresentado de cadeira de rodas nas audiências da Zelotes e reclamado de condições inadequadas na cadeia. Após as queixas, foi transferida para uma sala especial na PF, a mesma em que ficou preso o senador Delcídio Amaral (PT-MS), detido na Operação Lava Jato.

Nesta sexta-feira, a Justiça ouve mais testemunhas de defesa de réus da Zelotes. O deputado federal José Guimarães (PT-CE) informou em ofício não ter o que declarar sobre os fatos investigados, o que ensejaria sua dispensa. Ele foi arrolado pela defesa do réu Eduardo Valadão como um dos congressistas que participaram da discussão das normas.

Dois dos réus presos por envolvimento no esquema de "compra" de medidas provisórias confrontaram o procurador da República Frederico Paiva ao deixarem sala de audiências na Justiça Federal em Brasília, na manhã desta segunda-feira (25). Os lobistas Alexandre Paes dos Santos, conhecido como 'APS', e Mauro Marcondes, presos desde outubro, deixavam a sala sem qualquer escolta quando se depararam com o procurador, que conversava com jornalistas.

Com semblante fechado, APS encarou o representante do Ministério Público diretamente e parou para ouvir a entrevista. Desconfortável ao ver os réus, o procurador comentou: "Vamos ter plateia?".

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O lobista perguntou: "A defesa pode dar entrevista?". "Pode, pode fazer as perguntas", respondeu. O lobista continuou: "Eu só conhecia o senhor pela denúncia, não sabia quem era o senhor. Só tinha visto no processo seu nome e nunca tinha visto o senhor". "E gostou?", rebateu o procurador. "É bom saber quem me acusa, né?", disse APS. Paiva encerrou o diálogo: "Eu não acuso, eu sou Ministério Público, eu sou um servidor público. Represento uma instituição."

Os dois réus foram embora juntos, ainda sem a escolta policial. Os réus acompanham os depoimentos sem uso de algemas, por decisão do juiz Vallisney Oliveira, que conduz o caso na 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília. O magistrado também definiu que não são os agentes penitenciários os acompanhantes dos presos dentro da sala, o que importaria na escolta de dois agentes armados para cada preso.

No caso, quem faz a segurança da sala são integrantes da Polícia Federal. Segundo pessoas que trabalham na Corte, o juiz costuma usar medidas mais rigorosas apenas quando os réus são acusados de crimes como tráfico e roubo.

Outro encontro inusitado das audiências nesta manhã foi o do procurador com o ex-ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Sem reconhecer o ex-ministro, que aguardava o momento de seu depoimento na antessala do juiz, Frederico Paiva questionou: "o senhor trabalha aqui?". Depois de apresentados, procurador e ex-ministro se cumprimentaram.

A 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília começou a ouvir nesta manhã o depoimento de testemunhas e informantes em ação penal sobre a "compra" de medidas provisórias no governo, caso investigado num desdobramento da Operação Zelotes. Estão previstos os depoimentos de ao menos 16 pessoas nesta segunda-feira, indicadas pelas defesas dos réus.

Entre os presentes estão o ex-chefe de gabinete do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Gilberto Carvalho e o atual secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dyogo Oliveira. Os depoimentos foram suspensos e serão retomados ainda nesta segunda.

Anunciado na segunda-feira, 21, como o novo secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dyogo Henrique Oliveira é alvo da Operação Zelotes, que apura suposto esquema de compra de medidas provisórias nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. O Ministério Público Federal pediu em outubro as quebras dos sigilos bancário e fiscal dele entre 2008 e 2015, o que teria sido autorizado pela Justiça Federal, segundo investigadores. O processo tramita sob sigilo.

Atual "número 2" do Planejamento, Oliveira é citado na investigação como possível elo, no governo federal, dos lobistas suspeitos de "comprar" medidas provisórias. As provas já colhidas apontam que os lobistas tinham contatos no Palácio do Planalto e em ao menos dois ministérios para, supostamente, tratar da edição das normas, que concederam incentivos fiscais a montadoras de veículos.

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Oliveira já era braço direito do novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que o manteve no cargo mesmo depois que seu nome foi citado na Operação Zelotes. Agora, vai acompanhar Barbosa na Fazenda.

Histórico

Dyogo Henrique Oliveira era secretário adjunto de Direito Econômico do Ministério da Fazenda em 2009 e 2011, quando foram discutidas, editadas e aprovadas as Medidas Provisórias 471 e 512, que estão sob suspeita de "encomenda" e que ampliaram o prazo de incentivos fiscais dados à montadoras de veículos instaladas nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Ele é citado em anotações do lobista Alexandre Paes dos Santos, o APS, nas quais registrava dados sobre a negociação das normas. Num dos trechos, ele anotou "Diogo/José Ricardo", seguido de "Secretaria de Política Econômica" e "SPE".

Num documento de 2011, a Marcondes e Mautoni Empreendimentos, empresa que teria atuado na compra das MPs, também registra uma reunião com Dyogo entre 28 e 31 de março. O sócio da Marcondes, o lobista Mauro Marcondes, e APS estão presos e já foram denunciados por envolvimento no esquema. Marcondes também é investigado pelo repasse de R$ 2,5 milhões à uma empresa de Luís Claudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula no mesmo período da edição de medidas provisórias de interesse do setor automotivo.

Reuniões

Em nota enviada à reportagem em outubro, Dyogo Oliveira afirmou que, como secretário da Fazenda, tinha como uma de suas atribuições "manter reuniões regulares com diversos setores produtivos, durante as quais esclarecia aspectos legais e técnicos das medidas econômicas em debate".

Dyogo Henrique Oliveira assegurou que "não mantém qualquer tipo de relacionamento com as pessoas citadas como lobistas pela imprensa e que está à disposição para prestar esclarecimentos às autoridades da investigação".

Em relação às investigações acerca da Medida Provisória 471, disse que à época da edição ocupava o cargo de secretário adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda. "Era comum, também, a discussão sobre o prazo de duração de eventuais benefícios fiscais, que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), desde 2001, limita em, no máximo, cinco anos", informou Oliveira há dois meses.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Justiça Federal autorizou novas buscas e apreensões em endereços do casal de lobistas Mauro e Cristina Marcondes com o objetivo de permitir o aprofundamento das investigações sobre contratos de R$ 2,4 milhões feitos entre a Marcondes & Mautoni Consultoria e a LFT Marketing Esportivo, que tem como sócio Luís Claudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em nova fase da Operação Zelotes, deflagrada na terça-feira, 24, a Justiça também aceitou novo pedido de prisão dos lobistas e de um comparsa acusado de envolvimento no esquema de compra de medidas provisórias e de espionagem de um dos investigadores.

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Polícia Federal argumentou para a Justiça que a nova busca e apreensão era "fundamental" para "a coleta de mais elementos para aprofundarmos as investigações acerca da contratação da empresa LFT Marketing Esportivo e outros contratos escusos". Em ofício, o delegado Marlon Cajado sustentou que as versões apresentadas por Luís Claudio e Marcondes para os contratos "se mostram contraditórias e vazias ao ponto de ao invés de elucidar os reais motivos de pagamentos da Marcondes & Mautoni para a LFT, na verdade serviu para gerar mais celeuma, já que não há uma definição precisa sobre quais e quantos serviços foram de fato contratados, qual eram os reais objetos de estudos e ao que eles se destinavam e qual é a relação deles com o projeto de um centro de convenções, e a inexistência, tanto na sede da Marcondes quanto na da LFT Marketing Esportivo de documentação comprobatória que desse mínimo lastro ao serviço contratado".

Em nota divulgada na terça-feira, a defesa de Luís Claudio Lula da Silva afirmou que o depoimento dele "concentrou-se em fatos. Não em declarações contraditórias e vazias, como se quer fazer crer agora." A reportagem não conseguiu contato com a defesa do casal Marcondes.

Espionagem

O relatório da PF também reforçam as suspeitas de compra da Medida Provisória 471/2009, que prorrogou incentivos fiscais para montadoras de veículos. O lobista Francisco Mirto Florêncio da Silva foi preso ontem acusado de envolvimento com o esquema de corrupção. Ele também é acusado ao lado do casal Marcondes de ter contratado uma investigação clandestina para espionar o procurador José Alfredo de Paula Silva, que atua na Operação Zelotes. Um registro encontrado pela Operação Zelotes indica que o fato ocorreu em 2010, mesmo ano em que o procurador investigava as negociações para a compra de 36 caças para a Força Aérea Brasileira (FAB) pelo governo Lula.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

E-mails apreendidos pela Polícia Federal mencionam "acertos" a serem feitos com congressistas por um dos escritórios alvos da Operação Zelotes, que investiga esquemas de corrupção para "comprar" uma medida provisória e decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf).

Numa das mensagens, obtida pela reportagem, o advogado José Ricardo da Silva, dono da SGR Consultoria e da JR Silva Advogados, orienta dois parceiros a pedir "paciência" aos parlamentares porque a prestação de contas necessária seria feita no momento certo.

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O texto do e-mail não descreve os nomes dos políticos citados nem a que negócios se referem os "acertos". O advogado confirma a autoria da mensagem, mas nega que os repasses estejam vinculados a medidas provisórias.

José Ricardo é investigado por atuar para reduzir dívidas de grandes empresas em discussão no Carf, uma espécie de "tribunal" que julga débitos de contribuintes com a Receita. Ele também é suspeito de negociar pagamentos com o setor automotivo em troca da edição, pelo governo, e a aprovação, pelo Congresso, da MP 471, que prorrogou incentivos fiscais para fábricas instaladas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

A norma foi assinada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 20 de novembro de 2009 e, dias depois, enviada ao Legislativo. Como o Estado revelou na terça-feira, José Ricardo conseguiu que o governo enxertasse na MP regras de interesse de montadoras que o contrataram.

O e-mail, intitulado "parlamentares", foi remetido pelo advogado em 29 de dezembro de 2009 a Eduardo Gonçalves Valadão, seu sócio no escritório JR Silva. Ele escreve que "não conseguiu falar com os parlamentares" antes de embarcar para Santiago e orienta o parceiro a dizer "a eles que, assim que retornar", fará "toda a prestação de contas com os devidos acertos", uma vez que "há realmente diferenças a serem repassadas."

Em outro trecho, José Ricardo ressalta: "É importante que eles entendam que não é conveniente que os acertos sejam feitos sempre de imediato. As receitas e as retiradas devem obedecer a um fluxo normal pertinente com as atividades do escritório. Se não for assim, as prestações de serviços serão de difícil justificativa, entende? Veja se você consegue explicar essa situação para eles com tranquilidade".

José Ricardo acrescenta que "é preciso ter paciência" para que um bom trabalho seja desenvolvido. "É preciso que eles entendam que não somos carregadores de carga. Somos profissionais prestadores de serviço visando à prospecção e desenvolvimento de negócios de interesse de todos, ok?"

José Ricardo também orienta o sócio a dar o recado "de maneira tranquila e serena, sem criar tensões nos sentimentos" dos congressistas. "Se houver problema, jogue a responsabilidade em mim porque tudo se resolverá quando eu voltar de viagem."

Parceiro

A mesma mensagem foi remetida por José Ricardo ao lobista Alexandre Paes dos Santos, seu parceiro de negócios, acompanhada de uma explicação: "Os serviços prestados para São Paulo só começarão a dar retorno, novamente, a partir da semana que vem, conforme disse o representante oriental de nossos clientes."

Ligado à ex-ministra e ex-secretária executiva da Casa Civil à época da edição da MP 471, Erenice Guerra, APS, como Alexandre é conhecido, é investigado pela Operação Zelotes. Ele é suspeito de atuar para alterar decisões no Carf e de trabalhar no suposto esquema de "compra da MP".

Procurado pela reportagem, José Ricardo não explicou quem receberia os pagamentos, e por quais motivos. "O citado e-mail não tem qualquer relação com a MP 471, conforme comprova material em poder da Polícia Federal e do Ministério Público", afirmou, em nota. O advogado acrescentou que, caso o texto seja usado como "elemento processual", tem "todas as condições e amplas provas para desconstruir qualquer presunção a esse respeito".

Eduardo Valadão disse que era "apenas um funcionário" de José Ricardo e "que não se recorda do que se tratava o e-mail". "O escritório atendia a uma grande quantidade de parlamentares. Não tenho lembrança do fato."

A defesa de APS informou que não se pronunciaria, pois não teve acesso às investigações

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Dez lobistas apontados como operadores de propinas no esquema de corrupção instalado na Petrobrás e desbaratado pela Operação Lava Jato visitaram a estatal petrolífera pelo menos 1.800 vezes entre 2000 e 2014. A companhia anexou ao inquérito principal da Lava Jato na quinta-feira um extenso relatório que contabilizou as visitas dos operadores. Os nomes foram indicados pelo ex-gerente executivo Pedro Barusco, que foi braço direito do ex-diretor de Serviços da empresa Renato Duque, em sua delação premiada.

Em documento enviado em dezembro de 2014 ao juiz Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato, o Ministério Público Federal informou que Barusco negociava com tais operadores financeiros "não só o montante a ser repassado a título de propina, como também a maneira pela qual ocorreriam os pagamentos, tudo de forma a viabilizar a ocultação e dissimulação da origem, disposição, movimentação e propriedade destes ativos ilícitos".

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Em sua delação premiada, Barusco citou os nomes de Mario Góes, Zwi Zcorniky, Guilherme Esteves de Jesus, Milton Pascowitch, Shinko Nakandakari, Luis Eduardo Campos Barbosa da Silva, Atan de Azevedo Barbosa, Bernardo Freiburghaus, Augusto Amorim Costa, Cesar Roberto Santos Oliveira e João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, como "autênticos representantes dos interesses das empresas corruptoras nos pagamentos das vantagens indevidas", com os quais ele fez transações e manteve contato. O nome de Vaccari não aparece no documento encaminhado pela estatal à Justiça.

Registros

O documento de "liberação das visitas", da Petrobrás, indica o nome do visitante, seu documento de identidade, a data e hora de entrada e saída da empresa e o nome do visitado. Os supostos operadores de propinas visitaram, entre outros funcionários, Renato Duque, Pedro Barusco, os ex-presidentes José Sergio Gabrielli e Graça Foster, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, os ex-diretores da área Internacional Nestor Cerveró e Jorge Zelada, o ex-diretor de Gás e Energia Ildo Sauer e o ex-gerente da Refinaria de Abreu e Lima Glauco Legatti.

Zwi Zcorniky foi quem mais entrou na empresa. Entre 2006 e 2014, sua entrada na companhia foi liberada em 490 ocasiões. De acordo com a delação de Pedro Barusco, Zwi Zcorniky é representante oficial das empresas Kepell Fels e da Floatec. Ele teria operado propina em nome do Estaleiro Kepell Fels, entre 2003 e 2013, para o ex-gerente, em conta no Banco Delta, na Suíça, e ao PT, por meio de Vaccari.

No relatório enviado pela Petrobrás, há registros de visita de Zwi Zcorniky a Renato Duque, Pedro Barusco e à presidência da Petrobrás. Em 14 de julho de 2010, o suposto operador entrou na estatal às 8h39 para encontrar o então presidente José Sergio Gabrielli e deixou a empresa às 9h23.

Pouco mais de dois anos depois da visita a Gabrielli, Zwi Zcorniky entrou na Petrobrás para encontrar a então presidente Graça Foster - substituta de Gabrielli no cargo. Em 3 de dezembro de 2012, ele chegou às 9h56 e deixou o local às 12h58. Dois meses depois, em 8 de fevereiro de 2013, o suposto operador entrou na empresa às 9h36 e saiu às 12h26. Não há registro do local onde Zcorniky esteve desta vez.

A primeira pessoa a chegar à estatal petrolífera à procura de Graça Foster foi César Roberto Santos Oliveira, dono da empreiteira baiana GDK. Em 10 de junho de 2009, o executivo chegou às 15h34 para ir à Diretoria de Gás e Energia e saiu às 17h29. Barusco afirmou à força-tarefa da Lava Jato que o empreiteiro foi responsável por operacionalizar os pagamentos de propinas a ele, no valor de US$ 200 mil.

A ex-presidente da Petrobrás foi procurada ainda em duas outras ocasiões, por Augusto Amorim Costa. De acordo com a delação de Barusco, ele teria atuado sob a orientação do executivo Idelfonso Collares, como operador financeiro no interesse de repasse de propinas pela empreiteira Queiroz Galvão, por meio de offshores. A entrada de Augusto Amorim Costa, com destino à Diretoria de Gás e Energia, foi autorizada às 14h52. Sua saída foi registrada às 15h39.

Segundo Barusco, Mário Góes atuou como operador financeiro em nome de empresas e consórcios contratados pela Petrobrás. O delator citou Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Carioca, Bueno Engenharia, MPE/EBE, OAS, Schin, Setal e UTC. Góes está preso desde 8 de fevereiro em Curitiba, base das investigações da Lava Jato. Ele é réu em ação penal por corrupção e lavagem de dinheiro.

Bernardo Freibughaus, que mora na Suíça, esteve na estatal uma vez em 29 de maio de 2008, para visitar o ex-gerente da Refinaria de Abreu e Lima Glauco Legatti. Barusco afirmou que Freiburghaus o ajudou a colocar em suas contas na Suíça aproximadamente US$ 2 milhões, após a deflagração da Operação Lava Jato e da prisão de Paulo Roberto Costa, em março de 2014.

Afastado

Legatti foi afastado do cargo em novembro de 2014, por decisão interna da Petrobrás. A Refinaria de Abreu e Lima é dos grandes empreendimentos da estatal que está sob suspeita de superfaturamento.

O engenheiro Shinko Nakandakari afirmou à força-tarefa do Ministério Público Federal que pagou R$ 400 mil em propinas para Legatti. Nakandakari é um dos delatores da Operação Lava Jato. Ele admitiu o pagamento de propinas no esquema de corrupção instalado na estatal e confessou ter atuado em nome da Galvão Engenharia na operacionalização de propinas. Ele esteve na Petrobrás em 175 ocasiões.

Em sua delação, Barusco admitiu também ter atuado com Milton Pascowitch. Ele o apontou como operador financeiro da empresa Engevix e do Estaleiro Rio Grande, efetuando transferências de offshore para contas do ex-gerente. Pascowitch se identificou como representante da Engevix, em todas as 60 entradas na Petrobrás.

O funcionário de carreira da estatal Atan Barbosa, aposentado da companhia, teria atuado para a empresa Iesa Óleo e Gás, segundo Barusco. O ex-gerente o acusa de ter sido operador financeiro para o pagamento de propinas referentes aos contratos da Iesa com a Petrobrás. Ele esteve 16 vezes na companhia petrolífera.

"Entre outubro de 2008 a 26 de abril de 2013, Barusco recebeu mensalmente de Atan de Azevedo Barbosa o montante de US$ 29 mil em decorrência dos contratos firmados pela Iesa com a Petrobrás", diz o MPF.

Luis Eduardo Campos Barbosa da Silva, funcionário da Asea Brown Boveri (ABB), também teria repassado propinas, de acordo com Barusco. Segundo ele, o executivo recebeu também informação privilegiada para que sua empresa pudesse vencer uma licitação da Petrobrás. Ele visitou a estatal em 370 ocasiões.

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