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Esta era a segunda vez que *Ana (nome fictício), de 25 anos, participava de uma seleção na Maracatu Digital Intelligence, agência de marketing localizada na Reserva do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho. Dessa vez, de acordo com *Ana, não havia outros candidatos para participar da dinâmica.

“Cheguei cedo e fiquei esperando na praça de alimentação (...) só tinha eu dessa vez. Na outra vez, tinha uma menina e um menino lá. Ele disse que seria entrevista coletiva, cheguei lá, falou comigo e quando terminou, foi fazer com os dois juntos. Dessa vez ele não pediu nada e disse 'agora dessa vez vai dar certo'", contou em entrevista ao LeiaJá.

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Na agência, ela foi recebida por um dos sócios, Dinho Araújo, que foi responsável por conduzir a entrevista no primeiro momento. "[Ele] me explicou o que eu tinha que fazer e foi enfático toda vez sobre o design dos posts. Porque, na outra vez, eu disse que eu só sabia mexer no Canva, ele tirou sarro da minha cara. 'Qualquer um sabe mexer no Canva. Até eu', bem debochado. Dessa vez, era o tempo inteiro 'mas é a escrita, viu? ESCRITA' só faltou gritar”, relembra. Após algum tempo, Laura Araújo, que também é responsável pela Maracatu Digital, começou a participar da entrevista.

Na ocasião, segundo Ana*, Laura falou sobre um ex-funcionário. "Começou a falar mal dele o tempo inteiro e a ridicularizar", disse à reportagem. A sócia da agência de marketing teria alegado que o ex-funcionário “não aguentou a pressão, por isso, se demitiu”. O comentário foi seguido por um questionamento de Dinho Araújo a Ana*: “tu toma Rivotril?”

Ao ter uma negativa da jovem, Dinho teceu outros comentários sobre o ex-funcionário. “Esse ex-funcionário disse que começou a tomar Rivotril por causa do trabalho (...) os jovens hoje em dia não querem trabalhar porque são muito mimados, têm tudo na mão e não aguentam pressão”, expôs à candidata. “Na parte que perguntaram se eu tomava Rivotril: eu disse que antes de começar, eu pularia do barco porque não vale comprometer saúde mental com excesso de trabalho. Me olharam calados”, contou.

Ao ser questionada sobre a idade, Ana* foi criticada por não está no mercado de trabalho. “Ela [Laura] falou: e nunca trabalhou? Que estranho. Então, ele [Dinho] disse que era porque essa geração é mimimi e Nutella, não conseguem fazer nada”.

Lula ou Bolsonaro?

Ainda durante a dinâmica, os contratantes iniciaram a questionar sobre posicionamento político nestas eleições presidenciais. “tu é de direita ou esquerda”, teria perguntado Dinho. “No início, eu não saquei, falei “hã”? Ela [Laura] falou: 'Bolsonaro ou Lula?', disse que era Lula”, afirma Ana*.

Após a resposta, um dos contratantes fez insinuações acerca do ex-presidente. “Ele [Dinho] disse ‘não faça isso’, não perca seu voto. Você não sabe o que é um país em crise? Lula colocou o país em crise. Ele é um ladrão!” Ao tentar argumentar, Ana* foi interrompida por outro comentário do dono da Maracatu Digital. “Você nunca pagou conta, nunca pagou imposto, nunca viveu uma inflação”.

"Gastei dinheiro para ser humilhada"

A entrevista durou aproximadamente 15 minutos. Tempo em que Ana* foi alvo de brincadeiras, realizadas por Dinho, mas apaziguadas por Laura. “Ele fazia piada, falava indiretamente. Ela disse ‘olha, ele faz muitas brincadeirinhas, porque ele é assim, mesmo. Eu não ligo’”. De acordo com a jovem, este foi o único momento em que permaneceu calada. “Eu pensei ‘que brincadeira é essa, né?' Que ela já vai avisando antes e que em algum momento futuro poderia dar margem pra assédio’”.

Para ela, a vaga de redatora na agência de marketing, cujo salário ofertado, para 40 horas semanais, é de R$ 1.500,  já não fazia mais sentido. “Que tipo de entrevista para emprego é essa onde você fala mal, caçoa de um ex-funcionário na frente de um possível empregado? Fica de piadinha e indireta, porque até esse momento, eu ‘tô’ desempregada. E ainda tenta virar voto, duvidar da minha inteligência, devido à política, e dizer que não aguento a pressão do lugar? Não pede textos pra analisar, não pergunta nada sobre a profissão ou qualquer coisa relacionada a isso. Isso não é entrevista, gastei dinheiro pra ser humilhada”, desabafa.

Em um jogo de 'empurra-empurra', ficou decidido que Ana* seria contratada e começaria no mesmo dia da entrevista ou no dia seguinte. "Eu só ‘tava’ com dinheiro da passagem e identidade. Quando fui ao banheiro, esqueci que ‘tava’ menstruada. Falei que não poderia ficar naquele dia, mas que amanhã, às 8h, estaria lá. Ele [Dinho] disse 'tá certo'", ressalta.

Ao chegar em casa, ela foi surpreendida por uma mensagem enviada pelo WhatsApp por Laura Araújo. "Eu estava precisando de alguém para hoje e começar imediato. Eu agradeço a sua disponibilidade por ter vindo."

Em seguida, Ana* retornou a mensagem: "Não entendi. Me perguntaram se EU poderia escolher hoje ou amanhã pra começar, e já dispensaram? Expliquei o porquê não poderia ficar hoje." E complementou: "Bom, eu queria pontuar que vocês são péssimos entrevistadores. Falar mal de ex-funcionário, ridicularizá-lo por causa de saúde mental, e colocar partido político como crivo de inteligência, assim como diminuir alguém por não ter trabalho ou não seguir partido, só mostra a falta de respeito e profissionalismo de ambos".

O desabafo foi respondido por Laura, que apenas agradeceu o feedback e desejou "muito sucesso e espero que você se coloque logo no mercado de trabalho".

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O que diz a Maracatu Digital Intelligence

Procurada pelo LeiaJá, a agência de marketing, por meio de nota, ressaltou que os processos seletivos da empresa levam em "conta apenas aspectos curriculares e profissionais" e que a equipe é "composta por profissionais multiculturais de diversas crenças, orientações sexuais, identidades de gênero e ideologias distintas".

Além disso, a Maracatu Digital alega que o relato de Ana* "vai de encontro ao nosso compliance" e que a empresa repudia "qualquer prática nesse sentido, como mencionado acima, nossa equipe é completamente plural e diversa".

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