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O Observatório da Mineração e o monitor socioambiental Sinal de Fumaça lançaram hoje (27) o relatório Dinamite pura: como a política mineral do governo Bolsonaro armou uma bomba climática e anti-indígena, em que examinam como ocorreu o encadeamento de medidas que favoreceram o setor. Além disso, como o nome do documento adianta, há uma análise sobre os impactos das diretivas então adotadas, que ainda exigem cuidado da atual gestão.

Na avaliação das entidades, pode-se resumir as decisões do período como "a combinação explosiva entre o desprezo pelos direitos territoriais e humanos e uma sofisticada estratégia de lobby corporativo". O documento destaca que a implementação de ações de interesse do empresariado do setor e investidores foi possível graças à adesão de parlamentares.

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Ou seja, os tratos que visavam a aumentar o lucro do segmento, inclusive beneficiando transnacionais, abrangeram toda a Esplanada dos Ministérios, chegando ao Congresso Nacional. Uma das lembranças quanto a esse aspecto foi o lançamento da Frente Parlamentar Mista da Mineração, de 236 deputados e senadores, que aconteceu em junho de 2019 e deu mais atenção, segundo o relatório, à mineração de pequenos e médios empreendedores.

Durante os quatro anos de Bolsonaro no Palácio do Planalto, escrevem as entidades, tanto a mineração industrial quanto o garimpo ilegal vivem "anos dourados, na teoria, na prática e com centenas de bilhões de reais investidos nos mercados interno e global. Ao longo de 84 páginas, os autores do relatório recuperam, mês a mês, fatos como o rompimento da barragem de Brumadinho (MG) e a meta do governo federal de permitir que empresas estrangeiras pudessem explorar as reservas de urânio brasileiras, de cerca de 609 mil toneladas.

O ano de 2019 não havia chegado ao fim e o Ministério de Minas e Energia propunha que a mineração no interior de florestas nacionais (flonas) fosse liberada. As flonas são, por definição, uma categoria de área que deveria contar com a proteção especial do Estado, uma unidade de conservação.

O relatório ainda coloca em evidência pontos como a falta de fiscais em determinados locais, de maneira que não se encontram barreiras à prática de ilegalidades na busca por metais. Um caso citado é o de desfalques nos estados do Pará e do Amapá. "Só em Itaituba [município paraense], às margens do Rio Tapajós, mais de 18 mil pedidos de permissão de lavra garimpeira aguardam análise da agência", acrescentam os autores do estudo, a fim de dar a dimensão da vulnerabilidade da região, já que ao longo do rio vivem indígenas kayapó e munduruku, dois dos três povos mais atingidos pela mineração, juntamente com os yanomami.

Imprensa como inimiga

Para o diretor do Observatório da Mineração, Maurício Angelo, um indício de que os atos do governo representaram ameaças ao meio ambiente e a um conjunto de direitos é a postura das autoridades diante dos jornalistas. "De forma bastante clara e deliberada, decidiram não responder à imprensa, seja pelas vias oficiais, pelas assessorias de imprensa, seja dificultando bastante a obtenção de informação por meio da Lei de Acesso à Informação", diz ele, que também é pesquisador do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB).

"Ler tudo na sequência dos fatos também me remete a como o tema mineração teve muito menos destaque no debate público, na cobertura de imprensa, na comoção social, na interface com as pautas socioambientais. Você teve os grandes acidentes, como Brumadinho, mas isso não se transformou em uma mobilização crítica da sociedade organizada, e acho que passou muita coisa a que a gente não conseguiu nem reagir", complementa a coordenadora do monitor Sinal de Fumaça, Rebeca Lerer.

Maurício Angelo considera que a configuração atual das casas do Congresso Nacional não deve ajudar na reversão de matérias aprovadas durante o governo Bolsonaro, nem nas tentativas de barrar outras que tramitam e vão a plenário, como é o caso do Projeto de Lei (PL) 191/2020 que autoriza a exploração em terras indígenas. "Obviamente, apesar de parlamentares de centro, centro-esquerda, esquerda, o Congresso ainda é, majoritariamente, de direita e aliado a essas pautas que são de interesse da indústria da mineração e do agronegócio", afirma, acrescentando que a militarização de órgãos como a então Fundação Nacional do Índio (Funai) também contribuiu para o quadro denunciado no relatório.

Sobre a possibilidade de a comunidade internacional exercer pressão significativa, a ponto de refrear excessos das mineradoras, o diretor pondera que o nível de cobrança é menor do que em casos que envolvem apenas desmatamento, por exemplo. Mesmo que desmatamento e mineração mantenham forte relação.

"Como o mundo tem uma demanda muito grande para suprir esses minerais essenciais, estratégicos, nos próximos anos, os projetos de mineração são vistos como necessários e não há uma crítica, um viés crítico desses acordos que são feitos. Pelo contrário, é visto como algo necessário, positivo, que tem que ser levado a cabo, independentemente do governo, seja aqui no Brasil ou fora do país, o que, claro, gera e vai gerar vários impactos socioambientais no futuro também", argumenta.

A Agência Brasil procurou a assessoria do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas não teve resposta. A reportagem também tentou, sem sucesso, contato com o ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, que permaneceu no cargo pelo maior tempo, de janeiro de 2019 a meados de maio de 2022.

 

Nesta quinta-feira (24), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, reuniu-se com os ex-ministros do Meio Ambiente Carlos Minc, Izabella Teixeira, Sarney Filho e José Carlos Carvalho. Eles integram um fórum que busca influir em debates no Congresso Nacional sobre temas sensíveis como mineração em terras indígenas (tema do PL 191/2020), licenciamento ambiental (PL 2.159/2021) e regularização fundiária (PL 2.633/2020 e PL 510/2021). 

"Os ex-ministros vieram pontuar questões relativas ao meio ambiente que são, obviamente, uma pauta importante hoje do Senado Federal e do Congresso Nacional. Quero dizer, e disse isso a eles, que é muito interessante esse fórum que congrega ex-ministros de Estado dessa área de diversos governos, desde o governo de presidente Collor até o último governo, e todos no objetivo de contribuir para essa pauta do meio ambiente no Brasil", disse Pacheco. 

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O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também participou do encontro.  Para o presidente do Senado, um grande desafio para o país é conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação do meio ambiente. Ele defendeu a modernização da legislação de licenciamento ambiental e disse que o Parlamento está tratando de temas como a liberação de agrotóxicos (presente no PL 6.299/2002), a regularização fundiária e a mineração em terras indígenas. 

"Cada um desses projetos deve merecer uma ampla discussão e um amplo aprofundamento. O que eu afirmei ao fórum de ex-ministros de Meio Ambiente é o compromisso da Presidência do Senado de permitir o exaurimento dessa discussão no âmbito do Senado, por meio das audiências públicas, das sessões de debate temáticos, de uma participação muito ativa das comissões de Agricultura e do Meio Ambiente da Casa, de fato esgotando os pontos relativamente a isso", pontuou. 

O ex-ministro Carlos Minc agradeceu a atenção de Pacheco e outros senadores e disse que o apelo foi ouvido pelo presidente do Senado. "Achamos que o nosso apelo caiu em ouvido receptivo. Nós representamos mais de 30 anos de gestão ambiental no Brasil", disse Carlos Minc, ressaltando que o fórum reúne nove ex-ministros do Meio Ambiente. 

Pacheco pediu ao ex-ministros que estudem cada projeto em tramitação no Congresso relacionado ao meio ambiente e apresentem sugestões de melhorias. Para ele, a regularização fundiária, por exemplo, tem de ser feita, mas não pode “ser um passe livre para a apropriação de terras públicas no futuro”. 

"Eu acho perfeitamente possível nós buscarmos compatibilizar a pujança do nosso agronegócio com a preservação do meio ambiente no Brasil. (...) são ideias que eu considero muito inteligentes e eu considero que existe uma falsa dicotomia entre preservação de meio ambiente e desenvolvimento econômico", afirmou.  No começo do mês, o presidente do Senado recebeu artistas representantes do Ato pela Terra, com pautas similares às trazidas pelos ex-ministros. 

*Da Agência Senado

O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), uma organização privada que reúne as principais empresas do setor, criticou o projeto de lei 191/2020, que prevê a exploração de terras indígenas por projetos minerais, além de sua abertura para empreendimentos de infraestrutura e agronegócio.

Por meio de nota, o instituto afirmou que "entende que o PL 191/2020, encaminhado pelo poder Executivo ao Congresso Nacional, não é adequado para os fins a que se destina, que seria regulamentar o dispositivo constitucional que prevê a possibilidade de implantação de atividades econômicas em terras indígenas como geração de energia, produção de óleo, gás e mineração".

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Trata-se, na prática, de uma crítica à proposta tal qual foi apresentada, e não contra a mineração em si, dentro dessas áreas demarcadas. "Uma vez que a mineração em terras indígenas está inscrita na Constituição Federal, artigos 176 e 231, a sua regulamentação precisa ser amplamente debatida pela sociedade brasileira, especialmente pelos próprios povos indígenas, respeitando seus direitos constitucionais, e pelo Parlamento brasileiro", afirma o Ibram.

O instituto diz que "a mineração industrial pode ser viabilizada em qualquer parte do território brasileiro, desde que condicionada aos requisitos de pesquisa geológica, estudos de viabilidade econômica, licenças ambientais embasadas em estudos e outras autorizações previstas em lei, de modo a preservar a vida e o meio ambiente, em especial na Amazônia, evitando o desmatamento".

Segundo o Ibram, "no caso de mineração em terras indígenas, quando regulamentada, é imprescindível o Consentimento Livre, Prévio e Informado (CLPI) dos indígenas".

Essa consulta é um princípio previsto na Organização Internacional do Trabalho (OIT), em seu artigo 169, e outras diretivas internacionais que definem que cada povo indígena, considerando sua autonomia e autodeterminação, pode estabelecer seu próprio protocolo de consulta para autorizar as atividades que impactem suas terras e seus modos de vida.

"É importante destacar que o Ibram condena qualquer atividade de garimpo ilegal em terras indígenas, na Amazônia ou em qualquer parte do território nacional, e acredita que esta atividade deve ser rigorosamente combatida e seus promotores responsabilizados penalmente. A preservação da Amazônia é condição necessária para as discussões de todos os temas relativos à mineração no Brasil", afirmou o instituto.

Na semana passada, a Coalização Brasil Clima, movimento que reúne 324 nomes de companhias ligadas a diversos setores - como o agronegócio e financeiro - também criticou publicamente o projeto de lei que autoriza o acesso irrestrito de exploração de terras indígenas.

Por meio de uma nota pública, o grupo declarou que "a integridade ambiental das terras indígenas, áreas importantíssimas para a estabilidade climática e proteção da diversidade cultural do país, pode estar em risco se a Câmara dos Deputados aprovar, sem discussões mais aprofundadas e melhorias substanciais, o Projeto de Lei (PL) 191/2020, que permite a lavra de recursos minerais, a construção de hidrelétricas e a agricultura industrial naqueles territórios".

A Câmara dos Deputados aprovou o requerimento para que o projeto seja votado em regime de urgência pelo Plenário, ou seja, sem passar por nenhuma de suas comissões técnicas. A proposta final do PL 191 será submetida a um Grupo de Trabalho (GT) formado para analisar o mérito da matéria. Após a aprovação do parecer do relator do GT, o projeto será analisado no Plenário da Casa. De acordo com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), isso deve ocorrer até a primeira quinzena de abril. Se for aprovado pela Câmara, o texto seguirá para o Senado.

Postulante a reassumir a faixa presidencial, o ex-presidente Lula (PT) criticou a votação da Câmara dos Deputados que pautou a mineração em território indígena como urgência. Em entrevista à rádio Itatiaia, o pré-candidato garantiu que vai fortalecer a proteção de áreas preservadas.

Para o petista, explorar terras demarcadas fere a dignidade e atenta contra a vida dos povos indígenas. Ele prometeu acabar com o garimpo nas áreas, caso eleito. 

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"Se eu for presidente da República não terá garimpo em terras indígenas. Os índios não são intrusos, eles estavam aqui antes dos portugueses chegarem. Eles têm direito a vida digna e cuidarmos da Amazônia é mais importante que garimparem um pouco de ouro", afirmou.

Governo Bolsonaro enfraqueceu combate à corrupção

Durante a entrevista, o ex-presidente também criticou a falta de transparência do governo Bolsonaro e o enfraquecimento das ações de controle contra a corrupção. Ele ressaltou que a gestão do PT propôs mais liberdade aos órgãos de investigação.

"Todos os mecanismos de combate à corrupção e transparência foram feitos pelo PT. Na nossa época as denúncias eram investigadas. Hoje eles escondem com sigilo de 100 anos. Cadê o Queiroz? Cadê a questão das vacinas, na época do Pazuello?", questionou Lula.

A Câmara, sob o comando do presidente Arthur Lira (PP-AL), aprovou, nesta quarta-feira (9), o requerimento de urgência do projeto de lei que libera a exploração de minérios em terras indígenas, incluindo áreas que habitam povos isolados. Foram 279 votos a favor da urgência, outros 180 contrários e três abstenções. A proposta, porém, será submetida a um Grupo de Trabalho (GT) formado para analisar o mérito da matéria. Só após a aprovação do parecer do relator do GT, o PL será analisado no Plenário da Casa. De acordo com Lira, isso deve ocorrer até a primeira quinzena de abril.

O projeto é uma demanda direta do governo Jair Bolsonaro (PL), que argumenta que, ao aprovar o projeto, será possível extrair potássio nessas áreas para produzir fertilizante para o agronegócio brasileiro, hoje dependente da importação de produtos vindos em sua maioria da Rússia. Trata-se de falácia. A maioria absoluta do potássio nacional, como mostrou reportagem do Estadão e estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), fica fora de terra indígena.

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O projeto de lei 191/2020 determina as condições na quais poderá haver a pesquisa e a lavra de recursos minerais e hidrocarbonetos e o aproveitamento de recursos hídricos para geração de energia elétrica em terras indígenas. O texto estabelece que haja consulta das comunidades indígenas afetadas pelas atividades de exploração mineral ou geração de energia, mas não há poder de veto pelos indígenas.

Pelo texto, que ainda precisa ser aprovado para, então, seguir ao Senado, as comunidades indígenas com terras exploradas economicamente receberiam participação nos resultados, conforme o tipo de exploração comercial. Não se trata apenas de mineração. O projeto libera também produção do agronegócio, instalação de usinas, exploração de gás e petróleo, além de abertura de estradas e ferrovias.

Durante toda a quarta-feira, houve forte mobilização em Brasília contra o avanço desta e de outras medidas que miram o meio ambiente. Dezenas de artistas e líderes de organizações da sociedade civil realizaram uma manifestação contra o pacote de projetos que flexibilizam leis ambientais. O "Ato pela Terra contra o pacote da destruição", liderado pelo cantor e compositor Caetano Veloso, incluiu a entrega de um documento à ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber e uma carta ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

O presidente da Câmara, porém, apoiado pela bancada ruralista e parlamentares ligados ao governo Bolsonaro, ignorou a mobilização que reuniu milhares de pessoas em frente ao Congresso e seguiu com a deliberação de urgência sobre a exploração em terras indígenas.

Levantamento feito pelo Estadão mostra que, no Amazonas, a maioria das principais minas de potássio, substância usada em fertilizantes para o agronegócio, está localizada fora de terras indígenas. Os dados contrariam declarações do presidente Jair Bolsonaro, que tem defendido a aprovação de projeto de lei que libera a mineração em áreas demarcadas como forma de superar a dependência brasileira da Rússia no acesso a fertilizantes.

Bolsonaro alega que os locais mais importantes para extração de potássio do Brasil estão bloqueados por estarem dentro de aldeias. "Como deputado, discursei sobre nossa dependência do potássio da Rússia. Citei três problemas: ambiental, indígena e a quem pertencia o direito exploratório na foz do Rio Madeira. Nosso Projeto de Lei 191 permite a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em terras indígenas. Uma vez aprovado, resolve-se um desses problemas", disse o presidente na semana passada.

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Para pressionar o Congresso, o líder do governo pediu então urgência na votação do projeto de lei. Ontem, Bolsonaro voltou a dizer que a guerra entre Rússia e Ucrânia trouxe uma "boa oportunidade" para o Brasil aprovar a exploração de terras indígenas.

Desde a foz do Rio Madeira, que deságua no Rio Amazonas, passando por municípios como Autazes, Nova Olinda do Norte e Borba, há dezenas de áreas, em diferentes etapas de pesquisa mineral, em nome da Petrobras e da companhia Potássio do Brasil, controlada pelo banco canadense Forbes & Manhattan. As duas empresas praticamente controlam os projetos de potássio na região, concentrando a maioria dos títulos minerários do insumo.

Esses dados fazem parte do levantamento feito pela reportagem nos registros de pedidos de pesquisa e lavra de potássio ativos na Agência Nacional de Mineração (ANM). O Estadão também solicitou à Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração (ABPM) que elaborasse um mapa com pedidos ativos ao longo da calha do Rio Madeira, no Amazonas, que concentra as maiores minas de potássio do Brasil. Foi feito cruzamento com a localização das terras indígenas da região.

O resultado mostra que não há sobreposição na imensa maioria dos casos, o que significa que não são as terras indígenas que impedem a exploração de potássio no País. O levantamento mostra que um pequeno número de blocos de exploração teria impacto direto em terras demarcadas, como ocorre na região de Nova Olinda do Norte, em áreas que estão em fase de pesquisa na região das terras indígenas Gavião, Jauary e Murutinga/Tracajá.

LEGISLAÇÃO

Presidente da ABPM, Luís Maurício Ferraiuoli Azevedo afirmou que a questão indígena não tem sido entrave aos projetos. "O que nós vemos são essas áreas de amortecimento no entorno das minas, não impacto direto. A prova está aí, nos dados. O que é preciso é que haja uma análise técnica de cada empreendimento, apenas isso", disse ele.

Pelas regras do licenciamento ambiental, quando um empreendimento é instalado numa área próxima a terras indígenas e comunidades ribeirinhas, por exemplo, situações comuns ao longo do Rio Madeira, é preciso que o processo de autorização da obra contemple medidas para reduzir os impactos, já que são áreas que serão afetadas de alguma maneira pela exploração, com aumento de tráfego, poluição, ruídos etc. Para chegar a um acordo sobre compensações ambientais, realizam-se audiências públicas previamente à instalação do empreendimento. Isso não significa, portanto, que ele seja inviável. Basta que se cumpra a lei.

Apesar de boa parte do registro de exploração das reservas de potássio ser antiga, elas não são exploradas. Procurada, a Potássio do Brasil declarou que seu projeto na região de Autazes obteve licença prévia do governo estadual, mas que esta foi suspensa num acordo na Justiça Federal para que houvesse a consulta prévia ao povo indígena mura, que habita áreas a 8 quilômetros de distância do projeto. Trata-se de consulta obrigatória para busca de um acordo em relação ao impacto na região, mas não de inviabilidade do projeto, uma vez que não há sobreposição.

"Assim que a licença de instalação for obtida pela Potássio do Brasil, as obras de implantação do projeto serão iniciadas", afirmou a empresa. "A Potássio do Brasil tem como princípio respeitar as normas ambientais e os direitos dos povos indígenas e tradicionais e reconhece a importância da consulta prévia, livre e informada ao povo mura."

A reportagem questionou a Petrobras sobre as razões de a empresa manter dezenas de títulos minerários de potássio desde os anos 1970 na região, e quais as expectativas de exploração dessas áreas. Em nota, a companhia disse apenas que "mantém títulos de lavra e de pesquisa com potencial de potássio na Bacia do Amazonas" e que "estuda alternativas para os ativos, considerando sua estratégia de negócio".

O presidente da ABPM critica o fato de a Petrobras ter títulos minerários, mas não explorá-los. "A Petrobras está parada há mais de uma década com essas áreas. O que nós vemos é que esse é um negócio pequeno demais para a empresa, que tem saído de poços maduros de petróleo e ido para o pré-sal. O potássio seria uma distração para a empresa. Então, se ela não quer, tem que vender", disse Azevedo.

Em 2008, por pressão do Palácio do Planalto e da então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a Petrobras voltou atrás em um negócio estimado em US$ 150 milhões que previa a venda de parte de uma mina de potássio em Nova Olinda do Norte, para a empresa canadense Falcon, também controlada pelo banco Forbes & Manhattan. O negócio acabou sendo cancelado, e a Petrobras se viu obrigada a pagar uma multa para rescindir o acordo. À época, declarou que "a alta administração, por razões estratégicas, decidiu não prosseguir com a venda".

JAZIDAS

O potássio é um elemento químico usado, majoritariamente, na agricultura, mas também tem aplicações na medicina e equipamentos de respiração, entre outras finalidades. O cloreto de potássio é formado na natureza, em lagos que estavam conectados ao mar há milhares de anos, e que secam. Na região de Autazes, esse lago existiu há cerca de 270 milhões de anos e, após secar, foi recoberto por outros sedimentos. Hoje, segundo a Potássio do Brasil, jazidas de sal de potássio no local estão localizadas a cerca de 800 metros de profundidade.

O Brasil adquire no exterior 85% do volume de fertilizantes aplicado anualmente nas lavouras. A Rússia é uma das principais exportadoras - em janeiro, respondeu por 30,1% do adubo que entrou em território nacional, segundo o Ministério da Economia. No ano passado, os russos foram responsáveis por 23,3% do fertilizante que chegou ao Brasil.

O governo Bolsonaro decidiu utilizar a interrupção do fornecimento de fertilizantes da Rússia como argumento para aprovar, o quanto antes, um projeto de lei (PL) que prevê a exploração mineral em terras indígenas. O projeto de lei 191/2020, que autoriza atividades de mineração, agronegócio e de qualquer tipo de obra de infraestrutura dentro das áreas demarcadas, ainda não passou por nenhuma comissão da Câmara para ser alvo de discussões e ajustes, mas a expectativa do governo é que sua votação vá a Plenário nas próximas semanas.

O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), começou a colher assinaturas de parlamentares para aprovar um requerimento de votação em regime de urgência desse projeto. Caso esse requerimento seja aprovado pelo Plenário, o PL 191 já poderia ser submetido imediatamente à votação, atropelando o processo de discussão legislativa. Ao Estadão, Barros disse que apoia "uma solução imediata" para liberar a exploração dentro das áreas demarcadas. "Nossas mais importantes reservas minerais estão em terras indígenas. O Brasil e os indígenas querem prosperar", afirmou.

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Por trás dessa movimentação está a justificativa do presidente Jair Bolsonaro de que uma grande mina de potássio, localizada na região de Autazes, no Estado do Amazonas, já poderia estar em exploração, reduzindo a dependência do Brasil sobre a importação do insumo agrícola de Belarus e da Rússia. O empreendimento não teria avançado, porém, porque, segundo Bolsonaro, haveria terras indígenas na área a ser explorada. Hoje, é proibido fazer mineração ou erguer projetos dentro de terras indígenas.

Trata-se, na realidade, de um argumento sem fundamento, e por duas razões objetivas. A primeira é que existem, atualmente, 544 processos ativos de exploração de potássio em todo o País, em andamento dentro da Agência Nacional de Mineração (ANM). Centenas de pedidos não tem impacto direto em terras indígenas e teriam condições de serem viabilizados por meio da legislação ambiental já em vigor.

Outra razão é que o projeto de exploração de potássio em Autazes, que foi citado por Bolsonaro, tem impacto indireto sobre as terras indígenas locais, conforme informações da companhia Potássio do Brasil, controlada pelo banco canadense Forbes & Manhattan. Isso significa que a companhia é obrigada a consultar os povos indígenas que vivem na região para licenciar a sua obra, estabelecendo medidas de mitigação dos impactos que causará em toda a área. Na prática, portanto, não é necessário abrir a terra indígena para exploração mineral, mas sim chegar a um acordo sobre os impactos indiretos que a mineração terá.

As tramitações do projeto de lei e de seu requerimento de urgência dependem do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Líderes partidários já ouviram de Lira que o texto pode, efetivamente, ser colocado em votação ainda neste semestre. A única prioridade que o antecederia, segundo fontes ouvidas pela reportagem, seria o PL das Fake News.

Ao Estadão, a empresa Potássio do Brasil declarou que o chamado "Projeto Potássio do Brasil", que foi mencionado por Bolsonaro, obteve licença prévia ambiental, mas esta "foi suspensa devido a um acordo com a Justiça Federal para que houvesse a Consulta Pública ao Povo Mura que habita áreas à 8 km de distância das futuras instalações da Potássio do Brasil em Autazes".

Segundo a empresa, "não há previsão para início da exploração da mina de potássio". Nesta quarta-feira, 2, ao divulgar um vídeo de 2016 em que fala sobre o assunto, Bolsonaro defendeu a exploração do potássio, mas criticou o fato de os direitos minerários na região estarem "nas mãos de uma empresa canadense".

Bolsonaro disse que essas explorações teriam sido "acertadas via Petrobras, Deus lá sabe como". O presidente não dá detalhes sobre suas afirmações. "Ou seja, não podemos explorar nosso próprio potássio", concluiu.

Reação

"O que o governo Bolsonaro quer, desde o início, é implodir com os direitos das populações indígenas e outros povos e comunidades tradicionais assegurados pela Constituição de 1988. O PL 191 é uma das peças desse processo. Foi redigido para ser um 'liberou geral' principalmente para o garimpo em terras indígenas, sem os devidos cuidados ambientais, contrariando a Constituição. É isso que está em foco", diz Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima. "O restante é desculpa que o governo está usando para concretizar esse projeto de destruição. A regulamentação adequada da mineração em terras indígenas passa muito longe do conteúdo dessa proposta. Só a existência do PL 191, mesmo sem votação, já está causando processos de degradação irreversíveis."

Nesta segunda-feira (14), o presidente Jair Bolsonaro (PL) lançou um programa de incentivo ao garimpo e renomeou a atividade extrativista em pequena escala como "mineração artesanal". O decreto criou o Pró-Mape (Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Mineração Artesanal e em Pequena Escala) e já foi publicado no Diário Oficial da União (DOU).

O Pró-Mape tem a função de "propor políticas públicas e estimular o desenvolvimento da mineração artesanal e em pequena escala". A medida facilita o garimpo nos nove estados espalhados em três regiões do país, que compreendem a Amazônia Legal.

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 A atividade mineradora já ameaça os biomas da região, sobretudo em reservas indígenas e áreas de conservação.

O garimpo em pequena escala é legalizado no Brasil desde que realizado por cooperativas. Contudo, a atividade ilegal predomina e vem crescendo na gestão Bolsonaro.

Diferente do garimpo industrial, o garimpo manual se limita a 50 hectares de extração na superfície. Pelo tipo de atuação, áreas maiores são degradadas, já que não se utiliza de tecnologia para escavações profundas. 

O decreto também criou a Comissão Interministerial para o Desenvolvimento da Mineração Artesanal e em Pequena Escala (Comape) que conferiu aos ministérios das Minas e Energia, Casal Civil, Cidadania, Justiça, Meio Ambiente e Saúde o acompanhamento do Pró-Mape. 

Entidades privadas também poderão participar das reuniões, mas não terão direito a votar.

Braço direito de Jair Bolsonaro (PL), o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, liberou o garimpo em regiões preservadas da Amazônia. Nos últimos 10 anos, ele concedeu a primeira autorização para projetos de extração de ouro na área considerada a mais indígena do Brasil. As informações são da Folha de S. Paulo.

Também secretário-executivo do Conselho de Defesa Nacional, cabe a Heleno orientar Bolsonaro em questões sobre a soberania nacional. Como GSI, ele pode permitir a atividade mineradora em uma largura de 150 km na extensão da fronteira.

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O registro da Agência Nacional de Mineração (ANM) indica que, só neste ano, o general autorizou sete projetos de pesquisa de ouro em São Gabriel da Cachoeira, no extremo noroeste do Amazonas. A região comporta ao menos 23 etnias indígenas e é considerada a cidade mais indígena do Brasil.

Entre pesquisas para definir jazidas ou a lavra, ele liberou 81 autorizações de mineração na Amazônia desde 2019. Só em 2021 foram 45 permissões, que se destaca como a maior quantidade de autorizações em um ano desde 2013.

Ao todo cerca de 587 mil hectares, aproximadamente quatro vezes a cidade de São Paulo, deve sofrer com a atividade mineradora. A área de São Gabriel da Cachoeira representa 12,7 mil hectares.

Em nota à reportagem, o GSI informou que "não se evidenciou impedimento legal à solicitação dos interessados para o secretário-executivo assinar os atos de assentimento". A pasta ressaltou que é instruída pela ANM e os terrenos pertencem à União.

Embora sejam da União, as regiões ficam entre território indígena. Inclusive, uma delas abaixo do Parque Nacional do Pico da Neblina e outra às margens do Rio Negro.

"A ANM não aprovará o requerimento de qualquer título minerário se este incidir em área onerada ou em área com qualquer outro bloqueio legal, a exemplo de terras indígenas ou unidades de conservação de proteção integral", defendeu-se a agência em nota.

Às vésperas de completar 15 anos, no próximo mês de janeiro, o Sindicato das Indústrias Minerais do Pará (Simineral) lançou, na terça-feira (16), mais uma edição do Prêmio Simineral de Comunicação, destinado a criadores de conteúdos digitais, departamentos de comunicação de empresas mineradoras e à imprensa paraense. Com o tema “Histórias de Transformação”, o prêmio quer conhecer histórias em torno da mineração e saber como ela contribuiu para transformar positivamente pessoas e territórios em diversos municípios do Estado.

Para o presidente do Simineral, Anderson Baranov, o Prêmio Simineral de Comunicação reconhece o “trabalho imprescindível” dos profissionais de comunicação ao longo dos quase 15 anos do Simineral. “A imprensa e os profissionais de comunicação de empresas mineradoras, primeiramente, e logo em seguida os criadores de conteúdo digitais, acompanharam, de perto, a transformação do setor. Seja com novas tecnologias para torná-lo mais sustentável, seja com maior preocupação para com as pessoas e comunidades, ou com o surgimento dos setores de diversidade nas empresas que permitiram que o setor se tornasse mais inclusivo e representativo, ou com uma política de compliance mais forte nas companhias”, destaca.

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A diretora executiva do Sindicato das Indústrias Minerais do Pará, Poliana Bentes, espera que em 2021 o número de trabalhos inscritos seja igual ou superior ao do ano passado. “Em 2020 tivemos um recorde de inscrições, mesmo com todo o cenário difícil de pandemia que nós vivíamos. Hoje, o cenário de pandemia ainda existe, mas muito melhor graças ao avanço da vacinação. Nesse sentido, esperamos que todos os jornalistas profissionais, os criadores de conteúdos digitais e os departamentos de comunicação de empresas mineradoras, nos honrem com grandes trabalhos, como já é de costume”.

As inscrições para o Prêmio Simineral de Comunicação devem ser feitas, exclusivamente, pelo site do Prêmio, até o dia 26 de dezembro de 2021. Acesso aqui: https://simineral.org.br/nossas-acoes/premio-comunicacao

Da assessoria do Simineral.

O julgamento contra a consultoria alemã TÜV SÜD, acusada de ter falsificado o certificado da barragem de mineração de Brumadinho, no Brasil, que rachou em 2019 causando 270 mortos, começou nesta terça-feira (28) em Munique, no sul da Alemanha.

Na ação, de natureza administrativa, os advogados do município de Brumadinho e de 1.200 vítimas reclamam indenização por danos e prejuízos da empresa alemã.

A consultoria é acusada de ter falsificado documentos para certificar a segurança da barragem, localizada próximo ao município de Brumadinho, de 40 mil habitantes.

Em janeiro de 2019, a queda do muro matou 270 pessoas, devastou a cidade e liberou uma torrente de lama que varreu a região, causando um grande desastre ambiental.

A investigação realizada no Brasil revelou que o certificado de segurança, emitido pela empresa TÜV SÜD, continha informações falsas.

Segundo as autoridades, a barragem não atendia às normas internacionais de segurança. O grupo alemão rejeita essas acusações.

A TÜV SÜD "deve assumir na Alemanha o que fez a milhares de quilômetros de distância", disse em nota Pedro Martins, advogado da PGMBM, que representa o município de Brumadinho.

Seu escritório afirma que tem "provas que demonstram que a TÜV SÜD certificou que essa barragem era segura, embora não fosse".

"É um fato que eles sabiam, mas ignoraram", acrescentou.

No início de 2021, a mineradora Vale, responsável pela barragem, concordou em pagar 7 bilhões de dólares (6 bilhões de euros) para remediar as consequências sociais e ambientais do rompimento da barragem, Desse montante, 1,7 bilhão de dólares foi diretamente para as pessoas afetadas.

A Justiça brasileira também abriu um processo criminal contra vários funcionários e administradores da TÜV SÜD e da Vale.

Com os progressos na economia e com a população mundial crescendo a um ritmo de cerca de 1,2% ao ano, o setor da mineração viu neste contexto uma oportunidade de ampliação, respondendo às crescentes demandas do mercado. Referindo-se ao estudo e à exploração dos minérios do subsolo, no cenário brasileiro esta área de atividade é cada vez mais forte, com estados como Mina Gerais e Pará assumindo grande parte dos investimentos e projetos do setor.

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Na verdade, a relação do país com o setor da mineração já apresenta um vínculo praticamente histórico, marcando momentos importantes da trajetória do Brasil. Não é por acaso que existiu o ciclo econômico do ouro brasileiro, que, decorrendo entre os séculos XVII e XVIII, retratou o apogeu econômico do país.

Hoje em dia, por conta da grande força da exploração mineira para a economia do país, o cenário não é tão diferente. Num momento em que diversas atividades não conseguem acompanhar esta evolução, a mineração é o exemplo de um caso de sucesso. Quem o diz é a pesquisa desenvolvida pelo Ministério da Economia, que, destacando o percurso de setores como a agricultura e a administração, coloca a mineração no topo das áreas mais bem-sucedidas de 2020.

De fato, quando olhamos para o período entre abril e julho do ano passado, podemos verificar um crescimento de mais de 37% no faturamento deste setor quando comparado ao mesmo período do ano anterior. Entre as mineradoras que apresentaram resultados satisfatórios, destaca-se a Vale, que entre julho e setembro de 2020 revelou um lucro de R$ 15 bilhões.

Um país de regiões mineradoras

Se no passado grandes cidades se tornaram polos econômicos graças ao setor da mineração, hoje em dia ainda são muitos os vestígios e potenciais destas regiões, que se estendem de norte a sul do país.

A região metropolitana de São Paulo é um destes exemplos, e chega-se mesmo a acreditar que esta seja uma mina de ouro escondida, já que muitos historiadores afirmam existir pepitas de ouro no subsolo de municípios como Guarulhos, Itapecerica da Serra ou Mogi das Cruzes.

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No entanto, o principal ponto de exportação de minérios brasileiros encontra-se no Pará, estado que entre janeiro e abril deste ano viu 94% da sua exportação partir exclusivamente da mineração. De acordo com informações do Sindicato das Indústrias Minerais do Pará (Simineral), a região é líder no setor ao ser responsável por 36% das exportações nacionais, o que se reflete em 57 milhões de toneladas de minérios.

O segundo lugar da tabela é ocupado por Minas Gerais, demonstrando uma presença de 31% nas exportações brasileiras da mineração, vindo seguida de estados como Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro. Na verdade, a atratividade de Minas Gerais para o setor vem crescendo no decorrer dos últimos anos, chamando a atenção de investidores e mineradoras que desejam ver o seu trabalho ampliado.

Nesse sentido, segundo a Agência de Promoção de Investimento em Comércio de Minas Gerais, espera-se que no estado tanto o setor da mineração quanto o industrial e do e-commerce recebam um investimento que vá além dos R$ 129 bilhões, motivando a criação de mais de 200 mil postos de trabalho.

Além disso, empresas mineradoras de Minas Gerais também têm assumido grande parte do investimento e do progresso do setor na região, como é o caso da Sigma Lithium, que aplicou cerca de R$ 859 milhões na produção de lítio. Por outro lado, mineradoras como a Sul Americana de Metais (SAM) garantiram a sua responsabilidade social e ambiental junto de Minas Gerais ao fazer a supervisão da licença ambiental de um projeto dedicado à exploração de ferro no norte do estado.

Investimentos no setor de minerais é crucial

Com um elevado potencial de lucro e desenvolvimento, é inegável que o mundo está de olho no potencial da mineração brasileira, o que torna os investimentos, tanto nacionais como internacionais, um ponto crucial para a sobrevivência do setor.

Na verdade, o financiamento é um dos grandes desafios deste segmento, uma vez que, na maior parte dos casos, tem de se prolongar durante toda a vida útil dos projetos. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é uma das entidades que exerce maior aplicação de dinheiro neste domínio, já que investiu R$ 25 bilhões em iniciativas do setor desde o ano de 2002.

Foto: Pixabay

Contudo, o investimento não parte apenas de grandes empresas, mas também de investidores com diferentes níveis de experiência que veem na mineração uma grande oportunidade. Entre as formas preferenciais de investimento, encontra-se o financiamento direto de projetos e a utilização de plataformas online para investir em metais como o ouro e a prata. Disponibilizando uma vasta gama de produtos para traders, estas plataformas também apresentam a opção de negociar Forex, um tipo de investimento que se fundamenta no mercado cambial através da negociação de pares de moedas e outros ativos, além de contar com programas de parcerias e material educacional, o que torna a experiência mais interessante.

Na verdade, o investimento e a estratégia estão na base do sucesso da mineração, desenvolvendo-se inúmeros estudos dedicados a estas questões. Um dos mais recentes é denominado "Riscos e oportunidades no setor de mineração: perspectiva global para 2021", que, após entrevistar 167 executivos da mineração brasileira, concluiu que 83% deles acreditam que as empresas da área necessitam de uma estratégia ESG bem definida, ou seja, um plano vocacionado para o equilíbrio do meio ambiente com a componente social e administrativa.

O futuro da mineração

Mesmo que o setor da mineração seja uma área em crescimento, muitas das suas técnicas e metodologias ainda se restringem ao tradicional. Com isso, inúmeros são os esforços não só para aprimorar práticas, mas também para elevar a exploração de minérios a outro patamar.

É aqui que o conceito de exploração mineira marinha surge, já que no subsolo dos oceanos também podem ser encontrados inúmeros recursos minerais. Contudo, esta prática ainda divide opiniões do ponto de vista ambiental e, por isso, as conclusões são diversas e limitam o avanço da ação.

No entanto, com exploração marinha ou não, o setor da mineração permanece uma realidade bem presente no contexto brasileiro, assumindo uma elevada participação na economia do país e na criação de postos de trabalho, o que consequentemente faz aumentar a sua atratividade.

No centro da discussão sobre a regulamentação do Bitcoin (BTC) estão El Salvador e a China. De um lado, o país da América Central foi o primeiro a adotar oficialmente a criptomoeda. Do outro, os asiáticos, que suspenderam a mineração e bloquearam as exchanges que operam no país. Entre os pontos de divergência, a falta de rastreabilidade e questões de sustentabilidade são discutidos e travam a ampliação das transações.

As criptomoedas são obtidas através do processo de mineração que, através das 'fazendas' de computadores, consome quantidades enormes de energia elétrica para que as máquinas realizem cálculos complexos. O estudo Cambridge Bitcoin Electricity Consumption Index aponta que a rede do BTC consome cerca de 121,36 terawatt-hora (TWh) ao ano, ou seja, gasta mais do que países inteiros como Argentina, Noruega e Paquistão.

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As fontes de energia mais utilizadas, como as atividades das hidrelétricas, usinas nucleares e termoelétricas, não são renováveis e ainda prejudicam o Meio Ambiente. Por isso, o CEO da Tesla e um dos homens mais ricos do mundo, o bilionário Elon Musk, recuou sobre a compra dos seus veículos com bitcoin.

Longe das taxas tributárias do Estado

As principais fazendas de mineração ficam na China, que tem o carvão como principal matriz energética. Nesta semana, o país interrompeu a mineração do BTC em Xinjiang e bloqueou a movimentação nas exchanges. Embora a motivação indique um reforço a proteção do Meio Ambiente, a verdadeira justificativa pode ser a falta de controle para cobrança de impostos das criptomoedas.

Especialista em contabilidade financeira Alexandro Werner em entrevista ao LeiaJá. Foto: Júlio Gomes/Leiajá Imagens

"O dinheiro está circulando lá [na exchange] e ainda não voltou para sua conta. Enquanto ele não voltar, o Governo não consegue ter rastreabilidade. Se você tem ganho financeiro, ele não vai ter recolhimento de nada", explica o especialista em contabilidade financeira Alexandro Werner.

O ataque de hackers as exchanges são inevitáveis, mas a tecnologia para evitar furos na criptografia é constantemente atualizada. Desse modo, investidores garantem que não temem as investidas contra seus investimentos guardados nas 'carteiras digitais'.

"As negativas desses países muitas vezes são por uma reserva de mercado e a insegurança ‘de onde está o dinheiro e com quem?', porque as transações entre moedas ainda não têm lastro", aponta Werner.

Sistema seguro

O fato é que o mercado de criptomoedas movimenta trilhões de dólares e já se consolidou com mais de 5.605 opções de ativos. Ele é mantido pelo sistema blockchain, que confere segurança aos usuários e permite rastrear tanto o envio, quanto o recebimento, de informações através de "pedaços de código" gerados online.

O processo pode ser descrito como uma cadeira de blocos no qual cada um contém uma hash - função matemática que pega uma mensagem ou arquivo e gera um código com letras e números que representa os dados enviados. Ele garante que as informações desse bloco não sejam violadas. Cada bloco tem uma hash que se conecta a anterior e cria uma conexão entre quem vende e quem compra.

A mineradora de ouro e metais básicos Aura Minerals está com inscrições abertas, até o dia 13 de novembro, para o seu programa de trainee 2021. Há seis vagas nas áreas de engenharia de minas, metalurgia, geologia, engenharia química e de produção nos municípios de Pontes e Lacerda, no Estado do Mato Grosso. 

O programa terá 12 meses de duração, com início a partir de fevereiro de 2021. Podem participar profissionais e estudantes graduados entre dezembro de 2017 e fevereiro de 2021. Os candidatos serão selecionados através de testes de lógica, inglês e fit cultural, além de passarem por vídeo entrevista, dinâmica de grupo, business case (painel de negócios) e visita à operação.  

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“Nossa cultura é baseada em meritocracia e no desenvolvimento de talentos. Nossa gestão é descentralizada, com uma cultura de construção do negócio, onde se trabalha com autonomia e responsabilidade alinhadas aos nossos valores. O programa de trainees é um passo estratégico à sustentabilidade do pipeline de lideranças e para inovar a companhia”, explica o CEO da Aura Minerals, Rodrigo Barbosa. O valor do salário não foi informado.

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Investigado por crimes de apropriação indébita, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro, entre outros, o Padre Robson de Oliveira Pereira teria investido cerca de R$ 1,3 milhão em projetos que exploram jazidas de ouro e outros minérios no estado de Goiás. Segundo o MInistério Público de Goiás (MP-GO), os investimentos do religioso na área da mineração acontecem desde 2013. 

De acordo com a Revista Época, o MP-GO informou que o dinheiro gasto pelo padre é da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), gerida por Robson até a última semana quando ele pediu afastamento dos cargos após ser alvo de investigações por suspeita de lavagem de dinheiro. O ministério ainda apontou Celestina Celis Bueno, conselheira-fiscal da Afipe, foi a responsável pela liberação de mais de R$ 1 milhão da associação para o financiamento de atividades mineradoras.

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A Afipe possui nove processos abertos, solicitando a concessão de exploração de ouro e níquel nas terras dos municípios de Niquelândia, Iporá, Campestre de Goiás e Trindade, no Goiás. Além disso, a associação ainda abriu mais processos para explorar economicamente a mineração de quartzito, granito e argila, sendo responsável, ao todo, por 13 solicitações junto à Agência Nacional de Mineração (ANM).

O padre Robson é acusado de apropriação indébita, falsificação de documentos, lavagem de dinheiro e associação criminosa por ter comprado fazendas e apartamentos e fazer investimentos próprios com dinheiro da Afipe, que é financiada por doações. No início desta semana, a arquidiocese de Goiânia suspendeu o padre de realizar suas funções religiosas até janeiro de 2022.

O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender, na manhã desta terça-feira (18), a regularização do garimpo e de outras atividades de exploração em terras indígenas. Bolsonaro recebeu a visita de representantes de cerca de 30 etnias no Palácio da Alvorada.

"O índio não pode ficar dentro da terra como um ser pré-histórico. Ele é igual nós. Então nós queremos pedir para garimpar, plantar, arrendar terra, explorar o turismo", disse o presidente a jornalistas.

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Bolsonaro afirmou que falou sobre propostas que tratam da exploração de terras indígenas com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Sobre eventuais resistências a esse tipo de matéria, o presidente disse que a decisão é do Congresso Nacional.

"A decisão é do Parlamento, eu faço a minha parte. Inclusive eu estou regulamentando o artigo 231 da Constituição Federal. Então está escrito na regulamentação que eles indígenas têm direito sobre propriedade", declarou Bolsonaro. O artigo 231 diz que "são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens".

O presidente falou com um grupo de indígenas antes da cerimônia de hasteamento da bandeira, que ocorre às terças-feiras no Alvorada, com a presença de ministros e autoridades. O evento é seguido da reunião do Conselho de Governo.

O presidente Jair Bolsonaro assinou nessa quarta-feira (5) o projeto de lei para regulamentar a mineração, produção de petróleo, gás e geração de energia elétrica em terras indígenas. Ao reconhecer que o texto sofrerá "pressões" contrárias, ele disse que confinaria na Amazônia, se pudesse, defensores do meio ambiente para que eles "deixem de atrapalhar".

"Vamos sofrer pressões dos ambientalistas (pelo projeto)? Esse pessoal do Meio Ambiente, né? Se um dia puder, confino na Amazônia, já que eles gostam tanto do meio ambiente. E deixem de atrapalhar o amazônida daqui de dentro de áreas urbanas", disse ele, em evento no Palácio do Planalto sobre os 400 dias de seu governo.

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Pelo projeto, o presidente encaminha ao Congresso pedidos de exploração de terra indígena. As comunidades indígenas serão consultadas, mas não têm poder de vetar a exploração de recursos naturais ou hídricos de seus territórios.

A manifestação dos indígenas e do presidente, que podem ser distintas, serão avaliadas pelo Legislativo. As comunidades só terão poder de vetar a garimpagem em suas terras por não indígenas. O texto regulamenta o pagamento aos indígenas com a participação no resultado da lavra e da geração de energia elétrica, além de indenização pela restrição ao uso da terra. O projeto também cria regras para que eles explorem economicamente suas terras.

Ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse que essa é a "Lei Áurea" dos indígenas, referindo-se ao texto de 1888 que deu fim à escravidão. Segundo ele, terras indígenas já são exploradas, mas ilegalmente, e o texto só regulamenta a exploração prevista na Constituição.

Pela lei, essas terras são da União e se destinam à posse permanente dos índios que as ocupam. Bolsonaro defendeu de modo mais enfático a regulamentação após ser alvo de críticas no Brasil e no exterior pela alta de incêndios na Amazônia. Ele chegou a receber no Planalto grupos de indígenas favoráveis ao garimpo em suas terras.

A governadores, em agosto, Bolsonaro disse que os Estados estavam "inviabilizados" por áreas indígenas. Em várias ocasiões, sem provas, afirmou que há interesse estrangeiro em impedir a exploração nos locais.

Repercussão. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou. "Não é porque tem garimpo ilegal que vamos tratar de legalizar o garimpo. Temos de, primeiro, combater o que é ilegal e fazer amplo debate sobre o tema." Em 2019, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) disse que explorar áreas indígenas estava há décadas fora da pauta da entidade, que representa empresas do setor. Defendeu ainda que, antes de discutir a legalização, o governo deveria fazer levantamento científico desses territórios.

Nota do Observatório do Clima, que reúne organizações da sociedade civil, diz que essa mudança levaria à alta do desmate, de invasões de terras indígenas e da violência contra esses povos. Para especialistas, o projeto também pode violar tratados internacionais, que definem ser necessária a consulta aos indígenas sempre que estiver prevista medida legislativa ou administrativa que os afetem. 

O presidente Jair Bolsonaro recebeu nesta terça-feira (1º), no Palácio do Planalto, um grupo de garimpeiros de Serra Pelada, região no sul do Pará rica em metais preciosos, que reivindica a ordenação da área para a exploração de ouro e outros minérios. Após a reunião, Bolsonaro saiu do gabinete e foi até a entrada do Palácio do Planalto para falar com um grupo maior que aguardava do lado de fora.

Aos garimpeiros, o presidente disse que designou que o Ministério de Minas e Energia e a Agência Nacional de Mineração busquem alternativas para solucionar os problemas dos trabalhadores e que, se houver amparo legal, vai enviar as Forças Armadas para a região. Bolsonaro também criticou a exploração mineral de empresas privadas e voltou a citar a Amazônia.

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“Eu sei como a Vale do Rio Doce abocanhou, no governo FHC [Fernando Henrique Cardoso], o direito mineral no Brasil, um crime que aconteceu", afirmou o presidente. "O mundo falando e muitas vezes criticando garimpeiros, agora, a covardia que fazem com o meio ambiente, como empresas de vários países fazem dentro do Brasil, ninguém toca no assunto porque, pelo que parece, a propina corre solta”, disse.

O representante do grupo de garimpeiros, Jonas Andrade, contou que há uma área demarcada para que a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada, a qual o grupo é associado, faça a exploração de minério, entretanto, ela não tem tecnologia para isso. “Nossa intenção é fazer uma parceria público-privada com a engenharia do Exército para tirar o ouro, porque assim evitaria a evasão de divisas e porque o ouro está em uma profundidade muito grande, precisa de maquinários de última geração e nenhuma empresa foi idônea para fazer o trabalho honesto com os garimpeiros”, disse.

De acordo com Andrade, a área destinada aos garimpeiros foi desmembrada de uma concessão da Vale do Rio Doce durante o último governo do regime militar, de João Figueiredo. A empresa, na época, foi reembolsada. Ele contou, entretanto, que a empresa Vale hoje explora uma área vizinha à dos garimpeiros e que pode estar invadindo ilegalmente o território da cooperativa através de túneis subterrâneos.

“Ela [a Vale] saiu mas está bem do lado fazendo um buraco que chama-se Projeto Serra Leste, está mandado para fora do Brasil falando que é ferro, só que ela está levando é ouro e não está sendo prestado conta. A Vale do Rio Doce coloca nos vagões terra, vai para o porto e vai direto para a China”, disse. “Por isso estamos pedindo ao Exército Brasileiro a demarcação de nossa terra. Queremos uma administração militar dentro de Serra Pelada”.

No início da década de 80, durante a chamada corrida pela ouro, Serra Pelada foi o maior garimpo a céu aberto do mundo.

A reportagem entrou em contato com a empresa Vale e aguarda o retorno.

 

O fantasma da dependência assusta municípios do norte do País, alçados à condição de "novos ricos" da mineração, diante da crise detonada pelas recentes tragédias com barragens de dejetos da Vale e da Samarco em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais.

O rompimento das barragens afetou a produção de minério de ferro no Estado e também o desenvolvimento do projeto S11D, o maior investimento da Vale, em operação desde 2017 em Canaã dos Carajás (PA).

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Até agosto, os 63 municípios mineradores do Pará arrecadaram R$ 1,3 bilhão em Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), o royalty da mineração, ultrapassando a liderança histórica das 471 cidades mineradoras de Minas Gerais, com receita de R$ 1,2 bilhão, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM).

A reversão decorre da combinação entre o aumento de produção da Vale no Sistema Norte e a evolução do S11D, e a paralisação de algumas operações em Minas pós-Brumadinho.

A cidade de Parauapebas, onde está a operação mais antiga da Vale na região de Carajás, lidera o ranking nacional de recolhimento de royalties, com R$ 684 milhões no ano. Em seguida vem Canaã, com R$ 430 milhões e perspectiva favorável por abrigar o S11D. Em 2018, a arrecadação de CFEM do município subiu 349%, para R$ 321 milhões.

Temendo repetir a situação vista em cidades de Minas, onde a CFEM é imprescindível para as finanças públicas, as prefeituras locais querem evitar que a riqueza gerada pela atividade se torne herança maldita. A vida útil das minas de ferro da Vale no Pará vai de 2042, na Serra Norte, a 2062 no projeto S11D e na Serra Leste, mas os problemas enfrentados por seus pares no Sudeste acenderam o sinal de alerta. "O minério não é muito diferente de um doce. Uma hora vai raspar tudo e chegar ao fundo do tacho", afirmou Jeová Andrade, prefeito de Canaã, durante encontro de municípios mineradores no mês passado.

Poupança

A prefeitura de Canaã criou em 2017 o Fundo Municipal de Desenvolvimento Sustentável. Ele destina 5% do valor da CFEM a investimentos de empreendedores locais em áreas como agricultura e comércio, por meio de uma linha de crédito com juros menores que os de mercado. Também prevê financiar instituições de ensino, pesquisa e bolsas de estudo.

Hoje são R$ 23 milhões em caixa e a meta é superar os R$ 50 milhões ao fim de 2020. "Precisamos estar preparados e ter alternativas", disse Andrade.

Em iniciativa semelhante, Parauapebas destinou quase R$ 5 milhões da CFEM nos últimos dois anos e meio ao financiamento de iniciativas econômicas como o programa de mecanização agrícola, obras de urbanização, como manutenção de estradas, programa de iluminação pública com LED, reestruturação do distrito industrial e atração de novos empreendimentos.

Ao contrário de Canaã, os valores são definidos anualmente na Lei Orçamentária. Para 2020, estão previstos R$ 3 milhões. No início do mês, o município aprovou a criação do Fundo de Incentivo às Ações de Ensino Superior, que receberá 1,7% da arrecadação com a CFEM. "Estamos nos preparando para o day after (o futuro)", disse Darci Lermen (MDB-PA), prefeito de Parauapebas. "Em 15 anos queremos nos consolidar também no turismo e na produção rural."

Apesar de considerar positivo o engajamento dos prefeitos, a postura pode ser insuficiente, segundo a professora da faculdade de Economia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Maria Amelia Enriquez. "Não é trivial romper com a dependência mineral", disse. "Isso exigiria esforço que vai além do município minerador e tem a ver com política federal e estadual."

Especialistas descrevem uma espécie de efeito ímã das cidades mineradoras. Por concentrarem mais riqueza, atraem os melhores fatores de produção dos municípios vizinhos. Com a economia aquecida, o custo de vida sobe e a população que não participa do circuito da mineração vai embora. Quanto mais o setor prospera, maior se torna o vínculo, pois as empresas atraídas são quase sempre prestadoras de serviços para a mineração.

A maior arrecadação de royalties também não se traduz necessariamente em melhoria do indicador de desenvolvimento. Os dez municípios que mais receberam royalties de petróleo e mineração este ano estão longe do topo do ranking nacional do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) - divulgado em 2018, com dados de 2016. O estudo acompanha o desenvolvimento socioeconômico dos mais de 5 mil municípios do País em três áreas: emprego e renda, educação e saúde.

Ranking

Cruzamento feito pelo Estadão/Broadcast mostra que, entre os produtores de petróleo, Ilhabela (SP) é o melhor colocado, na 31.ª posição no ranking e a quinta maior arrecadação este ano até agosto, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Já a líder em arrecadação, a cidade fluminense de Maricá, é a número 2.669 no índice.

Entre os mineradores, Nova Lima, o quarto maior em CFEM, é o município mais bem colocado em termos de desenvolvimento, na 264.ª colocação. Líderes em arrecadação de royalties, Parauapebas e Canaã dos Carajás ocupam as posições 1.318 e 2.503, respectivamente.

Estudo do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas em parceria com a professora Maria Amelia mapeou o uso da CFEM em Canaã com base em dados da Lei Orçamentária de 2018. O resultado aponta que a prioridade no uso dos royalties não tem sido criar alternativas que minimizem a dependência da mineração.

A maior parcela (39%) dos recursos da CFEM foi para o urbanismo (asfaltamento de ruas e limpeza pública, por exemplo). Outros 30% foram gastos com administração pública e 14% com saneamento. Só 5% foram para agricultura, atividade que pode ser alternativa econômica.

Os indicadores dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável revelaram situações paradoxais em Canaã: houve melhora em dimensões associadas ao crescimento econômico, à infraestrutura e à educação, mas agravamento de problemas sociais ligados ao aumento da pobreza, da desigualdade racial, de gênero e da violência.

A divergência entre a previsão e a real arrecadação impede a execução de planejamento eficaz. Maria Amelia considera infrutíferas estratégias de diversificação, como a criação de distritos industriais no Sudeste do Pará. "É um investimento muito grande em um capital físico que fica ocioso", disse. "Não se cria dinâmica econômica por decreto."

Municípios buscam alternativas

Enquanto municípios da Região Norte entram agora na era dourada da arrecadação de royalties da mineração, Minas Gerais vive fase de declínio da atividade. Em Itabira, o esgotamento dos recursos é iminente. Relatório da Vale enviado à entidade que regula o mercado de capitais nos Estados Unidos fala em exaurimento em 2028.

Cidades como São Gonçalo do Rio Abaixo e Nova Lima se depararam com a paralisação inesperada de operações da Vale, como em Vargem Grande, na esteira do rompimento da barragem em Brumadinho.

As cidades mineradoras convivem com uma instabilidade inerente à atividade. Em busca de alternativas, Itabira assinou, em julho, memorando de entendimento com as chinesas Chalieco e Cinf Engineering, do grupo Chinalco, para a implantação de três projetos: a expansão do câmpus da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), a construção do Parque Científico e Tecnológico de Itabira (PCTI) e do Aeroporto Industrial de Itabira. Os investimentos devem superar US$ 100 milhões, tendo como garantia recursos da receita com royalties da mineração.

Investimentos

"Itabira é o caso mais grave pela iminência de exaurimento da mineração", afirmou Thiago Toscano, presidente da Agência de Promoção de Investimento e Comércio Exterior de Minas (Indi). "Assinaram o memorando, mas para desenvolver qual tipo de tecnologia? Vender para quem? Escoar por onde? Trazer qual tipo de carga (pelo aeroporto)? Há muitas ideias soltas e que não se conectam com a realidade dos municípios."

Durante encontro da Associação de Municípios Mineradores de Minas e do Brasil (Amig), em agosto, Toscano deu dois recados aos prefeitos: o município não atrai investimentos, mas se torna atrativo para recebê-los; mais dinheiro (royalties) nem sempre resolve o problema. Toscano disse que os municípios precisam se posicionar.

O caso de Extrema, no sul de Minas, é citado como referência. Com o maior PIB per capita do Estado, chega a recusar investimentos, informou Toscano. "Extrema aproveitou sua logística e se posicionou para ser a extensão de São Paulo, mas com custo mais barato."

Antes de investir, as companhias analisam pontos como infraestrutura, logística, segurança, educação e saúde. São Gonçalo do Rio Abaixo é vista como exemplo de boa gestão, mas, segundo o executivo do Indi, sofre porque, apesar de estar a apenas 90 km de Belo Horizonte, o percurso entre as duas cidades leva em média três horas. A solução passaria pela duplicação da BR-381, mas isso depende de articulação política.

Prestação de contas

Enquanto discutem alternativas, prefeitos de cidades mineiras são questionados pelo Tribunal de Contas em relação ao uso dos royalties. O TCE de Minas determinou recentemente a devolução de milhões em recursos de Mariana e Itabirito, em ações relativas ao orçamento de 2013. O tribunal defende que a CFEM seja aplicada em infraestrutura e diversificação econômica.

A Amig disse que a lei veda apenas o uso dos recursos para a quitação de dívidas e folha de pagamento, além de recomendar a aplicação preferencial de 20% da arrecadação em infraestrutura e diversificação econômica. "Uma coisa é se o município usa bem o dinheiro, outra é se usa dentro da lei. A Amig está dentro da lei", disse o consultor da entidade, Waldir Salvador.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Operação Verde Brasil contabilizou, no primeiro mês de operações, 112 termos de infração aplicados, que totalizam R$ 36,37 milhões em multas, de acordo com balanço divulgado nesta segunda-feira (23) pelo Ministério da Defesa. Os recursos são destinados ao Tesouro Nacional.

As multas foram aplicadas principalmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) por práticas ilícitas como mineração e garimpo ilegal, desmatamento e apreensão de madeira.

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A Operação Verde Brasil é a ação governamental voltada ao combate aos incêndios e crimes ambientais na Amazônia. O governo federal decretou, em 23 de agosto, a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) Ambiental para ampliar as equipes em atuação na Amazônia para o combate ao fogo e investigação de ilícitos nas regiões afetadas.

Na última sexta-feira (20), a GLO foi prorrogada até 24 de outubro, nas áreas de fronteira, nas terras indígenas, nas unidades federais de conservação ambiental e em outras áreas dos estados da Amazônia Legal. 

De acordo com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, a GLO gerou um efeito dissuasivo entre aqueles que cometem crimes na Amazônia legal. “Pessoal que estava fazendo algum ilícito, some. [A presença de militares e de outros agentes] ajuda a prevenir ilícitos e incêndios”, diz.

Ao todo, foi empregado um efetivo de 8.170 militares e integrantes de agências municipais, estaduais e federais; 143 viaturas; 12 aeronaves; 87 embarcações. O resultado é de 28 veículos apreendidos; 63 pessoas apreendidas ou detidas, além das 112 multas.

 Queimadas

De acordo com balanço do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Cesipam), baseado nos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os focos de calor na floresta amazônica, no bioma Amazônia, somaram 30.901 focos em agosto deste ano. Número que superou os 10.421 focos registrados em agosto do ano passado.

Em setembro, esse número caiu para 17.095, abaixo dos 24.803 registrados no ano passado e abaixo da média histórica de 33 mil focos.

A Amazônia Legal é composta ainda pelo bioma Cerrado, este mais suscetível a incêndios nessa época do ano, e pelo Pantanal.

 

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